Mirror, O Reflexo da Verdade escrita por Nynna Days


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oi, flores. Então, suei para terminar esse capítulo. Terminei quase agora e estou postando, então desculpe os erros de português. Tem alguns momentos divertidos e descontraídos, para mostrar um pouco da vida de Jeremy sem a influência dos anjos.

Espero que gostem.



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Levantei uma sobrancelha.

“Esse tempo seria quantos dias?”

Ela deu de ombros, vagando por meu quarto. Peguei-me comparando-a com um hamster.

“Uma semana, no máximo.”, continuou olhando para o meu quarto, fascinada. “É a primeira vez que vou ficar cuidando de um humano.”, ela bateu palmas dando pequenos pulos. Um coelho seria uma comparação melhor. “Sou Cupido, sabe? E só tenho cento e cinquenta anos.”, fez uma careta. “Vai demorar um bom tempo até que Ezequiel me promova.”

Oh, disso eu não tinha dúvidas. A teoria que se Aliel não tivesse pisado na bola, contando-me que era um anjo e estava atraída por mim sendo castigada a ter minha vida em suas mãos, não teria sido promovida, não saí da minha cabeça. Ariel sentou em minha cama e deu um grande sorriso em minha direção.

Quem teria que tomar contra de quem mesmo?

“De onde você conhece Aliel?”, perguntei tentando descontrair o clima. Puxei minha cadeira escutando as rodinhas contra o chão amadeirado. Naquele curto espaço de tempo, repeti um mantra de que não poderia expor meu relacionamento com Aliel. Éramos Pupilo e Guardiã. “Já percebi que ela é bastante conhecida.”

Ariel soltou uma gargalhada e meus membros tencionaram. Se minha escutasse, eu estaria muito ferrado. Mas ela estava tão cansada que talvez ignorasse ou pensasse que era alguma alucinação. Virei a cadeira e me sentei, cruzando os braços no encosto e pousando o queixo no alto da cadeira. Ela se moveu até ficar de frente para o meu corpo e se inclinou na minha direção.

“Não conheço muito bem Aliel.”, admitiu. Levantei uma sobrancelha, surpreso com a sua declaração. Por que estaria fazendo um favor á um desconhecido? Talvez pelo simples prazer de sentir a adrenalina de ser um Guardião. “Sou amiga de Adriel. Fizemos uma missão juntos á alguns meses.”.

Ergueu os olhos para o teto, divagando enquanto suas bochechas se tingiam em um vermelho berrante. Encolheu seus ombros, defensiva. Então sua respiração ficou mais rápida e ela pressionou os lábios juntos, estreitando os olhos escuros. Reconheci como sendo o mesmo jeito que Aliel ficava quando mentia. Cruzei as mãos, contento o impulso de ir ampará-la.

“Ok, talvez não tenhamos feito a missão juntos.”, ela disse a verdade quando se acalmou. Seus olhos escuros se voltaram para mim, só que mais sérios. “Ele me substituiu. Não fui capaz de juntar o dono de uma multinacional com sua secretária pessoal.”, deu um tapa em sua testa, como punição. Meus olhos se arregalaram com o susto. “Sou muito lenta com isso. Nunca consigo achar a abordagem certa. Acabo sendo a esquisita perseguidora.”

Quase perguntei o porquê ela não ficava invisível, mas me lembrei de que só os Guardiões tinham esse poder. A aversão com Ariel diminuiu consideravelmente. Ela só estava tentando ganhar algum crédito com seus superiores.

Orgulhei-me de Aliel por ter dado essa chance á sua colega. Se bem que, o fato dela ter feito á uma desconhecida ainda me incomodada. Por que não Lael, que estava tão ávido em conseguir uma promoção quanto Ariel? Dei de ombros mentalmente. Não iria me opor aos motivos da minha Guardiã. Além disso, não sabia se lidaria bem com o fato de Lael estar grudado em mim vinte e quatro horas por dia. Ariel era o tipo divertida.

