“Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Mahatma Gandhi”

Passo a carta com o poema de Mahatma Gandhi por baixo da porta de Carl, esperando que ele esteja acordado para lê-la.

Faz um mês que estamos aqui. Mas nas últimas semanas as coisas têm ficado um pouco mais difíceis para nós. Os grandes e resistentes portões da nossa casa já não são tão resistentes assim. Subitamente mais Errantes apareceram. Alguns sobreviventes que encontramos em nossas buscas se transformaram, entre eles o irmão mais novo de Zoë Jackson, Tiller Jackson. Zoë ficou mais furiosa e temperamental desde a morte de Tiller, e parece que eu sou o novo saco de pancadas da única Jackson que restou.

Evelyn nos revelou a existência de um novo inimigo para nós. Seu nome é Negan. Depois de Evelyn nos revelar todo o histórico de Negan – ou K-Nigan, como ela o chama –, decidimos que Negan é, supostamente, até pior que o Governador. Muito hesitante, Evelyn nos revelou um terrível fato.

Ela é filha de Negan.

Negan gostava muito de bilhar e ping-pong. Sua principal arma – usada tanto para matar Errantes quanto sobreviventes – é um taco de beisebol com arame farpado que ele chama de Lucille.

Evelyn também revelou que Negan têm várias esposas e é muito possessivo com elas. Ela fugiu dele por causa desse e muitos outros motivos. Negan a amedontrava. A única coisa que ela confiava no pai é que ele jamais iria a estuprar ou estuprar qualquer um. Ele fizera essa promessa, e até ela fugir, ele a cumprira.

. . .

– Li sua carta – diz Carl, entrando no meu quarto, sorrindo. – Você tem um bom gosto.

– Obrigada.

Ele começa a brincar com os meus cabelos enquanto eu escrevo um poema, aproveitando que estou inspirada.

– Como está ficando seu novo poema? Quero uma carta com ele.

– Está horrível, sem uma única rima. Você não vai gostar.

– Larga disso – diz ele, roubando o papel amarelado de minhas mãos e o lendo em voz alta.

“A morte nos acompanha

Os mortos caminham

Os mortos se alimentam

De nós

Pobres sobreviventes

Mas eu só penso em te amar

Só penso em encarar seus olhos

Olhos azuis como o céu

E então percebo

Estou apaixonada por você

Porque não importa

Se os mortos caminham

Estou amando na morte”

– Ficou bom, mesmo sem você ter conseguido rimar – elogia ele, com um sorrisinho malicioso no rosto, que me faz corar. – Para quem você escreveu isso?

– Não é da sua conta – digo, tirando o papel das mãos dele e o rasgando, me levantando e o jogando pela janela. – Hoje não é meu dia de inspiração, obrigada.

Ele ri.

– Ok, ok, mas...

BOOM.

Um grito.

Ruby se levanta com um pulo do lugar onde estava deitada no meu quarto. Carl me puxa em direção aos braços dele e estica a cabeça para ver o que está acontecendo. Ele murmura um palavrão, me solta delicadamente e sai correndo para fora do quarto. Ruby pula para a minha cama, latindo desesperadamente, e eu ergo a cabeça para ver o que está acontecendo lá fora.

Um tanque de guerra.

Evelyn está nos portões, parece que está chorando – não consigo ver muito bem – e falando desesperadamente. Há um homem do outro lado dos portões. Ele é grande, está em forma, tem cabelo preto e a pele morena, também segura um taco de beisebol com arame farpado.

– PAI! – berra Evelyn alto o suficiente para que eu consiga ouvir. O homem pega uma arma e, a sangue frio, atira bem na cabeça de Evelyn.

– Lindsey – chama Glenn na minha porta, desesperado. – Lembra do Negan?

Estou em choque.

– Ele está aqui, e acabou de atirar em Evelyn.