Um pedido, um tempo e um casamento escrita por Alexandra Watson


Capítulo 4
Uma surpresa de aniversário


Notas iniciais do capítulo

Que a inspiração da madrugada seja glorificada para toda a eternidade.
*Divirtam-se*



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[Dia doze de julho. Acampamento Meio Sangue.]

– Gente, o que ...? –eu comecei, mas Percy me interrompeu com um beijo.

– Parabéns, Sabidinha – ele disse me dando um cupcake com Annie escrito com creme por cima.

– Parabéns? – estava confusa.

– Hoje é seu aniversário, Annie – disse Thalia, me abraçando.

Parei um segundo e me lembrei que dia era hoje. Deuses, estava tão focada no bebê e no casamento que esquecera meu próprio aniversário.

Reconheci meus outros amigos lá e depois de muitos parabéns, Percy e eu entramos no chalé. Eu havia ficado conversando com Clarisse e entrei depois dele. Ele estava sentado em sua cama, me esperando. Me sentei e dividi o cupcake ao meio.

– Obrigada, Percy.

– Só se faz vinte e três anos uma vez na vida, amor.

– Você disse a mesma coisa no meu aniversário de vinte e dois anos.

– Digamos que eu não tenha muita imaginação de como dizer que um aniversário é bom.

– Não, não sabe – coloquei o caderno, que estava em cima da cama, em cima de meu livro.

Cheguei perto dele e me deitei em seu peito. Acho que acabei dormindo, pois estava exausta.

***********************************

Acordei sozinha na cama. Olhei para o criado mudo e vi um bilhete na caligrafia desleixada porém bonita de Percy.

“Annie, tinha aula de esgrima hoje de manhã e Quíron a liberou por ser seu aniversário. Quando você acordar, me procure na arena e de tarde, depois do almoço, nós vamos falar com nossos pais (mortais e imortais).

Feliz aniversário de novo, Sabidinha.

Até mais tarde.

– Cabeça de Alga”

Me levantei e fui ao banheiro. Tomei um longo banho e me troquei. Sai do chalé e fui em direção a casa principal, onde Quíron e Sr. D. estavam conversando. Eles me parabenizaram, Quíron mais empolgadamente do que Sr. D. (obviamente).

Descobri que faltavam vinte minutos para o almoço, então fui para a arena ver Percy lutar contra Jason. Fiquei observando-os até que Percy conseguiu desarmar Jason e ele desistiu. Jason acenou para mim e saiu, se despedindo dos novatos. Percy dispensou-os e veio caminhando em minha direção.

– Bom dia.

– Bom dia, Percy.

Ele veio em minha direção para me abraçar. Coloquei meu braço para pará-lo.

– Nem pense nisso Sr. Jackson. Eu acabei de tomar banho e o senhor está todo suado. Vai tomar um banho que eu te espero lá no refeitório.

Me levantei e andamos juntos até o refeitório, onde ele continuou sozinho até o chalé, não sem antes me dar um beijo, chegando muito perto e quase me sujando de suor.

Entrei no refeitório, que estava quase vazio, não fosse por algumas filhas de Deméter, alguns de Apollo, Petra e uma outra menina que não reconheci.

Me sentei e Petra me apresentou a menina. Seu nome era Letícia. Ela tinha a idade de Petra, mas havia chegado hoje. Conversamos até o fim do almoço sobre como era estranho chegar aqui e “oi, bem-vindo ao acampamento Meio Sangue. Adivinha só? Você é filho de um deus grego! E tem mais, há monstros que vão segui-lo por toda sua vida. Não é demais?”

Quando Letícia saiu porque tinha que ir para sua primeira aula, ficamos só eu e Petra. Estávamos indo pro chalé seis, para eu me trocar, quando ela viu Drew (se lembra dela? Filha de Afrodite? Detestável? Odiadora de Pipers? Então, ela mesma) no chalé dez e me cutucou.

– Quem é essa?

– Essa é Drew. Filha de Afrodite. Antigamente ela era a conselheira chefe do chalé de Afrodite, mas Piper tirou seu cargo justamente. Ela era má com seus outros irmãos.

– Então, estava indo pra aula de arco e flecha hoje de manhã e escutei ela conversando com uma outra menina. Elas estavam falando sobre você.

– O que elas estavam falando sobre mim?

