Suspirei e me joguei na cama, desistindo da árdua tarefa de achar uma roupa decente para ir na festa do Percy. Era isso, fim, eu não ia em festa nenhuma. Eu ia ligar para a Cassie e dizer que fiquei doente, depois passaria a noite toda de sábado lendo e ouvindo Arctic Monkeys.

Peguei meu iPhone e disquei o número dela mas...não concluí a chamada. A questão era o Percy. Eu o vi todos os dias da semana, mas apenas de longe. Ele não sentava perto de mim na sala e só tinha olhos para a sonsa da Bianca, mas mesmo assim, eu não conseguia parar de olhar para ele. Seu cheiro impregnava a sala inteira, e cada vez que meus olhos encontravam seus profundos olhos verdes meu coração batia em descompasso. Eu não sabia explicar o porquê disso, eu não o amava nem nada assim, mas sua presença provocava reações químicas inexplicáveis na minha mente, eu não conseguia pensar direito, eu não conseguia me concentrar em nada, ficava trêmula, com as mãos frias e o coração pulsando loucamente.

Fui justamente por isso que decidi ir na festa dele. Só a possibilidade de imaginar a casa dele, com as coisas dele, as memórias dele, o cheiro dele...tudo isso era demais pra mim. Eu precisava conhecer pelo menos um pedaço do mundo dele, talvez eu tivesse a chance de fazer parte dele algum dia.

E além do mais a Cassie insistiu muito para eu ir, e até minha mãe disse que seria bom eu sair um pouco para me distrair e fazer novas amizades. Então larguei o iPhone na cama e voltei ao guarda roupa.

O problema é que minhas roupas eram simples demais, eu não tinha roupa para sair. E eu não queria chegar na festa parecendo uma mendiga, ou alguém que acabou de voltar do supermercado. E eu também não queria ir sofisticada demais, porque a festa do Percy não era a festa do Oscar. Eu precisava achar uma roupa meio termo, o que era impossível.

Revirei todo o meu guarda roupa e por fim achei um short que eu nunca usei, um que minha tia Afrodite havia me dado no ano passado. Ele era jeans claro, com spikes nos bolsos. Eu nunca usei porque não gostava muito de mostrar as pernas, e o short era bem provocante.

Tirei minha calça de moletom e coloquei o short. Olhei no espelho e não soube se o que vi era ruim ou bom. O short era bem curto mesmo, e apertado, o que por um lado me deixava parecendo uma vadia, e por outro eu ficava gostosa. Respirei fundo e fui procurar uma blusa. Achei uma preta e branca de manga caída dos Beatles e resolvi colocá-la. Me olhei no espelho e eu parecia uma vadia rockeira, então resolvi suavizar com uma sapatilha branca e fofa. Não adiantou muito, mas era a melhor roupa que eu tinha, e além disso a Cassie chegaria daqui a 30 minutos.

Passei um secador no meu cabelo e deixei-o solto, caindo em ondas largas pelas minhas costas. Fiz uma maquiagem bem simples (até porque eu não sabia me maquiar direito), só com rímel, base, pó e um gloss nos lábios.

Coloquei um colar grande de pedras e uma pulseira prateada, e nesse momento a Cass chegou. Minha mãe abriu a porta para ela e mandou ela subir para o meu quarto.

– Oh, wow, você está adorável! Wow – ela disse quando me viu.

– Você também está linda Cassie – eu disse e era verdade. Ela tinha escovado o cabelo, deixando-o liso e sem aquele aspecto seco. A maquiagem era mais forte, mas combinava com ela. Ela estava com uma blusa branca justinha e uma saia alta preta, toda plissada e soltinha. Ela usava sapatilhas pretas e nenhum acessório. O único problema da Cass é que ela era magra demais, e só ela não via isso.

– Podíamos nos pegar Annie, você está super gostosa – ela disse com um risinho malicioso.

– Não me leve a mal Cass, mas eu sou hétero – eu disse. Ela também era, ela só era louca e falava merda o tempo todo.

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– Annabeth para de besteira, vamos entrar logo, a festa deve estar adorável – Cassie disse para mim, rindo.

Tínhamos chegado á porta da casa de Percy e eu não tinha coragem de entrar. O primeiro motivo é que Percy era praticamente meu vizinho, ele morava a 2 quarteirões da minha casa. Só dois quarteirões porra! Eu não acreditava nisso. O segundo motivo é que eu estava morrendo de vergonha de entrar em uma festa na qual eu não conhecia ninguém, e todos eram populares e eu era só uma nerd que nunca tinha ido em uma festa assim. Cassie me puxou e me forçou a entrar na casa.

A primeira coisa que senti foram as batidas da música ensurdecedora, em seguida o cheiro de sexo e as luzes cegantes. Não dava para perceber que a casa de Percy era uma casa, pois mais parecia um salão enorme de uma boate. O local estava lotado e tudo escuro, a única iluminação eram as luzes neon. Cassie me deu a mão e saiu me arrastando para dentro do salão, e a única coisa que eu sentia eram os corpos desconhecidos colidindo com o meu.

– Aonde estamos indo?? – gritei por cima da música.

– Achar a Effy – Cassie gritou de volta.

Continuamos andando e eu vi duas garotas se pegando na parede da sala. Reconheci o cabelo vermelho sangue de Emily, e o loiro curto de Naomi. Wow.

Andamos mais um pouco e achamos a Effy. Ela estava no colo do Nico, de pernas abertas sobre as coxas dele, e eles estavam se beijando ferozmente. A mão dele segurava os peitos dela por debaixo da blusa, e eu achei meio estranho ela deixar ele fazer isso com ela na frente de todo mundo. É, talvez eu seja meio careta.

