Como Treinar o seu Dragão Interior escrita por Kethy


Capítulo 7
O voo


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Acho que já sabem do que vai se tratar esse cap, quem já viu o filme sabe que teve um passeio parecido... Só mudei um pouco o que acontece no final.



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Aqueles olhos verdes incríveis ainda assombram minha memória, tinha algo neles... Talvez aquele brilho florescente, ou a maneira que me penetravam, ou como tudo ao redor pareceram borrões quando me encontraram...

Meu coração disparava sempre que me lembrava. Quando pensava nos sussurros ao meu ouvido sentia minhas bochechas ficarem ardentes. As marcas da garra em meu braço não me traziam medo, mas curiosidade. Eu precisava saber mais sobre isso, sobre toda aquela magia envolvida, sobre seu passado. Sobre tudo.

Olavo deixou que eu fosse até o local secreto do treinamento deles. Faltei a aula nesse dia e essa iria ser a primeira de muitas.

Soluço se espantou muito me vendo ali.

— Oi, Astrid... O que tá fazendo aqui? - falou se levantando como se levasse um susto.

— Acho que ver seu treinamento. - sorri sentando numa pedra.

Soluço olhou seu irmão como se fosse espancá-lo. Olavo riu sarcasticamente como sempre. Soluço revirou os olhos e caminhou até mim.

— Tudo bem... Claro que vai ter regras. Primeira: o que acontece aqui, fica aqui; segunda: se alguém perguntar, estou... Sei, lá. Me encontrando com uma garota ou qualquer outra coisa; terceira... - Uma pausa, ele me olhou com muito zelo. - Se eu... Mudar, corra e não tenha pena, se defenda. Entendeu?

Engoli seco.

— Entendi. - Falei, mas não pretendia machucá-lo. Soluço plantou algo em mim, uma coisa que queria entender... Será que...?

Olavo decidiu começar a aula. Melhor. Já que a atmosfera ficou pesada.

— Soluço, a aula agora será de voo.

— Voo? - Falamos juntos, Soluço feliz e eu intrigada.

— É, não se pode ser um dragão se não souber voar. Dã!

Soluço tinha um sorriso enorme no rosto.

— Voar?! Tamo esperando o quê?! - Ele bateu seu pé no chão; vi seu corpo queimar e mudar sua forma, tomando o formato de um dragão. Assim que o fogo se apagou, ele estava com escamas de ouro velho, asas poderosas, garras que pareciam mais afiadas que diamantes e parecia usar uma coroa por causa dos chifres. Quase gritei, mas ele me olhou com aqueles olhos me tranquilizando. Devo ter ficado como uma louca encarando aquela forma majestosa.

Olavo chegou perto de mim e me despertou.

— Astrid, temos que começar a aula.

— Ah... Tudo bem. Caham! Pode... Começar. - Afastei-me avermelhada e também vi que Olavo era mesmo o dragão ônix quando se transformou, mas não achei sua forma tão impressionante quanto a de Soluço.

Eles começaram a falar:

— Quae te amat. {Ela gosta de você.}

— Quid est? Quid putas? {O que?! Porque acha isso?}

— Solebas esse solet quomodo oculum arte incipit. {Você usou o truque dos olhos nela, geralmente é assim que começa.}

— Feci ei credere me non. {Fiz isso para ela acreditar em mim, que nem você fez.}

— Cur non beati sunt? Video vos item. {Por que não está feliz? Dá para ver que sente o mesmo.}

— Sed mihi non vult, hoc animal! {Mas não é a mim que ela quer, é esse bicho!}

— Non dico quod non. {Não diga o que não sabe.}

— Com licença, mas é que minha orelha está queimando! - Interrompi com a mão em minha orelha vermelha.

Dic ergo illi, ut una; Illa amat! {Chame ela para vir junto! Ela vai amar!}

Ergui a sobrancelha confusa, sem entender a conversa. Soluço se transformou de volta na forma humana e foi até mim. Alguma coisa no modo como ele me olhou me fez sentir o coração palpitar mais rápido.

Soluço sorriu meio sem jeito.

— O Olavo... Eu queria te convidar pra... Quer vir junto?

— Eu? Quer dizer... Quero, tudo bem. Tanto faz. - Menti na parte do "tanto faz". Apesar estar com medo, Soluço me despertava confiança.

