61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 22
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Gente, quanto tempo se passou? o_o

Puts, vacilei no último capítulo. Mas não foi por mal, não. Eu prometo.

Primeiramente devo muito mais que um pedido de desculpas. Não foi nada justo da minha parte deixar vocês na mão por todo esse tempo. A essa altura do jogo, vocês já devem ter esquecido boa parte da história e isso é culpa minha. Estou realmente me sentindo muito mal por isso.

Mas o que aconteceu?

Eu já tinha o capítulo escrito até metade desde o começo do ano. Aí eu fui viajar, as aulas começaram, e, como estou no último ano, a pilha de deveres aumentou demais. Comecei a ir mal na escola, me afastei da fanfic ainda mais e... me esqueci. O arquivo ficou lá, mofando, enquanto eu só usava o word pra escrever trabalhos. Sério, não foi por mal mesmo. E aí, outro dia, me deparei com o arquivo velho de nome "epílogo" e comecei a escrever. Então terminei.

Meses depois, venho aqui mostrar o epílogo da minha fanfic. Quero agradecer à cada leitor (incluindo os fantasmas), à cada comentário, à cada favorito e à minha recomendação. Cada um de vocês é especial para mim!

Depois de ler tudo isso, respirem fundo e aproveitem o epílogo c:



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Largado na cama do quarto, afundo nos pensamentos mais profundos da mente humana, tentando evitar ao máximo resgatar as memórias de anos atrás. Quando um indivíduo sofre um trauma, a recuperação o ajuda a levantar todos os dias, mas no fundo, aquela parte negra do passado se mantém intacta. E talvez nada no mundo a tire de lá.

Visualizo minhas mãos apertando o pescoço de uma garota de cabelos azuis, centenas de touros mutantes esmagando os ossos de um grupo de pessoas e, principalmente, o sangue voando do pescoço de alguém que não pude salvar. O sentimento de culpa me corrói até hoje, mesmo sabendo que toda essa história aconteceu há dez anos. Provavelmente nunca deixarei de me sentir como um assassino até o final da minha vida.

Com um pouco de dificuldade, ando até o banheiro com a perna falsa emitindo estalos metálicos e lavo meu rosto, a fim de espantar a culpa da minha expressão facial. Esfrego meu rosto até não parecer mais cansado, e embora minhas olheiras jamais saiam de baixo das órbitas azuladas, já não pareço tanto com um defunto. Penteio os cabelos loiros e um pouco compridos, faço a barba rala e volto ao quarto para me trocar.

Assim que já estou com a camisa social verde, a calça jeans escura e o inseparável bracelete no pulso, abro a porta do meu quarto. Já ouço a falação energética do andar de baixo, o que me anima um pouco. Desço as escadas e me deparo com a pequena criatura andando lentamente na minha direção.

— Acordou tarde hoje, tio — Aurora, com seus doze anos, me cumprimenta com um soquinho no braço, mas sem o habitual sorriso. O cabelo loiro está arrumado e perfumado, e seu vestido branco é simples e delicado. Seus olhos verdes perderam totalmente o brilho energético. Ao seu lado, o velho Castiel anda de um lado para o outro. — Minha mãe achou que tinha morrido na cama, ou que talvez ainda estivesse no banheiro.

Dou risada, mas ela nem esboça um sorriso.

— Sua mãe é uma estranha, Rora — respondo.

— Pois é.

— E sua mãe tem ouvidos potentes que escutam o Sr. Geoffrey falando mal dos outros — Sierra aparece, visualmente arrumada (cabelos presos, vestido azul e maquiagem leve), abraçando a filha por trás. — Bom dia, aliás.

— Bom dia, Sierra — respondo.

— Preciso conversar com você por um instante. Aurora, vai lá sentar com o seu pai, por favor.

Aurora concordou com a cabeça, e logo se juntou ao pai Garret, que está sentado no sofá lendo um jornal da Capital. Sierra segura meu ombro com firmeza, machucando minha pele com suas longas unhas.

— Aurora está mal, irmão — ela parece entristecida.

— Dá para perceber — dou de ombros. — Ela não colocou farinha nas minhas meias esta manhã e nem tentou fazer alguma travessura, como de costume.

— Deixa isso de lado por um instante. É a primeira colheita dela, sabe como estou morrendo de preocupação. Achei que fosse a pessoa certa para consolá-la.

— Ué, mas você participou de tantas colheitas quanto eu. A diferença é que você teve sorte.

— Por favor, apenas me ajude.

— Certo — digo após suspirar.

Desvincilhando-me das longas garras de Sierra, dirjo-me à pequena Aurora e a chamo para uma conversa nos degraus da entrada, os mesmos em que vi minha irmã sentada pela primeira vez, há dez anos. Ainda muito abatida, ela se mantém entretida ao chutar uma pedrinha do chão de um lado para o outro.

Sento-me ao seu lado:

— Aurora, acho que sabe o motivo de estarmos aqui, neste clima tenso, sentados num degrau frio e duro e sem uma boa xícara de café.

