Coração Indomável escrita por Drylaine


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Mais um cap chegando.

Pra montar esse capítulo eu tive q tirar um tempo pra pesquisar bastante coisa na Net, então, o início do capitulo começa explorando um pouco da nossa história da época da colonização e do Brasil Imperial. Ou seja, nem tudo é só ficção existe um pouco de contexto histórico ali, isso tbm me ajudou a construir a origem do Nahuel. Por fim, vamos conhecer um pouco da nossa mitologia de deuses indígenas como Tupã (deus do Trovão), Ceuci que é tipo uma versão da Virgem Maria (super recomendo q vcs pesquisem sobre essa deusa pq achei a história dela fantástica), temos ainda Anhangá que é retratado tanto como protetor dos animais quanto como inimigo de Tupã. Ah, mais uma coisa, resolvi mudar o nome da mãe do Nahuel para Ceuci em homenagem à deusa da lavoura e das moradias.

Enfim, tenham uma boa leitura!!!



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"Antes do descobrimento do Brasil pelos europeus, habitavam por estas terras várias tribos indígenas, como os Manaós que na língua nativa significa Mãe dos Deuses. Esse povo vivia aos arredores do povoado de Santa Isabel no Rio Negro e o nome da tribo deu origem a cidade de Manaus.

Entre os anos de 1723 a 1728, houve a guerra dos Manaus, nesse período os Manaós liderados por Ajuricaba entraram em conflito sangrento contra os colonizadores portugueses, pois não queriam servir de mão de obra escrava. As lutas só cessaram quando os militares portugueses começaram a se casar com as índias da tribo, iniciando assim à intensa miscigenação na região."

 

 

 

Brasil Imperial

Século XIX

Uma jovem estava sendo preparada para mais um casamento arranjado com um dos vários colonizadores que viviam por ali. A bela nativa de nome Ceuci odiava todos os homens brancos que invadiram a sua terra e foram responsáveis por exterminar boa parte de sua tribo. Então, por que ela tinha que ser forçada a casar-se com um maldito colonizador?

Sem outra saída, Ceuci decidiu que iria fugir enquanto todo mundo estivesse na igreja a sua espera. Com a ajuda de sua irmã caçula Huilen, ela aproveitou a passagem do dia para a noite que era considerado para as índias o momento exato em que o deus do Sol (Guaraci) e a deusa da Lua (Jací) se encontravam, acreditando que os dois deuses amantes iriam protege-la e lhe mostrar o destino certo.

No meio de sua fuga, o tempo virou, nuvens escuras dominaram o céu. A jovem fugia montada em sua égua fiel, correndo indomável cada vez mais para dentro da floresta, enquanto sentia a chuva só aumentar e tornar o caminho mais difícil. Quando estava a um passo de atravessar o rio, uma bala atingi o animal fazendo-a cair. Consequentemente, seu noivo havia descoberto sobre sua fuga e juntou alguns homens da vila para captura-la.

O vestido branco de noiva (que era pra ser símbolo de sua virtude) estava todo encharcado e sujo de barro, mas nem isso a parou, a índia rasgou parte do tecido e retirou os sapatos elegantes que uma freira havia lhe forçado a vestir e, assim, continuou correndo descalço e usando toda força que suas pernas possuíam. Até que os homens montados em seus cavalos conseguiram a encurralar.

Ceuci só tinha duas saídas: se render, ou se jogar nas águas do rio Amazonas e encontrar o mesmo final de Ajuricaba (o antigo líder dos Manaós que morreu ao se jogar naquelas águas). Sem saída a jovem fecha os seus olhos e reza, silenciosamente, aos céus. Nesse instante, um trovão retumba furioso assustando os cavalos que fogem de seus donos e se perdem na mata, ao mesmo tempo em que um clarão parece cegar aqueles homens, em seguida, algo impressionante acontece... Um vulto preto, grande que se move tão veloz como um raio, surgi para salva-la, fazendo o noivo e seus capangas caírem mortos ao seus pés.

Para Ceuci aquele dia ficaria marcado, como o dia em que o próprio Tupã com seu manto preto, cabelos brancos esvoaçantes e sua beleza incomparável, desceu do céu somente para salvar a jovem donzela. Essa historia se espalharia por todo o povoado e, em breve, para as outras tribos indígenas, dessa forma, ninguém mais ousaria tocar nela. A partir daquele momento, se iniciou uma relação particular e estreita entre a inocente nativa e o Espírito da Chuva. Entretanto, com a mesma rapidez que a divindade surgiu em sua vida, ele teve que partir.

Passou-se mais alguns anos e a índia continuou a rezar para que chovesse e ela pudesse reencontrar Tupã. Certo dia suas preces foram ouvidas e Ele retornou num dia de tempestade só para vê-la.

