Ellie está lá, sorrindo, enquanto me vê tremendo... Depois dá uma boa gargalhada.

– Eu sou uma ótima atriz, não sou? – ela volta a se sentar, cruzando as pernas e passando blush.

– Que seja – falo, – pode nos deixar ir, agora que já se divertiu?

– Não – ela diz – Não estava brincando quando disse que vocês têm que pagar o preço...

– Que preço seria...? – Gabriel diz depois de um tempo, ele percebe que estou incapacitada de falar.

– Bom... – ela se vira para a gente – Dois modelos da sessão de “roupas chiques” – ela faz aspas e ri – faltaram... – ela sorri maldosamente, não parece que faltaram por conta própria – Quero que vocês fiquem no lugar deles.

– Aparecer numa revista famosa? Tô dentro! – Gabriel pula... Como ele pode ter esse tipo de reação, é óbvio que tem alguma pegadinha da Ellie.

– Sim... – ela revira os olhos – Imaginei que fossem gostar, é melhor vocês saírem agora e irem para o camarim de número sete, a sessão começará logo e vocês têm muito a fazer – ela olha pro meu cabelo.

Sinto-me puxada, Gabriel está tão alegre que parece que vamos ficar famosos... Ninguém liga pra isso, só quem lê essas revistas são adolescentes sem louça pra lavar e donas de casa flácidas com saudade da adolescência... Ou pessoas como o Gabriel.

– Já pensou...? – ele fala enquanto somos levados para a sessão de cabelo e maquiagem.

– Não, eu só queria entrar aqui sem ser notada... – cruzo os braços.

– Não deu certo... – ele fala quando várias mulheres começam a mexer nos nossos cabelos, a atenção é toda nossa, meu plano saiu pela culatra.

Os preparativos do Gabriel foram super fáceis, lavaram o cabelo dele, secaram, colocaram spray pra fica no lugar e cortaram um pouco, mas no meu as coisas são um pouco complicadas, uma senhorinha disse que nunca viu cabelo mais feio que o meu – isso doeu no fundo da alma, mas eu fingi que nem liguei – e agora, depois de passarem uma tinta castanha no meu cabelo, estão fazendo milhares de hidratações e cortaram meio palmo do meu lindo cabelinho... Mas ainda acho que ele está enorme.

A sessão de maquiagem foi tranquila, tudo é muito tranquilo, até que chegamos nas roupas.

Como Ellie tinha dito, a sessão é mesmo de roupas chiques, Gabriel terá que usar ternos e smokings e eu vestidos e mais vestidos, o problema é que... a moça que ia vestir isso antes de mim não tinha menos de um metro e meio...

– Como vamos fazer isso caber nela? – uma mocinha diz, ela segura um vestido preto de alcinhas finíssimas, ele é cheio de babados e parece chique demais pra mim.

– Temos um modelo menor? – outra pergunta.

– Não, esse não é um vestido para crianças!

Essas mulheres não são nada profissionais.

– Podemos dar um jeito, – Gabriel surge – com alguns alfinetes e cortando essa barra fica perfeito...

As mulheres se olham, sorrindo. E elas vão para as outras roupas, um vestido vermelho longo, um vestido roxo com mangas longas – longas demais até Gabriel por seu talento nelas – e um vestido vermelho de cetim tão fino que parece uma camisola.

Agora, depois que meu cabelo foi perfeitamente arrumado em cachos chiques, vamos à sala da sessão de fotos.

Ellie está lá, com um vestido rosa radioativo que chega a doer nos olhos, ela tira uma centena de fotos até que o carinha lá diz que ela foi ótima, ela veste o roupão e vem pra perto da gente.

– Pelo visto as funcionárias daqui são sensacionais, devia rolar um aumento no salário delas... – ela pega no meu cabelo – está muito melhor que aquela palha azul que você chamava de cabelo.

Reviro os olhos, eu só quero ir pra casa.

– Bom, vocês são os próximo, vou ficar aqui e assistir... – ela parece estar se divertindo muito.

Acabam de nos chamar. Uma mulher diz que tenho que vestir o vestido vermelho longo, e Gabriel veste o smoking...

– Agora, o garoto senta na cadeira e a menininha põe a mão no ombro dele, dando uma certa distância... – me calçaram um sapato com o salto imenso e tacaram um batom vermelho na minha boca... Mas faço um trabalho perfeito, quanto menos demorar, mais rápido vou pra casa.

Depois de várias fotos nesse estilo, e com outros vestidos, o preto é o último, e foi o vestido que eu mais gostei, mas... me faz parecer uma...

– Foi maravilhoso! – Ellie aplaude. – De cortesia, vou dar de presente as roupas que estão usando!

Olho para mim, estou com o vestido preto de babados e a sandália preta brilhante com uma salto suportável, Gabriel está com um terno cinza.

– Por que vai nos dar isso? – pergunto.

– Você estragou esse vestido, quem mais vai usar? E, bom... Gabriel é meu amigão... – então é isso, ela vai me dar esse vestido porque nenhuma outra modelo entraria nele e vai dar o terno pro Gabriel porque gosta dele... se ela ao menos soubesse...

– Então podemos ir agora? – falo.

– Sim, podem ir... – ela pisca e sai – Vou mandar deixa-los em casa.

Mandar nos deixar em casa? Mas...

– Não precisa, Ellie, eu vim de bicicleta – Gabriel diz.

– Ah, vocês não vão voltar de bicicleta e estragar a imagem dessas roupas! Já mandei a sua bicicleta, eles vão deixar vocês de carro... Boa sorte.