“Então, o que você quer fazer?”, ela perguntou dado um salto na cama e passeando por meu quarto novamente. Parecia uma criança ansiosa para passear. “Podemos ir até a casa de alguns de seus amigos. Você pode dizer que sou sua vizinha nova.”, pôs um dedo em seu queixo, pensativa. “Se bem que eles estranhariam o pouco tempo que fiquei.”, deu de ombros e jogou as mãos para o ar. “Ah, é só dizer que não gostei da vizinhança. Não que seja ruim.”, tentou se defender. Constrangida, ela cruzou os tornozelos e coçou a cabeça. “Desculpe-me. Eu falo muito quando estou animada.”

Eu sorri.

“É, eu meio que percebi isso.”, disse me levantando e caminhando em direção á ela. Pus minhas mãos em seus ombros, obrigando-a a ficar parada por mais de quinze segundos. Aquilo pareceu angustiá-la. O que essa garota tinha comido? Um caminhão de açúcar? “Por hoje só vamos dormir, mas amanhã quero dar uma volta no shopping.”

Isso a fez franzir o cenho com a expressão confusa. Cruzei os braços, esperando por seu julgamento, semelhante ao que Jason tinha feito há algumas horas. Ou talvez com menos palavrões e ofensas. Mesmo que isso não fosse da conta dela, senti a necessidade de me justificar. Esses anjos estavam realmente interferindo na minha vida pessoal.

“Vai ter uma festa daqui á alguns dias.”, comecei a mexer as mãos, evidenciando meu desconforto com aquele assunto. “É uma festa de máscaras e como Aliel vai chegar quase que em cima da hora, vou comprar a roupa dela. Ah, e por ela não ter paciência para fazer compras. Já que ela vai ter que ficar de olho em mim, pelo menos poderia aproveitar a festa.”

Ariel deu um sorriso tão amplo que fiquei com medo que rasgasse seu rosto. Seus óculos escorregaram pela ponte de seu nariz e ela rapidamente o empurrou para cima. Novamente a pergunta do porque ela usar aqueles óculos quando poderia ter a visão perfeita, me pegou. Estilo. Era apenas o estilo esquisita dela.

“Será que posso ir também?”, pediu batendo palmas e dando pulos no local. Comprimi os lábios. Legal, Read, agora se vire. “Estou achando que o Céu irá me dar uma missão por aqui de Cupido, então ficarei por Nova Jersey por um tempo.”, deu de ombros. “Seria bom ver como os adolescentes humanos se comportam.”

Aquilo me interessou. Não o fato de ela querer saber como os humanos se comportavam – só pela sua aparência já dava para ter uma noção de que precisaria de bom tempo para ter noção do básico. Mas a outra coisa que tinha dito. Parei no meio caminho até o banheiro e a olhei por cima do ombro.

“Você vai fazer uma missão aqui em Nova Jersey?”

Ela assentiu, animada.

“Um casal se desviou mais do que deveriam.”, ela deu de ombros e pareceu constrangida pela terceira vez. Anjos eram muito envergonhados. “Não sei de muitos detalhes, já que ainda não me deram as fichas, mas Ezequiel me alertou que o garoto tem um gênio difícil e que estava bastante apaixonado pela atual namorada.”

E pela terceira – ou talvez quarta – vez naquelas duas semanas, aquele alarme soou em minha cabeça. Talvez eu conhecesse a pessoa. Era Jason e Sarah? Não. Aliel tinha sido o Cupido deles por já estarem fora de curso. Talvez fosse alguém da escola, já que ela queria se camuflar por entre os estudantes. Dei um olhar compreensivo e um sorriso amigável.

“Pode vir para festa, Ariel.”, concedi. Ela ficou ainda mais animada. “Se quiser poderei até te ajudar com esse garoto problema. Uma pessoa com gênio ruim conhece a outra.”, ri.

“Oh, muito obrigada.”, ela agradeceu.

