Hermione encarava seu reflexo no espelho pela milésima vez naquele dia. Seu cabelo preso num coque meticulosamente perfeito,com algumas mechas soltas. Seu vestido era rendado nas bordas,dando um ar angelical. Ela estava perfeita. Tudo estava perfeito. Mas por quê ela não conseguia se sentir feliz?

Por um momento,se permitiu fazer essa pergunta. Seu namoro com Brian nem teve a chance de começar. Seu pai colocava sempre os negócios sempre em primeiro lugar,mesmo que isso custasse a felicidade de todos a sua volta. Com seu casamento,não foi diferente. O pai de Brian era dono de uma empresa que iria fechar parceria com a de sua família. Desde então,os laços matrimoniais se tornaram uma questão onde a opinião dela não importava.

Mas ela não culpava Brian. Ele era uma boa pessoa,gentil e todas aquelas qualidades que ela poderia passar a vida listando. Mas,apesar de tudo,não o amava. Não o suficiente para seguir com tudo aquilo.

Ouviu batidas na porta.

''Hermione,querida. Está pronta?’’ Ouviu sua mãe dizer. Os outros já estavam na igreja,incluindo seu pai. Ela agradeceu mentalmente por isso.

Respirou fundo antes de responder.

''Sim,mãe. Desco num minuto,está bem?’’

Viu a mãe assentir pelo espelho,e descer a escadas logo em seguida.

Secou uma teimosa lágrima que insistia em cair. Balançou a cabeça em sinal negativo,enquanto eliminava as imperfeições que aquele ato havia provocado em seu rosto. Não iria chorar. Não ali,não naquele momento.

Forçou um sorriso enquanto descia as escadas,sabia que encontraria a mãe no primeiro andar. Ela só não esperava se deparar com um buquê de flores enquanto caminhava em direção a porta.

Fixou seu olhar em direção das rosas vermelhas,não dando atenção as palavras de sua mãe.

''Oh,querida! Você está tão linda. Eu e seu pai estamos muito orgulhosos de você....’’

Pelo o quê,exatamente?,pensou. Por aceitar um casamento forçado e ser infeliz pelo resto da vida? Deveria ela considerar aquilo um elogio,ou agradecer?

Tentava pensar em algo para dizer que não lhe embrulhasse o estômago,mas se conteve apenas em sorrir e encarar a mãe,que ainda falava.

''......e o pessoal da empresa mandou esse buquê de flores pra você. Não é lindo? Este é Draco,ele trabalha lá e.....’’

Parou de tentar entender o que ela dizia,para se concentrar num par de olhos azuis muito próximos,que a fitava. O dono dos olhos tempestuosos tinha fios loiro platinados e possuía um meio sorriso que,por um segundo,poderia fazê-la desfalecer ali.

Ela ainda estava perdida em seus olhos quando o ouviu dizer:

''Você está linda. Brian é um cara de sorte.’’

Por um segundo,acreditou na veracidade da primeira frase. Era muito melhor ouvir aquilo dele do que de sua mãe. Talvez ela estivesse mesmo,bonita naquele vestido. Quanto a segunda parte,preferiu desconsiderar. Brian era uma boa pessoa,merecia alguém melhor do que ela. Merecia alguém que o amasse de verdade,como deveria ser.

Pegou o delicado buquê das mãos de Draco. Lembrava de tê-lo visto raramente,em algumas das festas da empresa.

''São lindas. Obrigada.’’ Se limitou a dizer.

Antes que pudesse perceber,o loiro já havia saído porta afora. Seu coração acelerava,ela não entendia o por quê de querer vê-lo de novo. Talvez fosse só nervosismo pelo o que viria a seguir. Não estava preparada,tampouco queria aquilo. Pensou seriamente em se aproveitar de alguma distração da mãe e sumir dali,mas as circunstâncias foram mais rápidas.

Estava dentro do carro,uma típica limousine preta. Queria que a próxima parada não chegasse,que ela pudesse viver dentro de seus pensamentos enquanto a vida passava diante de seus olhos.O lema que seu pai carregava com ele talvez pudesse fazê-la voltar a realidade. Para ele,era muito fácil acreditar na frase ''querer não é poder’’,era muito fácil ''vender’’ a sua filha em troca de sucesso nos negócios. Pensar naquilo lhe dava vontade de vomitar.