Ela parou por um segundo, acho que com medo de continuar a falar.

– Petra, você pode me falar o que é.

– Está bem – ela respirou fundo. – Ela disse que só achava que você estava casando com o Percy por causa do ... por causa do bebê e não porque você gosta dele de verdade. Que você disse que não ia conseguir aguentar essa responsabilidade toda e meio que está forçando ele a se casar.

Ela parou e esperou por minha reação. Eu também parei e esperei por minha reação. Olhei para Petra e depois para o chalé de Poseidon. Então fui em direção a Drew.

– Drew!

Ela parou e se virou para mim. No momento em que me aproximei dela, não me contive.

– Annabeth, o que você ....

Dei um tapa nela. Ela virou o rosto.

– O que você pensa que está ... – outro tapa.

Ela colocou a mão no rosto. Quando ela voltou, segurei-a pela camiseta laranja customizada.

– Se atreva a dizer que estou me casando com Percy por causa do bebê e não porque o amo outra vez, que eu acabo com essa sua carinha de vadia!

Larguei sua blusa e ela ficou me olhando indignada. Quando eu ia me virar, ela levantou a mão pra mim. Mero erro. Segurei sua mão antes que pudesse chegar perto de meu rosto.

– Acho que você não é tão burra a ponto de saber que não devia ter feito isso, seu projeto de filha de Afrodite.

Levei minha mão para trás, pronta pra dar um tapa ou soco (ainda estava decidindo) quando alguém segurou meu braço. Percy.

– Percy, me solta! Eu vou ensinar pra essa garota o que acontece com quem duvida de mim!

Ele passou os braços em volta de mim, prendendo meus dois braços. Drew estava esfregando o rosto enquanto isso.

– Não vale a pena, Annabeth. Você sabe a verdade e eu sei, então dane-se o que os outros pensam.

Parei por um momento. Olhei para Drew.

– Que isso não se repita – eu disse e sai, com o braço de Percy sobre mim, por precaução.

Ele começou a andar em direção ao meu chalé e Petra se juntou a nós no caminho.

– Desculpa, Annie. Eu vi que não ia dar certo isso e corri para chamar Percy.

– Você fez certo, Petra. Eu que me descontrolei.

Entramos no chalé seis. Percy se sentou na minha cama ao lado de Petra. Peguei uma roupa e fui para o banheiro. Coloquei um vestido azul e um casaquinho branco por cima. Sai e me despedi de Petra.

– Como nós vamos, Percy?

– BlackJack?

Levantei uma sobrancelha.

– Sério, Percy? Nós vamos pra cidade, não dá pra ir no BlackJack.

– Ah.

Fomos até Quíron e falamos sobre ir pra cidade. Ele deixou e nos despedimos. Andamos um pouco até a estrada onde um taxi nos esperava, então dei o endereço da casa de meu pai e fomos.

Chegando lá, toquei a campainha.

– Quem é? – a voz de meu pai veio lá de dentro.

– Sou eu, papai. Annie.

Ele abriu a porta. Quando me viu deu um enorme sorriso, ao contrário de Percy, o qual fez seu sorriso diminuir um pouquinho.

– Entrem, entrem. A propósito, Annie, feliz aniversário.

Ele me deu um abraço. Retribui.

– Então, o que os traz de volta ao mundo dos mortais?

– Nós temos uma notícia pra lhe dar. Na verdade duas – eu disse.

– Tudo bem, pode falar.

– Onde está Marie (nome inventado para a madrasta de Annabeth)?

– No quarto. Por que?

– Eu prefiro contar para os dois de uma vez, papai.

– Tudo bem. Vão para a sala que eu vou lá chama-la.

– Ok.

Ele subiu as escadas e nós nos dirigimos para a sala. Sentamos no sofá de dois lugares ali presente.

– Qual notícia você vai querer dar primeiro? – Percy perguntou segurando minha mão.

– Acho que a do casamento vai ser menos traumatizante, Percy. Podemos dar essa primeiro.

– Ok. Você que sabe.

Esperamos e, ao ouvirmos o som de passos na escada, nos levantamos. Marie e meu pai apareceram na sala. Marie tinha um sorriso no rosto. Se meu pai falou pra ela que nós tínhamos duas notícias, eu tenho certeza de que ela já sabia o que nós íamos contar. Ela era esperta, não como minha mãe ou seus filhos, mas chegando perto, por isso meu pai havia se apaixonado por ela.