Assenti.

“Tudo bem.”, sinalizei para a janela. “Pode ir para o telhado quando quiser. Demoro a dormir, mas quando consigo só acordo no dia seguinte. Então serei uma companhia entediante.”

Entrei no banheiro enquanto Ariel continuava me agradecendo. Esperava que ela tivesse o bom sendo de manter o tom de voz baixo para que minha mãe não a escutasse. Encostei-me a madeira da porta e escorreguei até o chão frio. Se pelo menos aquele mau pressentimento me abandonasse por alguns instantes, eu ficaria mais tranquilo.

Ficaria tudo bem, Jeremy. Repeti para mim mesmo. Aliel sabe se cuidar e o Céu não sabe castigar os seus anjos da maneira correta.

Mas, e se de repente, ele aprendesse?

****************************

Depois de vinte minutos com Ariel no shopping, o arrependimento já havia me atingido como uma tijolada direto no rosto. Todos os meus conhecidos me encaravam incrédulos e os comentários foram inevitáveis. Jeremy Read estava sendo visto sem Aliel Sky. Mas havia uma outra garota em seu lugar. E muito mais nova. E exótica.

Minha vontade foi de gritar para que eles fotografassem, pois duraria mais. Mas a Cupido me fez manter o bom humor. Ela estava tão alegre por estar cercada de pessoas com a mesma idade aparente que ela, que não notava os olhares ofensivos e raivosos sendo jogados na nossa direção. E como eu era o tipo de pessoas que gostava de ser o assunto – mal falado ou elogiado – passei um braço ao redor do corpo minguado de Ariel.

Quando tinha estipulado sua idade, deveria ter abaixado um pouco mais a faixa etária. Para quinze anos, talvez. E com o comportamento de treze. Ela olhava os vestidos e comentava sobre alguma época em que conheceu alguém remotamente famoso. E, a maioria dessas histórias, sempre terminava com ela sendo substituída por não conseguir terminar a missão.

Há seis meses, Aliel havia me dito alguma coisa a ver com isso. Que se eu não aceitasse o relacionamento de Jay e a ruiva, alguém a substituiria e me faria aceitar. Se Ariel fosse a segunda opção meu melhor amigo e sua namorada estaria muito ferrados. Quase forçado, entrei na loja em que Aliel tinha comprado sua fantasia de anjo na minha festa a fantasia. Revendo aquela cena mentalmente, via como o destino poderia ser irônico, ás vezes.

“Gostou de alguma coisa, Ariel?”, perguntei com a voz mansa, como se estivesse conversando com uma criança. Se Ariel, com cento e cinquenta anos se comportava daquele jeito, tinha medo de conhecer os recém-criados. Seus olhos escuros vagaram pela loja e ela sorriu. “Pode ir ver. Vou procurar algumas máscaras.”

“Não suma.”, ela disse rígida e apontou para mim como uma mãe.

Então sua expressão se suavizou e ela saltitou até estavam as asas falsas. Com calma e um pouco de preguiça – minha Guardiã temporária tinha me acordado as dez da manhã – fui até onde algumas máscaras estavam pendurados e as analisei, procurando por algo que moldasse o rosto de minha namorada, sem afastar sua beleza natural.

Sorri com a velocidade em que encontrei a escolha perfeita. Era pequena, vazada e com detalhes em espiral por toda a sua estrutura. Cobriam apenas o rosto e tinham duas fitas para amarrá-la. No espaço em que ficaria entre os olhos, as espirais formavam um coração semi fechado. Tudo em um preto brilhante que combinaria perfeitamente com o vestido que tinha visto á algumas lojas atrás.

“Nossa, é linda.”, Ariel murmurou atrás de mim, me fazendo dar um salto por conta do susto. Seus olhos estavam fixos na máscara em minhas mãos e sua voz denunciava seu encanto. “Você tem muito bom gosto, Jeremy.”, elogiou.

