FoxFace escrita por Demiguise


Capítulo 3
Capitulo III - MAIS UM DIA


Notas iniciais do capítulo

Aqui está!!!!! Este cap. dedico a Daniela Arezzo, que anda acompanhando a Fic.



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O tiro do canhão na noite anterior marcou doze mortos.

O frio excessivo da noite faz meu cortezinho na testa arder ainda mais. O frio, por si só arde muito.

Tenho sorte por ter só esse cortezinho, devem existir tributos espalhados por ai, que não tem mãos, braços, pés.... E eu por outro lado, tenho só um cortezinho, e a sua causa, nem foi proposital, eu acho.

O dia amanhece lentamente, mas eu acordo antes dele fazer isso por completo, e inicio o complicado trajeto de descer da arvore. A sede começa a queimar o interior do meu corpo. Mas eu o sinto gelado, e até um pouco úmido. Úmido!

Assim que ponho os pés no chão de terra e raízes, meus músculos endurecem quase que subitamente, como se estivesse um imã eletromagnético, dos quais existem em abundância do Distrito 5. Mas isso sai de minha mente, quando eu caminho dura e apressadamente para a vegetação rasteira mais próxima. Até um arbusto de folhas largas, o qual eu identifico. Começo a chupar as folhas em busca de orvalho ou sereno da noite anterior, mas o resultado é quase minúsculo. Mas é um resultado. Faço isso com mais um monte de folhas. Preciso de água, água de verdade. O orvalho só faz eu sentir ainda mais sede. Na Cornucópia existe um lago. Um lago territorialmente grandinho.

Não posso ir até ele. É como entrar em um recinto de leões furiosos, e roubar sua carne.

Mas não tenho tempo para procurar por água. O lago é minha última saída.

Os pensamentos dos tributos desmembrados voltam a minha mente. Eu posso ser um deles se for à direção a que estou disposta a ir.

Sinto-me em uma sala de espelhos. Arvores a esquerda, arvores a direita, a frente e atrás, os espelho não para de me seguir, enquanto caminho. Mas eles não me refletem. Essa é uma sensação sufocante. Me movo mas não chego a lugar algum.

A sede me faz ter pressa, mas não me impede de levar uma perna a frente da outra. A batalha de músculos começa ai. A cada passo sinto o chão magnético se dissipando, como se eu o estivesse o evitando e ele, se afastando.

Um grito fraco chega aos meus ouvidos e eu paro imediatamente. Uma voz feminina, grossa, fraca, e até um pouco rouca, mas feminina. O grito vem da frente, não parece estar longe, uns vinte metros, diria eu.

Agacho-me e fico parada, olhando atenciosamente para frente. Talvez seja um tributo desmembrado, se não tiver uma perna ou se estiver altamente ferido, eu até sou capaz de lhe causar um mal maior.

Não.

Isso iria além de meus planos previamente preparados. Qualquer passo em falso, significaria minha morte. Não que eu tenha alguma chance se sobrevivência aqui, mas...

Meus passos silenciosos são abafados pela respiração pesada da garota.

Pare Pynch! Não de mais um passo! Preciso ao menos descobrir que é a garota. Movo-me lentamente para e esquerda ainda abaixada. A única coisa que identifico é o número dois.

Não pode ser o tributo do 2, ela era loira, essa é morena. Talvez seja Katarin, a tributo do Distrito 12. Essa eu certamente conseguiria matar. Olha ela! Esta vulnerável, sozinha, e provavelmente esta chorando. Provavelmente está nas mesmas situações que eu. Procurando fervorosamente por água ou abastecimento, mas ela tem uma mochila. Eu não tenho nada. Bem, essa é a garota em chamas, que tem um onze como nota, que a Capital toda ama? Eu pensava que ela era mais que isso... Principalmente aqui, na arena.