– Annie, querida! Meus parabéns! – ela me abraçou. Não é novidade que eu havia começado a me dar melhor com Marie com o passar dos anos. Eu havia tido uma má impressão dela quando criança, mas reconheci que havia errado em relação a ela.

– Obrigada, Marie.

–Então – ela começou me soltando e indo para o lado de meu pai. – O que vocês dois tem pra nos falar?

Olhei nervosamente para Percy. Ele pegou minha mão e me deu um sorriso encorajador.

– Bom, pai, Marie, o que nós viemos contar é que ... – respirei – nós vamos nos casar.

Esperei por uma reação. Marie, como eu presumia, não parecia surpresa. Ela sorriu e veio até nós, nos abraçando. Meu pai só ficou ali parado. Depois de um tempo ele pareceu reagir.

– Vocês vão ... o que?

– Nós vamos nos casar, papai.

– Na verdade, eu gostaria de saber se o senhor, Sr. Chase permite que eu me case com sua filha – Percy disse.

– E se eu disser não?

– Então eu teria que sequestra-la e fugir para a Grécia com ela, onde ela poderia estudar arquitetura grega que tanto ama mais profundamente.

Olhei para ele e sorri. Ele fez o mesmo pra mim, mas ai olhou para meu pai e o sorriso diminuiu.

– Nesse caso acho melhor eu permitir isso de uma vez. Vocês tem a minha benção.

Corri e abracei meu pai. Ele abriu os braços e permitiu que eu ficasse ali.

– Obrigada, papai.

Me separei dele e voltei para o lado de Percy.

– Qual a outra notícia que vocês tinham pra nos dar? – Marie perguntou.

Comecei a gaguejar. Não estava pronta pra falar “hey, pai, adivinha, estou grávida”.

– Ah ... é que ... ah ...

Mas Percy se adiantou, o que foi bom pra mim pelo menos. Ele passou o braço por minha cintura e o outro por cima de minha barriga ainda pequena.

– Nós vamos ter um bebê.

– Ai meus deuses! – Marie exclamou e nos abraçou ao mesmo tempo.

Abraçamos ela, mas continuamos a olhar para meu pai. Ela nos soltou e foi em direção a meu pai.

– Não vai parabenizar sua filha?

Ele olhou para ela meio indignado e depois olhou para nós.

– Quanto tempo? – ele perguntou.

– Deuses, por que todos os homens perguntam isso? – olhei para Percy, depois para meu pai. – Vai fazer três semanas nesse final de semana, papai.

– Quando você vai acabar seu novo curso?

– No final de novembro.

– Ai você vai se concentrar no projeto da sua casa e parar de morar naquele apartamento e vai morar mais perto de seu emprego e de nossa casa?

Detalhe: meu pai, Marie e os meninos haviam voltado a morar em Nova Iorque, num lugar que ficava perto do Empire States Building. Isso era ótimo pra mim, mas meu apartamento era longe dali e longe da empresa também, mas não haviam apartamentos vagos ali por perto. O de Percy era mais longe ainda, mas era perto da faculdade onde ele estudava.

– Essa é a ideia, papai. Mas precisávamos esperar Percy concluir a faculdade pra poder decidir.

– E quando o senhor Perseu vai terminar a faculdade?

– No final do ano também, senhor.

– Bom, então nesse caso, gostaria de ver meu neto ou minha neta uma vez por semana pelo menos.

– Papai ... – achei que ele fosse ficar bravo ou coisa do tipo.

– Você me escutou.

Abracei-o de novo (eram muitos abraços pra um dia).

– Achei que o senhor fosse ficar bravo comigo ...

– Você é a minha garotinha, Annie. Minha garotinha fujona que vai ter um garotinho ou garotinha tão esperto quanto você. E tem mais, você vai contar pra sua mãe ainda, certo?

– Isso não é justo ...

– Boa sorte pra vocês dois.

Depois de ficarmos mais uns dez minutos lá, nos despedimos e fomos para a casa de tia Sally.

– Mãe? Chegamos.

– Entrem, crianças. Estou terminando seus cookies, Percy.

– Você disse pra sua mãe fazer cookies pra você? - cruzei os braços.

– Não, eu só disse que nós iriamos vir fazer uma visita. Não tenho culpa que ela adora fazer cookies pra mim.

