Mirror, O Reflexo da Verdade escrita por Nynna Days


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, flores.

Vamos lá: Motivos para não ter postado na quinta. Fiquei cheia de coisas para fazer e estava preparando o capítulo novo de Destiny. Decidi que será em terceira pessoa e como eu não sabia quem iria narrar - já que os dois protagonistas tem muita a dizer - decidi que será um capítulo de cada um.

Aham, Harper e Simon terão voz.

Ah, já adiantando. Irei encomendar o trailer de Destiny e quero a opinião de vocês para a música. Sei que Harper e Simon eram personagens secundários, mas pelo que vocês conhecem deles, que música seria boa?

Agora o novo capítulo. Aproveitem.



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Pode parecer canalhice, mas continuei mordendo a maçã. Ela passou os dedos pelo rosto, como se sentisse raiva de estar chorando na minha frente. Suas bochechas estavam vermelhas e os cabelos desalinhados. Embaixo de seus olhos claros tinham olheiras escuras, como se ela tivesse passado a noite inteira se revirando na cama.

Esse pensamento me fez sentir pena. Ela não tinha culpa de tudo o que eles fizeram para me separar de Aliel. Não deveria ter jogado com Mary daquele jeito. Sim, eu gostava de passar um tempo com ela, talvez se eu tivesse realmente cedido, chegasse ao ponto de amá-la. Só que nem sempre as coisas são como esperamos.

“O que você quer, Mary?”, perguntei rude.

Era melhor ser um estúpido com ela, do que amolecer e lhe dar esperança de algo que nunca aconteceria. Dei mais uma mordida na maçã, mantendo meu olhar entediado. Nem a exposição de meu corpo seminu pareceu abalar seu julgamento final sobre minha personalidade. Era sempre assim. Eu lhe oferecia o céu e quando estavam acostumadas, se viam cercadas pelo inferno.

“Você é um filho da puta cretino.”, ela respondeu raivosa.

Assenti com suas palavras. Nenhuma mentira até aí. Ela rosnou e se levantou frustrada. Preparei-me mentalmente para a enxurrada de xingamento e ameaças. Encostei meu corpo no batente, confirmando minha indiferença diante de sua dor. As lágrimas pararam de descer, felizmente, deixando espaço apenas para a raiva.

Vendo aquela cena por outro ponto de vista, cheguei a conclusão que talvez eu tenha exagerado com a frieza. Mary só precisava de uma explicação. A entendia. Estava tudo bem – caramba, eu tinha prometido guardar uma dança para ela – e de repente, eu vinha para casa com outra mulher? Também estaria exigindo uma resposta para todas aquelas dúvidas que cismavam em passar na minha cabeça.

O problema era que o meu sentimento por Mary era carnal. Sim, o primeiro encontro havia me abalado. Só que aquele momento de encanto tinha sido o suficiente para me fazer esquecer a presença de Aliel. Meu coração acelerado era um lembrete fixo. Mordi a maçã, vendo-a ergueu os olhos claros e apontar acusadora na minha direção.

“Não acredito que você teve a coragem de me usar desse jeito.”, ela ralhou, dizendo cada palavra carregada de desprezo. “E ainda teve a cara de pau de dizer que não queria que eu agisse como as outras? Eu escutei o que as pessoas disseram, Jeremy. Te viram com a vadia da Wendy, e depois com Aliel. Não me respeitou nem depois de me beijar na frente da escola inteira. Filho da mãe, você pode ter deixado a St. Loise, mas ainda vou ficar um ano sendo chamada de otária e corna.”

Reprimi um impulso de fechar os olhos ou me desculpar. Mantive meu olhar vazio e dei de ombros, mordendo a maçã que já estava no final. Mary me encarou como se fosse um cachorro pronto para pular no meu pescoço. Mesmo que fosse quase vinte centímetros mais baixa do que eu. Passou os dedos nos cabelos, nervosa. Como um furacão, marchou até onde eu estava recostado e fechou a cara. Ergui uma sobrancelha.

“Você não vai dizer nada?”, exigiu. Neguei. Seus olhos se encheram de água novamente e eu engoli a seco. Por dentro, meu estômago estava dando voltar conforme o peso da culpa que carregava. “Dexter tinha razão quando disse que você era um canalha.”, balançou a cabeça. “Incrível que não veja um pingo de remorso em seus olhos.”

Passei o peso de meu corpo para a outra perna antes de responder.