E nós vamos para casa de carro? Não, não vamos, Gabriel pede ao senhor que está dirigindo para nos deixar ali por perto mesmo, e é o que ele faz.

– Não podemos desperdiçar a chance já que estamos chiques – ele sussurra, quando descemos.

– O que vamos fazer aqui? – pergunto.

– Passear, visitar lojas chiques sem que fiquem nos olhando com a cara feia, tendo certeza de que não temos dinheiro... é como uma revanche...

– Faz sentido...

Fizemos isso o dia todo, entramos numa joalheria e pedimos para ver o anel com mais diamantes, a mulher mostrou, um pouco desconfiada, mas Gabriel acabou por dizer que até o anel do avô dele tinha mais diamantes que aquilo.

Foi demais, estava quase escurecendo quando esbarramos com duas pessoas conhecidas.

– Anna, Gabriel? O que fazem aqui? – Hanna está parada na nossa frente, está vestida casualmente, mas tem algo nela que sempre a faz parecer chique – gente, eu quase não reconheci vocês!

Olho mais para trás, Dennis está me encarando como se nunca tivesse me visto.

– Estamos dando o troco nas pessoas ricas e esnobes dessas lojas... – Gabriel ri e Hanna levanta uma sobrancelha para mim, mas apenas levanto os ombros, é uma aventura apenas para Gabriel.

– E de onde tiraram essas roupas chiques – ela pergunta – Anna, onde enfiou o seu cabelo azul?

Dou um sorriso, Hanna é uma piada.

– Estávamos no estú... – Gabriel começa a falar, mas eu piso no pé dele com o salto da sandália e ele se cala.

– Estávamos passeando... Só isso... – digo, calmamente.

Sério, Dennis, filho, perdeu alguma coisa na minha cara? Se não, pare de ficar olhando, seu besta!

– Estão saindo? – Hanna se assusta – Como num encontro...?

– Não, é que... – começo a dizer, mas quando olho pra Dennis a coisa toda sai – Sim! É isso... – seguro o braço do Gabriel, que me olha, estranhando a situação.

– Então tá... – ela pisca – Vamos deixar vocês seguirem com o encontro.

Quando eles saem – Dennis com a maior tromba do mundo – espero a bomba... Mas ela não vem.

– Não está bravo por eu dizer que estamos num encontro? – digo.

– Não, mas seria bem melhor se você tivesse dito a verdade – ele sorri, mas faz uma careta depois – Meu pé ainda dói...

– Desculpa – falo – É que a coisa toda da gente ter ido no estúdio da revista é sobre o Dennis...

– Sério...? – ele parece interessado, então paramos numa pracinha e sentamos num banco, a pracinha é escura, mas as pessoas que estavam lá repararam que estávamos chiques demais pra uma simples pracinha.

– É, você não viu a edição passada da revista? – falo, tenho a sensação desagradável de que estamos sendo observados, mas claro, tem várias pessoas aqui, isso é besteira,

– Eu não leio... – ele sorri – Eu só gosto de ver o trabalho dos designers e dos estilistas

– Ah, – Gabriel tem talento, ele poderia ser facilmente um estilista. – Quer, saber... eu vou contar tudo, detalhe por detalhe.

Começo a contar desde o momento em quem Lukas me mostra a revista ridícula, dou tantos detalhes que nem sei como ele não se irrita.

– E agora estamos aqui... – respiro... Isso foi cansativo.

– Foi uma aventura e tanto... – ele murmura, tirando a gravata. Ah, isso é muito charmoso!

– É, e agora tem uma chance das nossas fotos saírem na edição de sexta... – murmuro, mas ele não parece ligar, está feliz demais, acho que não está sentindo a sensação de ser observado... Mas pode ser um paparazzi... Não, não, as fotos nem foram lançadas ainda...

– Já são sete e meia? – ele murmura – Saímos de casa às onze!

– Sete e meia? – levanto num pulo – Tenho que ir pra casa.

– Eu vou com você... Graças à suas missão extraordinária pude saber como é uma sessão de fotos! – ele me abraça, e vamos andando com o braço dele passado pelo meu ombro.

Estranho, a sensação continua... E continua até chegarmos em frente a casa dele, que é a mais perto.

– Não quer que eu vá com você até a sua casa? – ele fala.

– Não, não... Eu prefiro ir sozinha, não que eu não goste da sua companhia, mas eu prefiro não incomodar mais.

– Não, não está incomodando... Mas está tudo bem, Meizinha, você é ótima! Vou te amar pra sempre – ele me abraça e me dá um beijo no topo da cabeça, ainda não me acostumei muito bem com o que ele me disse no shopping... Foi chocante demais, eu nunca imaginaria... Mas fui a primeira a saber!

Então ele entra e eu sigo meu caminho, vou em direção ao prédio de Beatrice, depois é só dizer pra minha mãe que passei o dia com minha doce irmã mais velha...

Essa sensação está me incomodando... Será um stalker maluco?

Sei lá, essa cidade é cheia de coisas desse tipo...

Apresso o passo, não vai me alcançar se eu correr um pouco... Ai, é difícil correr de salto, ainda mais quando se passou um dia inteiro com eles.

Chego ao prédio, a sensação continua, quando vai parar? Será que é só um besourinho que ficou preso na minha roupa?

– Ah, que droga... – coloco minha chave reserva na fechadura, mas ela cai...

– E aí... Como foi o encontro...? – Ai que susto... O tal stalker resolveu me seguir até aqui?