Criança Domesticada escrita por AneenaSevla


Capítulo 12
O Senhor de Schwarzwald


Notas iniciais do capítulo

"Você não terá piedade diante de seus inimigos. E ao se voltarem contra você, calar-se-ão diante de sua grandeza de alma."
Maquiavel



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513019/chapter/12

Ao colocar o último humano desacordado no chão, Sean percebeu que alguns deles portavam disparadores de metal, mas diferentes. Tinham penas nas munições, e eram ligeiramente compridas, além de fazer um barulho engraçado de água quando chacoalhado de leve. O cheiro daquilo não o agradava, e isso fez lembrar aquela antiga armadilha.

Rosnou. Eram caçadores.

Ouviu um barulho ao longe na mata. Outros estavam vindo, então tratou de apagar as suas evidências de pegadas e sair logo dali. De vez em quando vinham uns desses, para caçar as criaturas da floresta, muitas vezes em busca de comida... sua comida.

Até aí tudo bem, pelo menos havia abundância para mais de três dele mesmo, mas o chato é quando começavam a caçar mais do que deviam, em busca de apenas um pedaço de pele, coisa que até para os de sua espécie eram artefatos valiosos. Isso ele não admitia.

Não foi muito longe, ele queria saber se realmente eram caçadores de animais. Escondeu-se entre as árvores, camuflando-se ao verde. Ficou longe o suficiente para não ser notado, mas perto o bastante para ouvi-los. Pela convivência - e uma prévia ajuda de Hellen – conseguia entender suas palavras.

Era um grupo de cinco, três machos e duas fêmeas, todos vestidos com roupas grossas de couro esquisito – não tinha nenhuma aparência de qualquer animal que eles tinham visto, mas eram altamente resistentes. E o tecido tinha uma aparência esquisita, com várias manchas de tons diferentes, tão folgadas que pareciam engordá-los. E nas suas cabeças usavam adornos transparentes cobrindo um dos olhos e uma das orelhas, presos à cabeça, e mais daqueles disparadores de metal comuns.

– Não Justina, sua teoria está errada – diz um macho, ao lado de uma fêmea de humano. Segurava um aparato esquisito que soltava uns barulhos irritantes para Sean, mas ambos humanos pareciam ignorar – não tem nenhuma atividade paranormal aqui…

– Mas eu detectei ondas eletromagnéticas vindo dessa direção – disse a primeira fêmea – estavam aqui há dez minutos, ele não deve ter ido tão longe assim, a Floresta Negra também tem seus limites!

– Se ele esteve aqui, deve ter ido embora há muito tempo…

E então os dois chegaram naquela área, e a fêmea soltou um guincho de susto ao ver os humanos desacordados.

– Ai meu Deus! – a outra fêmea do grupo exclamou, indo até eles e examinando-os. Pelo modo como ela os examinava parecia ser uma curandeira ou algo parecido.

– Eles estão mortos? – o primeiro macho se aproximou desta fêmea, e olhando para todos os lados, tremendo um pouco.

– Não, só desacordados – respondeu o outro, o segundo – e alguns com um leve sangramento no nariz, igual àquele grupo de adolescentes que encontramos há dois meses.

– Eu disse que existia, olhe aí sua prova – disse Justina – vinte humanos caçadores-examinadores de nosso esquadrão desacordados sem nenhum ferimento visível. Pelo jeito chegamos antes de ele ter matado todos eles…

Examinadores? Pensou Sean. O que estão examinando com esses atiradores de metais penados, afinal de contas?

– Eu não acredito nisso – disse o terceiro macho do grupo, que pelo cheiro parecia ser um nativo da orla da floresta – Schlankemanns são agressivos, mas só se tiverem um bom motivo…

– Sim, e têm um motivo muito bom – Justina diz – eles arrancariam nossas cabeças só por diversão, esse é o motivo. Quinze desaparecidos em três anos, sequer suas roupas foram encontradas…

Claro, eu guardei tudo, pensou Sean consigo mesmo. Se eles eram fracos mentalmente não era problema dele, mas o que sobrava deles era carne comestível para as feras, adubo para plantas, pele de boa qualidade além de tecidos e objetos esquisitos, mas interessantes.

– Não sei não – disse o nativo – por mim eu terminava com essas pesquisas e ia embora, eu não quero estar no lugar desses caras…

– O que você é, um homem ou um rato? – disse o segundo macho – estamos aqui para encontrar evidências dele, ou até mesmo captu…

– IDIOTA! – Justina tapou a boca do macho – cale logo essa matraca, ele pode ter nos ouvido…

Ouvir? Então quer dizer que eles estavam procurando a mim?

Parou o pensamento quando ouviu o outro macho dizer:

– ... Já não basta aquele filhote que foi roubado de nós, agora está querendo nos entregar?

Um surto de adrenalina tomou conta de Sean, e todo mundo sentiu a vibração no ar, confirmando-se por aquele aparelho esquisito que começou a girar e apitar freneticamente.

– O que foi isso? – disse o nativo, o cheiro do medo dele aguçou os sentidos do Slender.

Vão morrer, e vão morrer todos... os tentáculos dele se agitavam no ar, negros e lustrosos, camuflados no ar da noite. Garras afiadas saíram de seus dedos, prontas para dilacerar cada pedacinho de carne que estivesse ao seu alcance.

– Ninguém sai! Isso é um truque! – disse Justina, obviamente era a que estava no comando – Todo mundo, posição de defesa!