“Olha, Mary, essa conversa não dará em nada.”, esclareci, entediado. Seus olhos se estreitaram. “Então, faça o que veio fazer e siga a sua vida.”

Estiquei meu pescoço para frente e cruzei minhas mãos nas costas, dando-lhe total acesso ao meu rosto. Mary entendeu o recado e não hesitou em estalar a mão em minha bochecha. Caramba, a garota poderia ser pequena, mas tinha uma mão pesada. Senti a lateral de meu rosto arder e seus olhos brilharam, satisfeitos. Só para que no momento seguinte fossem tomados pelo desprazer.

“Jeremy, por favor.”, ela botou as mãos em meu peito e ficou na ponta do pé. Ergui minhas mãos, mostrando que não tinha nada a ver com aquela cena. Meu olhar vazio era um indício disso. “Eu mereço uma explicação...”, estufou o peito, encostando-se em mim. Se voz se reduziu a um sussurro rouco. “Não foi safada o suficiente?”

Balancei a cabeça, segurando Mary pelos ombros e a afastando. Realmente não era aquilo que eu queria. Suas longas unhas se cravaram em meu pulso, expressando fisicamente seu desespero. Sacudi meus braços, com as emoções escondidas atrás de uma máscara de rigidez e me soltei de sua investida.

“Pare, Mary.”, pedi magoado por ela estar agindo desse jeito tão mesquinho. “Está vendo porque nunca daríamos certo? Você ainda me vê como as pessoas falam. Jeremy Read, o canalha, cafajeste e mulherengo. Um quebrador de coração. Ás vezes, nem tudo o que as pessoas dizem é verdade.”

Seus olhos se arregalaram e pôs as pequenas mãos na boca.

“Você foi se agarrou com Wendy?”

Desviei o olhar.

“Não a beijei.”, balancei a mão, gesticulando que aquele assunto não interessava. “O ponto é: Você não tem o que preciso. E sabe como acabaria o nosso relacionamento?”, indaguei e ela negou. “Exatamente assim. Xingamentos, lágrimas e acusações. Mary, sei que você não vai entender agora, só que eu preciso de alguém singular. Que me contenha e me tire da minha zona de conforto.”

Ela mexeu a cabeça, concordando a contragosto.

“Alguém como ela?”, apontou na direção da escada.

Me virei, impressionado por não ter sentido sua presença antes. Aliel estava parada no alto da escada com Jane no colo e os olhos escuros arregalados. Minha mãe vinha logo atrás gesticulando, como se estivesse no meio de uma conversa – ou tentando impedir que Aliel visse quem era a minha visita. Péssimo trabalho, mãe.

Um sorriso involuntário preencheu os meus lábios ao constatar que elas eram as três mulheres da minha vida. Dei um suspiro cansado e arrastei os olhos até onde Mary estava com os ombros encolhidos. O entendimento era visível em sua expressão desconfortável. Ela ainda me odiaria por um tempo, só que era melhor do que ter esperança de algo que nunca aconteceria.

“Desculpe por não te amar, Mary.”, disse com sinceridade. Caminhei até a porta, escutando seus passos arrastados vindos logo em seguida. Abri a porta, vendo-a dispersa a tudo que estava ao seu redor. Estalei os dedos na sua frente, fazendo se sobressaltar. “Mary, não se preocupe. Vai achar um cara bem melhor do que eu.”

Deu um sorriso triste.

“Deus te ouça.”

Fiz uma careta.

“Se eu fosse você, não colocaria Deus nessa.”, gesticulei para a porta. Ela parou apenas para me estudar mais uma vez e suspirou, se afastando. Sussurrei, sabendo que nem o vento seria capaz de levar minhas palavras até seus ouvidos. “Eu realmente lamento não ter sido capaz de amá-la.”

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Não fiquei nenhum pouco impressionado ao receber uma ligação de Mellany algumas horas depois de Mary ter ido embora. Muito menos de ela estar me xingando.

“Puta merda, Read!”, ela gritou. Fiz uma careta, afastando o celular da orelha por alguns segundos. “Eu disse para você ficar um pouco com Mary e lançar os olhares matadores na direção de Aliel. Não para arrastar o Anjo nos ombros e humilhar a outra na frente da escola inteira. Realmente o que você tem de bonito, tem de burro.”

Forcei um sorriso para o Padre Joseph, tentando aparentar que estava tudo calmo. Só que todos nós sabíamos que estávamos diante da tormenta. Não conseguia parar de mexer minha perna, tamanho o meu nervosismo. Tomei um gole da água gelada, esperando que aliviasse a secura de minha boca. Foi difícil engolir por sentir minha garganta se fechando. Pigarreei.

