Aos seis meses de gravidez descobri uma coisa chamada tédio. Depois do quarto mês de gestação comecei a diminuir o ritmo de trabalho e aos seis estava imensa como um balão! Fora os incômodos diários por ter dois bebês inquietos dentro de mim.

Com cinco meses a médica decidiu que eu deveria parar de viajar, que era arriscado para mim e para os gêmeos, decisão essa que quase me fez enfartar! Com a agenda impossível do Muscle, como eu ia vê-los, ver Dominic? Esperar até dezembro iria me consumir.

– Sugiro que descanse bastante. Acho até que você deveria pensar já em parar de trabalhar. – Dra. Davis dissera na consulta do mês – Não estou gostando do comportamento da sua pressão e não acha que está na hora de sossegar esse barrigão?

– Dra. Davis se eu não trabalhar farei o que da minha vida?

– É isso ou marcar sua cirurgia, mas eu gostaria muito que esperássemos. Mesmo sendo gêmeos, há probabilidade de parto normal é muito boa para deixarmos passar.

– Só se for em janeiro. Dom só vai estar em Londres nessa época e preciso esperar até lá!

– Então sossegue e faça o que lhe recomendei ou eles não vão esperar até janeiro.

Sendo assim, eu tinha que me conformar, mas não era tão simples assim.

Ela não vivia no mesmo ritmo de vida que eu então era muito fácil dizer: “Pare”. Tentei só trabalhar em casa, mas até nela eu ficava cheia de trabalho e eu tinha que sair de lá para cá por que precisava ver as matérias, tirar fotos e tudo mais... Era o que eu amava fazer e no começo ficou tudo bem até que eu tive um pique de pressão fui parar no hospital e recebi um monte de bronca de todo mundo (inclusive Dominic que me passou um sermão enorme pelo telefone). Assim Karl resolveu passar a maior parte do meu trabalho para Marc e eu faria uma ou outra coisa.

Desse jeito, diminui drasticamente meu ritmo de trabalho e acumulei horas de ócio. Karl e Marc eram lindos e sempre me convidavam para sair e jantar, exposições, eventos artísticos infinitos! Mas eles tinham seus trabalhos, seus namorados, e eu estava sozinha e irritada. Até Amanda era uma boa companhia, mas uma editora-chefe é alguém muito ocupada.

Algumas pequenas coisas me tiravam do tédio além dos convites ocasionais, a ioga que eu fazia até o sétimo mês depois ficou um pouco impossível e fotografar, coisa que eu amava mais do que tudo! Mas isso não ocupava todo o meu tempo embora eu passasse muitas horas na internet ou escrevendo no blog.

A verdade esmagadora e que eu só admiti muito depois é que eu estava me sentindo muito só e carente. Passei tempo demais com o Muscle, convivendo com eles todo dia e eu nunca estava só. Até na Poison eu estava cercada de pessoas e ocupada demais para pensar o quanto sentia falta de Dominic.

Porém, ultimamente eu invariavelmente ficava pior depois que falava com ele e com Matt também. Tanto que às vezes eu só ligava para Chris por que era menos deprimente conversar com ele e Chris não me tratava como uma pessoa em estado terminal. Dominic por exemplo, tinha uma sensibilidade para falar comigo que me comovia!

– Ficou louca garota?! – ele gritara pelo webcam quando eu acidentalmente soltei que poderia ir aos shows do Muscle no Wembley – Acha que conseguirei me concentrar em algo se ver você quicando como uma bola na arquibancada? Que de repente meus filhos podem nascer no meio do estádio lotado por que a mãe é louca o suficiente para se arriscar assim? ESQUECE!

Matt era igualmente enfático, apenas com um tato melhor.

– Lana, pense nos bebês! Sei que você não vai se controlar e pense, você pode entrar em trabalho de parto lá e vai ser uma confusão... É melhor você tirar essa ideia da cabeça.

Sendo assim eu evitava falar com eles e a saudade só aumentava.

***

– Estou preocupada com você Lana – nova bronca na consulta médica, eu já estava ficando craque – Você perdeu peso e não me parece nada feliz? O que anda fazendo? Trabalhando muito outra vez?

– Não sei como – respondi amuada – Você pediu que eu parasse e eu parei...

– E consegue dormir bem? Está se alimentando normalmente? – ela me olhou. Nem ia adiantar mentir por que estava na cara que não – E Dominic? Ele está vindo não está? Para tomar conta de você?

– Ah tá! É mais fácil ele ficar pior do que eu. – ela riu e eu tentei rir também – Mas vai ser bom ter ele por perto agora.

– Você está sentindo muito a falta dele?

– Também. – eu não estava bem realmente. Já tinha mobilhado e arrumado o quarto dos bebês três vezes e estava com os nervos a flor da pele. Para completar, surgiu uma oportunidade magnífica de trabalho, mas eu tinha que viajar e sendo assim fui vetada na hora por Karl. Isso deixou meu humor no limbo!

– Você parece deprimida – ela pegou minha mão afetuosamente – Não acha que você poderia conversar com alguém sobre isso? Só algumas sessões lhe fariam...

– Não, esquece Dra. Davis! Eu não preciso de tratamento psicológico.

Apesar de não admitir para ela, eu estava realmente deprimida. Agora que eu tinha tempo de sobra para acompanhar a turnê do Muscle, eu sempre estava atualizada com o que acontecia com a banda e naquela semana inclusive, vi os vídeos dos shows, as fotos de bastidores. Percebi que Dom estava se divertindo a beça, fazendo o que gosta e eu estava trancada e sozinha! Já fazia um tempo que eu não via um show deles!

Para me distrair eu escrevia, zapeava na internet embora eu não tivesse o mesmo interesse de antes e fotografava. Saía algumas vezes, ia a Poison e sentia saudade de Dom terrivelmente pedindo que os dias passassem depressa para que eu pudesse vê-lo.