Ao perceber seu olhar me avaliando, corei levemente e abaixei meu olhar novamente para o chão. Eu não sabia exatamente o que era aquela sensação que eu estava sentindo. Não dá pra explicar, era como se eu estivesse num lugar totalmente calmo e feliz, mas ao mesmo tempo o lugar era sombrio e assustador. Totalmente sem definições. Por sorte, Jacob não dirigiu a palavra a mim, somente conversava com Billy que o enchia de perguntas típicas de pais. “Como está se sentindo? Não está doendo nada? Como estão os ferimentos?”. Todo o bla bla bla de sempre. Eu não queria estar ali, quero dizer, queria, mas não dessa forma.

Queria que tivesse sido convidada e não estar ali de intrusa como se eu fosse a pessoa mais odiada da face da terra. Tudo bem, só o Jacob me odiava, mas para mim ele era o mundo inteiro.

Eu não queria forçar nada, afinal estava ali apenas para acompanhar o pai dele. Mas quem eu queria enganar? Eu ainda amava o Jake, estava ali para vê-lo porque eu precisava disso. Os tiros no meu peito arderam por um momento, foi tão forte que eu me encolhi, mas depois passou e foi como se nunca houvesse alguma ferida ali.

_ Está tudo bem comigo, velho, relaxe – Jacob soltou uma risada abafada, aquela que eu tanto amava e depois pude sentir seu olhar em mim de novo, agora mais indiscreto. – Bella?

Eu respirei fundo. Ouvir aquela voz chamando meu nome fez meu peito inflar e me fez sorrir discretamente. Eu ainda fitava o chão, fiz que sim com a cabeça. Não olhei para seu rosto, queria imaginar que era apenas um sonho louco.

_ Eu vou dar um tempo pra vocês – Billy saiu do quarto e minhas mãos caíram nas laterais do meu corpo.

Ele sabia da minha depressão e de todo o resto. Cocei meu cabelo, agora curto, suavemente sem desviar meu olhar do chão, esperando que ele começasse. Afinal, era só um sonho mesmo.

_ O que fez com a minha Bella? – Jacob, como eu esperava, começou. Sua voz era dolorosa, pude sentir isso.

_ Sua Bella? – Dei ênfase na “sua” e ri sarcasticamente – Que eu saiba você não possui Bella nenhuma, meu querido.

_ Por que mudou?

_ Porque eu quis – Dei de ombros.

_ Bella?

_ O que? – Eu estava sendo a fria e calculista que eu queria ser. Ele começou me expulsando da sua vida, porque queria explicações agora?

Apoiei minhas mãos em uma bancada do quarto hospitalar e Jacob se aproximou um pouco.

_ Você está bem? – Ele perguntou hesitante.

_ Perfeitamente – Menti. – E você?

_ Nem um pouco. – Pude ouvir Jacob engolir em seco – Sinto sua falta.

_ Eu também... – Segurei minhas lagrimas quando disse e acho que ele percebeu minha voz falha.

_ Me perdoe, baixinha? Eu não estava sendo... Racional... Aquele dia.

_ Não tem o que perdoar, fica frio. Eu... Estou bem.

_ Por favor?

_ Ta bem, Jacob. Você está perdoado, apesar de não ter um porque.

Logo depois de falar com dificuldade, senti a mão de Jacob na minha nuca e senti ele se aproximar mais. Eu estava totalmente sem sentido e sem rumo quando resolvi olhar nos seus olhos pela primeira vez. Toda a dor que senti naqueles dias veio a tona e eu senti meu corpo amolecer. Então não era apenas um sonho, Jacob estava ali mesmo e era real.

Jacob não percebeu meu corpo vacilar e aproximava ainda mais seu rosto do meu. Eu não sentia mais nada, só sabia que podia desabar a qualquer momento.

Abracei sua cintura e afundei meu rosto no seu peito. Coloquei toda a minha dor e todas as minhas forças daquele momento naquele abraço e ele retribuiu da mesma maneira.

_ Eu te amo... Tanto – Jacob sussurrou perto do meu ouvido com a voz chorosa e eu o apertei mais ainda se possível.

_ Te amo mais.

Jacob já ia abrir a boca para discutir, mas foi calado pelo toque do meu celular. Sorri levemente para ele e atendi.

_ Alô?

“Bella? É o Edward...”

_ Ah, oi! Que houve? – Estranhei Edward me ligar, tudo bem que tivemos uma conversa legal e tínhamos tudo para sermos amigos, mas ele me ligar ali foi meio estranho.

“Fiquei preocupado com você, aí como já passou um tempo resolvi ligar e ver como estão as coisas...”

_ Esta tudo bem, eu acho...

“Certeza?”

_ Não – Soltei um riso nervoso – Pensou no jantar?

“Ah, é... oh, claro, seria ótimo”

_ Então esteja lá em casa quando acabar o expediente na delegacia, aí te conto o que quiser saber.

“Ok. Até mais”

_ Até – Desliguei o telefone e percebi o olhar de Jacob em mim.

_ Edward? – Seus lábios estavam franzidos e uma sobrancelha erguida, quase não consegui conter o riso.

_ É um amigo... – Soltei um risinho leve – E é só amigo mesmo, nada demais.

Eu nem podia acreditar que estava mesmo rindo e falando normalmente com aquele cara que me fez mal. Incrível como eu conseguia ser tão idiota, mas ouvir “eu te amo” da boca dele foi a coisa mais reconfortante que já ouvi nos últimos dias. Ele ainda me amava, da mesma maneira que eu.

_ Sei. Então... O que somos agora?

A pergunta de Jacob me fez soltar uma risada escandalosa e incrivelmente sarcástica. Acho que meu personagem estava ficando real demais.

_ Como assim? Você me joga fora e agora me pergunta o que somos?

_ Eu pedi perdão... E sim, pergunto, porque se depende de eu resolver, continuamos sendo o que nunca devíamos ter deixado de ser.

_ Tanto faz... – Dei de ombros, indiferente. Não sei como, mas essas palavras saíram da minha boca. Outch!

_ Bella... – Jacob disse frustrado.

_ Olha só, eu só vim aqui porque meu pai pediu e só trouxe Billy até o quarto porque... Porque... Porque eu quis. Então, amorzinho, vou dar um tempo para você rever seus conceitos e pensar se é isso que você quer, porque mais um chute eu não agüento. – Fiz uma voz incrivelmente irritante e saí do quarto pisando duro enquanto era seguida pelo olhar de Jacob. Eu não queria mesmo ter dito aquilo, mas era preciso. Dane-se agora, ele nunca mais vai querer olhar na minha cara.