— Já sei, tio — ela fala em um tom quase inaudível. — Vai me dizer o mesmo que meus pais. Para eu ficar tranquila, que as chances são mínimas. São milhares de crianças e apenas um tributo do sexo feminino — Aurora me encara com os olhos verdes, apagados. — E se esquecem de você, que foi chamado. E no último ano de colheita.

— Pode até ser que eu fale isso, Rora, mas essa é a verdade — seguro uma de suas mãos, que treme, gelada. — Não há nada mais a ser feito, porque nenhum de nós pode mudar os resultados da colheita. Se você for sorteada, terá que lidar com os Jogos. E se não, respire aliviada e agradeça por estar viva. Acho que é isso o que me mantêm de pé. Perdi minha mãe, meu pai e minha melhor amiga para a vida. Pode ser azar, mas ainda estou aqui, e feliz por conhecer minha sobrinha genial e incrível.

Ela abre um sorriso, que logo se apaga.

— Só que, dessa vez, posso ser eu a escolhida para morrer. Tenho raiva da Capital, raiva de tudo o que eles fazem com as pessoas. Quero estraçalhá-los.

— O que é bom — apoio minha mão em seu ombro. — Isso mostra que você é corajosa e não tem medo das autoridades.

— E também mostra que puxei meu tio.

Por dentro, uma chama parece se iluminar. A sensação de que você está sendo seguido como exemplo surge quando o coração de alguém é tocado com um gesto seu. Aurora volta a sorrir. Sua tremedeira pavorosa parece se conter.

— Vamos entrar, Rora — sugiro. — Sierra fez café.

Aurora concorda balançando a cabeça. Levanto-me e abro a porta, mas antes ela me chama:

— Tio.

— Fale.

— Muito obrigada. Você é incrível.

— De nada.

[...]

De qualquer jeito eu voltaria à Capital por mais um ano. Bree e eu somos os mentores desde que ganhei os Jogos, e não pudemos levar um tributo do Distrito 5 à vitória. Pelo menos, no meio de toda essa situação, ainda posso passar alguns dias com minha mãe de coração, Dominique.

Mesmo após dez anos, ela continua energética e incrivelmente bonita como sempre foi. Por mais que use uma montanha de maquiagem, o sorriso branco e largo jamais se apaga de sua face. Depois da Turnê do Vitorioso, nossa relação cresceu ainda mais, já que foi ela quem me ajudou a não sofrer algum ataque de pânico na frente da família entristecida de Astrid ou dos parentes raivosos dos tributos de quem tirei a vida. Se não fosse por ela, teria sofrido um infarto logo no início da Turnê.

No palco, vestida de dourado, Dominique anuncia o vídeo da Capital ao lado das esferas cheias de nomes. Enquanto o vídeo passa, noto que ela observa Aurora na multidão com certo pavor, e eu acabo por fazer o mesmo.

Afinal, viver fora da Capital é uma tortura. Você passa anos se preocupando com a colheita para, no futuro, se apavorar com o sorteio de seus filhos. E, logo depois, com o de seus netos. E a linha continua até a sua morte. Isso é cruel, doloroso e triste, mas quem se importa com isso, não é mesmo? Afinal, é a Capital, e eles só sabem se preocupar com o próprio nariz.

— Senhoras e senhores, anunciemos agora o tributo feminino da 71ª Edição dos Jogos Vorazes!

Quando o nome de uma garota chamada Kiran Lavender foi anunciado, suspirei fundo, como se o peso do mundo fosse retirado de meus ombros. Na plateia, Aurora parecia ter tomado um bom e relaxante chá de camomila, pois seu permanente sorriso travesso apareceu ligeiramente em seu rosto, aliviado. Fiquei feliz por ela não ter sido sorteada, mas isso não significa que ano que vem ela tenha o mesmo destino de Kiran, que sobe ao palco inexpressiva, os cabelos curtos ruivos lampejando à luz do sol.

Dominique, disfarçando, sorri em minha direção.

[...]

Antes de partir para a Capital, o trem fica parado na estação por um bom tempo, suficiente para as despedidas dos tributos. Me despeço rapidamente de Sierra, Garret e Aurora e entro na máquina. Castiel, já bem idoso, aparece ao lado deles, me vendo ir embora como naquela primeira vez em que entrei no trem. Por mais que vivesse em más condições há alguns anos, hoje em dia ele parecia mais saudável que nunca.

Quando voltei para casa, há dez anos, me dei conta de que viveria mergulhado na depressão e no trauma e resolvi fazer algo da vida. Arranjar uma profissão ou algo do gênero. Com a ajuda de Sierra, fiz algumas pesquisas e cheguei ao ramo da veterinária. Estudei alguns livros que consegui comprar com o dinheiro dos Jogos, relembrei-me dos conhecimentos de plantas da época em que Astrid me ensinava e passei a tratar dos animais das pessoas do Distrito 5. Se não me chamam de Geoff, as pessoas me tratam por Doutor.

Já no trem, sentado diante da grande refeição servida por um Avox enquanto Bree assiste televisão do outro lado da sala, pego uma fatia de torrada com queijo cottage (os anos na Capital me deram conhecimento o suficiente para que eu soubesse o que é queijo cottage) e vejo Dominique se aproximar, dando-me um abraço tão apertado que minha torrada quase voou em seu vestido dourado de estampa animal.