“Estou cansado de mentir, Mellany. Quero que isso tudo se resolva de uma vez.”

Ela suspirou.

“Eu sei.”, sua voz ficou mais leve. Seu cansaço era perceptível e se refletia em mim. “Os super gêmeos já chegaram aí?”

Tive que fazer meu cérebro trabalhar por alguns segundos até descobrir que ela estava falando de Adriel e Caliel. Neguei, esquecendo que ela não poderia ver. O padre me olhou com curiosidade, mas apenas dei de ombros, fingindo que o assunto era leve. Como o jogo da semana passada ou coisa do tipo.

“Ainda não.”, respondi me levantando do sofá e indo em direção a janela, apoiando meu tronco no batente e observando a vista lateral da casa. Respirei fundo, incapaz de acreditar que iria dizer aquilo. “Estou com medo.”, massageei a ponte do meu nariz, forçando-me a ficar firme. Meus olhos se abaixaram e obervaram os nós pálidos de minhas mãos fechadas em punho. “Foi tão fácil que ela cedesse a eles, quem me garante que não vá fazê-lo novamente?”

Mellany bufou.

“Você deveria confiar mais em seu taco, Read.”, dei um riso fraco com a sua provocação e concordei. “Aliel ama você. Com seu jeito errado e tudo mais. Cara, eu destruí um carro, ameacei roubar a virgindade de um anjo, usei drogas e bebi com inúmeros desconhecidos. E Adriel se mantém firme do meu lado. Sabe o motivo? Óbvio que não. Não importa o que fizemos antes e sim o que nos tornamos depois que assumimos esse compromisso. E você mostrou que é um merda quando está longe de Aliel.”

“Hey.”, reclamei.

“Vamos lá, Read.”, ela esbravejou. “Você se agarrou com uma garota no dia em que tomou um pé na bunda, resolvendo aceitar seu destino angelical. Depois começou a ter surtos de bipolaridade e obsessão em descobrir onde Aliel está. E quando a encontrou... Oh, baby. Você chegou ao auge da psicose.”

Cocei meus cabelos, sentindo minhas bochechas corarem.

“Pensei que tivesse ligado para me xingar.”, tentei desconversar.

“É exatamente o que estou fazendo, Read.”, ela retrucou e escutei um baque surdo. Imaginei que ela tivesse se jogando na cama ou no sofá com o celular no ouvido. “Posso ser sincera com você? Toda história de ser apaixonada por um anjo é um saco. Por que não poderíamos ser pessoas normais que se agarram pelos corredores sem nenhum puder ao tentar arrancar as roupas um do outro? Eu arrancaria as suas com certeza.”

Revirei os olhos com o comentário de Mellany. A verdade era que eu sabia que essas palavras tinham um fundo de verdade. Sempre fui ciente da atração de Mellany por mim, e muitas vezes me senti culpado por não ser capaz de retribuir. Éramos semelhantes em diversos pontos. Tanto na aparência quanto no comportamento. Só que nosso timing foi errado. Quando a conheci, já estava cego de amor por Aliel. E quando tomei um pé na bunda, ela já estava encantada por Adriel.

Talvez tenha sido melhor assim. Mary tinha sido fácil de domar, assim como todas as outras como Melissa e Wendy. Entretanto, Mellany não seria assim. E nosso relacionamento seria explosivo ao ponto de ultrapassarmos de vários modos a linha do limite. Ela era um boa amiga e deveria ser uma ótima namorada para Adriel. Só para ele.

“Desculpe por aquilo que eu disse naquele dia.”, murmurei sem perceber. O silêncio dela me delatou que sabia exatamente do que eu estava falando. “Não que estivesse mentindo, mas não deveria ter sido tão rude. Talvez déssemos certou, talvez não.”, dei de ombros. “Não posso julgar um relacionamento baseado na minha imaginação.”

“Relaxe, Read.”, ela disse e soltou um riso seco, falhando em não parecer tensa. “Só porque eu disse que se apaixonar por anjos é um saco, não quer dizer que estou tão desesperada ao ponto de me jogar nos seus braços. Você é mal, Jeremy. Deu ao amor uma péssima reputação.”

Gargalhei, não conseguindo me conter.

“Bon Jovi? Sério?”

