Easy escrita por Nora
Aquela sexta feira de três de outubro começou mais fria do que se esperava. Os dias de outono passavam mais rápidos e a proximidade de dezembro e do inverno se acentuava cada vez mais.
— Trevor é um idiota – America disse assim que ela e Andy se sentaram na cafeteria.
Ela e Andy não tinham a primeira aula, então estavam aproveitando para tomar café e conversar.
— Você o conhece a o quê, três semanas? Imagina quando fizer um ano que vocês se conhecem.
— Três semanas ou menos, e eu já o odeio. – a francesa murmurou. – Ele é um idiota filho da mãe convencido.
Uma garçonete largou dois cardápios na frente dos dois e se retirou.
— Wow, calma, flor. Você falando nome é porque o negócio é sério. Então, respira fundo e se acalma. – Andy articulou, com cautela.
Nunca vira a amiga tão brava como naquele momento.
— Acho que você precisa de um café – completou, fazendo sinal para que a garçonete se aproximasse.
Ela se aproximou, carregando desanimadamente seu bloquinho de papel. America entendia perfeitamente ela; fazia pouco tempo que sua vida de garçonete havia acabado.
— Um café expresso sem açúcar e um cappuccino, por favor. – Andy disse. A garçonete, que se chamava Alicia segundo seu crachá, anotou os pedidos e logo sumiu de vista.
Uma música que America adorava – Wonderwall do Oasis – começou a tocar e ela percebeu que se tratava de seu celular tocando.
— Ué – disse enquanto o procurava em sua bolsa – quem será? Apenas você e Maddie têm meu número, e ela está viajando, então...
Olhando para o visor, ela viu que era um número desconhecido. Cedendo à curiosidade, ela atendeu:
— Alô?
— Bom dia, Carpe Diem – uma voz rouca disse, e ela prontamente a identificou.
— Falando no diabo... como você conseguiu meu número, McCalton? – retrucou, com a voz mais fria que conseguiu.
— Eu tenho meus contatos, querida.
— O que você quer? – ela falou, já se irritando.
— Que bom que perguntou. Só liguei pra te avisar que a professora de economia mudou as duplas. Ou seja, você vai fazer o trabalho comigo. – Trevor respondeu sem rodeios. America podia imaginá-lo sorrindo debochadamente, aonde quer que ele estivesse.
— Ou seja – ela imitou a voz dele –, quanto custou para chantagear Joshua? – ela retrucou. – Ele está de acordo com isso?
— Ah, totalmente. Não custou nada, na verdade. Acredite, ele não reclamou absolutamente nada quando eu disse que ele iria fazer o trabalho com a Stacy. Algum proveito ele vai tirar disso, com certeza. – ele respondeu, rindo.
Ela não viu graça alguma.
— É só isso? – ela retrucou, seca.
— É. Eu estava a fim de ouvir sua voz.
— Isso foi uma cantada?
— Se você quer que seja... – ele riu baixinho, e ela revirou os olhos.
— Você é um idiota – ela replicou e desligou a ligação.
Nesse momento, a garçonete trouxe os cafés deles.
A única coisa que a intrigou foi que ele agira como se nada houvesse acontecido entre os dois, como se não houvessem discutido há um dia. Trevor era definitivamente bipolar.
Já havia um mês – ou mais – que America o aguentava na faculdade, e o humor dele era cada vez mais instável. Um dia ele era “legal” e no outro era super irritante. Ela não entendia como Dan, o melhor amigo dele, conseguia aguentá-lo e como conseguia aguentar suas mudanças bruscas e repentinas de humor.
— Eu acho... – Andy falou, com um sorriso cheio de malícia no rosto, fazendo-a sair de seus devaneios e fazendo-a lembrar que ele estava ali – que ele está a fim de você.
America o olhou com espanto e indignação ao vê-lo sugerir algo como aquilo. Fingiu que ia vomitar e disse:
— Cruzes. Nem sonha com uma coisa dessas, Andy – ela tomou um longo gole do café e ele de seu cappuccino.
— Ah, Meri, você tem que concordar comigo que não seria nada ruim. Com um partidão desses, eu hein... – ele se abanou, suspirando, como se estivesse sem fôlego.
Ela caiu na gargalhada. Às vezes o amigo conseguia se superar.
— Só falei verdades, amiga – ele rebateu.
— Andy, você conseguiu se superar – ela disse, ainda rindo. – Ok, eu admito que ele é sim um “partidão” – ela fez aspas no ar –, como você diz. Mas não para mim.
Andy riu e arqueou as sobrancelhas.
— Você não me convenceu. Já volto, vou ao banheiro. – ele falou, logo se afastando.
Ela assentiu, bebericando seu café. Tudo o que lhe restara de sono havia se dissipado completamente.
Um rapaz de cabelos loiros entrou na cafeteria. E ela tinha certeza de que o conhecia. Ela a viu enquanto procurava uma mesa, parou no caminho e disse:
— America, certa? A francesa da Columbia.
— Thomas. Acertei? – ela articulou, respondendo à pergunta dele com um aceno de cabeça.
— Acertou. – ele replicou, sorrindo. Ele era bonito, e o sorriso tornava seu rosto mais bonito ainda. Era impossível acreditar que ele era irmão de Trevor. – Se importa se eu me sentar aqui?
