Café com leite de baunilha, sem açúcar

Era sábado. A noite anterior nem de longe poderia ser chamada de agradável. Os dois haviam discutido de tal modo que Castle acabou indo dormir no sofá. Beckett estava extremamente irritada há alguns dias, não com ele, mas terminou descontando em quem estava mais próximo dela.

De início ele ficou bastante chateado com o acontecido, porém, acordar sem sentir o calor do corpo dela junto ao seu era estranho, era desconfortável. Mais cedo, despertou sentindo um vazio. O perfume dela não estava impregnado nele e seu corpo não moldava nada mais do que seu próprio travesseiro. Tinha certeza que jamais se acostumaria a não ter sua musa, parceira, amiga e mulher em seus braços, acarinhando seus cabelos e puxando-a pela cintura para mais perto.

Com a cabeça fria, ao repensar o que aconteceu, conseguiu arriscar que Beckett poderia estar naquela fase tão peculiar do mês, na qual a confusão de hormônios fazia uma desordem nas emoções e o mais seguro a se fazer era manter-se à margem dafaixa amarela de isolamento, afinal, ela possuía uma arma e ele não queria ser o corpo na cena do crime.

No momento, Castle empenhava-se em preparar aquilo que, há anos, era um motivo para ser presenteado com um lindo sorriso todas as manhãs. O aroma tão apreciado pelo casal já invadia suas narinas sorrateiramente. Tinha de admitir, era uma bebida completa, perfeita, e era o símbolo do amor entre uma detetive e um certo escritor de mistérios. Quente o suficiente para aquecer durante o frio, combinava com intimidade e boa conversa. Era estimulante, revigorante, doce na medida certa.

Misturando o leite de baunilha ao café já na xícara, ele contemplou os dois líquidos com propriedades distintas tornarem-se homogêneos, tornarem-se apenas um, assim como ele e Beckett. Duas pessoas tão diferentes que há algum tempo estavam oficialmente unidas. Castle apreciou a imponente aliança em seu anelar esquerdo e o gesto de sorrir foi imediato.

Apesar das pequenas discussões inevitáveis da vida a dois, eles nunca se machucaram de verdade. Rick sabia, por experiências anteriores, que algumas atitudes só desgastavam a relação, fazendo o brilho se perder aos poucos. E resgatar a magia de um relacionamento era algo como requentar café, nunca mais teria o mesmo aroma nem o mesmo sabor de um café fresquinho, feito na hora.

Ele sentiu sua presença apenas quando ela já se encostava ao balcão. Virando-se de frente, encarou os olhos verdes, cujo fulgor estava tímido. Ele se aproximou dela sabendo que no próximo instante viria um pedido de desculpas.

“Rick, eu sinto muito por ontem, eu exagerei”. Ela falava hesitante enquanto aconchegava uma das mãos dele nas suas, iniciando uma carícia de movimentos circulares com o próprio polegar. Ela o viu estreitar os olhos azuis e sorrir de uma maneira deliciosa, como só ele era capaz de fazer.

“Tudo bem, não se preocupe, eu não estou chateado, pelo menos, não mais. Eu iria levar o seu café na cama, mas você estragou a surpresa”, ele esboçou um ar de ofendido, fazendo os lábios dela curvarem-se para cima. “Senti sua falta, Kate”.

“Eu também senti a sua. Irei te recompensar, eu prometo”, ela mordeu o lábio inferior maliciosamente, fazendo-o piscar e balançar a cabeça em concordância.

Quando o escritor depositou a xícara de café no balcão a sua frente, ela sentiu o estômago revirar. Aquele cheiro tão familiar ao seu olfato parecia incrivelmente desagradável naquele momento. Nunca antes havia sentido algo parecido. Colocando uma das mãos sobre a boca, rumou às pressas para o banheiro, deixando para trás um Castle interrogativo.

No caminho, um breve pensamento atravessou a mente da detetive, apavorando-a."Enjoos matinais, Kate? Sério? Damn it!"