Ela começou a cantarolar a música do outro lado da linha e – inconscientemente – mexi a cabeça no ritmo. Toda aquela história tinha trazido consequências positivas, pelo menos. Mesmo que Jason ainda fosse meu melhor amigo, sabia que poderia recorrer a Mellany quando quisesse desabafar sobre certos assuntos. E quando precisasse de um choque de realidade.

Ela parou a música quando a campainha tocou. Meu corpo todo se tencionou ao escutar o padre cumprimentando os renegados angélicos. Ao longe escutei Mellany se despedindo de mim e me mandando não fazer merda antes de desligar o telefone. Mantive-me parado, sem nenhuma vontade de virar e encarar nossos convidados. Isso faria com que a realidade da situação fosse mais alarmante.

“Está pronto?”, Adriel perguntou pondo uma das mãos em meus ombros. Ergui meus olhos para ele com a expressão mais sarcástica que possuía. Ele deu um pequeno sorriso. “Acho que isso é um não.”

“Não precisa ter medo, Jeremy.”, Caliel ressaltou andando até mim. “Aliel poderia fazer isso sozinha, só que queremos garantir que tudo seguirá os seus conformes.”

Arqueei uma sobrancelha.

“Vocês querem ver se vou me comportar, não é?”

Eles trocaram olhares cúmplices, porém nenhuma resposta foi escutada. Caliel parecia bem depois de casada. Seus cabelos loiros tinham crescido, quase tocando a metade dos bíceps magros e estavam um pouco mais ondulados. Seus olhos azuis pareciam ainda mais brilhantes e seu sorriso exalava confiança. Até sua pele tinha adquirido uma cor que fugia do pálido que predominava na maioria dos anjos.

“Você está ótima, Loira.”, me peguei dizendo.

Ela corou, sendo pega de surpresa.

“Obrigada.”, riu ainda constrangida. “Você não está tão mal quanto me disseram.”

Ri irônico.

“Você tinha que ter visto dois dias atrás.”, cruzei os braços, assumindo uma posição defensiva diante daqueles olhares especulativos. “Estava uma merda.”

Ela virou os olhos.

“E sua língua continua afiada.”

“Como navalha.”

Era incrível como a tensão que existia entre nós dois parecia ter sido extinguida. Eu me sentia feliz por ela ter conseguido a paz de espírito que procurou por tanto tempo. Depois de ter quase perdido o amor de sua vida duas vezes, era o mínimo que poderia ter acontecido. Ela sorriu, como se estivesse lendo os meus pensamentos e se virou com o barulho de passos se aproximando vindos do corredor.

Aliel tinha prendidos os cabelos em uma trança longa, deixando alguns fios soltos e enfeitando seu rosto arredondando e fino. Passou as mãos pelas calças jeans, em uma tentativa de limpar o suor. Vestiu uma blusa de alcinhas branca e um casaco jeans enrolado até a metade do antebraço. Meu sorriso se ampliou ao contemplar seu tênis surrado.

“Você deveria ficar, Jeremy.”, ela disse. Já era a terceira ou quarta vez que dizia isso. Seus olhos duros expressavam preocupação. “Serei rápida.”

Pressionei os lábios juntos. Desde que ela tinha tomado a decisão de ir atrás deles antes que eles viessem atrás dela queria evitar qualquer contato meu. Não precisava ser nenhum gênio para descobrir o motivo. Ela queria me manter afastada de qualquer decisão ou castigo que eles poderiam aplicar nela. Isso incluía me esconder na casa do padre, caso eles resolvessem que eu era um infortúnio para o mundo e me matassem.

“Não irei me esconder, Anjo.”, rebati indo até ela e pegando sua mão. Coloquei meus dedos embaixo de seu queixo, obrigando-a a me olhar. “Somos nós contra o céu. Eu vou onde você for. Não importa os limites que terei que ultrapassar.”

Ela passou a língua pelos lábios e me abraçou, botando a cabeça em meu peito. Apertei seu corpo contra o meu, sentindo o cheiro doce de seus cabelos e suspirei. Eu enfrentaria qualquer coisa por aquela mulher. Ela se afastou, pousando os grandes olhos escuros em mim e beijei sua testa, casto, afastando alguns fios de cabelo.

“Espero que continue me amando, mesmo quando essa história de asas acabar.”, ela desabafou. No instante seguinte se arrependeu de suas palavras. “Não que eu duvide de seus sentimentos. Você já demonstrou a consistência deles. Eu só...”, piscou algumas vezes. “estou com medo de ter que enfrentar tudo isso.”

