Felizes... para sempre? escrita por Enthralling Books


Capítulo 21
Cartas e Arsenal


Notas iniciais do capítulo

Voltei, povo.
Hoje eu posso dizer que sei o que é um bloqueio criativo. Sério, fiquei horas olhando pro monitor sem conseguir digitar nada. Pra completar, minha internet deu problema essa semana.
Enfim, não é o meu capítulo favorito, mas acho que ficou bom apesar de tudo.

Ele também é um presente. Obrigada, AnaSilva13, pela recomendação. Eu amei.
Como chegamos à 5 recomendações, fiz esse capítulo com mais de SEIS MIL palavras, o que me rendeu exatas dezesseis páginas no word.
O fato de vocês recomendarem essa fic espontaneamente me deixa muito, muito feliz. Sério, gente... Eu amo vocês.

Boa leitura e divirtam-se.



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“- Bom, eu não sei vocês, mas eu estou com fome. Alguém topa assaltar a geladeira comigo? – Maxon propôs. Eu fiz uma cara de repreensão, mas não deu certo.

– Pai, que feio! Esse é o exemplo que o senhor dá pra mim? – Nicole brincou.

– Tudo bem, me deixa mudar isso: Alguém aceita fazer uma visita cordial às criadas que ficam na cozinha e aproveitar a ocasião oportuna para nos alimentarmos? – Maxon se corrigiu e nós rimos muito, mas por fim concordamos.

Saímos dali rindo e abraçados, deixando as preocupações para depois e sem perceber que a luz vermelha da câmera ainda estava acesa.”

::

– Hoje foi um bom dia, não acha? – Perguntei.

– Sim. Recebemos a visita de Addae pela manhã, de Andrew na parte da tarde, Lucy e Evans vieram pra cá, as notícias sobre o meu pai não são ruins, já temos alguém para nos informar sobre a sua mãe e ainda fizemos o chamado. Um dia e tanto. – America respondeu sentando na cama ao meu lado.

– Minha mãe já deve ter recebido a carta. Espero que dê tudo certo e ela consiga nos responder.

– Temo por Addae. Não gosto nem de pensar no que aconteceria se Clarkson descobrisse sobre ele. – Estávamos ambos olhando para frente, conversando sem nos encararmos.

– Você sabe qual é a pena por traição, Ames. Só nos resta torcer para que ele não seja descoberto. – Disse, sendo realista.

– Max? – Ela hesitou.

– O que? – Olhei para ela.

– Como acha que seu pai reagiu? – Disse fitando os meus olhos. Não precisei perguntar para saber do que se tratava.

– Ele deve ter ficado furioso. Não me surpreenderia se demitisse os funcionários responsáveis pela transmissão.

– E o que acha que ele vai fazer? Porque parado ele não vai ficar. – Podia ver a preocupação em seus olhos. America geralmente era quem me confortava quanto às minhas dúvidas, mas mesmo ela não está segura do que estamos fazendo, afinal tem muita gente envolvida. Depois de tantos anos acostumada a cuidar de nações, – no plural, porque os italianos entram na lista – é inevitável pensar nas consequências que recairão sobre o povo.

– Se o povo nos apoiar, não há com o que se preocupar. – Ela tentou entender o sentido das minhas palavras por um tempo, mas desistiu e resolveu me perguntar.

– O que você quer dizer?

– Quero dizer que depois que você subiu com Nicole para o quarto, eu falei com o Andrew que era imprescindível que meu pai não voltasse ao ar até amanhã e entreguei o DVD com os vídeos que fizemos na semana do nascimento da nossa filha para deixar bem claro que falávamos a verdade sobre a nossa família. Ele disse que estava cuidando de tudo e que nós não precisamos nos preocupar com nada por enquanto. Os que estão correndo risco mesmo são os habitantes de Angeles porque o exército está aqui, mas se a massa nos apoiar, meu pai vai fazer o que? Explodir a capital? Como ele ficaria depois? O problema vai ser se apenas grupos isolados nos apoiarem. O mais provável é que, se forem poucos, sejam levados presos. –Expliquei.

– Ou talvez seu pai mande executar pessoas para servirem de exemplo.

– Bem, temos 400 soldados a nossa disposição. Podemos tentar proteger o povo de Angeles. – Sugeri.

– Sim, mas... – Ela parou de falar no meio da frase, fechando os olhos de repente e dando um tapa na testa como se tivesse feito alguma bobagem – Como foi que deixamos isso passar? Eu sou tão idiota! A coisa mais simples! – Disse se levantando da cama, e vestindo o roupão já em direção à porta.

– America, o que foi? O que nós esquecemos? – Perguntei em estado de alerta e tentando pensar em algo que possamos ter deixado passar.

“Quem nos apoiar, use azul amanhã”. Quem é que vai estar nas províncias pra ver e nos dizer se as pessoas estão de azul, Maxon? Supondo que enviemos cinco soldados para cada província, então serão... 5x5=25, sobem 2, 5x3=15, com 2= 175. – Fez a conta mentalmente.

– America – Chamei.

–... Cento e setenta e cinco soldados!... – Continuou falando, mas para si mesma do que para mim.

– America – Tentei outra vez.

–... Mais o reforço para Angeles, sem esquecer a nossa família,... – Enumerou sem me dar atenção.