Avistou a igreja,toda decorada em tons pastéis. Era bonita,mas não era a que se imaginada prestes a casar,nem em sonho. Aparentemente,quando se opôs ao casamento,sua mãe lhe tirou também o direito de escolha de qualquer detalhe,o que também incluía o local da cerimônia.

Desceu do carro com a ajuda da mãe. Encontrou as daminhas na porta,que já haviam avisado que ela estava ali. Esperou pela marcha nupcial,e quando esta começou,não conseguiu se mover. Se sentia paralisada,nada naquilo fazia sentido. Sentiu suas pernas vacilarem quando viu seu pai lhe estendendo o braço,e o sorriso de Brian,a esperando no altar.

A cada passo que dava,sentia olhares a fitando. O que era normal,já que ela era a noiva. Talvez o incômodo fosse porque todos ali reparavam em seu sorriso forçado,que ela tentava disfarçar através das lágrimas,que estavam prestes a cair. Ninguém ali a conhecia suficientemente bem para saber que nada nela demonstrava alegria.

Quando – finalmente – chegaram ao altar,seu pai beijou sua testa e cumprimentou Brian com um aperto de mão. Via seus sorrisos cúmplices,o que fez a bile subir lhe a garganta. Seu futuro marido sorria para ela e sussurrou um ''você tá linda’’ antes de se virar para o padre,mas aquelas palavras não provocaram nenhuma reação nela. Não como as ditas por um certo loiro,mais cedo.

''Estamos aqui reunidos,para abençoar a união...’’. – ela encarava Brian discretamente,e por um segundo notou um um meio sorriso estampado em seu rosto. – ''Hermione Jean Granger e Brian Smith, viestes aqui para celebrar o vosso Matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?‘’

''Sim.’’ Ouviu Brian dizer,e se esforçou ao máximo para fazer o mesmo,e acreditar naquilo.

As formalidades seguiram,e ela tentava ao máximo se concentrar ali. As palavras que vieram a seguir foram as mais difíceis.

''Brian Smith,aceita Hermione Jean Granger como sua legítima esposa?’’

''Sim.’’ Disse ele,sorrindo para Hermione. O que,na visão dela,só tornava sua resposta mais difícil.

''Hermione Jean Granger,aceita Brian Smith como seu legítimo esposo?’’

''Vamos lá,Hermione. Não é tão difícil.’’,sussurrava para si mesma. Todos ali a fitavam com interesse,esperavam sua resposta. No entanto,a que todos andiavam,o ‘’sim’’ que todos ali queriam ouvir,não era a resposta certa.E quando se deu conta disso,começou a chorar. Não era o certo,para nenhum dos dois. Ela merecia mais do que aquelas circunstâncias impunham,merecia escrever seu próprio destino.

Suas mãos estavam trêmulas. Ela não conseguia encarar Brian,que acreditava ser só nervosismo de sua noiva. Grande erro. Quando a castanha recobrou a consciência,reuniu suas forças para que pudesse dizer:

''Eu....eu sinto muito,Brian. Eu não,n-não posso!’’ dizia ela,desesperada enquanto negava com a cabeça.

Ouvia murmúrios por toda a igreja. Não precisava encarar seus pais,para que visse a decepção em seus olhos. No caso de seu pai,mais raiva do que decepção. Antes que Brian dissesse algo,ela não tardou a falar:

''Seja feliz! Você merece,ouviu bem? Eu só...não posso.’’

Parou a frase ali,antes que piorasse a situação e não conseguisse realizar seu próximo ato. Com a adrenalina tomando conta de seu corpo,saiu em disparada,em direção a porta da igreja. Não sabia se corria,ou andava a passos largos,a quantidade de camadas do vestido não permitia dizer.

Correu contra o tempo,contra as circunstâncias,contra um futuro infeliz. Mas,acima de tudo,correu em direção a sua felicidade.

Já fora da igreja,se viu perdida. Não era muito boa com atos impensados,mas sabia que teria que mudar aquilo rapidamente,ou a levariam de volta a força.

Foi quando ouviu o estrondo de uma moto vindo em sua direção,não dando tempo para ela pensar. Ouviu o motoqueiro dizer:

‘’Vem! Sobe!’’

Avistou os familiares vindo em sua direção. Não o conhecia,mas a visão de segundos atrás bastou para que ela subisse,sem pensar.