Curiosamente, algumas noites antes de seu caminho se entrelaçar com os de Ceuci, Ele conheceu uma Cigana que lhe fez uma profecia: "A garota da floresta... Ela é o seu destino."

Por coincidência ou não, ele passou a pensar que a linda nativa poderia ser a garota que a Cigana lhe falou e que no passado atormentou tanto os seus sonhos. E isso, talvez, explicasse o porquê Ele se sentiu tão atraído por ela.

"Há outros povos pelo mundo que não me vê como uma divindade. Para eles sou um monstro. Um monstro da noite que vem para seduzir as donzelas e assassinar os seus homens. Certamente, eles não estão errados." Tupã lhe contava a sua história e a jovem ria divertida e fascinada, mesmo não entendendo metade das coisas que ele lhe dizia.

Apesar de não falar a sua língua, de alguma forma inexplicável, a bela humana lhe entendia. Aliás, eles possuíam uma linguagem especial e particular que só ambos podiam compreender.

"É por isso que os meros mortais nos temem e nos invejam." Ele parou e olhou para aqueles olhos pretos como a noite sem luar e aquele sorriso apaixonado que era capaz de lhe fazer fraquejar. "Mas, você... Você é diferente deles."

Eles haviam se tornado amantes, se encontravam nas noites de tempestade e se amavam. E não havia nada mais perfeito e bonito do que tê-la aqui em seus braços, com seus corpos nus entrelaçados, com o coração dela batendo tão forte contra o seu peito frio, penetrando a sua pele dura de mármore e o fazendo sentir como se o seu próprio coração morto pudesse voltar a reviver. E o sentimento era tão forte, mais forte que o desejo por sangue. Talvez, por isso ele conseguiu manter sob controle o seu monstro interior e nunca ousou beber do sangue dela.

Poucas coisas nesse mundo poderiam lhe fazer tão fraco. Na verdade após ter se tornado um imortal, nunca mais aquela criatura foi capaz de sentir sentimentos tão humanos, como medo, dor, saudade e, o maior e mais perigoso sentimento, o AMOR. Em seus mais de 2 mil anos vivendo nesse mundo, nada seria capaz de deixá-lo de joelhos. Até que aquela inocente nativa surgiu em seu caminho com o seu jeito radiante e cheio de vida. E, de repente ele se viu desejando-a para si, mesmo sabendo dos riscos.

Estar aqui ao lado da indomável Ceuci era como ter um pedaço do paraíso. Todavia, esse pedaço do paraíso poderia ser ameaçado. Ameaçado por seu irmão Aro que não aceitaria ter algo ou alguém entre eles, que pudesse fazê-los fraquejar. Que pudesse atrapalhar os seus planos de obter o poder absoluto.

Marcus, Aro e Caius tinham feito um pacto de lealdade e obediência para toda a eternidade, depois de se tornarem imortais. Eles venceram tantas batalhas, destronaram o CLÃ ROMENO e assumiram o poder supremo. Assim, eles passaram a ser conhecidos como os temidos Volturis, a família de vampiros mais antiga e poderosa que o mundo sobrenatural já conheceu. Os Volturis nunca respeitaram a vida humana, mas gostavam das ciências e das artes e, sobretudo, das leis. A propósito, eles possuíam uma lei que era absoluta: – Guardar segredo sobre a existência de sua espécie. Ou seja, nunca se expor para os humanos, caso contrário o vampiro seria punido com a morte.

Por isso Caius sabia que precisava partir, antes que sua relação íntima com a humana fosse descoberta. Dessa vez, ele decidiu que iria partir para nunca mais voltar.

Então, Tupã (segunda Ceuci), esperou que ela adormecesse para subir de volta aos céus, sem saber que havia deixado uma sementinha dentro dela. Essa sementinha, logo, deu fruto.

Em questão de dias, Ceuci se viu grávida e sozinha. Uma gravidez totalmente diferente e isso se espalhou pela vila. No fim, a jovem acabou sendo rejeitada pela família e pelo povoado, não tendo outra escolha a não ser se embrenhar pela floresta com a intenção de conseguir se refugiar no meio de alguma tribo indígena.

Huilen decidiu partir com a sua irmã. As duas chegaram as margens do rio Negro, dali pegaram uma canoa e seguiram seu trajeto até chegar onde as águas escuras se encontravam com as águas barrentas do Rio Solimões. E foi nas margens do rio Solimões que Ceuci deu a luz a Nahuel, infelizmente, morrendo no parto.

Eventualmente, Nahuel e sua tia Huilen acabaram encontrando um refúgio com os Ticunas.

