Nirvana escrita por Soufis


Capítulo 24
Cartas


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo não vai ser narrado por um personagem ou por dois. Ele será tipo... Duas cartas, e os autores delas (se quiserem considerar um P.O.V...) estão na assinatura delas.
Eu me senti um monstro pelo último capitulo. Me desculpem ai galera :c
p.s: os trechos em negrito na carta do Kurt são os trechos da musica que eu coloquei no capitulo



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17 de Agosto,

Querido Kurt. Talvez eu devesse saber como começar a carta, mas a questão é: eu não consigo. Eu me perco sempre que estou com você e nunca sei por onde começar as coisas.

Talvez devesse começar com um pedido de desculpas. Então, desculpas. Eu realmente sinto muito pelo o que vou fazer. Sinto muito mesmo. Não pense que não estou sofrendo fazendo isso, sinto que meu coração quebra a medida que escrevo uma palavra idiota nessa maldita carta.

Mas eu tinha que fazer isso. Você estava em perigo. E não queremos civis mortos nessa guerra, não é? Eu te amo. E é por isso que estou indo embora. É por isso que estou fazendo isso.

Não posso te deixar mais em risco do que você já está. Sua sorte não pode ganhar do meu mau agouro.

Eu sei que antes de dormir, você me abraçou forte e prometeu me proteger da minha mãe, disse que mais alguns cortes não fariam mais diferença desde que eu esteja bem.

E quem acabou fazendo o maior corte fui eu: no seu coração.

Eu vou ir para longe. Muito longe. Talvez não volte –mas isso não impede que nós não nos vejamos, eu prometo te visitar. Talvez eu volte, eu não sei. Eu sinto como se tivesse caindo em queda livre para o destino e meu futuro está ali embaixo, escondido no escuro.

Eu vou ficar bem Kurt. Eu vou sempre pensar em você, então sempre estarei bem. E se você se sentir sozinho, olhe para um pouquinho a direita da constelação da loba, eu estarei lá, você também. Naquela noite tão perfeita na caminhoneta.

Nosso amor foi eternizado nas estrelas.

Com amor, sua Alison.

[A autora recomenda ouvir essa musica a partir desse ponto]

17 de Agosto,

Você pode ter várias formas de encarar a vida. A primeira forma e é fácil: você ignora e se isola. É a mais fácil mas a que você nunca pode prever a dor, você só evita ela. Já a segunda, é a mais difícil, mas, por um lado, é a que vai fazer você sofrer menos: você aceita ele e claro, segue em frente.

Você tinha partido na calada da noite. Eu sabia disso pois as três da manhã, eu deixei de sentir seu corpo alinhado com o meu e fui tomado por um frio que nunca senti antes. Talvez tivesse sido a solidão.

No primeiro momento, achei que você tinha ido para o banheiro ou algo do gênero. Esperei acordado você voltar.

Você não voltou.

Os primeiros quinze minutos foram sossegados, eu apenas me virava na cama e me cobria, esperando você voltar.

A meia hora seguinte foi frustrante, ficava encarando a porta. Talvez, você tivesse ido pedir pizza, pensei. Era algo idiota, eu sei. Mas era melhor do que a realidade.

Uma hora se passou e a cama começou a perder seu calor. Fechei os olhos e tentei pensar em pequenos possíveis lugares em que você poderia estar: podia ter ido dormir em seu quarto, para nenhum menino ver você por aqui de manhã. Você podia ter ido comer algo e acabou cochilando no sofá. Podia estar vendo televisão. Podia até ser sonambula

Três horas se passaram e eu encarava o teto. Você estava bem, não estava? Levantei da cama e caminhei pelo quarto, as vezes encarava a paisagem oferecida pela pequena janela do meu quarto: as luzes que nunca queriam se apagar. Uma faixa de luz atravessou o quarto e consegui notar um pequeno papel dobrado no chão. Ele devia estar na cama e eu deixei ele cair enquanto me revirava.

Abri-o e me deparei com uma carta de Alison. Alguns lugares tinham pequenos borrões pretos, provavelmente da sua maquiagem. Meu corpo gelava a medida que continuava a leitura e meu coração abriu um buraco no ponto final. Eu reli a carta milhares de vezes, tentando tirar significados inexistentes dali. Eles, é claro, não apareciam. Apenas achei um outro anexo, atrás da carta. Era uma folha de um livro de crônicas que foi colado no papel.

O que eu aprendi em História

Aprendi quem foram as grandes figuras da história, como Napoleão. Aprendi sobre guerras e evolução.
Aprendi que sempre as grandes civilizações vão cair - é apenas questão de tempo.
Aprendi também que quatro séculos pode ser algo tão significativo em questões de expectativa de vida e tão insignificante em uma análise de linha do tempo.
Tempo é algo relativo.
Aprendi que os maiores erros são cometidos inúmeras vezes (as pessoas podem até perdoar, mas nunca vão esquecer).
Entendi que o luto é algo relativamente breve e que a humanidade tem uma maneira de se conformar e lidar com o luto: eles seguem em frente. Sempre seguiram e sempre vão continuar seguindo em frente. Pois, mesmo que o tempo seja relativo, ele continua inevitável.
Espero que você consiga aprender isso também.

Por Sofia. N. Aureli.

As bordas do papel estavam rasgadas e um pequeno desenho de uma estrela descansava nas bordas da página. Imaginei Alison lendo aquilo e colocando na carta. Te imaginei saindo de mansinho, Lembro-me do dia em que você me disse que estava partindo. Lembro-me da maquiagem escorrendo pelo seu rosto. Você estava chorando. Eu sabia disso. E os sonhos que você deixou para trás, você não precisa deles, como não precisa de cada desejo que nós fizemos.

Nas últimas horas, eu fiquei abraçado a seu travesseiro. Eu vi o sol tomar conta do quarto aos poucos, aniquilando a noite aos poucos. Te aniquilando aos poucos. Alison era a noite.

Me levantei e fechei a janela, impedindo o sol de tomar conta do quarto e me deitei no chão, onde fiquei agarrado ao travesseiro – ele ainda tinha o cheiro do seu cabelo, e a carta. Às vezes, eu relia elas e tinha pequenos flashbacks das nossas noites: eu pensei no dia da caminhonete, eu pensei sobre o nosso último beijo, a sensação causada, o seu sabor.

Eu queria poder acordar com amnésia. E esquecer as pequenas coisas estúpidas como a sensação de adormecer ao seu lado e as memórias que eu nunca consigo escapar. Porque eu não estou nem um pouco bem.

Eu não estou nem um pouco bem, Alison.

Sabe, se hoje eu acordasse com você ao meu lado como se tudo isso fosse apenas um sonho ruim, eu a seguraria mais perto do que alguma vez já segurei. E você nunca escaparia.

Você está ai fora, sozinha. Espero que você tenha levado sua jaqueta, ou a minha, porque a sua não aquece bem. Está frio ai fora e não quero que você pegue um resfriado. Na verdade, quero que você pegue sim o bendito resfriado para eu conseguir cuidar de você.

Está frio e escuro ai fora. E você está sozinha. A janela e a porta vão estar sempre abertas. E eu sempre vou te deixar entrar.

Com todo o amor que eu posso te dar,

Kurt.


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Notas finais do capítulo

ç.ç ele está choravel, sim ou não? Sim. Está. Eu chorei escrevendo.
Ah, o textinho ai do "O que eu aprendi em História" foi eu que escrevi ♥ Espero que tenham gostado.
A temporada já está está acabando ~olê olê olá!



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