Uma nova princesa para uma nova Illéa escrita por Snow Girl


Capítulo 20
Os rebeldes


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que sou uma tonta por estar postando na hora do jogo, mas foi a hora que deu né?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/511373/chapter/20

Abri os olhos, confusa. Eu estava em um abrigo? Como eu cheguei ali?

Havia um guarda olhando preocupado para mim com uma bandana azul amarrada no pescoço como um lenço. Seus olhos eram negros e familiares.

— Não se mexa, você se machucou feio na cabeça.

— Cadê todo mundo?

Ele olhou em volta.

— Por aí. Você está com fome? Acho que posso fazer alguma coisa. Macarrão com queijo é uma boa pedida.

Espera aí. Armas, bandanas, querer atirar em mim…

— Vocês são os rebeldes. Você é um deles — falei gelada.

— Sou — afirmou com um sorriso de quem pede desculpas. — A propósito, se eu fosse você nem perderia meu tempo gritando. Ninguém vai ouvir.

— Obrigada pelo aviso.

Eu estava mesmo tendo uma conversa super normal com um cara que me queria morta?

O rapaz parecia saber o quê eu estava pensando.

— Não se preocupe, eu nunca iria querer mal a você, Alexia.

— Mesmo? Porque eu tenho a impressão que amarrar alguém na cama não é exatamente "não querer mal".

Ele sorriu.

— Realmente, você é filha dele. Não acho que sua mãe tivesse esse humor ácido. A minha não tinha.

— Desculpe, eu estou meio confusa, senhor rebelde. Do que você está falando?

Ele riu.

— Senhor rebelde? Gostei. — Seus olhos negros brilharam. — Meu nome é Henry. Henry Piper.

— Piper? Esse também é meu sobrenome — ei, eu sei que não devemos falar com estranhos, mas quais eram as minhas opções? Não era exatamente como se eu pudesse fugir.

— Eu sei, eu sou seu irmão. Acho que você estava meio chapada quando falei isso da primeira vez.

— Meu irmão chama Patrick e tem cinco anos. Acho que você está me confundindo com alguém. Ou eu estou realmente muito chapada e dormi por uns vinte anos e você mudou de nome — Olhei atentamente a ele. — Não foi isso que aconteceu, né?

— Não. Pelo que me lembro, Patrick tem olhos azuis assim com os seus e da sua mãe. Eu fui o filho que pegou os olhos do pai — Ele sorriu. Tinha um bom humor impressionante para um rebelde assassino. — Antes que você pergunte: eu sou o bastardo filho mais velho.

— Bastardo?

— É, nosso amado pai pegou a minha mãe e a descartou grávida, como um objeto usado. Depois se casou com a sua mãe e ela teve você e Patrick.

Ele deu de ombros com ose coisas assim acontecessem o tempo todo.

— Olha aqui, meu pai não é exatamente um exemplo da boa conduta, mas não acho que ele pudesse fazer isso, pelo menos não antes de... — de ficar doido quando minha mãe morreu.

Ele me olhou infeliz.

— Antes de se tornar um bêbado? Ele nunca foi do tipo que se segura.

— Como você...?

Ele sorriu tristemente.

— Eu lamento pelas suas costas. Eu estive lá, eu observei de longe todas as vezes, mas nunca tive peito suficiente para proteger você.

Meu queixo caiu.

— Você estava…

— Vigiando os meus irmãos? Sim. Você tinha doze da primeira vez que ele...— Henry não terminou a sentença, mas eu sabia sobre o que estava falando. — Era inverno, sua mãe tinha morrido alguns dias antes, quando Patrick nasceu. Você gritou tão alto! Eu quis interferir, mas o que eu poderia dizer? "Hey Alexia. Eu sou seu irmão mais velho e vou levar vocês dois para viverem com os rebeldes que o rei quer morto"? Você não iria me acompanhar e eu iria arriscar a sua vida e a de Patrick sem necessidade. Eu sempre observei de longe, sempre cuidei de vocês. Às vezes eu ia nas suas apresentações. Você canta muito bem.

— Hã, obrigada?

Ele sorriu.

— Sei que parece loucura, mas é a verdade.

— Prove.

— Claro, vamos fazer um teste de DNA. Ah, ops esqueci que toda a população supostamente me quer morto e você tem que permanecer no castelo.

— Supostamente?

Ele sorriu.

— Não vou te contar até você confiar em mim. Não se preocupe, você vai acreditar. Só não sei como ainda — acrescentou mais para si mesmo.

— Você vai me matar se eu não acreditar? — Era impossível não notar a borda afiada em meu tom.

— Não. Eu protejo você, sempre vou te proteger mesmo se você me odiar.

— Digamos que isso seja real e você seja meu irmão… você não deveria me odiar? Sabe, se ele trocou sua mãe pela minha. Eu ficaria meio irritada.