Levaria quase 100 anos, para que pai e filho se conhecessem...

Naquele dia tinha caído uma tempestade tão forte, mesmo assim, Nahuel e alguns índios bravos de sua tribo saíram para caçar uma criatura que estava causando muitas mortes por aquela região. Por ironia do destino, a tal criatura era um vampiro nômade que, estava sendo caçado também pelos Volturis.

Caius que havia sido enviado para liderar a tal missão, resolveu parar atrás de uma árvore e observar a luta que se desenrolava a alguns metros dele. E ficou fascinado pelos movimentos habilidosos de Nahuel enquanto ele enfrentava com violência e coragem o outro vampiro que era bem mais experiente e brutal. Mas, mesmo que o jovem índio fosse ágil, em algum ponto da batalha, ele cedeu ao cansaço dando vantagem para o inimigo consegui lhe vencer. O inimigo tinha uma habilidade especial capaz de fazer um órgão vital para o corpo humano, simplesmente, parar de funcionar.

Nahuel caiu no chão, sentindo o seu coração começar a bater muito fraco. O inimigo riu se achando tão vitorioso, estava tão distraído que não viu Caius se aproximar atrás dele e, com um golpe certeiro e mortal, decapitar a sua cabeça.

Agora a sua missão havia sido concluída com sucesso. Caius estava pronto para retornar à Volterra. Mas, primeiro decidiu dar um fim decente ao índio que estava agonizando.

"Tupã... Pai... Você veio me buscar?!" Não foram apenas aquelas palavras que lhe paralisaram, foi o choque de olhar para a face do jovem índio e constatar a imagem e semelhança de Ceuci. Além disso, o corpo humano que havia sido tão machucado durante a batalha, rapidamente, foi cicatrizando diante dos seus olhos frios. Logo, o coração de Nahuel voltou a bater normalmente, lhe dando uma prova viva de que não estava diante de um mero mortal.

"Sim. Ele é seu filho. Seu e de Ceuci." Ele precisou ouvir a confirmação dos lábios de Huilen que agora havia virado uma vampira. Ela era a única testemunha do romance do Volturi com uma humana. Um romance que lhe rendera um fruto.

Daquele momento em diante, Nahuel se tornaria o seu verdadeiro calcanhar de Aquiles. E o seu calcanhar de Aquiles precisava ser protegido, sobretudo, dos olhos ardilosos de Aro.

 

 

Leah

De tantas coisas bizarras que já aconteceram ao longo dos meus 22 anos, nada seria comparado com este momento assustador e medonho. Pra começar eu me vi parada olhando para o meu próprio corpo nu deitado inconsciente, enquanto algumas índias iam pintando cada canto de minha pele de vermelho, preto e branco e desenhavam vários símbolos indígenas que eu estava aprendendo ainda a decifrar. Aliás, a única coisa que cobria minha pele eram as pinturas.

"O que está acontecendo aqui? O que vocês estão... fazendo?!" Porém ninguém me respondeu. Olhei a minha volta reconhecendo o lugar, estávamos numa das ocas que as índias usavam para guardar seus artesanatos. Depois voltei a prestar a atenção nas mulheres e fui reconhecendo algumas delas. Safrina e Senna estavam a minha frente, enquanto Heilen e Kachiri ajudavam a preparar o meu corpo para o... Ritual!

"Mas que tipo de ritual?" Indaguei e fui ignorada por todas. De repente, um pensamento impertinente me surgi: "Seria esse um ritual funerário? Eu morri?"

Não. Não era um ritual funerário, porque eu já tinha assistido um e com certeza não era assim. Voltei a olhar para o meu corpo, reparei que eu parecia tanto com uma índia Ticuna e tinha uma expressão serena no rosto, como se tivesse dormindo profundamente. Meus olhos vagaram para um canto em especial, onde encontrei uma certa vampira Anã de nome Alice Cullen.

"Droga! Até aqui eles me perseguem. Primeiro foi Edward e agora ela?"

Alice se aproximou de mim, que dizer, da LEAH adormecida e disse alguma coisa que não consegui decifrar. Ela sorriu parecendo tão entusiasmada.

Comecei a cogitar que eu estava sonhando.

"Com certeza é um sonho. Então relaxa, Leah!" Me virei imediatamente para me deparar com uma outra índia que eu nunca tinha visto na vida.

"Quem é você?" Seu corpo estava todo pintado de branco, preto e vermelho igualzinha a mim.

"Uma mensageira. Ou talvez, simplesmente, um espírito livre que veio lhe fazer companhia." Ela olhou no fundo dos meus olhos. De repente, senti que estava sendo atraído para dentro de suas íris pretas e, por algum motivo inexplicável, senti que a conhecia de algum lugar. "Nós já nos conhecemos?"