Fomos para a cozinha e vimos tia Sally tirando uma bandeja do forno. Percy chegou e abraçou ela, lhe dando um beijo na bochecha. Esperei ela colocar a bandeja na pia, já vazia (a bandeja, a pia tinha um pouco de louça) e vir em minha direção.

– Annabeth, que saudades de você. Faz muito tempo que você não vem aqui. E a propósito, feliz aniversário.

– Obrigada, tia Sally.

– Sente-se.

Me sentei na mesa ao lado de Percy e peguei um cookie (azul, é claro).

– Mãe, cadê o Paul?

– Ele saiu agora a pouco, filho. Por que?

– É que nós precisamos contar uma coisa pra vocês.

– Vocês podem contar pra mim por enquanto.

– Ok – ele pegou minha mão. – Nós vamos nos casar.

– Santo Poseidon ... – ela disse e veio em nossa direção nos abraçar.

Depois que olhei, vi que ela estava chorando.

– Mãe, não chora – Percy disse abraçando-a.

– Não me diga para não chorar, Perseu Jackson. Eu esperei dez anos pra poder escutar isso.

– Dez anos? – eu disse.

– Eu já sabia como isso ia acabar no dia em que vi vocês dois conversando, meus queridos.

Coramos. Sim, fazíamos isso quando as pessoas diziam como éramos fofos ou como, sei lá, estávamos predestinados a ficar juntos desde os dez anos porque ele jogou uma maça pra mim. Muitas pessoas diziam isso.

– Hã, tia Sally, essa não é nossa única novidade. Nós vamos ter um bebê.

– Ai meus deuses ...

Ela colocou as mãos na boca e começou a chorar de verdade. Abracei-a e esperei ela terminar.

– Quando o bebê vai nascer, Annie?

– Em março, mais ou menos.

– Então vocês já vão ter uma casa, certo?

– É. Quando eu acabar meu curso, já vou começar o projeto e em março, se tudo der certo, acho que já vai estar pronta. Só precisamos decidir o local, de acordo com as necessidades.

– Por falar em necessidade, adivinha quem recebeu um convite pra trabalhar na empresa da faculdade que fica a duas quadras de uma certa empresa de arquitetura?

– É sério?

Ele assentiu com a cabeça. Pulei nele e o abracei. Depois dei espaço para tia Sally fazer o mesmo.

– Isso é ótimo, Percy. Assim é só acharmos um lugar que fique relativamente perto da empresa e da casa de meu pai. E assim ainda ficaremos perto da sua mãe, o que é melhor ainda.

Ele concordou e ficamos ali um tempinho.

– Percy, precisamos ir.

– Olimpo?

– Olimpo.

– Vocês estão indo ver seus pais?

– É. Já contamos pro meu pai e agora só falta contar pro lado divino da família.

– Então é melhor vocês irem logo, crianças. Já são quase quatro horas.

– Tchau, mãe.

– Tchau, tia Sally.

– Tchau, crianças. Mandem notícias, ok?

– Ok – dissemos juntos.

Outro táxi.

– Percy, e agora?

– Não sei, Annie. A esperança é a última que morre, certo? A caixinha de Pandora continua lá com Héstia, não?

– Espero que sim. Podemos contar para seu pai primeiro?

– Claro. Eu adoraria isso.

Chegamos no prédio e fomos até a recepção. Eu não reconhecia o recepcionista porque não era o mesmo.

– Oi, bom dia. Onde está o John?

– Ele está de férias por duas semanas. Eu sou o substituto dele, Marcos. Em que posso ajudá-los?

Olhei para Percy nervosamente. Será que ele sabia? Tínhamos que arriscar.

– Seiscentésimo andar, por favor.

– Não existe esse andar aqui, moça.

– Hã, meu nome é Annabeth Chase e esse aqui é Perseu Jackson. Nós não temos hora marcada, mas nossos pais estão lá em cima e nós precisamos falar com eles. Espero que saiba o que isso quer dizer.

Ele olhou para nós por um tempo. Quando já estava pronta para chamar o gerente, que provavelmente sabia da nossa “condição”, ele sorriu pra nós.

– Sr. Jackson, Srta. Chase, podem subir.

Assentimos pra ele e fomos pro elevador. Subimos em silêncio, temendo por uma certa deusa da sabedoria. Chegando lá em cima, entramos no Monte Olimpo.

