61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 10
Capítulo 10 - Cala a boca, Geoffrey!


Notas iniciais do capítulo

Weee, o capítulo está aí. Aproveitem!

Aviso aos fantasmas: gente, eu não sou o Suárez. Não mordo. Podem comentar que sempre responderei com muito carinho :3



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Contenho-me para não soltar todos os palavrões que sei.

Os Carreiristas.

E bem aqui.

Puta que pariu, que raiva, por quê justo agora eles têm que aparecer? Isso só pode ser brincadeira, não é possível uma pessoa ser tão azarada quanto eu.

Tento permanecer imóvel, mesmo que minha costela esteja voltada para o chão, sendo pressionada com força. Mordo o lábio inferior para não soltar um grito, que é a coisa que eu mais gostaria de fazer agora. A luz da tocha dos Carreiristas é o ponto que me orienta para que possa saber onde estão, porque quando quem está com a tocha vai para a esquerda, sei que estão indo para a esquerda, e por aí vai.

Observo a tocha quase cair.

— Flora, segura essa porcaria direito — reconheço a voz de Leonard. — Se cair, pode incendiar tudo.

— Ai, desculpa.

— Quer saber? Apague isso. Vamos ligar a lanterna.

Droga. Uma lanterna é muito mais potente que uma tocha. É agora que me acham.

Ouço um glub e em seguida, o som de fogo de apagando, me dando conta de que jogaram a tocha na água.

A água.

É isso!

Com as unhas, vou arranhando de leve a terra abaixo de mim, formando um pequeno bolo em minha mão. Amasso bem, compactando a terra o máximo que posso para deixá-la dura e pesada. Depois, muito rapidamente, me viro e atiro o bolo de terra na água, o mais longe possível, deixando o glub confundir os Carreiristas.

Flora fala em tom baixo, apontando para onde o bolo de terra caiu:

— Tem alguém ali!

— Vamos naquela direção — diz o garoto do Distrito 4, ligando a lanterna e apontando-a para a floresta à sua frente.

Os passos pesados dos Carreiristas na água soam alto demais, então aproveito o momento para me levantar e como um relâmpago, correr na direção contrária à deles. Mesmo à distância consigo ouvi-los atravessando a água. Não se preocupam em fazer barulho. Na verdade, por que se preocupariam com alguma coisa nessa maldita arena? São Carreiristas. Não precisam se preocupar se alguém for idiota o suficiente para tentar matá-los sozinho.

Continuo minha fuga sem pensar direito, passando no meio de árvores tão rápido que os galhos chegam a abrir pequenos cortes em meu rosto. Aquilo arde, e adoraria encontrar outra fonte de água só para me lavar. E como ainda por cima está de noite, não consigo enxergar direito. Corro o perigo de bater com a cara numa árvore ou trombar com um outro tributo.

Sinto o meu corpo voando após tropeçar em uma pedra. Coloco as mãos na frente do corpo para proteger minha costela e amenizar o efeito da queda, mas isso não me impede de sair rolando para longe. Sinto sangue nas minhas mãos assim que elas arrastam no chão cheio de irregularidades.

Ótimo, penso, passando os dedos da mão por cima da bota direita. Agora os meus dedos do pé estão quebrados e destruídos. Era tudo o que precisava.

Emburrado e cansado demais, vou me arrastando até encontrar uma superfície sólida para me apoiar. Encosto-me sentado no que presumo ser uma árvore, e lá fico descansando até parar de arfar. Bebo mais um pouco de água e, droga, estou com raiva demais pra tentar achar um lugar pra dormir. Será aqui mesmo. Deito encostado na árvore, sem nem me preocupar em me aquecer com o cobertor, e então fecho os olhos.

[...]

O maldito raio de sol bate justamente no meu olho, me deixando cego por alguns segundos. Tonto e com o pé doendo, levanto-me, cambaleando. Sem conseguir me equilibrar direito, começo a dar meus primeiros passos em direção ao nada, sentindo-me como um embriagado. A mochila parece pesar o triplo em minhas costas, dificultando o meu andar ainda mais.

Se antes eu achava que dormir iria melhorar meu humor, estava infinitamente errado. A cada passo manco que dou, sinto vontade de gritar todo o meu repertório de palavrões, porém ainda me resta um pingo de sanidade.

Olho para o céu. Nenhum paraquedas caiu por ele desde o começo dos Jogos. Aposto que agora que Jass morreu, Bree está segurando Taylor e meus patrocinadores o máximo que pode.

Começo a dar umas voltas para matar o tempo. Quem sabe não acho uma nova fonte de água?

O meu pé machucado começa a doer ainda mais, e isso começa a fazer um efeito dominó de dores pelo meu corpo. Primeiro, a dor da minha costela volta a ficar intensa, depois as minhas costas que tocam a mochila pesada parecem tornar-se ainda mais fracas, e em seguida os rasgos que as galinhas fizeram em minha pele ardem como brasa. Isso me tudo me faz pisar torto, e lá vou eu em direção ao chão mais uma vez.

Dessa vez não consigo conter minha voz interior.

— ALGUÉM PELO AMOR DE DEUS FAÇA O UNIVERSO PARAR DE CONSPIRAR CONTRA MIM!