"Talvez."

"Só isso? Talvez?!" Isso me frustrou claro, pois me sentia com uma enorme incógnita na cabeça. "Você tem um nome?"

"Ah, sim. Na verdade tenho muitos nomes... Alguns me conhecem por Virgem Maria a Mãe de Jesus, outros por Terra ou Gaia a Mãe Natureza e para os nativos daqui sou chamada de Ceuci a Mãe das Estrelas."

"Ceuci?! Como o nome da mãe de Nahuel." Eu estava perplexa, mas ao mesmo tempo, achei isso curioso, me fez sentir fascinada por toda aquela história e fazia tanto sentido. Ela exalava uma paz e conforto e me fez lembrar de minha própria mãe. Porém, Ceuci (preferi chama-la assim) continuou a me surpreender.

"Mas, para os Quileutes, sou conhecida como uma força invisível, como um Espírito Guerreiro... Um Coração Indomável."

"Como Chiara?" Ela me sorriu em reconhecimento. "Ela era uma das minhas vidas passadas que teve um final muito triste e cruel... Meus Antepassados lhe cortaram as suas asas e lhe calaram até que ela caiu no esquecimento."

"Mas, como ela poderia ter caído no esquecimento se você reencarnou? Você está aqui para reescrever a história dela. E ser lembrada. Talvez, tentem lhe cortar as suas asas e lhe calar de novo, mas você irá suportar, porque você é forte e corajosa." Nós paramos ao ouvir o barulho estrondoso de um trovão, lá fora estava começando a cair um chuvisco. "O ritual vai começar."

"Que... que tipo de ritual?" Senti medo quando me virei para olhar as índias se afastando do meu corpo e seguindo para o lado de fora, todas cantarolavam uma cantiga indígena. Nesse instante, vi um vulto se aproximar do meu corpo ainda inconsciente.

"Você já está pronta para o ritual. É hora de despertar e enfrentar o seu destino!" Ele me sussurrou no meu ouvido fazendo meu corpo despertar. Meu corpo se levantou e começou a se mover como se estivesse sendo controlado por uma outra força. Acho que era exatamente isso, eu havia me tornado uma marionete nas mãos do meu Carrasco.

"Utlapa?! O que ele está fazendo aqui? O que está acontecendo comigo?" Subitamente, me vi encarando a mim mesma... Era como se tivesse tendo uma experiência fora do meu corpo. Talvez, eu tenha morrido e virado um espírito errante.

"Vamos, o ritual já está começando." Senti que estava sendo empurrada por Ceuci. Nós começamos a seguir Utlapa e a LEAH Zumbi até chegarmos onde havia uma grande roda de índios. As quatro vampiras ticunas e Alice já faziam parte da roda também, assim como o seu parceiro e... Edward.

Deduzi que os três Cullens tinham sido convidados a participar, por isso seriam meros telespectadores, assim como Eu. Eles abriram passagem para que meu corpo Zumbi fosse parar no meio da roda ao lado de Nahuel que me deu um olhar estranho, depois se virou para falar com a sua tribo. Por fim, tentei procurar Utlapa, mas o índio já havia desaparecido.

"Hoje iremos testemunhar uma batalha entre o bem e o mal." Assim que Nahuel disse essas palavras, a minha versão Zumbi se virou para a escuridão e rosnou. "O Bem está em Tupã." No mesmo instante, um trovão retumbou pela Selva Amazônica, demonstrando sua fúria e, das sombras das árvores, surgiu uma criatura vestida toda de preto. Não podia ver seu rosto e isso me deixou tão intrigada e nervosa. "O Deus do Trovão veio para salvar a sua tribo e derrotar Anhangá." Continuou ele agindo como o Pagé. "Anhangá é traiçoeiro, pode se transformar em qualquer animal e nos enganar."

"Droga! O que estava acontecendo comigo?" Nesse momento, a outra LEAH se transformou na loba Cinza.

"Anhangá o deus do submundo é a personificação do Mal."

"Espera, eu fui transformada no inimigo da tribo? Eu sou o vilão da história?" Mas, é óbvio que a história estava sendo contada toda errada. Era tudo um grande equivoco, pois aquilo que a Loba Cinza estava prestes a enfrentar, não era Tupã. Aquilo era um sanguessuga que, por algum motivo, tinha um cheiro que era diferente dos outros, algo forte e que parecia me atrair.

"Silêncio, Leah! Você precisa ouvir toda a história até o fim." Me advertiu Ceuci.

"A partir daqui a sua jornada será perigosa e mortal, pois os caminhos entre o bem e mal irão se entrelaçar e se confundir." E de fato uma batalha brutal se seguiu entre aquilo que ele chamava de Tupã e... Anhangá, que no caso era a Loba Cinza.