E todos os humanos ficaram de costas uns pros outros, colocando os desacordados no meio. Ótima estratégia, mas o espaço entre eles era enorme por causa dos feridos. Uma vantagem imensa para ele.

Em um passo no Andar Esguio estava logo no meio deles, e agarrou o primeiro macho pelo pescoço rapidamente com um dos seus tentáculos, sumindo com ele.

O som de alguém sendo estrangulado foi notado e logo se perguntaram de quem era. Até que perceberam o sumiço dele.

– Jeremy? – perguntou a segunda fêmea, a curandeira - JEREMY, CADÊ VOCÊ?

– AAAAAAAAAAHHHH!! – o grito dele ecoou pela floresta, e todos os outros congelaram. Justina foi a primeira a voltar a si:

– Reimond, análise… - ao perceber que o outro não respondia, repetiu – Reimond?

Reimond também sumira, em seguida seu grito ecoou do outro lado, sendo sufocado por um pescoço quebrado. Agora só restavam três e os desacordados.

– Puta que pariu… - Ela olhou para os lados, procurando os outros, só sobraram Daiane, a médica, e Hugens, o guia.

– Eu disse que deveríamos ter saído daqui... – disse Hugens, se aproximando das duas humanas – Ele não está nem um pouco feliz com nossa chegada...

– Ele está brincando conosco – Justina prepara a arma, carregando-o com balas – MISERÁVEL, APAREÇA!

– Não chama ele não – Hugens quase choraminga, tremendo.

– Está louca Justina? – bradou Daiane, carregando também sua arma – Nossa missão era de buscar os outros, não atiçar a fera!

– Se ficarmos parados ele vai nos matar e terminar de aniquilar o resto! – Justina engatilhou o rifle com um movimento, apontando para qualquer lugar onde ele aparecesse. APAREÇA, DESINFELIZ!

Com todo o prazer, Sean aparece na frente deles, ereto, os tentáculos ondulando ameaçadoramente. Com o susto, Justina acabou hesitando. Um erro terrível.

– AAAAAAH! – ela largou o rifle e segurou a cabeça ao sentir o intenso som de estática em sua cabeça, o aparelho apitou freneticamente e logo parou de funcionar ao entrar em curto. Os outros dois apenas congelaram ao ver sua líder desmaiar no chão.

O Slender deu um passo à frente, e Daiana apontou a arma para ele, mas não conseguiu por muito tempo, ela já estava caindo no chão pelo choque mental, berrando da mesma forma, e sangue escorrendo pelo seu nariz pela pressão.

O último que sobrou foi o pobre Hugens, que já estava chorando, e sabia muito bem pelas lendas que não era para olhar no “rosto” dele, e se ajoelhou, tremendo.

– Por favor não me mate, eles me contrataram para vir aqui – ele choramingou, protegendo a cabeça com os braços. O Slender o puxou para cima com um dos tentáculos pela cintura, e rasgando a pele do não-rosto, abriu uma boca com vários dentes pontiagudos enfileirados, branquíssimos em sua boca de gengivas pretas.

É o meu fim, pensou Hugens ao se encolher, não tem jeito, me fudi, me fudi...

Mas tudo que ouviu foi uma voz grave, profunda e levemente sibilada:

Onde ele está? – Sean sabia que humanos não aguentavam o choque da telepatia de um Slender adulto, então embora odiasse, tinha de aprender a pronunciar palavras. Não eram as melhores, mas serviam.

O homem guinchou se medo e surpresa ao ouvir a voz dele, e não falou. Sean o chacoalhou de leve, fazendo-o guinchar novamente, outro tentáculo indo pro pescoço do humano, ameaçando estrangulá-lo.

Onde está? – Ele repetiu, e o humano tremeu.

– ELE QUEM PELO AMOR DE DEUS? – o humano berrou de volta, lágrimas saiam de seus olhos e não conseguia mais parar a tremedeira.

O filhote, onde está ele? – Sean apertou o abraço e Hugens sentiu o quão caloroso ele estava.

– Que filhote? Do que está falando? Aquele que foi roubado? – ele sentiu o aperto de novo – Aaaai... não sei! Eles disseram que iam devolver, eu juro! AAAAAH! Mas a jaula sumiu quando íamos estudá-lo, isso é tudo que eu sei! Por favor não me mate, eu não queria te ofender... Ai ai aia... por favor eu tenho uma família!

Os apertos pararam, e o humano foi jogado por seis metros para um dos cantos da clareira, em direção a uma árvore. O humano guinchou mais uma vez ao sentir que suas costelas foram quebradas com o impacto.

Eis meu aviso: se vierem mais de vocês, não terei piedade – disse Sean, de pé, se aproximando devagar do único humano lúcido – Agora suma daqui, e leve esses idiotas junto. Você tem até o amanhecer, ou eu mesmo os levarei. Incluindo você.

E desapareceu, o cheiro de sangue era evidente naquela cena macabra.

Hugens olhou no relógio analógico que trazia no pulso.

Uma e meia da manhã e estavam no meio de uma floresta densa.

Ah, filho da mãe… pensou o humano, se levantando devagar com dificuldade e tentando salvar sua própria vida, salvando a dos outros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esperei dar 45 dias pra publicar isso. Só pra ter o gostinho de "pensou que eu ia abandonar? Hein?"
Huahauhauuhaa, claro que não!