A sensação de não ter nenhum milímetro cúbico de ar em meus pulmões me faz arfar. Ainda tonto, levanto-me com dificuldade, porém quando me preparo para gritar mais uma vez, sou surpreendido por alguém que vem por trás de mim e cobre minha boca com as mãos sujas de terra.

Pff — é o único som que consigo emitir. — Pffpft!

— Cala a boca, Geoffrey! — ouço a voz de Astrid.

Me viro para ela. Aparentemente, Astrid também sofreu bastante com essa arena: as roupas estão rasgadas, a pele está suja de terra, vejo bastante sangue em seu rosto e está visivelmente mais magra. Ela apenas carrega uma pequena sacola, sem ter nenhuma arma em suas mãos.

— Astrid, como me achou? — pergunto, feliz por vê-la.

— Que tipo de retardo mental você tem, Geoffrey? Quem não ia te achar? — pela primeira vez vejo raiva estampada em seu rosto, e sinceramente isso me assusta um pouco. — Está gritando como um louco! Você é um idiota! Quer morrer?

— Foi a raiva do momento! Se você soubesse o quanto estou sofrendo, entenderia a minha fúria.

— Só que eu não sairia gritando um monte de palavrões como você fez! Descontaria a raiva em outra coisa — seu tom de voz aumenta consideravelmente — Ah!

— Está vendo? Você está gritando! Não dá pra conter.

Astrid então se dá conta do que fez e fica cabisbaixa, encarando os próprios pés como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Deixa pra lá — resolvo dizer, esfregando sua cabeleira castanha como uma criancinha entristecida sendo consolada pelo pai. — Tá tudo bem. Passou. Vamos ficar calmos agora. Nos encontramos, não é isso o que importa?

— Aham. Desculpa.

Abro os braços pra ela.

— Vem cá.

Ela afunda o rosto no meu peito (Astrid definitivamente é uma tampinha), passando os braços por meu corpo. Deixo-a ficar abraçada à mim o tempo que quer, para que se sinta melhor. Sinto seus ossos pontiagudos, me dando um indício de que ela precisa de comida rapidamente. Quando finalmente me solta, pergunto:

— Onde você estava durante esse tempo?

— Eu estive me escondendo dos outros, movendo-me de um lugar pra outro toda hora. Sobrevivi roubando coisas dos outros. Consegui minha pequena sacola dos primos do Distrito 7, que estão em um depósito de ferramentas, e nela só tem um pacotinho mínimo de frutas pequenas, algumas ataduras e um par de meias. Mais nada, nem uma arma.

— Quer comer alguma coisa?

— Você tem comida? — seus olhos brilham quando balanço a cabeça indicando que sim. — Por favor!

— Ok, porém antes preciso sentar e descansar. Tenho pelo menos umas dez partes do corpo doendo ao mesmo tempo.

— Tem um lago vazio aqui perto. Quer ir para lá?

— Claro.

Astrid me auxilia a andar até o tal lago, que é maior do que os outros em que eu estive. Deixamos as coisas na margem e bebemos um pouco de água. Dou uma galinha inteira à uma Astrid que praticamente baba quando a vê. Ela abre um sorriso de alívio tão grande que me faz sorrir depois de dias com uma cara séria. Aproveito que estou sentado para tirar a bota e olhar o meu pé machucado.

— Ai — deixo escapar. — Credo.

Meu pé está todo coberto pelo sangue que escapa por baixo das unhas, que estão rachadas e inteiramente destruídas no caso do dedão e do indicador. Por sorte, os dedos não estão tortos, o que significa que pelo menos não os quebrei, mas mesmo assim preciso consertar meu pé.

— Eu tenho ataduras — diz Astrid ao mesmo tempo que mastiga a asa da galinha. — Quer? Não tenho nenhum ferimento grave, então pode usar.

— Graças aos deuses, sim.

O céu vai ficando escuro. Astrid me passa as ataduras e lavo meu pé com um pouco de água antes de enfaixá-lo, aproveitando também para enfaixar as bicadas das galinhas. Me sinto muito melhor depois de descansar um tempo na margem, aproveitando o frescor da tarde, que vai escurecendo mais cedo que o normal.

— Precisamos de um plano — diz Astrid, arremessando os ossos da galinha para trás quando termina de comer. — Imediatamente.

— Mas para quê?

— Ué, não quer vencer?

— Hã, acho que sim.

— Então precisamos de um plano. Precisamos de algo que elimine boa parte dos tributos de uma vez só, e assim o tempo de tortura na arena será menor. Mas tem que ser algo bem pensado, e não consegui organizar nada devastador até agora.

— Ok, ainda temos tempo para pensar. Quer caçar para tentar ter uma ideia?

— Acho que não, Geoff. Olha a cor do céu — olho para cima, me surpreendendo com a escuridão das nuvens. Eu achava que estava escurecendo, mas não. Aí vem vindo uma tempestade furiosa. — Corre. Precisamos achar abrigo rápido.


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Notas finais do capítulo

Tempestade à vista! Onde Geoff e Astrid se esconderão? Isso só terça que vem, yaay!

Não se esqueçam de comentar, viu? Até o próximo o/