O pior e mais angustiante de tudo, era estar aqui somente como uma mera telespectadora, sem poder interferir. Era uma sensação tão terrível.

"Aqui estamos nós, renascidos como inimigos naturais. Destinados a se confrontarem até a morte." Então, pela primeira vez, ouvi a voz do meu inimigo. Sua voz era tão sedutora e, ao mesmo tempo, cruel. "Hoje a noite você irá se render, ou irá morrer." Foi o suficiente para me perturbar, assim como deveria ter perturbado a loba cinza que já estava tão cansada, machucada e, mesmo assim, não queria se render. Só que ele era mais forte, mais rápido e tinha um sorriso ardiloso de quem já prévia que iria vencer.

"Não! Pare! Caius, não machuca ela!" Ouvi Edward suplicando. Sua face perfeita tinha se tornado meio demoníaca e ele tentava se livrar dos seus dois irmãos que estavam o impedindo de... me ajudar. "Nãoooo!" Seu grito foi tão assustador quanto a cena a seguir...

A criatura que chamavam de Tupã, saltou sobre mim e fincou suas presas em minha jugular. A mordida de vampiro era... venenosa, portanto, seria fatal. Rapidamente, o veneno foi espalhando-se por cada célula de meu corpo até chegar ao meu coração. Naquele momento, eu havia acabado de presenciar a minha própria morte.

Em contrapartida, os Ticunas começaram a festejar a minha morte enquanto reverenciavam aquele deus fajuta. Aquilo era a coisa mais medonha e terrível que presenciei no meu curto tempo de vida. Ou assim, eu achava...

"Espera, Leah. O ritual ainda não terminou." Ceuci me conteve, segui o seu olhar de volta para o centro da roda, onde ainda repousava o meu cadáver e onde se encontravam o Sanguessuga (que os índios continuavam chamando de Tupã) e Nahuel. Foi então que vislumbrei o híbrido cortar os seus pulsos e deixar o sangue escorrer para dentro de várias cuias. Depois as cuias cheias de seu sangue foram servidas somente para os índios considerados os mais bravos da tribo. Por fim eles beberam o líquido escarlate como se fosse vinho.

"Aí que nojo!" Murmurei perplexa e tensa ao vê-lo se aproximar da loba cinza e derramar uma das cuias com o seu sangue sobre o pescoço do animal. Imediatamente, a loba se transformou em humana. E fiquei em choque ao ouvir meu coração voltar a bater. "Oh, meu Deus! O que foi isso?"

"Um milagre, Chiara! Um milagre!" De forma súbita, ressurge Utlapa substituindo a voz e a presença de Ceuci. Ele me abraça por trás e me faz sentir-me fria, como se eu tivesse sendo abraça pela própria escuridão. "Como você vê até mesmo um ser Frio, sem alma... Um imortal cruel pode gerar vida. Pode gerar um milagre."

Claro, agora eu havia entendido. O sanguessuga que os Ticunas veneravam como uma divindade, era o pai de Nahuel.

"Uma grande ironia do destino, você não acha, Chiara?"

"Por que você está me mostrando isso? E o que... o que você fez com Ceuci?" Minha voz estava tão trêmula, demonstrando o quão assustada eu estava.

"Ela está num outro plano, na qual nenhum de nós pode alcançar." Ele me vira para que nos encaremos, suas mãos permanecem segurando meus ombros, seu toque me faz sentir tanto frio. "Agora respondendo a sua pergunta... Talvez, seja porque isso já aconteceu... Ou talvez, porque isso ainda irá acontecer. Mas, a verdade é que... o passado, presente e futuro estão se colidindo. No fim, a linha entre o bem e o mal irão te confundir. Então, para encontrar o que tanto procura, você precisará confiar no inimigo."

"Se isso é algum conselho... Por que eu confiaria em você?" E mesmo apavorada, consegui achar um último resquício de coragem.

"Porque talvez você não tenha escolha." Seus olhos negros continuavam a me arrastar para um precipício da qual tinha certeza que não conseguiria me salvar. "Mas, sinceramente, só há um conselho do qual você deve se lembrar até concluir a sua jornada: Não pode fugir do seu destino, só porque tem medo dele... E ele virá." Por fim fui sufocada por sua escuridão.

Achei que tinha chegado ao final do meu pesadelo, mas estava completamente errada. O meu pesadelo só estava começando...

 

***/ /***

 

"Você está bem, Leah?" Alice veio saltitante e parou na minha frente interrompendo o meu caminho.

"Por que isto importaria pra você?" Indaguei friamente.

