Um dia antes:

Sabe quando você se sente a ovelha negra? Tipo, sua família inteira é composta por músicos e você não sabe nem tocar o triangulo? Ou então todo mundo gosta de música clássica e você só ouve rock? Eu bem que me sentia assim.

Imaginem a minha situação: uma filha da deusa do amor que nunca foi apaixonada por ninguém.

Isso sim é ser a ovelha negra.

E deixa eu te falar uma coisa: ser a única filha de Afrodite que nunca gostou de alguém é uma sentença de morte no chalé 10.

–Ei estranhona – Lara Janiet estalava os dedos na minha frente me desfazendo dos pensamentos. – Hoje é sua vez de arrumar o chalé.

–Mas eu arrumei ontem! Hoje é o seu dia! – Olhei para ela indignada.

–Então foi você? Por isso estava uma nojeira. – Ela riu fazendo algumas de suas amigas rirem junto. Lara Janiet era a responsável pelo chalé de Afrodite e fazia muito mal uso disso, ela dominava pela tirania. – Enfim, eu descobri que os produtos que a gente vem usando está deixando minha mão ressecada. E além do mais, eu que mando aqui.

Revirei os olhos e caminhei até os outros colegas que iam ajudar a arrumar o chalé. Lara saiu rindo junto com suas colegas deixando o chalé com apenas quatro pessoas contando comigo. Kim Harrold, Lucy Marrin e mais duas novatas que tinham sido reclamadas ontem, acho que uma se chamava Gabrielle.

Kim e Lucy começaram a arrumar os sapatos soltos pelo chalé no closet e eu me aproximei da novata, ela estava apavorada.

– Ei, relaxa, a Lara é uma idiota. Se quiser, posso fazer a sua parte hoje. Vá conhecer o acampamento. Você já teve tempo para isso?

Ela balançou a cabeça negativamente e depois abriu um sorriso, ela era muito baixinha e me abraçou.

–Você faria mesmo isso por mim?

–Claro meu amor, é isso que irmãs fazem. Se ajudam.

Dito isso, ela me abraçou mais forte e saiu correndo do chalé gritando “obrigada!”.

Ajudei Kim e Lucy acabarem a arrumação do chalé e depois de uma meia hora já havíamos acabado tudo.

(...)

–Ela é uma ridícula mesmo – Kim comentou enquanto comíamos o café da manhã, ela estava apontando para Lara que dava em cima de Dilan.

–Você não está com ciúmes? – Lucy perguntou, olhando para mim. – Vocês namoraram ano passado, não é?

–Ciúmes? Haha, eu nunca tive isso. E o Dilan é meu amigo agora.

As duas se entreolharam com aquele olhar de “aham, duvido no que ela está dizendo” e voltaram a murmurar sobre as outras garotas por ai.

Eu voltei a comer minhas panquecas de maça, iguais a que meu pai fazia quando era criança e depois me retirei da mesa, caminhando em direção à praia onde alguns campistas preparavam os preparativos para a noite de hoje.

Sentei em uma pedra e fiquei observando as ondas baterem contra a areia da praia. Pode parecer bobagem mas isso me acalmava muito.

–Alexy? – Uma voz havia gritado atrás de mim. Viro-me e percebo Lottie atrás de mim.

–Ei... Como você está? – Ela se sentou do meu lado e me deu um abraço, Lottie era como uma irmã para mim.

–Bem, bem... Comecei a viver no presente como você disse.

–Sério? E então? – Ela deitou na minha perna e ficou observando o céu por meio de seus óculos escuros.

–É... É confuso. É mais fácil.

–Entendi. Ei, você vem hoje?

–Aham! Vai ser muito legal. E ei... Alexy, já resolveu o seu problema?

Um gosto amargo subiu minha garganta e meu estomago gelou.

–Ern... Sim, estou em progressão.

–Melhor mesmo, seu aniversário de 16 anos é daqui a um mês.

Olhei para o horizonte: os campistas jogando bola na praia, as ondes quebrando na costa, o mar...

–Eu sei. – Disse por fim.

–Ouça Alexandra – Lottie se levantou ficando na minha frente. – Você precisa fazer algo a respeito... Você pode virar... Você sabe... – Ela segurou minha mão – Prometa tentar fazer algo a respeito.

–Prometo Lottie – Disse meio sem jeito. Não tinha algo para se fazer.

–Certo, certo. – Ela soltou minha mão e me deu um beijo na bochecha, deixando a pedra que estávamos. – Ah, e você está mais gelada. – Dito isso, virou-se e foi embora me deixando sozinha na pedra.

–Eu sei... – Disse baixinho mas ela já estava mais longe. Voltei a fitar o horizonte e meus pensamentos começaram a ir muito mais além do oceano.

(Flashback)

–Papai! Lê uma história para mim antes de dormir? – Uma pequena Alexy indagou, ela devia ter oito anos e estava enrolada na coberta de forma que apenas sua cabeça ficasse para fora.

–Sim meu amor, que livro? – O pai se aproximou da estante da filha caçando algum volume interessante.

–Ah papai... Essa história não precisa de livro nenhum... – A pequena Alexy disse manhosa.

–Certo, certo – O pai soltou um sorriso que só agora, anos depois, notava que tinha um tom de tristeza. Ele se sentou na beirada da cama, deu um beijo na testa da pequena Alexy e começou a história... – Era uma vez...