— É claro que não – respondeu prontamente. Andy não se importaria.
— Então, o que uma francesa tão bonita como você faz aqui, à essa hora? – ele perguntou, com seus penetrantes olhos azuis estudando-a.
Ele e Trevor não possuíam nenhuma semelhança física, entretanto os olhos eram parecidos. Não eram exatamente os mesmos, pois os de seu irmão eram mais puxados para o verde, mas mesmo assim eram parecidos. Havia algo que diferenciava o olhar dos dois, algo que ela não sabia dizer o que era.
— Eu não tinha a primeira aula, então estava aproveitando para tomar café. – respondeu ela com um sorriso gentil no rosto. – E você? Não ia viajar?
— Eu ia – ele assentiu, respondendo alegremente ao ver que ela se mostrava tão interessada – mas precisei adiar o voo para hoje à tarde pois faltou alguns documentos. Trevor acha que eu já viajei. Vou deixá-lo achando isso.
Os dois riram e America sentiu-se feliz por saber que aquele lindo sorriso era dirigido a ela.
— Não consigo acreditar que vocês são irmãos. Sério, vocês são muito diferentes. – ela comentou.
— Acredito que isso seja algo bom. – ele deu risada. – Todo mundo diz isso sobre sermos tão diferentes. Ele é, digamos, a ovelha negra da família. Odeia estudar. Ainda não sei como papai conseguiu o convencer a entrar na faculdade.
— Eu também gostaria de saber – ela riu também. – Ele é muito irritante. Tenho algumas aulas com ele e já tenho vontade de jogá-lo pela janela algumas vezes.
Thomas riu de verdade, vendo verdadeira graça naquilo.
— Não sei como Maya aguenta ele.
— Humm... quem é Maya? – ela perguntou, desinformada.
— Maya Scalettine, uma baixinha de cabelos vermelhos, a melhor amiga dele. Acho que ela o conhece melhor do que eu mesmo. – ele respondeu calmamente. – Se importaria de me dar um gole de café? Preciso me manter acordado.
— Claro que não – ela disse, alcançando sua xícara de café a ele. – Tenho a impressão de já ter ouvido esse nome.
— Continuando – ele articulou, após tomar um longo gole de café –, Maya é apenas um ano mais velha que eu, tem vinte e cinco. Três anos mais velha que Trevor. E já deve ter ouvido sim, ela é escritora e arqueóloga. Nos conhece desde que nascemos, mas sempre se deu melhor com Trevor. Eles têm o mesmo estilo. Curtem as mesmas bandas, têm tatuagens e ambos têm motos esportivas. São uma dupla inseparável.
— Ela é corajosa para aguentá-lo por tanto tempo. – America disse. Tinha quase cem por cento que já havia visto Maya na universidade.
Thomas riu e replicou:
— Corajosa mesmo. Eu não sei o que seria de mim se ela não existisse, porque ela é como uma segunda mãe para ele, sabe? Ela é a única que consegue colocá-lo na linha; é a única que consegue fazê-lo ter um pouco de juízo.
— Sim, entendo. Ela parece ter uma forte influência nele.
— E tem. Todo mundo acha que há mais do que amizade entre eles, mas eu duvido muito. Ela já foi noiva de um professor da Columbia, Guilherme, se não me engano. Pelo o que me lembro eles têm um filho pequeno. Mas não sei o que houve que eles se separaram.
America estava mostrando-se totalmente interessada agora.
— Guilherme? Acho que o conheço. – falou. – Se for o mesmo, é meu professor de História do Jornalismo.
— Isso mesmo. Não estava lembrando qual era a matéria que ele ensina, mas é essa mesma.
America ainda estava assimilando tudo o que Thomas lhe contara. Uau. O professor Guilherme tinha um filho, com Maya Scalettine, a melhor amiga de Trevor. As garotas da faculdade que o achavam lindo ficariam totalmente surpresas. E de corações partidos também.
Ela consultou seu celular e deu um pulo ao constatar que já estava na hora de sua segunda aula. E era justamente economia.
— Mon Dieu! Preciso correr para a faculdade, minha aula começa em dez minutos. – ela expôs, recolhendo seu celular e pegando uma caneta e sua carteira de dentro de sua bolsa.
— Você quer uma carona? – Thomas ofereceu, cordialmente.
— Se não for muito incômodo, eu aceito. – respondeu, sorrindo levemente.
Ele sorriu.
— Não será incômodo algum.
America foi até o caixa e voltou em menos de três minutos. Pegou um guardanapo e escreveu um pequeno bilhete para Andy, que parecia ter se afogado no banheiro.
“Já fui para a aula, Thomas me deu uma carona. Nos vemos depois.
xoxo, meri”
Largou em cima da mesa e pegou sua bolsa. Thomas se levantou, pegou a chave de seu carro e logo eles saíram. Ela o seguiu, e logo ela enxergou o carro dele. Era difícil não notar aquele belo Audi estacionado ali.
Parecia que o dia ia permanecer realmente frio, e a francesa não contava com isso. Havia saído de casa apenas com uma blusa de manga curta e um cardigã fino.
Enquanto caminhavam, Thomas viu que ela abraçava a si mesma, em uma tentativa falha de se aquecer. Ele tirou sua jaqueta e a colocou sobre os ombros dela.
— Você parece estar com frio. – falou. – Fique com a minha jaqueta.
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