– Não importa quantas vezes eu venha aqui – Percy disse – eu sempre vou me impressionar com o seu trabalho.

– Obrigada, Cabeça de Alga.

Fomos andando até a casa de Poseidon. Batemos na porta, torcendo para ele estar ali.

– Quem está ai?

– Pai? Sou eu, Percy.

Ele abriu a porta sorrindo para Percy. Quando ele me viu, seu sorriso aumentou mais ainda. Eu gostava de Poseidon, ele era muito gentil comigo e acho que parecia não acreditar no fato de alguém estar junto de seu filho lerdo. Ele me via como um milagre, mais ou menos.

– Percy! Annabeth! Entrem, por favor.

Entramos na casa dele. O lugar era muito aconchegante. Eu o havia desenhado, mas cada deus havia dado um toque especial em sua casa.

– Então, o que os traz aqui?

– Você quer contar? – ele perguntou.

– Pode contar, Percy.

– Ok. Pai, nós vamos nos casar e nós vamos ter um bebê – direto e reto. Ai, Percy.

– Um bebê?

– Sim.

– Ele não vai tipo assim, nascer da sua cabeça, vai? – ele perguntou pra mim.

Comecei a rir. Quando parei vi que Percy me olhava confuso igual ao pai.

– É sério isso? – perguntei a eles. Eles continuaram a me encarar. – Mas é claro que não!

– Ah, nesse caso, estou muito feliz por vocês dois.

Ele nos abraçou.

– Então, todos já sabem?

– Eu acho que sim.

– Até a sua mãe? – ele tinha um sorriso no rosto.

– Só falta ela. O senhor saberia um jeito de contar a ela sem que ela tentasse matar Percy?

Ele deu uma gargalhada.

– Não, não sei. A única coisa que posso fazer é desejar-lhes boa sorte e uma benção pra esse bebê daqui a alguns meses quando ele estiver um pouco maior e uma benção temporária pra afastar monstros.

– Benção temporária? – perguntei.

– É. É uma benção que não podemos oferecer a todos os semideuses ao mesmo tempo, então só oferecemos a alguns em ocasiões especiais. E essa é uma ocasião especial.

– Obrigada, lorde Poseidon.

Ele recitou o encantamento e uma aura branca quase transparente me envolveu e depois envolveu a Percy.

– Bom, acho melhor vocês dois irem contar pra uma certa deusa as novidades.

Olhei para Percy.

– É, tá na hora. Vamos?

Ele pegou minha mão e nós saímos da casa de Poseidon. Fomos andando até chegarmos na casa de minha mãe. Bati na porta, mas ninguém respondeu.

– Ela não está. Acho melhor nós irmos embora – Percy disse já me puxando pelo braço.

– Calma, Percy – bati na porta de novo, com mais força.

– Quem ousa bater na porta da minha casa desse jeito? – escutei uma voz atrás de mim e me virei.

– Oi, mãe.

– Annie, filha, por que bater com tanta força na minha porta?

– A senhora não estava respondendo, achei que não tivesse ouvido.

– Bom, isso não importa, o que traz você aqui? E com ele? – ela gesticulou em direção a Percy.

– Mãe ...

– Bom, vamos fazer as hospitalidades – ela resmungou alto o suficiente para que ouvíssemos – entrem os dois, por favor.

Ela passou por nós e abriu a porta. A casa dela era, a meu ver, mais aconchegante do que a de Poseidon. Acho que por causa dos livros e tudo.

Minha mãe, antes de entrar em sua casa, estava usando um vestido grego, lindo, mas ao entrar ela mudou magicamente em alguns aspectos. Seu cabelo, que antes estava firmemente preso, soltou-se magicamente em uma cascata negra de cachos e suas jóias e maquiagem haviam sumido. Seu vestido grego divino, que era cheio de detalhes foi substituído por um mais simples, mas igualmente lindo.

Ela foi em direção a cozinha, pegou um pote e colocou em cima do balcão, no qual ficou encostada. Ela abriu o pote e tirou de lá um cookie.

– Então – ela disse levando o cookie até a boca – o que vocês vieram fazer aqui?

– Nós viemos lhe dar uma notícia, mãe.

– Podem falar. Estou escutando.

Olhei para Percy que estava observando as prateleiras de minha mãe.