— Não. Minha mãe me ensinou que ódio só destrói você mesmo por dentro. E você, sua mãe, Patrick… vocês não tiveram culpa de nada. Nem ele, na verdade.

— Um rebelde dizendo que ódio é destrutivo. Realmente eu estou muito chapada.

Ele riu alto.

— Henry, querido? — uma voz suave chamou da porta.

— Lynn! Essa é a Alexia, agora ela está consciente.

A garota na porta deveria ter mais ou menos a minha idade, seu cabelo louro muito claro e sua pele igualmente clara faziam um contraste interessante com a pele morena e o cabelo escuro de Henry.

Ela sorriu hesitante para mim.

— Vocês não se parecem nada! Nem parece que são irmãos — ela também acreditava naquela maluquice? Pelo olhar devotado que lançou a Henry, ela acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse.

Ela sorriu de novo para mim, deixando duas covinhas aparecerem em suas bochechas.

— Oi — falei.

— Eu fiz comida para vocês — falou para ele e então franziu a testa. — Solte a sua irmã, o que você está pensando?

Henry me olhou e arregalou os olhos.

— Ih, eu esqueci! — falou puxando uma faquinha que usou para cortar as cordas em meus pulsos.

Lynn riu e chegou mais perto de mim com um prato coberto que cheirava loucamente bem.

— Ele está quase dando pulinhos de alegria por te ter aqui. Todos estamos felizes.

Ela me entregou o prato.

— Não tem veneno aqui, tem?

Os dois riram.

— Não — Henry pegou um pouco dos biscoitos no prato. — Se eu estivesse cozinhando essa pergunta seria válida, mas como é a Lynn, pode ficar tranquila.

— Vocês são legais — disse com cuidado. — Por que são rebeldes? Não gostam de Illéa?

Os dois se entreolharam, não como se estivessem preocupados. Pareciam estar dialogando sem palavras.

— Eu gosto, mas poderia ser melhor se mudasse algumas coisas.

— E matar pessoas é o seu caminho para a mudança?

— Só matamos de vez em quando e eu estou limpo. Nunca matei ninguém.

— E por que os outros matam?

— Vários motivos diferentes. Você está pensando no grupo da bandana vermelha, os sanguinários. Eles são idiotas. Agora sim o inferno vai começar, porque eles tem o apoio das classes altas que querem restaurar as castas...

— E vocês?

— Não estamos aqui para destruir Illéa — afirmou Lynn, o rosto sério. — Queremos mudanças, mas eles não querem nos ouvir. Porque somos inferiores. Pobres.

— Vocês querem que eu interceda por vocês.

— Oh, não. Realmente Henry só queria conhecê-la.

Um barulho irritante como uma trombeta soou.

— E já conheceu. Temos que correr.

Ela pegou um casaco de guarda na cama ao lado da minha (só então eu reparei que estava em uma espécie de alojamento) e vestiu por cima da camiseta preta.

Os dois se puseram em pé e me puxaram através do quarto minúsculo com várias beliches até outra parte que era dividida do quarto por uma parede de metal exatamente como as dos abrigos.

— Que lugar é esse?

— Nosso quartel general — disse uma menina por volta dos treze com marias-chiquinhas.

Meu queixo caiu. Uma criança num grupo rebelde.

— Não se preocupe, os menores não lutam — sussurrou Henry para mim. — A idade mínima para pegar em armas é 16 — ele abriu um sorriso irônico. — Não somos irresponsáveis.

Henry e Lynn me levaram por um corredor baixo.

— Onde estamos?

— Em um túnel que passa por baixo de toda a propriedade do castelo. — Lynn ergueu uma sobrancelha.

— Eu não vou contar nada a ninguém até ter certeza do que acho sobre isso tudo.

— Ela é tão parecida com você! É espantoso — ela sussurrou.

Henry sorriu.

— Lynn sempre fala o que estiver passando na mente dela, mesmo contradizendo o que disse minutos antes.

Eu sorri de volta.

— Percebi.

Eles riram e subiram uma escada de corda. Henry me ajudou. Subir numa corda com um vestido volumoso não é fácil.

— Estamos quase chegando.

— Onde?

— Suíte da princesa. É um lugar bem bonito, meio assustador.

— Vocês já estiveram lá? — Franzi o rosto.

— O tempo todo! Não posso levar Lynn em passeios românticos, sabe?

Eu sorri.

— Então basicamente vocês só ficam de tocaia e não fazem nada?

— De vez em quando gostamos de um pouco de caos como o de ontem.

— Qual é o apelo?

Lynn abriu um sorriso malicioso no rosto delicado de elfo.

— Eles não podem nos ignorar para sempre. Claro que existe um propósito por trás disso, mas não vamos contar a você. Não agora, pelo menos.

— Você ficou sabendo da fuga em massa da prisão em Albany? — completou Henry, mudando o foco. — Eram inocentes, nós os soltamos.