"Por que no fim, estamos no mesmo barco. E talvez você só possa confiar em nós três." Olhei de canto para o marido dela, o tal vampiro que tinha sempre uma expressão de dor e que também era conhecido pela matilha como o General. Edward estava ao lado dele e tinha um olhar perdido.

"Eu sei que somos inimigos naturais, Leah..." Mais uma vez, Alice tentou se comunicar de forma cordial comigo. "E sei que nossa aliança sempre foi por causa da sua matilha e de Jacob."

Jacob?! Ah, aquele nome que eu não ousava pronunciar e relutava em pensar nele. Mas, agora foi só a vampira pronunciar o seu nome para a imagem do lobo Alfa aparecer para atormentar a minha mente.

"Mas, como Jasper disse, nós estamos no mesmo barco. Ninguém aqui quer se afogar, certo." A vampira anã continuou me irritando com a sua voz meiga. "Por isso precisamos trabalhar juntos, se quisermos sobreviver." Tentei novamente ignora-la e passar por ela, mas Alice continuou a me interromper.

"Saia da minha frente!" Rosnei, mas logo a minha raiva foi sendo dissipada e substituída por uma calma. A troca repentina de sentimentos soava forçada, então, mudei a minha atenção para o General e lhe dei meu olhar fuzilante. "Para de manipular as minhas emoções!"

"Sinto muito. Mas preciso te manter sob controle, antes que cometa alguma idiotice."

"Sabe, justamente, agora que achei que poderia recomeçar e gozar da minha liberdade... Vocês decidem aparecer de novo na minha vida e estragar tudo de novo!" Parei sentindo um nó se formar na minha garganta.

"Já chega! Essa discussão não irá nos levar a nenhum lugar." Dessa vez, Edward parecia muito inquieto. "A conversa particular entre Nahuel e Caius já terminou." Quando ele disse isso, eu dei uma cambaleada pra trás e senti medo. Muito medo, meu estômago até se revirou. "Acho que vamos precisar de um pouco de calma e encorajamento, Jasper." Edward até ironizou a nossa situação e, sinceramente, encarei o irmão dele desesperada por aliviar a minha inquietude. Agora de fato pressenti que precisava de sangue frio pra encarar o que quer que estivesse nos esperando.

"Nahuel está vindo para falar com todos nós." Nós três se viramos para olhar Alice que estava com os olhos arregalados e vidrados. "Mas, eu já sei o que ele vai dizer..." Ela fez uma pausa e olhou diretamente para mim e depois para o irmão. Ambos pareciam trocar uma conversa silenciosa, ou seria uma conversa mental?

"Caius já tomou a decisão dele. Ele quer ter um encontro particular comigo e... Leah do outro lado da fronteira."

"O que ele quer?" Eu estava me sentindo tão nervosa e preocupa.

"Você saberá quando chegarmos lá." Edward pareceu hesitar. Nesse instante, Nahuel apareceu. Suas órbitas negras me olharam da cabeça aos pés me forçando a dar um passo para trás quase tropeçando na barra do vestido branco que eu vestia. Meu medo só foi distraído pela curiosidade de descobrir o PORQUÊ eu vestia aquele vestido comprido. O tecido era bonito e delicado, mas não combinava em nada com o lugar selvagem e muito menos com a ocasião.

"Caius está lhes esperando. Mas, ele fez uma exigência..." Nahuel desviou o seu olhar para Edward, eles se encararam, demoradamente. A tensão era palpável.

"Caius quer te ver em forma humana." Respondeu-me Edward. "Ele quer conhecer a humana LEAH, porque ele já teve um encontro com a loba e não foi bonito." Quando ele disse isso, levei um choque de realidade.

"O quê?" Levei uma das minhas mãos até o pescoço. Para meu horror a marca das presas estavam lá.

"Sim, Leah. O pesadelo foi mais real do que imagina." Edward me respondeu. "Alice mostra pra ela. Ela precisa de uma... confirmação visual." A vampira desapareceu e reapareceu num piscar de olhos. Ela abriu seu estojo de maquiagem, revelando um espelho pelo qual pude ver o meu reflexo e constatar que a marca estava lá. Duas perfeitas presas de vampiro marcavam a minha pele. Naquele momento, me senti tão violada, com raiva e com nojo. Queria chorar, queria gritar... No fim, acabei apenas rasgando um pedaço de vestido com as minhas mãos.

"Ai, por que você fez isso?" Reclamou Alice como se eu tivesse a ofendido. "Ele ficou tão perfeito em você."

"Você preferiria que fosse a sua cabeça?" Rosnei ameaçadoramente. Edward me puxou para longe de sua irmã e começou a me arrastar para fora.

Ainda podia ouvir Nahuel nos desejando Boa Sorte e suplicando a Mãe das Estrelas que nos protegesse.