– Só um minuto – disse e andei até ele.

Cheguei perto dele e cutuquei seu braço.

– Você não vai me deixar sozinha nessa, né?

– Annie, aquilo ali é um papiro? – ele perguntou apontando para uma das prateleiras.

– É sim – minha mãe disse vindo e nosso direção. – É um dos primeiros papiros escritos e “assinados” que se tem registro. Aquele ali – ela apontou para a esquerda – é o primeiro papiro feito.

Olhamos para ela.

– Mas senhora – Percy começou – eu me lembro daquele papiro em uma exposição a qual fomos no fim do ano passado, como ...?

– Aquele é uma cópia, filho de Poseidon. A verdade é que todos esses artefatos de maior importância que estão em museus são cópias que nós os deuses fazemos e colocamos no lugar. Eu, por exemplo, colecionei praticamente todos os itens do Egito, Grécia, Roma e alguns outros lugares que eu achava interessante. Atrás daquela porta – ela apontou para uma porta a esquerda – tem a maior coleção que vocês poderiam ver na vida e após ela.

– Eu não me lembro de ter construído essa porta ... – eu disse.

– Eu fiz algumas modificações. Espero que não se incomode com isso.

– Não, é claro que não. Eu até gostaria de ver um dia, posso?

– Claro, Annie. Então, o que vocês tem pra me contar?

– Antes eu gostaria que a senhora prometesse uma coisa.

– Isso vai depender de um monte de coisas.

– Prometa que não vai ferir ou machucar alguém depois dessa notícia.

Ela pareceu pensar. Imaginei engrenagens mexendo-se na cabeça dela e tenho quase certeza que ela já sabia o que íamos falar.

– Ok, eu prometo.

– Tá bom – respirei. – Nós vamos nos casar.

Ela não pareceu se surpreendeu com isso.

– Bom, eu já esperava por isso.

– E nós vamos ter um bebê – eu arrisquei.

Ela parou por um minuto, como meu pai. Por que meus pais não podiam ser compreensivos e adorar a ideia de eu me casar com Percy e ter um bebê? Pensando bem, o segundo item é até um pouco questionável pela minha idade, mas nossa vida era muito perigosa e tínhamos que aproveitar cada momento.

– Bom, Athena, você já sabia que isso ia acontecer um dia ... – ela resmungou e o restante de cookie sumiu/desintegrou-se em sua mão.

– Mãe? – chamei-a me afastando um pouco, indo em direção a Percy.

– Você tinha que ter se preparado psicologicamente pra isso ... – ela continuou.

– Mãe! – ela estava começando a brilhar, o que significava que ela estava voltando a sua forma divina. Tarde demais para parar. Me virei para Percy e o abracei, tampando meus olhos e ele fez o mesmo, virando o rosto. Esperamos alguns segundos e depois olhamos para ela. O vestido grego divino, o coque e as jóias haviam voltado e a expressão descontraída havia sumido . Mau sinal.

– Como assim você está grávida, Annabeth?!

– Bom, mãe. Como deusa da sabedoria você mais do que ninguém devia saber como os bebês são feitos – tentei melhorar o humor dela. Mas conhecendo minha mãe, devia saber que não ia dar certo.

– Eu estou falando sério!

– Eu também estou falando sério, mãe.

– E você acha que vocês dois estão prontos pra assumir essa responsabilidade? É uma outra vida a qual vocês dois vão se responsabilizar!

Parei. Não, eu não estava preparada e muito menos Percy. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas me recusei a solta-las. Até o momento em que minha mãe me abraçou. Esqueci por um momento o fato de ela ser a deusa da sabedoria e estratégia em batalha e retribui o abraço. Quando ela me soltou olhei o rosto de Percy e ele parecia tão surpreso quanto eu.

– Me desculpe, Annie. Eu não acredito no que acabei de dizer, pelo contrário, acho que você está preparada pra isso, depois do modo como tratou Petra super bem, acho que vai ser uma boa mãe.

– Mas um bebê é bem diferente de uma criança de doze anos, mãe.

– Annie, não se preocupe – Percy me abraçou. – Nós vamos morar perto da casa de minha mãe e de seu pai. Tenho certeza que ela e Marie vão adorar nos ajudar se precisarmos de alguma coisa.

– Você tem razão – olhei para minha mãe. – Você vai? No casamento, quero dizer.