Katarin faz algo que me surpreende, ela se levanta, e eu me abaixo ainda mais. Pega um galho fino e o usa como uma bengala. Ela caminha lenta e cansadamente, ela certamente está nas mesmas condições que eu. Está com sede, mas está convicta, ela deve ter recebido um chamado. Está procurando por água, e eu também. Faço o obvio, sigo ela.

A cada passo sinto a fome e a sede latejando furiosamente por todo meu corpo. Não urinei ainda, não sei se isso é um problema, mas não posso perder minha carona improvável, até a água... Até a vida.

Passos e mais passos. O orvalho já deixou as plantas a muito, tanto que a tarde chega calorosa e mortal. A sede só triplica com o sol, quadriplica com o cansaço e os pés ardentes, quintuplica com a noção do tempo. E se torna insuportável!

Katarin tropeça diversas vezes, e eu luto para não fazer o mesmo, o barulho seria o suficiente para ela perceber minha presença.

Começo a ficar tonta enquanto a noitinha vem chegando. Que droga! Eu devia ter seguido meu próprio caminho! Onde essa garota foi me meter!?

A garota que está agora caída no chão está provavelmente morta, morta como eu estarei a uns poucos minutos também se não seguir em frente. Certifico-me de que pelo menos quinze metros nos separam, e me aproximo. Não escuto o som do canhão, ela ainda está viva. Mas por pouco. Olho um pouco mais adiante e vejo um inseto longo, não, dois insetos longos e presentes. Eles fazem os mesmos movimentos, até as batidas rápidas e precisas das asas são as mesmas. Olho mais em volta, e vejo pares. Duas arvores iguais. Dois corpos no chão, dois lírios d’... dois lírios!!! Libélulas! Água!

Contorno a garota no chão com uns cinco metros de distancia, ela já deve ter perdidos os sentidos, já está morta e eu, viva.

A fonte é marrom e verde, com algas flutuando, algas e lírios. Os grãos de terra são minúsculos, mas não me importo com eles quando mergulho minha cabeça vorazmente e engulo a água de imediato. Nada pode atrapalhar meu momento intimo com a fonte, nada, exceto pela garota cujo o canhão ainda não lhe fez a homenagem.

Esse pensamento, por mais bobo que seja, me incomoda e interrompe minha situação com a água fresca, que varre a sede incessante, e cura as feridas secas de meus lábios, que a pouco estavam tão ressecados quanto folhas de outono que preenchem o chão como um cobertor, sob a lama.

Katarin, do 12 se mexe, e meus instintos avisam para mim sair dali imediatamente. Por mais tentador que a água a minha frente seja, eu saio e me escondo atrás de uma rocha de tamanho mediano a uns metros de distancia.

Fico ali, escondida, enquanto a garota se esbalda várias vezes do banquete suculento e liquido, percebo que ela pinga umas gotas de algo que me parece iodo. Eu faria isto também, se tivesse esse tipo de dádiva.

A noite chega e sem nenhum tiro decanhão. Isso também é ruim. Os Jogos devem estar perdendo audiência, o povo esta sedento por violência.

Assim que Katarin adormece em cima de uma arvore próxima, eu tomo a fonte para mim e usufruo dela por umas poucas horinhas.

Embora seja um fonte boa, fico totalmente vulnerável aqui, qualquer tributo poderia me achar e eu não teria escapatória. Decido então partir, em busca de comida. Alguma fruta ou planta me ajudaria, e sei que não tenho muito tempo. Então tenho voltar ao meu intuito inicial: Cornucópia, ou seja, o recinto de leões.

Ando vagarosamente pela noite, eu sei que isso é perigoso, mas pretendo chegar a Cornucópia antes do amanhecer.

A noite começa a ficar com um tom estranho e artificial. Não pode ser o sol, está muito cedo. Como não andei muito, olho para trás, para a fonte e vejo a luminosidade de um incêndio. Um incêndio que começou no silencio e vai provavelmente terminar com um tiro de canhão. Mas não aperto o passo.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem



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