É como se de uma hora pra outra o meu mundo desmoronasse bem diante dos meus pés. Meu pai não havia me contado até então do problema recente da família, como eu poderia imaginar que uma empresa importante como a nossa poderia falir? É claro que a gente pensa na possibilidade, vemos tantas histórias por aí, mas sabe aquele pensamento de que “nunca vai acontecer comigo”? Então… A minha própria intuição me traiu.

Do meu quarto, eu ouvi tudo lá em baixo. Meus pais discutiam sem parar. Eu só tenho 18 anos, nunca imaginei que fosse me casar tão cedo, principalmente porque esse nunca foi o meu sonho. Sem contar que eu nem conheço o cara que eles querem me empurrar. Eu só queria ser uma adolescente normal. Minha vó sempre dizia que "a quem muito é dado, muito é cobrado." Eu estava completamente cansada de tudo aquilo, meu emocional arrebentado. Precisava de silêncio...

Com a ponta dos pés, fui até a sala e parei bem diante dos dois que cessaram as palavras na hora.

— Eu não quero me casar. Sabe, é a ideia mais maluca que já ouvi. E de verdade, é uma decepção enorme para mim me ver obrigada a isso por causa das falhas de vocês. – Disse calmamente. Minha mãe me olhou preocupada, com os lábios apertados e meu pai me encarou sério – Não adianta pai, é o meu futuro. Isso vai me destruir. E se eu estou calada quanto a tudo isso, é porque não quero ver a nossa vida despencar. Na realidade, a de vocês, porque a minha já está. Eu nunca quis isso. A única coisa que eu quero é que vocês parem de brigar – Senti meus olhos marejarem e minha garganta fechar. – Por favor, é só isso. 

Quando meu pai pensou em falar algo, eu virei às costas e fui para o meu quarto batendo a porta com força, olhei fixamente o teto, me sentindo tão pequena quanto um grão de areia. Senti meu rosto úmido – Droga!– Pronunciei baixo me sentando ao chão. O dinheiro nunca me fez. Eu amo qualquer coisa que seja simples, mas tenha beleza. Eu nunca fui igual as minhas amigas, que por ter condições querem as coisas mais caras, mais absurdas, os lugares mais requisitados. Eu gosto de sentar na praça enquanto as crianças brincam, e eu tomo meu sorvete preferido de baunilha. Meu corpo não é o mais esbelto, e eu não sou a típica mulher perfeita da minha idade, e eu gosto disso, digo, de ser comum, mas peculiar ao meu jeito.

Eu tenho as duas melhores amigas do mundo, que é a Melanie e a Angelina. Melanie é a princesa dos contos de fada. Alta, cintura fina, cabelo liso e loiro quase branco e olhos azuis. Angelina é a padrão, completa em tudo. Altura mediana, seu cabelo tem um tom de loiro dourado até, os olhos são verde claro, corpo esbelto, pernas grossas. Como se podem ver bem diferentes de mim, com 1,62 de glamour, pele branquinha, cabelo castanho escuro até metade da cintura, com um corpo normal. Nós 3 somos muito diferentes. Mel é avoada, sensível, às vezes uma cobra. Já a Angel é o nosso equilíbrio. Sempre firme, não dá mole pro acaso. É apaixonada por um galinha, o Kevin, mas não dá o braço a torcer. Ela sempre diz que “Se quiser me ter, vai ter que suar”. Bom, eu não sou lá dessas meninas que se apaixonam muito, na verdade, eu só me apaixonei uma vez, e foi com sete anos, minha maior decepção amorosa até hoje. Sorri com esse pensamento. Ele era tudo que uma garota queria. Cabelo loiro dourado, pele clara, seus olhos de um azul intenso. Olhá-los era como olhar o céu. Ele me pediu em namoro no dia 27 de novembro. Aquele namorinho de criança, sabe? E logo depois o vi beijando a menina que mais gostava de zombar da minha cara. Eu jurei pra mim mesma que nunca mais me apaixonaria, e se tiver que acontecer não vai ser me forçando a um casamento idiota.