Soltando-a, deslizei minhas mãos por seus braços até que pudesse entrelaçar os nossos dedos. Ela sorriu com minha demonstração de carinho e ficou na ponta dos pés, pressionando sua boca na minha em beijo sereno. Ignorei o arfar do padre e aproveitei o misto de sensações que aquele singelo toque trazia para a minha pele.

“Vamos enfrentar tudo juntos, Anjo. Não existem barreiras quando o assunto é a sua felicidade. Não importa o tempo que demorar e nem o quão rebelde terei que ser.”, os anjos sorriram pelas menções implícitas aos seus relacionamentos. “No fim, tudo acaba bem.”

Ela fungou e balançou a cabeça, tentando reter o choro.

“Não quero que fique sem Guardiã e desprotegido.”

“E eu não queria fazê-la cair.”, dei de ombros roçando a ponta de meus dedos por seu rosto. “Não podemos ter tudo o que queremos e nem cumprir tudo o que prometemos.”

Ela virou a cabeça, beijando a palma de minha mão.

“Se você estiver comigo, vou ficar bem.”

“Então esteja ótima.”

*******************

Deveria ser ironia do destino, mas eu estava sentado no banco da mesma igreja em que tinha dito que Deus fodeu minha vida. Cogitei a ideia de me ajoelhar e pedir perdão, entretanto afastei esse pensamento logo em seguida. Ergui meus olhos, vendo Caliel, Adriel e Aliel parado em frente ao enorme imagem de barro de Jesus crucificado. Os três fizeram o sinal da cruz, mesmo que só uma tivesse vínculo com o céu. Trocaram olhares, sendo tomados pela tensão. Mesmo sendo apenas um telespectador compartilhava de suas emoções.

“Está na hora.”, Adriel disse. Ele e Caliel deram passos para trás, dando espaço para que Aliel pudesse se ajoelhar com a cabeça abaixada. “Estaremos do seu lado, Aliel.”

“Obrigada.”, ela agradeceu com um sussurro quase inaudível.

Aliel deslizou os dedos pelo casaco, fazendo-o cair ao lado de seu joelho. Aquela imagem me fez ter uma lembrança de quando me contou que era um anjo. Como interpretei de um jeito rude seus movimentos, pensando que ela iria se oferecer como as outras, no intuito de provar seu ponto de vista e o quanto eu estava errado. Sim, eu estava errado. Mas por outros motivos.

Arfei com a visão de suas asas abertas em suas costas e esticadas. Fiquei maravilhado com o tamanho e a grandeza que exalava. Tive que por as mãos no bolso para reter a vontade de tocar cada pena, desejando sentir a maciez contra minha pele. Não sabia como Aliel poderia ter visto as suas asas como algo hostil, só por elas terem o formato semelhante á asas de águias. Era lindas e delicadas, mas mostrando seu poder. Além do prateado na ponta que destacava ainda mais a beleza.

O egoísmo me abateu no mesmo segundo em que ela começou a rezar. Me levantei, querendo detê-la de fazer algo que se arrependesse. Não queria que ela abrisse mão de algo que amava apenas por um humano. Meus passos determinados fizeram Caliel e Adriel arregalarem seus olhos multicoloridos. Estava a um centímetro de tocar o ombro de Aliel, quando uma luz acertou meu rosto com mais força do que meus olhos poderiam resistir. Pus o braço na frente de meu rosto, querendo me proteger e recuei, inconscientemente.

“Ele não veio sozinho.”, vagamente escutei Caliel dizer isso á Adriel, com a voz trêmula. “Tire-o dali. Não deixe-o perto deles.”

Senti o aperto de Adriel em meu bíceps me puxando para trás, para longe daquela magnífica luz. Ele me sacudiu pelos braços, me fazendo abrir os olhos, sobressaltado. Os seus estavam duros feito pedra, acompanhando a rigidez de seu corpo. Senti o pequeno corpo de Caliel se pressionando em minhas costas, como se estivesse formando uma barreira de proteção.

“O que está acontecendo?”, perguntei ainda perdido e desnorteado por conta da força aquela luz. “O que é isso?”

Adriel respirava ruidosamente pelo nariz, nervoso.

“São os Arcanjos.”

Meus olhos se arregalaram.

“São?”

Ele assentiu, sério.

“Miguel, Rafael e Gabriel estão aqui.”


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Notas finais do capítulo

E agora? Os três desceram... O que será do nosso casal? E que mudança de ideia brusca foi aquela de Jeremy?