Ele pareceu bem feliz quando aceitei o convite. Disfarçando o que sentia, ele se transformou novamente; sem saber muito o que fazer montei nele, o que foi constrangedor.

Olavo parecia dar as instruções. Soluço levantou voo devagar, fiquei quase o tempo todo de olhos fechados até que senti a brisa suave e o cheiro bom da água salgada. Abri os olhos e me vi tão perto das nuvens que consegui tocá-las. Soluço percebeu que gostei da sensação e voou entre elas;, quando saímos do outro lado estava noite, vimos a aurora-noturna* e voamos sobre Berk, que do céu parecia tão tranquila e segura.

Vi o potencial que aquele garoto-dragão tinha.Eu que sempre o tratei mal, magoando tantas vezes, vendo-o com o valor menor que o de um cão.

— Sinto muito... - Sussurrei, mas ele me ouviu. Soluço levantou o olhar e me deu atenção. - Não devia ter te tratado daquela maneira. Durante tanto tempo te forçávamos a ser como nós, mas agora... Você fez tudo... Isso. – Apontei para ele e parece que sorriu. - É, estou apontando pra você todo. - Ri. - O pior viking de todos, mas o melhor dragão dessa era.

Depois de mais um tempo no ar, Olavo deu as ordens e descemos no mesmo desfiladeiro de antes. Desci da "montaria" e me afastei vendo Soluço retornar a sua forma humana, ele veio até mim com um sorriso doce e sem jeito.

— Se divertiu?

— É, foi legalzinho. - Disse fria, ele se espantou, sorri demonstrando que era brincadeira e ele me empurrou de leve. Rimos.

— Lembrei que esqueci uma coisa, já volto! - Disse Olavo entre um esboço de olhar malicioso.

Assim que ele começou a andar para nos deixar lá, vi Soluço ficar vermelho na luz do luar.

— Espera! - Gastou saliva à toa, ele já tinha saído e nos deixou lá... Sozinhos! Liga não, ele é meio maluco mesmo.

— Não, tudo bem, ele é legal.

— É... E também é meu irmão.

— Seu, o quê?!

— História meio longa e bem confusa, resumindo: minha mãe era um dragão, ele nasceu com poderes e foi criado por uma parente.

Ri:

— Mesmo com você constrangido assim, confesso que essa é a conversa mais interessante que já tive com um garoto. - Tirei a minha franja dos olhos e me abri. - O que leva a outro pedido de desculpas, pensava que você era como os outros, agora sei que não.

— E isso é bom?

— Claro.

Aquele era um momento de um silêncio constrangedor que parecia não ter fim. Por fim, sentei encostada numa árvore, depois de alguns segundos ele se sentou ao meu lado. Olhei para o céu e vi as estrelas e poucas nuvens; e pensar que eu vi tudo isso ao ponto de conseguir tocar.

Senti uma mão segurar a minha e era a de Soluço: nervosa, porém quente. Por um minuto pensei em me soltar, mas não o fiz. Soluço olhou profundamente em meus olhos e percebi que queria dizer algo.

— Algum problema? - Perguntei vendo que ele tentava escolher palavras.

— Astrid... Eu quero dizer que... Você é a garota mais incrível da nossa aldeia, - Corei - forte, determinada, batalhadora, e ainda com um lado sensível e compreensivo. Qualquer um teria contado a todos meu segredo e você o guardou, sei que é pouco tempo, mas deve ter sido uma eternidade e...

— Me beija! - O que eu disse?!

— Oi? - Ele disse em espanto.

—...Me beija.

Fechei os olhos esperando que ele me beijasse. Demorou um pouco, mas ele veio sereno e romântico, acho que ele tentava ser respeitoso. Toda vez que ele quase tocava mais abaixo das minhas costas suas mãos se policiavam e voltavam a um ponto mais acima. Eu brincava com seu cabelo, que era tão macio...

Abri um pouco os olhos por uns instantes, queria vê-lo. Ele também abriu um pouco os seus. O beijo acabou com um último selo, nos aconchegamos um no outro e olhamos as estrelas.

"Demore a vontade, Olavo." - Pensei mesmo sabendo que ele não podia ouvir. Eu espero.


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Notas finais do capítulo

Surpresa sem surpresa!!!!



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