Assenti, ainda sorrindo e voltei meu olhar para as máscaras.

“Quer escolher uma para você?”

Pôs as pequenas mãos na boca, soltando uma exclamação e vasculhando por entre as máscaras, procurando algo remotamente quanto o que eu havia encontrado. Não querendo atrapalhar Ariel em sua escolha, peguei a primeira opção que estava ao meu alcance. Quase soltei um riso nervoso ao encarar a máscara do Fantasma da Ópera. Mesmo sendo branca, ainda tinha um ar sombrio.

“Gostei dessa.”, Ariel disse espiando por cima dos ombros, ainda procurando por algo para ela. “Oh, o que acha dessa?”, ergueu uma máscara simples roxa com alguns desenhos dourados ao redor. Além de algumas penas que enfeitavam ao redor. Pôs em frente ao rosto e sorriu. “Então....”

“Ficou boa.”, disse pegando-a e levando até o caixa.

Nem me espantei quando Ariel bateu palmas animadas e me seguiu como uma criança animada com o brinquedo novo. A vendedora me lançou um olhar doce e deu um pequeno sorriso. Pelo menos uma pessoa não estava achando que minha namorada estava sendo traída. Meu coração deu um pequeno aperto saudoso. Queria que essa semana passasse rápido.

***************************

“Acho que ela irá preferir o da esquerda.”

Virei-me ao reconhecer a voz e me peguei encarando a namorada do meu melhor amigo. Sarah Burke sorriu, exibindo seu aparelho com borrachinhas azuis e destacando as sardas que cobriam suas bochechas. Mas não era isso que mais se destacava. Além de seus olhos verdes claríssimos, possuía um cabelo vermelho e cacheado tão chamativo que era impossível não reconhecê-la por entre a multidão.

Sarah e eu tivemos alguns desentendimentos antes de seu namoro com Jason. Tudo por conta da minha mania de querer o melhor e estar acima de todos. Porém tivemos que burlar isso depois que comecei a namorar sua melhor amiga e vice versa. Não queria admitir, mas depois que me obriguei – e fui obrigado – a conhecer melhor a ruiva, percebi que ela era uma boa pessoa. E que eu estava sendo um monstro ao destratá-la.

“Você veio procurar um vestido para Aliel, não é?”, ela perguntou se aproximando. Assenti, percebendo que ela não estava sozinha. Uma mulher a observava com os olhos castanhos estreitos. Seus cabelos eram loiros avermelhados e eram tão cacheados quanto os de Sarah. Reparando onde estava minha atenção, a ruiva encolheu os ombros. “Aquela é minha irmã mais velha, Sidney. Ela está na cidade nas férias.”

“Vocês quase não se parecem.”, admiti. Mas quando prestei realmente e atenção, percebi a luz iluminando as bochechas com sardas de Sidney, além de seu corpo tenso. “Acho que ela não está muito feliz.”

Sarah revirou os olhos.

“Ela não goste de vir para casa.”, deu de ombros. “Por causa das brigas entre minha mãe e Simon, meu irmão.”, suspirou e puxou o vestido, dando um sorriso animado. “Sorte que logo Simon voltará para a faculdade. Aqui está.”

Meus olhos se arregalaram e tive que dar o braço á torcer pela escolha da ruiva. O vestido não tinha alças e um decote apropriado para os seios médios de Aliel. O pano era preto fosco e tinha alguns detalhes em prata, além do pano ser feito para moldasse perfeitamente ao corpo. A saia era de um pano mais transparente, mas possuía várias camadas – impossibilitando visões que a desagradariam.

Mesmo sem ter visto a máscara, Sarah havia acertado em cheio. Ariel estava do outro lado da loja, nos provadores, enquanto experimentava algumas opções. Percebi que Sarah carregava um vestido rosa nos braços e notando onde meu olhar estava centrado, suas bochechas coraram. Antes que eu pudesse fazer algum comentário irônico, sua irmã se aproximou.