– EFFY! – Cassie gritou para ela. Ela soltou os lábios do Nico, revirou os olhos e olhou para a gente.

– O que você quer? – nossa, ela era bem ríspida.

– Wow, pílulas – Cass respondeu sorrindo.

Effy enfiou a mão no bolso e tirou 4 comprimidos enrolados em saquinhos e entregou para a Cassie, que pegou 20 dólares e pagou ela.

Ela me puxou pelo braço e me levou para a pista. Cass tomou uma pílula, guardou o resto no bolso e começou a dançar. Eu continuei parada, olhando em volta. No meio da sala a Zöe, a Silena e a Rachel dançavam loucamente. Elas estavam lindas, a Zöe com uma blusa branca e um shorts claro, a Silena com um vestido rosa bem curto e colado e saltos pretos e a Rachel com um vestido preto, e sapatilhas, bem simples. No canto da parede tinha Charles, Tony e Luke olhando para elas.

– Vamos Annie, dance! A festa está adorável – Cass disse para mim. Eu não estava afim de dançar porque não sabia dançar. Por que eu vim nessa festa mesmo?

– Que pílulas são essas Cassie? E por que a Effy te deu isso? – perguntei.

– É metanfetamina – ela gargalhou – relaxa, só serve para me deixar alegre e sem fome. E a Effy não me deu, ela me vendeu. A Effy é tipo a traficante daqui, ela te arruma qualquer coisa. Vem, vamos pegar uma bebida.

– Eu não bebo Cassie. Pode ir pegar, vou no banheiro e já volto.

Ela sorriu e saiu para o mini bar e eu saí na direção oposta. No meio do salão tinha um pequeno corredor, e no fim do corredor tinha uma porta. Aquele devia ser o banheiro, com certeza. Ele parecia vazio, então eu empurrei a porta e abri. Me arrependi imediatamente.

Aquele não era um banheiro, era um quartinho que não tinha nada, só uma cama. E nessa cama tinha um casal, e imediatamente o casal parou o que estava fazendo e olhou para mim. A menina estava só de calcinha e o cara já estava nu, com a boca nos seios dela. O casal era Percy e Bianca.

– Desculpem – eu disse rapidamente e fechei a porta.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu saí correndo pelo salão. Abri a porta da casa de Percy e senti o ar frio da noite tocar minha pele.

Andei um pouco e sentei na calçada da esquina da casa dele, e as lágrimas começaram a cair pelas minhas bochechas. O que eu estava pensando afinal? Por que eu estava chorando? O Percy namorava com ela, eles tinham todo o direito de transar. Ele era dela e não meu. Ele nem sequer olhava para mim, ele nem deveria saber meu nome! Ele nunca seria meu, ele nunca iria querer nada comigo. Ele era Percy Jackson, o cara que poderia ter qualquer garota nas mãos. E o que eu era? Nada. Só uma garota solitária que nem os próprios pais queriam por perto.

As lágrimas não paravam de cair e eu estava cansada disso. Estava cansada de ser sozinha, de ser triste, de sofrer por pessoas que nem me conheciam direito. Eu estava cansada de tudo isso. Eu só queria ser feliz e o resto todo que vá para o inferno.

Sequei minhas malditas lágrimas e caminhei de volta para a festa. Entrei no salão cheio e fui direto para o mini bar.

– Uma dose de vodka, por favor – eu disse para o garçom. Ele assentiu e dois minutos depois me deu a vodka. Bebi o primeiro gole e o líquido desceu queimando minha língua e minha garganta. Quase cuspi, mas resisti. Eu nunca tinha bebido mas eu estava cansada da minha vidinha mais ou menos, de só estudar e sofrer pelas pessoas. Eu estava cansada dessa merda toda. Dei mais uns goles e consegui terminar a vodka toda. Devo admitir que o gosto era o horrível e eu já queria vomitar tudo mas foda-se, eu ia ficar bêbada.

Comecei a procurar a Cassie e a achei rapidamente, dançando sozinha em um canto, fazendo twerk e rebolando feito uma louca.

– Cass me dá uma pílula – eu disse.

Ela gargalhou, parou de dançar, olhou para mim e disse:

– Sério? Annabeth você nem bebe! Não vai aguentar uma MDMA.

– Cassie me dá logo uma dessas pílulas! E se você recusar eu vou lá na Effy e compro. Não enche.

– Nossa que grossa Annabeth. O que aconteceu? Eu falei de boa poxa – ela disse, pegou uma pílula no bolso e me deu. O comprimido era branco e bem pequenininho, e eu o engoli rapidamente. No início não senti nada, apenas fiquei olhando para a Cassie, que voltou a dançar.

Depois de alguns minutos comecei a me sentir estranha, as cores ficaram mais fortes, como se minha visão estivesse mais aguçada. O som ficou mais alto, e tudo ganhou velocidade, como se as coisas se movessem mais rápido. Senti uma energia enorme dentro de mim e uma vontade de colocar tudo isso para fora. Eu sentia vontade de dançar, pular, cantar, gritar, beijar, fazer tudo que eu podia fazer e de uma só vez!

Comecei a me mexer junto com Cassie, e a cada movimento que meu corpo fazia eu me sentia mais viva e com mais vontade de dançar. Peguei mais uma dose de vodka e dessa vez minha garganta não ardeu, foi tudo mais suave. Continuei dançando, a música enchia minha alma e cada batia penetrava fundo no meu coração. Eu estava rindo, ou melhor, gargalhando e eu nem sabia o porquê. As imagens estavam fora de foco e a única coisa que eu sentia eram as luzes neon nos meus olhos e a batida do meu coração, que se misturava com a música. Be still my heart cause it’s freaking out, right now. Shining like stars cause we’re beautiful.