Nos embrenhamos pela floresta com Edward caminhando a minha frente e cuspindo um monte de avisos sobre o que iríamos enfrentar:

"Você precisa ter em mente que Caius não é um vampiro comum. Ele é da realeza, irmão caçula de Marcus e Aro."

Então, aquele vampiro era um dos famosos Volturis?

"Assim como os irmãos, Caius tem uma habilidade especial: Ele pode nos persuadir a fazer o que ele quiser." Edward para e se vira para mim, me forçando a interromper os meus passos. "Isto quer dizer que, de um jeito ou de outro, ele fará a sua vontade prevalecer." Ele me encara com sua expressão difícil de decifrar, aguçando mais a minha ansiedade. "Então, quando chegar a hora... apenas ceda às vontades dele. Caso contrário, ele pode te manipular e tirar o seu direito de escolha. E isso será bem pior, Leah." Ele me estendeu a mão. "Vamos!" Foi então que entendi a lógica de tudo aquilo. O Cullen era o responsável por me guiar até o inimigo. Contudo, se teria mesmo que ser obrigada a me submeter ao inimigo, que ao menos pudesse ter a liberdade de andar com as minhas próprias pernas. Por isso passei por ele e comecei a correr na sua frente, demonstrando o quão invencível a LEAH humana também podia ser. Não era à toa que eu era considerada a mais veloz do bando de La Push. Nós passamos a correr numa velocidade impressionante e me senti quase livre.

Atravessamos toda a floresta Amazônica até ultrapassar a fronteira e ir parar na parte que pertencia ao Peru. Concluímos o percurso em menos de 5 minutos e só paramos no ponto marcado do encontro. Exatamente, no riacho onde eu e Edward estivemos no dia anterior. E só pra enfatizar que eu cheguei primeiro.

Entretanto, chegar por primeiro no destino, não foi tão divertido quando acabei me deparando com o tal Volturi parado na beirada do igarapé. O vampiro estava de costas para mim, ainda assim pude perceber que se vestia de preto, porém ao contrário do meu pesadelo, ele não usava nem capuz e nem o manto preto, revelando assim, uma pequena parte de si como os cabelos brancos e compridos que lhe caiam pelos ombros largos e pelas costas que me chamou a atenção. O vampiro possuía uma silhueta de um homem grande, musculoso e alto, provavelmente, tinha uns 2 metros de altura.

"Ora, ora, não é que a pequena loba parece realmente rápida." Sua voz tão forte e grossa me fez nervosa. Ele permaneceu de costas, mesmo assim, sentiu minha a presença, por isso decidi dar uma recuada, mantendo uma grande distância segura entre nós e torcendo para que o Cullen me alcançasse logo. "Você está com medo?!"

Era óbvio que estava com medo, meu coração estava martelando freneticamente no peito e era tão assustador porque eu estava diante de um inimigo imprevisível, mas que ao mesmo tempo, já havia demonstrado o quão perigoso poderia ser. Levei minha mão esquerda até a marca de sua mordida e comecei a esfregar freneticamente ali, como se quisesse apagá-la de minha pele.

"Infelizmente, você nunca poderá se livrar dela. É uma marca permanente." Meus olhos se voltaram para ele e, momentaneamente, senti minhas pernas tremerem e meu coração bater ainda mais rápido, se é que isso era possível. Ele havia se virado de frente para mim, me revelando o seu rosto bonito e impecável, sua pele era tão pálida, quase translúcida parecia combinar perfeitamente com o tom branco de seus cabelos compridos. Suas íris de tom vermelho escarlate, me olhavam da cabeça aos pés me causando um arrepio por todo o meu corpo. "É uma marca para lhe lembrar que você me deve lealdade e respeito, até o fim de sua vida."

 

 

A Noite Antes do Ritual...

 

"Eu deveria arrancar a sua cabeça, Safrina! Como você ousa trazê-los aqui?!" O vampiro vociferava possesso, segurando o pescoço de Safrina. "Eu confiei em você para proteger Nahuel. E o que você faz?!"

"Para com isso, Caius! Solta ela!" Se havia alguém que poderia fazê-lo ceder era seu filho e, mesmo assim, não era uma tarefa fácil. "Fui eu que permiti que ela trouxesse os Cullens aqui. E, em nenhum momento, me senti ameaçado por eles." Caius deu um passo para trás e deixou que o corpo pesado de Safrina caísse no chão.

"Você realmente acredita que eles não são uma ameaça?" Ele caminhou até seu filho e o encarou, os dois se equiparavam em tamanho, mas se diferenciavam em força e poder, pois Caius sempre seria mais forte e poderoso. "Eles trouxeram consigo um inimigo para sua tribo! Ela deveria estar morta."