— Geoff! — Dominique faz meus tímpanos estourarem com sua voz aguda. — Como cresceu!

Eu posso ter vinte e oito anos agora, mas para Dominique sempre serei um jovem rapaz.

— Boa tarde, Dominique — digo, desfazendo-me do abraço. Ela senta-se ao meu lado e pega um croissant.

— Pronto para mais um ano?

— Vamos torcer para que nosso distrito traga a vitória — suspiro. — Bree já está há muito tempo mentoreando e algo em Kiran me deixa confiante, não sei por quê.

— Deve ser porque ela subiu ao palco inexpressiva, como uma certa alguém que você conheceu na Capital há dez anos. Alguém que tocava violão, que sabia de quase tudo e que te beijou.

Aquilo foi como um balde de água fria sendo jogado em mim.

— Astrid — sussurro.

— Você não superou, não é? — Dominique abaixa o tom de voz, compreensiva.

Viro minha cabeça de um lado para o outro, negando.

— Eu nunca superaria a morte de um amigo, nem se eu tentasse de todas as maneiras possíveis na face da Terra. Posso continuar vivendo minha vida normalmente, mas alguma hora ou outra retorno às lembranças daquela pessoa. É um passado no qual estou preso, e não há escapatória, portanto terei que viver com isso até o dia em que eu morrer. E, por mais que algum dia eu me apaixone novamente, essa pessoa nunca será como Astrid, afinal ninguém pode ser substituído. Mas acima de tudo, ela era minha amiga, uma das poucas pessoas que me enxergou em cores no meio da vida monocromática que vivemos em Panem. Mesmo tendo a conhecido por tão pouco tempo, senti que a conexão entre nós era perfeita e praticamente inquebrável. Sinto sua falta. Eu queria que ela estivesse aqui, mas a vida é uma droga.

Àquele ponto, eu já sabia controlar minhas lágrimas. Durante esse tempo em que vivi depois dos Jogos, aprendi a ser forte na frente de minha família, para que se sentissem melhor. Posso afirmar com clareza que Aurora nunca me viu chorando, e provavelmente nunca verá. Mas, apesar de ser a Serpente ainda muito conhecida na Capital, uma máquina mortífera e venenosa, ainda sou um ser humano. Sou um homem que sente alegria, tristeza, raiva e dor. Afinal, ter sentimentos faz parte da vida de qualquer pessoa.

Dominique, de maneira gentil, me consola. Sinto minhas lágrimas quase se desprenderem de meus olhos pela primeira vez em muito tempo, mas apenas a presença de minha mãe de coração já me faz sentir melhor.

— Me desculpe por lembrá-lo disso. Você é meu garoto, um jovem muito forte... — ela acaricia meu ombro, e então a porta do trem se abre novamente.

Primeiramente, um garoto alto caminha com um andar tenso para dentro do trem. Seus olhos verdes estão apavorados abaixo das franjas escuras, mas ele permanece sério. Seu nome é Zachariah Flynn, o tributo masculino do Distrito 5. Logo atrás, aparece a menina de cabelos ruivos curtos e cacheados e olhos castanhos, Kiran Lavender. Os dois serão meus tributos este ano.

Os dois sentam-se ao redor da mesa, calados, contemplando a textura empelotada do queijo cottage. Sou o primeiro a me pronunciar:

— Já fui tributo e há dez anos estava sentado nessa mesma mesa e nesse mesmo trem, encarando as mesmas coisas esquisitas que comem na Capital. E tive a mesma jornada que vocês terão, que é uma coisa sem volta e que os perseguirá para sempre. E como sobrevivi? Sou a Serpente. Sou venenoso, e dou o bote se me incomodam. Jamais deixo avançarem para cima de mim com violência. Mas a Serpente sou eu. Não os garantirei que sairão com vida daqui, e isso já é da sua conta, mas sigam meus passos e lhes abrirei o caminho de volta para casa.

Kiran e Zachariah me surpreenderam ao realmente estar prestando atenção no que falo.

Assim que o trem parte da estação, continuo falando enquanto o Distrito 5 vai se afastando aos poucos. Internamente aguardo o dia em que poderei estar com minha família, sem traumas, sem a Capital e sem medo de seguir a vida. Porém parece que, de certa maneira, as raízes do passado sempre estarão me prendendo.

FIM


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Notas finais do capítulo

Eu não acredito que finalmente terminou. Me apeguei muito aos meus personagens e à vocês, e eu gostaria de estender a história, mas ficaria cansativa e sem conteúdo.

Apesar disso, tenho algumas ideias para a Kiran e para o Zachariah. Se, talvez, vocês acharem legal saber um pouco mais sobre eles... quem sabe, né? c:

Vou sentir falta de cada um de vocês. É claro que podem me contatar quando quiserem por mensagem, mas ler os comentários me fará muita falta!

Até a próxima (talvez?), gente! Um abração pra cada um de vocês o/



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