“Acho que está na hora de irmos, Sarah.”, disse rígida. Olhando para o seu rosto não daria mais de vinte e cinco anos, entretanto sua tensão adicionava cinco anos à sua expressão. Ergueu os olhos escuros – e um pouco acusatórios – na minha direção. “Quem é você?”

Agora estava entendendo o motivo da careta de Sarah. Sua irmã não era nem um pouco simpática. Poderia parecer um pouco egocêntrico, mas o fato dela me olhar como se eu fosse apenas uma criança atrasando o horário de seu almoço, mexeu com meu ego. Estufei o peito e não desviei os olhos dos dela. Sidney levantou uma sobrancelha.

“Sou Jeremy Read.”, me apresentei sem fazer questão de apertar sua mão. Ignorando-a, tornei a falar com a Burke mais nova. “Então você vai a festa? Estou mais aliviado por Aliel não ficar sozinha.”, revirei os olhos e a vi sorrindo, descontraída. Sua irmã bufou e se afastou. Abaixei a voz. “Sua irmã não é nem um pouco sutil quando não gosta das pessoas.”

Sarah assentiu.

“Por isso estou ansiosa para que a faculdade comece e eu volte a ser ‘filha única’ por mais alguns meses.”, ela confessou. Então franziu o cenho, confusa. “Onde está Aliel?”

Como eu era um garoto esperto, já havia preparado uma desculpa aceitável. Era inevitável que perguntas como aquelas surgissem, ainda mais vinda de Sarah que era amiga de minha namorada. Ajeitei o vestido em meu braço, de forma que não se amassasse, descansando o peso de meu corpo no outro pé.

“Ela foi resolver outro problema pessoal.”, dei de ombros. “Você sabe que ela some assim, do nada.”, cutuquei seu ombro, pronto para fazer uma piada. “Às vezes imagino que ela pode ser uma agente secreta ou algo do tipo.”

Ela revirou os olhos, mas soltou um riso. Missão cumprida. Pelo canto do olho, vi Sidney nos encarando com os braços cruzados e batendo o pé, impaciente. Sarah também percebeu e suspirou, cansada. Sabendo que não poderia escapar por muito tempo, se despediu de mim. Um segundo depois, Ariel voltou com um vestido azul na mão.

“Acho que já acabamos por hoje.”, eu disse quando saímos da loja carregando as sacolas. Naquele momento soube como os choferes se sentiam. “Quer ir ao cinema?”, ofereci.

Ela ergueu os grandes olhos na minha direção, exibindo o brilho animado.

Seria uma longa semana.

*********************

“Jerry, é você?”

Parei meus passos na escada, fazendo uma careta. Pensei que meus pais estariam dormindo. Ou que meu pai estaria de plantão, como sempre. Contrariado, deixei as sacolas no primeiro degrau e arrastei meu corpo até a sala. Encontrei meu pai deitado no sofá, zapeando pelos canais. Assim que seus olhos dourados se fixaram em mim, rapidamente pôs a televisão no mudo.

“Sente-se aqui, filho.”, deu dois tapas no único espaço vago que seu grande corpo me proporcionou. Sabia que alguma coisa estava errada, porém deixei tudo seguir o seu curso. “Faz um tempo que não conversamos.”, disse como uma introdução ao assunto principal. Sorriu e me forcei a fazer o mesmo. “Como foi a viagem com Aliel?”

Cocei meu cabelo – ele estava crescendo com uma velocidade incrível – com uma desculpa de ganhar tempo. A inocência na voz de meu pai era forçada e qualquer pessoa poderia perceber isso. Franzi os lábios. Não tinha escapatórias.

“Foi divertido.”, respondi cauteloso. Ele assentiu, me incentivando a continuar. “Fomos até Hollywood, a calçada da fama, ao teatro, cinemas e todos esses lugares que são pontos turísticos em Los Angeles.”

