Maré Alta escrita por Dobrevic


Capítulo 3
Vidas cruzadas.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que disse mais cedo que só postaria no domingo ou segunda mas eu não me controlo uahuahuaha



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"Entendi suas desculpas, mas não pude esquecer teus erros."

— Malu, esse aqui é o João Miguel – Minha mãe sorriu – João, essa é a Maria Luiza, mas  pode chamar de Malu, ela não gosta de nomes muito grandes. – Deu uma risadinha baixa e eu a olhei com reprovação. - Bem, vocês já se conhecem.

Como eu pude deixar passar o fato sobre quem era o filho do Jorge? Ou melhor, de que era ESSE Jorge. Que droga, Maria Luiza!

— Hã, eu também não gosto. Prefiro Miguel, apenas Miguel. – Ele sorriu gentil, aquele sorriso. – É ótimo revê-la Malu, continua a mesma garotinha de sempre. – Ele continuou sorrindo e de longe eu conseguia sentir a ironia em sua voz.

— E então, que horas vamos servir o jantar? – Perguntei, sem desviar meus olhos dos seus.

— Agora mesmo Malu. Estavam apenas esperando por você, querida. – Minha mãe disse apressada – Vamos Jorge, acompanhe-nos.

Minha mãe deu o braço para o meu pai e juntos fomos caminhando até a sala de jantar. Jorge me cumprimentou brevemente com um sorriso, ele estava bem diferente, estava com uma aparência cansada, ainda assim mantinha seu sorriso no rosto. Na mesa, João sentou ao meu lado, e eu não conseguia ter mais ranço possível disso tudo. Tantos caras no mundo, pai. Tantos. Não consigo entender porque ele. Logo o garoto que me deixou com traumas emocionais e barreiras de proteção infinitas quando se trata de relacionamento. Eu não vejo como isso pode dar certo.

— Malu, querida. Você está bem? Faz tempo que não nos vemos, está bem crescida. – Escutei Jorge se direcionar para mim. Ele sorriu. Adoro o Jorge. Ele sempre foi tão atencioso. Faz tempo mesmo que não nos encontramos desde que ele se mudou para Europa a trabalho. Ele não poderia ser pai de um garoto tão tosco como esse. O João me pisou depois de tudo, disse coisas horríveis como “Ela me beija, e você não. Ela tem bunda, peito e você não tem nada que chame atenção, ainda é uma criança” e ainda falou mal de mim no meio dos nossos amigos do colegial. Eu tinha 9 anos. Fala sério! É apenas um ano de diferença. Se as pessoas soubessem o quanto esse tipo de comentário mexe com nosso psicológico quando quem a gente é ainda está em formação...

— Tio Jorge. – Dei um sorriso forçado e assenti com a cabeça - Eu estou bem, ou pelo menos vou ficar. – Percebi minha mãe me cutucar com os pés em baixo da mesa – São os hormônios, sabe como é. Senti falta do Senhor. – De lado, pude ver minha mãe e meu pai sorrindo. Nós terminamos a janta e o Jorge me olhou sereno.

— Vai sim. Em breve você irá se casar com Miguel. Quer um partido melhor que esse? – Ele deu uma risada, e todos os acompanharam, menos eu e o João. Ele está tão perdido nessa história quanto eu. Eu sei que de muitas garotas eu não sou bem a que ele queria ter esse tipo de compromisso, ele está acostumado a sair, ir para festas, beber, ficar com todas as meninas possíveis. É uma mudança e tanto. Eu não quero que ele abra mão de nada por mim, mas também não quero um casamento público devido aos nomes das nossas famílias, enquanto ele taca fogo no parquinho e o nome da otária aqui vai para o ralo.

Eu estava distraída quando senti o mesmo me cutucar. Olhei para ele pronta para xingar mas meu futuro sogrinho me interrompeu.

— Porque não vão para um lugar mais reservado? – Ele estava com um sorriso de orelha a orelha.

— É… Hã, nós vamos. – João disse meio embolado, se levantou e me estendeu a mão. Olhei para ele e para a mão dele, me levantei e saí em direção ao jardim. Eu sei que ele veio atrás. Parei de frente para a piscina e olhei para o céu estrelado acima de mim, não tem nada que eu admire mais que isso.

— Me desculpa. – João sussurrou parando atrás de mim. Virei ficando de frente pra ele.

— Não faz isso. Sabe, já estamos aqui. Não tem muita coisa a se fazer quanto a tudo isso que está acontecendo... – Fui interrompida pelos lábios dele acertando em cheio os meus. Senti suas mãos em minha cintura e rapidamente me afastei. Fechei os olhos contendo o formigamento na minha barriga. Estranho. Quando abri os olhos, ele me olhava.

— Eu estava pedindo desculpa por 9 anos atrás... quando eu beijei outra garota ao invés de beijar você. – Ele disse com a voz doce, mas abalada ao mesmo tempo.

— Eu não sei o que dizer. Mas preferia que você tivesse pedido somente a desculpa.– Ainda estava atordoada com o beijo, pela primeira vez eu estava sem palavras.

Ele me olhou terno de repente, como se estivesse medindo as palavras.

Ou não.