— Vocês são libertários — falei desconfiada.

— Exatamente — concordou sorrindo. — Não queremos destruir Illéa. Temos muitos objetivos, mas esse não.

Henry entrou numa espécie de passagem secreta, Lynn fez sinal para que eu fosse antes dela.

Subimos pelo túnel levemente inclinado.

Henry estendeu a mão para mim.

O quarto em que estávamos era grande e frio, com suas várias janelas e decoração escassa. Porém tinha um ar majestoso, como uma tumba de ouro.

— Arrepiante, né? Adoraria poder conversar mais, mas temos que vazar enquanto os guardas fazem a troca de turno.

Assenti olhando em volta.

— Tchau — disse Lynn me sufocando em um abraço. — Espero te ver logo!

— A gente se vê logo, eu vou aparecer por aqui só para checar como você está. Acredite: você não está sozinha.

Não entendi o que ele quis dizer, apenas concordei com a cabeça.

Olhei enquanto eles saíam pelo guarda-roupas. Então tá, né…

Esperei alguns minutos para ter certeza que eles não iam voltar para atirar na minha cabeça e parti para a porta.

Estava trancada. Tentei a outra (por que um quarto tem duas portas?). Também estava trancada.

Comecei a bater na primeira porta feito uma doida.

— Tem alguém aí? Socorro!

Bati por bem uns dois minutos antes de a porta ser aberta por um guarda jovem. Era o mesmo que havia levado Georgie.

— Senhorita Alexia?

— Oi, obrigada por abrir. Tchau.

Ele só ficou olhando para mim com uma cara de parvo como se eu fosse um ET.

Passei pelo corredor até meu quarto. Ninguém ali. Olhei o relógio ao lado da cabeceira da cama: 12:35.

Eu fiquei quase 18 horas com os rebeldes?

Não era de estranhar que o guarda parecia que tinha visto um fantasma.

Tomei banho o mais rápido possível, embora não tivesse me apressado tanto assim. Percebi que eu tinha uma bandagem na cabeça. Quando a tirei vi que o corte na minha cabeça estava suturado, eles realmente tinham cuidado de mim. Por sorte eu conseguiria esconder aquilo com a franja.

Peguei um vestido bem leve e vesti, não estava exatamente no clima para me maquiar então só passei um lápis e batom e prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto.

Desci até a sala de jantar recebendo olhares assustados de cada pessoa que encontrei no caminho.

Gente, eu não estou morta!

Tentei entrar de forma discreta mas não consegui, como sempre. Ouvi exclamações abafadas de cada pessoa no salão.

— Bom dia, ou boa tarde, sei lá. Desculpem o atraso, Majestades.

— Lexi! — Georgie correu para mim e eu o peguei nos braços reflexivamente. Percebi que ele parecia muito mal.

— Oi, pequeno! — Beijei todo seu rosto. — Eca, agora você está todo manchado de batom.

Ele riu.

— Você está bem!

— Claro — levei-o de volta para seu lugar ao lado da rainha. — Por que todo mundo parece que viu um fantasma? Eu sei que sou feia mas não é pra tanto, né?

— Alexia — Kayla me abraçou.

Retribuí o abraço meio desajeitada.

— Gente…? O mundo ficou todo louco nas últimas horas ou esse é um universo paralelo?

Ela riu, sua maquiagem estava borrada, o rímel escorria em linhas negras em suas bochechas.

As outras meninas também me abraçaram, todas com cara de quem andou chorando.

— Por obséquio, o que está acontecendo aqui?

— Você foi sequestrada por rebeldes. Nós pensamos... — Caleb não continuou. Eu não tinha reparado que ele tinha se levantado.

Ah, eles pensaram que eu tinha morrido. Eu também pensaria, se um desses rebeldes por acaso não fosse meu irmão perdido.

Franzi o rosto. Ele não era meu irmão.

— Eu fui? — tentei parecer confusa, não foi difícil pensando em Henry e nossa "relação". — Acordei agorinha no meio do mato, zanzei um pouco e cheguei à uma passagem que me levou num quarto vazio lá no terceiro andar. Um guarda abriu a porta, fui para meu quarto tomar banho e aqui estou eu. Nada terrivelmente emocionante como ser sequestrada por rebeldes. — Dei de ombros.— Posso comer? Estou morrendo de fome.

— Espera aí — disse Pietra. — Você deve ter sido atacada para ficar quase um dia inconsciente. Talvez tenha sido...

Cala a boca, Pietra!

Vi que todos trocaram olhares. Menos Georgie que, graças a Deus, não entendeu o que ela quis dizer.

Acredito que você deva passar no consultório do médico depois, minha querida — disse-me o rei com bondade.

E assim foi o meu triunfante retorno: todo mundo achando que eu fui abusada sexualmente por um rebelde em trapos.

Que dia lindo!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma nova princesa para uma nova Illéa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.