Eu estava encrencada. Tinha que pensar rápido em que dizer ao meu pai por chegar em casa depois da meia noite, mas nada me vinha a mente.

Ele sabia que eu havia saído com Jacob e era bem capaz de ele pensar uma boa merda de mim, independente da mentira que eu contasse. Entrei pela porta e agradeci por todas as luzes estarem apagadas. Ele provavelmente havia ido dormir e não me esperou chegar.

Iria ser um alivio, pelo menos não precisaria inventar uma mentira. Ainda.

No segundo seguinte em que entrei pela porta, o abajur da sala se acendeu e eu pude ouvir alguém pigarrear impaciente.

- Isso são horas de chegar, Isabella? – Me deparei com a imagem do meu pai com os braços cruzados e uma expressão furiosa.

Engoli em seco e não respondi nada, coçando minha testa timidamente. Ai, eu estava encrencada literalmente. Pensei em mil e uma coisas pra dizer, mas ele não acreditaria em nada, nada teria sentido algum! Droga.

- Estou esperando. – Sussurrou impaciente, batendo o pé freneticamente contra o chão.

- É que... Bem... Perdi a noção da hora... Desculpe-me – Ele com toda a certeza iria saber que eu estava mentindo descaradamente. Sim, eu tinha perfeita noção do horário.

Charlie me fitou desconfiado e ainda tinha uma leve fúria no seu rosto.

- Quer mesmo que eu acredite nisso? – Percebi uma de suas sobrancelhas se erguer.

- Não confia em mim, pai? – Enruguei a testa com uma expressão chorosa.

Chantagem sentimental. Era disso que eu estava precisando.

- Não, claro que sim... Eu... – Consegui deixar meu pai sem palavras.

- Tudo bem, então – Cocei meus olhos como se enxugasse as lagrimas e olhei para ele novamente – Quando eu me tornar uma adolescente problemática por culpa do meu pai que não confia em mim, você vai ver só.

Deixei Charlie falando sozinho e subi as escadas pisando duro. Ok, eu estava até boa nesse negocio de ser atriz. Entrei no banheiro e tomei um banho gelado e rápido.

- Isabella, vamos conversar. – Meu pai chamou, batendo na porta do banheiro assim que desliguei o chuveiro.

Enrolei-me na toalha e abri a porta lentamente.

- É Bella. E não, não vamos conversar pra você terminar de jogar na minha cara que não confia em mim. – Passei por baixo de seu braço, que estava apoiado no batente da porta e entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

- Bella... Espere aí. Eu ainda sou seu pai e eu não acabei. Venha aqui agora! – Charlie berrou do outro lado da porta com ira na voz.

Ai, meu Deus, agora agüenta. Coloquei meu pijama lentamente, sem respondê-lo e caminhei até a porta arrastando meus pés.

- Que é? – Encostei minha cabeça no batente, fitando-o com uma expressão entediada.

- Estou decepcionado com você Bella... Nunca pensei que você pudesse fazer uma coisa dessas comigo... E, bem, eu não iria fazer nada, mas acho que você deve ficar um tempo sem ver o Jacob. Vocês não se falavam a tanto tempo, então acho que ficar mais uns quatro meses não vai fazer diferença. E se não quiser assim, eu terei que te mandar de volta pra sua mãe.

Eu pisquei varias vezes, atordoada. Não acreditava no que tinha ouvido. Meu pai jamais diria uma coisa dessas pra mim. Como assim, quatro meses? Sem ver o Jacob por quatro meses? Morar com a mamãe de novo? Ah, claro, já sei. Meu pai bebeu demais por isso estava assim. Ai, Bella, e agora? O que será da sua vida?

- Estamos entendidos, Bella? Acho que não estou falando com a porta, não é? – Charlie cruzou os braços novamente, com a voz alterada de novo.

- Eu... Não. Não pode fazer isso comigo, pai. Não, por favor – Me ajoelhei aos seus pés, sentindo as lágrimas quentes se formarem em meus olhos e praticamente berrava com a voz chorosa.

- Não venha me falar o que eu devo ou não fazer Bella... Essa é minha casa e você deve obedecer minhas regras. Caso contrário, é só eu dizer a sua mãe o que você está fazendo e ela mandará você morar com ela. Ah, e não tente ser dramática. Não ligo para isso. Diga-me o que vai ser da sua vida. Quer viver ao meu lado do meu jeito ou com sua mãe?

Não estava conhecendo meu pai desse jeito. A única coisa que eu sabia fazer agora era chorar e soluçar, mas consegui dizer:

- Me diga o que estou fazendo, Charlie? Diga-me... Eu não fiz nada. Nada. E eu quero viver com você, do jeito que sempre foi comigo e não como um carrasco. Eu preciso do Jake... Você sabe como fiquei longe dele, quer que eu fique assim de novo? Você é cruel. – Continuei chorando depois de sussurrar e me levantei desajeitadamente.

- Você sabe muito bem o que você fez. – Charlie alterou sua voz novamente, mas se acalmou e terminou – Olha, Bella... Eu acho que todos merecem uma segunda chance, mas no seu caso já passou da décima chance. – Fitei-o incrédula com suas palavras. - Você vai ter só mais uma. Uma única chance. Faça mais alguma besteira e você pode esquecer Jacob Black para sempre.

Suas palavras me doeram fundo, mas eu resolvi ignorar a ultima parte para não desmaiar ali mesmo de tanto chorar. Respirei fundo, secando minhas lagrimas e desviei meu olhar para minhas mãos.

- Eu não sei o que eu fiz... Pode me dizer para eu não repetir essa besteira? – Disse com uma voz inocente.

- Bella... Diga-me a verdade... O que você e Jacob fizeram hoje? – Charlie respirou fundo antes de sussurrar as palavras que me fizeram engolir em seco.

Provavelmente se eu dissesse “Nada, pai. Jogamos Playstation e depois fomos estudar para quando voltar às aulas” ele não iria acreditar, então apenas engoli em seco e fiquei fitando minhas mãos calada.