— Malu, eu não estou fazendo isso forçado. – Eu o olhei torto – Tá, não é isso que eu quero agora, mas não é como se tivesse uma arma na minha cabeça. Nós crescemos juntos, e apesar de tudo que rolou eu não quero ver você despencar de um penhasco. – Rolou os olhos. – Não, eu até quero, mas meu pai mandou eu te dizer essas coisas para parecer que eu to aderindo a ideia – Ele sorriu e eu não pude conter um sorriso também, sincero até.

— Eu sei que a gente se odeia João…

— Miguel, Malu. Miguel – Me interrompeu corrigindo-me e eu o olhei com a maior cara de bosta.

— Sonha que algum dia eu vou te chamar de Miguel. – Sorri sem mostrar os dentes. 

— Então tá Maria, eu nunca gostei de Luíza mesmo. – Ele deu de ombros e me olhou perverso.

Nossos olhares se encontraram de repente e acabamos rindo juntos.

— Nem pense em me chamar assim. É sério. – Eu disse com um olhar de morte.

— Não tá mais aqui quem pensou. – Ele abaixou as mãos e me olhou. O sorriso dele é muito bonito. Ele está muito bonito. Ele cresceu. Está com cara de homem, alto, literalmente um homem que tem um gene muito bom.

— Qual piada eu perdi? – Ele perguntou me fazendo corar. Droga Maria Luíza! Corar na frente dele NÃO.

— Não é nada.

— Malu, eu não odeio você. Eu só não vou muito com a sua cara por você ser mimada e esquentadinha desse jeito.

Balancei a cabeça negativamente. – É uma pena você achar que eu sou mimada, isso só confirma uma coisa: Você não me conhece mesmo. Eu vou entrar, e aliás, você deveria ir embora. – Disse e saí andando, até ouvi-lo me chamar.

— Malu, precisamos falar sobre, hã, uma coisa – Ele disse receoso me fazendo virar, assenti com a cabeça e o esperei falar. – Bom você sabe que eles querem que a gente se case o mais rápido possível e, bom, você precisa ir conhecer a casa em que nós vamos morar. – Ele disse um pouco atrapalhado enquanto eu tentava organizar essas idéias na cabeça.

— A casa em que vamos o quê? – Soltei uma risada nervosa. Não pensei nisso. – Fora de cogitação. Fora, fora, fora. Você mora lá, e eu moro aqui. É só um contrato, ninguém vai reparar nisso. Agora se me der licença – Virei para a entrada bem na hora em que senti o mesmo pegar no meu braço e me virar fazendo eu olhar diretamente para ele. Suspirei fraco já sabendo do que se tratava.

— Não é só um contrato, ele requer um ano de moradia. Você vai vir comigo sim. Só que eu tenho algumas condições para você. – Não curti a cara que ele fez. – Você sabe que eu gosto de sair e bem, não vou parar. É só aparência, não é mesmo? A gente não precisa ser mesmo um casal. – Olhei para ele sem acreditar no que ele estava dizendo.

— João – Cruzei os braços olhando para ele com a expressão do rosto torcida – Acha que depois de todo esse tempo eu gostaria de ser algo além de sua colega? É sério que você acha que eu me importo com o tipo de vida que você vai levar? Por acaso me ouviu perguntar? – Sorri sem acreditar. - Eu quero distância de você e daqueles que andam ao seu lado. De verdade? Eu não me importo. Eu tenho a minha vida e ficarei feliz de ter as minhas condições também. – Sorri educada.  – Não quero seus "amigos" fazendo farra na nossa casa. Sem mulheres nos quartos ou em qualquer cômodo, você vai ter as ruas, motéis, ou a casa delas. Você vai dormir no quarto de hóspedes já que o de casal vai ser meu e…

— E nada Malu, eu não vou dormir no quarto de hóspedes, durma você – Fechei os olhos e contei até três. Porque será que ele sempre tem que me interromper?

— João, eu já falei as minhas condições. E tô cansada para repetir, você não vale meu tempo. Boa noite. – Entrei em casa pensando no quanto ele é inacreditável. Uma hora eu penso que nossa, ele dever ter crescido e na outra ele caga tudo pela boca. Porque ele tinha que estar tão bonito? Passei pela sala e cumprimentei o Jorge rapidamente dando a desculpa do sono, dei boa noite para os meus pais e subi para o quarto, bati a porta com força e me joguei na cama.

Bosta, bosta, bosta! Já vi que vou precisar de muita paciência. Aliás, quando será o casamento? Resolvi mandar um sms pra Mel e pra Angel, to morrendo de saudade delas.

Sms: Preciso seriamente das minhas amigas. Venham aqui amanhã à tarde, preciso dar uma saída pra espairecer a mente. Beijo, amo vocês nenéns

Levantei rapidamente trocando minha roupa por um baby doll azul e confortável, deitei novamente, virei para o lado e suspirei, lembrando do beijo em que o João me deu hoje. Alguma coisa mexeu na minha barriga. Foi bem estranho. Balancei minha cabeça negativamente afastando esses pensamentos e fechei os olhos na tentativa de tentar dormir.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar comentários e opiniões, preciso saber se estão gostando ♥♥ Um abraço apertado, e boa leitura!!



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