Maré Alta escrita por Dobrevic


Capítulo 20
It's as a goodbye


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiieeeeeee!!!! Me desculpem a demora? obrigada uhaua



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Naquele mesmo dia, mais tarde, recebi a notícia de que meu pai havia puxado os tubos de respiração e havia partido para outra dimensão gradualmente com um sorriso no rosto. É estranho sentir de perto a dor da perda. Parece que é algo que atravessa sua pele e penetra em cada músculo seu, chegando firmemente no coração. É como se alguém enfiasse uma mão dentro de você e amassasse aquilo que você julga como forte. É uma coisa invisível e incrivelmente forte que puxa o chão e te faz sentir-se completamente pequeno.

– Sinto muito – Disse a Maria Luiza, depois de ler a mensagem em seu celular. Seus olhos estavam tristes e marejados. Arrastei para o colo dela no sofá e pela primeira vez na vida, eu quis me sentir seguro nos braços de alguém. Seus braços finos em sua pele amorenada me envolveram em um abraço e eu deixei que o chão abaixo de mim se dispersasse. Respondendo em silêncio, a mim mesmo.

Eu também sinto.

Malu falou ao telefone com o advogado da família e eu pude ver de longe o tamanho de como ela estava perdida. Ela é tão forte, tão mulher, que me pergunto se ela se dá conta disso. Após organizarem os horários do enterro, jantamos em silêncio e eu fui para o quarto de hóspedes. Precisava ficar sozinho, me remetendo a pensar várias vezes em nossa última conversa, em como ele falara da minha mãe, e no que eu disse por último, “Mentiras são as suas armas e eu não quero uma guerra. Adeus, papai”. Ao menos o lembrei de que mesmo, contudo, ainda o amava, e por Deus, como eu sentia sua falta.

Assim que chegamos até lá, durante todo o tempo eu tive que ouvir pessoas das quais eu nunca vira na vida desejar-me seus sentimentos, pessoas que eu não fazia ideia de quem eram; Só queriam estar ali não porque se importava que ele estivesse morto, mas porque queriam ter o que falar, do tipo “Eu o conheci, estive em seu enterro. Oh, foi tão triste”, queriam se julgar amigos, mas não eram nada.

Home

As pessoas costumam dizer que a imagem da pessoa morta é a última que levam consigo, que é horrível e nada agradável. Chega uma parte em que você realmente vê que acabou, vê a terra sendo jogada sobre sua nova casa. Percebe que a vida é algo inútil e que nesse momento milhares de pessoas estão sendo mortas e o universo continua girando sem se importar, sem se comover. Nenhuma nuvem cinza em um dia ensolarado mostrando que é mais uma vida que se vai, nenhum sinal de que aquilo é tão errado, porque na verdade, não é. Nós nascemos com uma certeza inabalável, de que algum dia estaremos felizes, soltando os mais sinceros sorrisos com alguém realmente importante, e no outro, estaremos mortos. E serão apenas lembranças, cinzas que irão ficar soltas no tempo, porque em algum momento todas as pessoas que conheceram você e chegaram, a saber, quem você realmente é, estarão de baixo da terra e tudo que sobrará é o nada.

– Você tá bem? – Escutei a voz da Malu baixa ao meu lado, peguei a mão dela que apoiava meu ombro e a trouxe pra minha frente enquanto me levantava.

– Eu vou ficar – Dei um breve sorriso fraco ignorando tudo a minha volta. Dei um beijo demorado na testa dela – Vem, nós vamos a um lugar – Disse enquanto a puxava para a saída.

– Mas... Ainda não terminou aqui... Quer dizer, eu to com roupa de enterro, e você tá com cara de enterro e... – Comecei a rir enquanto ela articulava com a mão.

– Cala a boca Maria Luiza – A parei a caminho do carro a virando para me olhar – Confia em mim?

– Confio, é só... – Me olhou demoradamente – Vamos. – E continuou andando na minha frente.

Fomos quietos durante todo o caminho, mas eu podia ouvir a curiosidade dela gritando. Quando chegamos, deixei o carro estacionado na rua mesmo e ela me olhou com um sorriso bobo indescritivelmente lindo.

– Como você consegue? – Disse ela, ainda me olhando.

– Consigo o que? – Disse enquanto passava o braço por cima do ombro dela e adentrava o parque de diversões a nossa frente.

– Ser forte – O sorriso dela se estendeu até os olhos olhando a roda gigante iluminada a alguns passos de distância.

Enquanto eu comprava nossos tickets, a Malu guardava nosso lugar na fila. Passei em uma barraca pequena comprando duas pipocas, uma doce e uma salgada, aproveitando para comprar duas cocas. Quando cheguei à fila ela estava impaciente.

– Que foi? – Perguntei sorrindo enquanto entregava a pipoca e o refrigerante a ela.

– É só que vai começar a próxima rodada e você estava demorando, não gosto de esperar – Ela revirou os olhos e subiu a escadinha entregando o ticket a um homem, fiz o mesmo e ele nos levou até a cabine de vidro fechada, nós entramos e nos sentamos um de frente pro outro. Enquanto esperávamos outras pessoas entrarem, nossa cabine ia subindo e o sol ia se pondo, nos dando uma visão privilegiada de uma aurora de cores.

– O.b.r.i.g.a.d.a – A Malu moveu os lábios em um som mudo lentamente me olhando, sorri observando ela se virar para olhar Londres em toda sua magnitude.

– E.u.t.e.a.mo – Disse em resposta em som mudo para que ela não ouvisses, sem a deixar ver. E por um segundo que durou uma eternidade, quase me esqueci de quem eu era. E cara, eu to apaixonado por essa garota. Não adianta negar. O sorriso dela é capaz de incendiar uma cidade inteira, e irrevogavelmente, meu coração.

Em silêncio, olhando para o céu, fechei os olhos e me despedi do meu pai, deixando a plenitude me invadir na noite que caía. E que noite.

As long as we're together, does it matter where we go?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, semana que vem eu voltooo, ou essa ainda! Deixem comentários pra dizer o que estão achando...leitores fantasmas, apareçam logo ou eu vou puxar o pé de vocês uhauahua Beijos!!!



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