– Vou fazer o possível, filha.

– Obrigada, minha senhora. Precisamos ir, Percy. Daqui a pouco vai começar a escurecer e Quíron pediu que voltássemos antes do anoitecer.

– Annie, espera – minha mãe segurou meu braço. Então ela começou a recitar em grego antigo igualzinho ao pai de Percy e a mesma aura branca quase transparente nos cercou. – Uma benção ...

– Temporária – dissemos juntos.

– Como vocês ...?

– Meu pai nos deu essa benção também, senhora Athena.

– Ah, o Cara de Peixe foi convidado?

– É claro que sim, mãe. Ele é o pai de Percy.

– Bom, parente não se escolhe. Foi um prazer rever você, Annabeth. Percy, é bom cuidar direito da minha filha. Eu ainda não acho que você seja boa companhia para ela, mas se ela está feliz, eu também estou.

– Não irá se arrepender dessa decisão, senhora. Eu juro pelo rio Estige – um trovão soou ao longe.

– Um juramento pelo Estige é muito sério, criança. Espero que esteja certo do que diz – mas seu olhar estava implorando para ele não estar falando sério e sofrer as consequências.

– Eu estou senhora, não se preocupe.

– Bom, Annie. Venha comigo.

Ela se encaminhou para uma porta que reconheci como sendo seu quarto. Se ela não tivesse mudado, claro.

Entrei atrás dela e a vi indo na direção de um guarda-roupa. O quarto dela era extremamente lindo. Não sei, foi a sensação que tive quando entrei lá, mas eu não poderia ter pensado em um quarto mais bonito, aconchegante e acolhedor. As paredes pintadas de azul com detalhes em branco e dourado. Os móveis da madeira mais branca possível e diversos detalhes cinzas aqui e ali. Voltando ao guarda-roupa, de dentro dele ela tirou um cabide e nesse cabide tinha um vestido branco grego ainda mais bonito do que o que ela usava.

– Eu guardei esse vestido por muito tempo...

– Mas, mãe. Você nunca ... você sabe ... nunca ficou noiva nem nada ...

– Eu sei, Annie. Mas eu sou a melhor das artesã que existe, modéstia à parte. Uma vez que se é uma artesã e não se tem nada mais para tecer, você faz um vestido de noiva grego.

– Será que isso não tem nada a ver com um certo deus do mar? – sorri pra ela e ela corou. Quem diria que a deusa da sabedoria e estratégia em guerra podia corar.

– É claro que não, Annie. Não seja boba.

{A.N.: sim, eu shippo totalmente Poseithena (Poseidon + Athena). O que é meio contraditório porque eu acho a coisa mais linda Athena ser uma deusa virgem e casta e tudo mais, só não consigo evitar o fato de achar que Poseidon é super apaixonado por ela e ela tem uma queda por ele. Minha versão (a que eu tento me convencer todos os dias) é que Medusa agarrou Poseidon no templo de Athena e que ele na verdade estava indo encontrar Athena.}

– Aham, sei. Mas obrigada, mãe. Mesmo.

– Não tem problema, Annie. Eu vou mandar o vestido para o acampamento.

Voltamos para a sala e lá estava Percy, de novo olhando as prateleiras.

– Adeus, mãe.

– Adeus Annie. Percy.

– Adeus, senhora.

Saímos e fomos em silêncio até o elevador. Quando entramos olhamos um para o outro.

– Percy, ela não matou você.

– Eu sei. Como isso é possível?

– Não sei, só podemos agradecer.

– A quem? Aos deuses? Não sei se percebeu, amor, mas sua mãe é uma deusa.

– Gracinha – fui em direção a ele e o beijei. Estava muito feliz por minha mãe não ter matado meu noivo antes que pudéssemos nos casar. Alguns segundos depois escutamos a porta do elevador se abrindo e nos separamos. Dois homens e uma mulher entraram. Olhei para Percy com as bochechas vermelhas. Ele simplesmente riu e passou o braço sobre mim.

Chegamos no térreo e cumprimentamos Marcos ao sair.

Chegando no acampamento fomos recebidos por uma salva de palmas vindas de Nico e Thalia que nos fizeram um pequeno interrogatório sobre como ainda estávamos vivos depois de enfrentar a senhora Athena.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo amores.
Beijinhos.
— A