"Leah não é um inimigo. E não foram eles que a trouxeram aqui. Eu a encontrei e deixei que ela ficasse. E eu quero que ela faça parte do meu Clã."

"Leah! É esse o nome daquela fêmea?!" O nome lhe soou muito bonito, mas logo, tratou de se livrar desse pensamento banal e focar no que de fato importava. "Eu não vou permitir isso! Assim como não vou permitir que os Cullens, saiam daqui vivos." Caius estava determinado a impedir qualquer ameaça que colocasse em risco o seu segredo. Foi nesse instante, que Edward, Alice e Jasper surgiram em sua frente.

"Parece que temos algo em comum, Caius!" Edward ousou em dizer. "Compartilhamos de um mesmo segredo." Nessa hora, Caius soltou uma gargalhada sarcástica.

"Não seja ingênuo. Não pense que isso nos faz aliados." Ele cuspiu na cara de Edward, irritado com a sua presença. "Eu poderia simplesmente mata-los, ou fazê-los esquecer o que viram aqui."

"Você não pode fazer isso, Caius!" Alice decidiu interferir chamando toda a atenção do vampiro mais velho para si.

"Por que não?!" Ele virou o rosto para confrontar Alice.

"Num futuro próximo, eu vi uma guerra acontecer..." Ela parou trocando um olhar tenso com Edward que lhe deu sinal para que continuasse. "Mas nessa guerra... você e Aro não estarão do mesmo lado." Imediatamente, isso provocou tanto o pânico quanto a raiva de Caius que tentou ataca-la, mas foi impedido pelos dois vampiros e Nahuel.

"Me soltem!" Assim que as palavras saíram de seu lábios furiosos, os três homens foram persuadidos a solta-lo. Num estalar de dedos, o Volturi tinha Alice presa contra uma árvore.

"Me diga o que mais você viu!" Ele rosnou mostrando suas duas presas de vampiro. Em resposta, os olhos dela se arregalaram e suas pupilas se dilataram. Nesse instante, o céu começou a se fechar e um vento forte se iniciou. Era um prenúncio para uma tempestade.

"Caius, você precisa seguir em frente. É hora de encontrar quem você abriu mão... Encontre ela! Encontre ela! Encontre ela!" E a voz de Alice ecoou pela floresta, tão forte e nítida. "Encontre a garota da floresta." Como se tivesse levado um soco no estômago, ele a solta e da um passo desajeitado para trás, suas pernas de repente se sentiram moles, como se perdesse o equilíbrio. "A garota da floresta... Ela é o seu destino."

Isso lhe trouxe lembranças de sua vida ainda humana, de quando ainda vivia na Grécia Antiga e ainda podia dormir e sonhar. Naquela época, suas noites eram atormentadas pela visão de uma jovem mulher vestida com um vestido branco, de pele acobreada e de cabelos pretos e tão compridos que lhe cobriam o rosto e que o impedia de ver seu rosto. Todas as noites em seus sonhos, Caius a via correndo, desesperadamente, pela floresta até chegar na beira de um penhasco, onde a garota esperava por algo ou alguém. Ela estava sempre em sua cabeça, em seus sonhos e se tornaria a sua obsessão até o dia em que renasceu como um imortal e, enfim, os sonhos cessaram.

Caius pensou que Ceuci teria sido a garota na floresta. O seu destino! No entanto...

Suas íris escarlates se arregalaram em choque, enquanto uma lembrança a muito tempo esquecida ressurgia em sua mente. A jovem que no passado atormentava as suas noite de sono, de repente se virava para encara-lo e, dessa vez, ele podia ver o seu rosto tão nitidamente.

"A garota da floresta. Ela é o seu destino."

 

{Continua...}

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu imagino que devo ter dado muito nó na cabeça de vcs e deixado algumas pessoas confusas ou curiosas. Pois bem, esse cap pode ter respondido alguns mistérios e, ao mesmo tempo, fazer vcs quebrarem ainda mais a cabeça.

Confesso que algumas cenas eu emprestei da série The Witcher e fui muito inspirada tbm pela beleza de Henry Cavill ️️

Quando assisti a série e vi o personagem Geralt de Rivia q é um bruxo, comecei a pensar que aquele visual seria legal pra se usar num vampiro. E esse visual do bruxo (Henry Cavill) achei que combinava com o Caius. Outra curiosidade que queria compartilhar com vcs é o quão interessante foi explorar as origem do Nahuel. E já pensaram o quão louco é ele ser filho de um dos Volturis. Imagina a treta q isso vai dar.
Bom, por enquanto é só. Nos vemos no próximo capítulo!



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