Dylan moveu os dedos pelo queixo e balançou a cabeça, pensativo. Antes que a possibilidade daquilo ser apenas uma conversa normal entre pai e filho se fixar em minha mente, vi suas bochechas corando. Meu corpo se tencionou, impedindo-me de saltar do sofá e sair correndo. Meu pai pigarreou algumas vezes, demonstrando seu nervosismo.

“Filho, sei que já tivemos essa conversa algumas vezes...”

Está na hora da retirada, Jeremy.

“...mas preciso me certificar que está seguindo os meus conselhos...”

Se eu correr agora, posso fugir antes que ele chame a polícia.

“... por isso vou perguntar isso.”

Tarde demais, Read.

Ergueu seus olhos para mim e engoliu a seco.

“Você e Aliel estão se cuidando?”, ele questionou em voz baixa. E eu sabia o porquê do tremor em sua voz. Minha mãe o mataria se escutasse. “Vocês são jovens e passaram uma semana longe da nossa supervisão. Além de sempre ficarem sozinhos naquele quarto. Se quiser, podemos ir até a farmácia e eu o ajudo a escolher algumas camisinhas.”

Meu rosto estava tão vermelho que foi inevitável começar a suar. Levantei-me, incapaz de sustentar esse assunto por muito tempo. Não que tivesse vergonha em falar sobre minha vida sexual com meu pai. Mas, o que meus pais diriam se soubessem que nem havia dado um beijo em minha namorada?

“Pai, não se preocupe.”, disse com a voz sussurrada. Estava em choque com o rumo de seus pensamentos. “Eu e Aliel estamos indo devagar.”, muito devagar. “Não vai precisar se preocupar com isso por muito tempo.”

Dylan suspirou aliviado, movendo a mão pela testa – eu não era o único suando – e forçou um sorriso camarada. Com a tensão que tomava conta do ambiente, era um pouco impossível permanecer tranquilo. Encaramo-nos por mais alguns segundos, esperando que alguém acrescentasse algo. Por fim, ele bateu as mãos nas coxas e gargalhou.

“Lembre-me de nunca perguntar isso novamente.”, ele pediu.

Dei um riso nervoso.

“Pode deixar, coroa.”, me movi em direção as escadas. “Nunca mais.”

**********************

Quando a semana finalmente cedeu e acabou, não conseguia me aguentar no lugar. Ariel saiu algumas horas antes, deixando-me andando de um lado para o outro, ansioso. Queria abraçar minha namorada e não deixá-la ir. Queria saber o que o Céu falou sobre nós – porque esse assunto era óbvio. Mas, principalmente, queria que aquele mau pressentimento acabasse.

Escutei o som de suas asas se aproximando de minha janela segundos antes das cortinas serem empurradas para o lado. A perna morena de Aliel atravessou o parapeito da janela, lhe dando suporte para entrar em meu quarto. Por um momento, fiquei parado a observando. Uma semana separados, uma semana juntos, uma semana separados. Isso estava me enlouquecendo.

Suas asas já estavam ocultas quando pousou seus pés com segurança no chão. Estava de calça jeans e suéter rosa, destacando sua pele escura. Os cabelos cacheados presos em uma trança lateral e alguns fios estavam soltos, moldando ainda mais seu rosto. Ergueu seus olhos castanhos para mim e deu um pequeno sorriso.

Foi só o que bastou para me fazer correr para seus braços.

“Não sabe o quanto senti a sua...”

Interrompi minhas palavras, quando ela recuou, escapando de meu abraço. Meu peito se aperto ao mesmo tempo em que meus membros se esfriaram. Fechei os olhos, tentando me acalmar. Era normal. Ela estava confusa com tudo o que deve ter escutado. Contrariado, abaixei os braços e a vi mordendo a ponta do lábio inferior, como se estivesse se desculpando.


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Notas finais do capítulo

Adivinhem quem voltou? Aliel.

Viu? Foi só um capítulo que ela ficou longe. E... ops! O que aconteceu, hein? Problemas no paraíso?