–America - Chamei de novo, tentando não perder a paciência.

–... Porque eu não vou deixar Nicole sem proteção... – Agora ela apontava para mim acusadoramente, como se eu estivesse cogitando deixar nossa filha desprotegida.

– AMERICA! – Gritei.

– O QUE? – Respondeu no mesmo tom.

– Se acalma! Acha mesmo que teríamos esquecido isso? Esse foi um dos assuntos que tratei com Aspen hoje. O lado bom de termos muitos soldados é que eles vieram de várias partes do país e ainda têm família por lá. Neste exato momento, muitos deles estão revezando com o telefone para pedir ajuda às suas famílias, que serão nossos olhos e ouvidos. Amanhã, sairão dois soldados para cada província apenas para recolherem as informações nos locais marcados. Estamos dando um jeito, Ames. – Ela suspirou aliviada e se sentou novamente na cama, agora afastada de mim.

– E o dinheiro para o transporte? Eles vão de avião, de carro...?

– Os que forem para as províncias mais próximas vão de carro. Os outros vão de avião. Recebemos doações hoje. Dos soldados, pelo correio,dos seus irmãos...

– Pelo correio? – America arqueou uma sobrancelha.

– Tem mais gente lá fora nos apoiando. – Respondi. America ficou um tempo encarando o chão, refletindo.

– Você disse que esse foi um dos assuntos que conversou com Aspen. Qual foi o outro? O que deveria me deixar preocupada? – Me fitou novamente e eu bufei.

– Não quero que se preocupe America.

–Acho isso meio difícil. Estou sempre preocupada. – Cruzou os braços e ficou esperando minha resposta.

– Estamos sem armas. E não dá para tomar o palácio com paus e pedras. – Disse de uma vez.

– Eu já tinha pensado nisso, mas pensei que Aspen já tinha um plano em mente, porque ele não veio pedir ajuda. E então, o que vocês conversaram?

– Vamos invadir o palácio amanhã. – America arregalou os olhos como se não esperasse ouvir essa frase tão depressa – Pretendemos saquear o arsenal.

– Mas vocês terão praticamente que atravessar o palácio inteiro. E o arsenal é uma das partes mais protegidas. – O nervosismo dela era quase que palpável.

– Escuta; cada coisa a seu próprio tempo. Aspen e eu temos um plano. Vai dar certo! – Confortei-a, me aproximando e abraçando-a. Ficamos um tempo em silêncio até ela se afastar bruscamente procurando meus olhos.

– Você não está pensando em ir, está? – Disse desesperada.

– Não. Eu tenho uma missão ainda mais importante amanhã. – Respondi.

– Qual? – Perguntou temerosa. Eu segurei o seu rosto com as duas mãos, me assegurando de que ela entenderia cada palavra que eu dissesse.

– Proteger de perto a minha noiva e a minha filha. Estamos juntos nessa, Ames. Nada vai fazer com que eu me afaste de vocês, entendeu?

Ela assentiu e me beijou. Inicialmente, foi um beijo calmo, onde meu maior objetivo era fazê-la se sentir segura. Depois, o beijo foi ganhando uma nova forma, com mais desejo e saudade. Quando separei nossos rostos e me afastei, me deparei com uma America confusa com minha atitude. Sorri e fui trancar a porta. Afinal, precisávamos de privacidade.

O dia amanheceu e, depois da nossa higiene matinal, descemos para o café no jardim. O pensamento de que as refeições ao ar livre com nossos aliados – resolvemos parar de chamá-los de desertores – estavam se tornando rotina me fez sorrir. É um novo hábito agradável. America e eu fizemos uma espécie de acordo silencioso em que todas as preocupações ficariam para depois do café da manhã. Era praticamente inevitável não pensar nos problemas, mas ficaríamos loucos se não tentássemos. Então pensei em frivolidades para distrair minha mente. Ou pelo menos tentei.

– America? – Chamei-a olhando para o céu.

– Que foi? – Olhou para mim e depois para o céu também.

– Acha que vai chover? – Perguntei e America sorriu, provavelmente lembrando o mesmo que eu.

Assim que Lucy chegou, insistiu com Aspen para que ele tentasse mover as pessoas para dentro da casa. Ele bufou contrariado por ter que remexer no assunto das instalações, mas ela garantiu que o ajudaria. Além disso, disse e eu repito com as palavras exatas: “E se chover, todos ficarem resfriados, pegarem uma pneumonia, e morrerem? Trate de fazer alguma coisa, ou é você quem vai arcar com as despesas na funerária”. Aspen revirou os olhos, resmungou alguma coisa do tipo “Tudo eu!” e começou a organizar a mudança dos nossos aliados para dentro da casa. É claro, depois de um telefonema para o Hospital e com a devida permissão da minha sogra.

– Não é possível que tenhamos tanto azar. Angeles fica sem chover por meses inteiros apenas para acontecer logo agora? – Ela fez uma careta – E não precisamos de um surto de pneumonia, precisamos?

– Não. Definitivamente, não precisamos de nenhuma epidemia.

Nos surpreendemos quando aparecemos no quintal e estavam todos usando azul. Já sabíamos que eles estavam ao nosso lado, não precisavam se vestir na cor. Vi quando a boca de America se abriu num perfeito O.

– Gostou da surpresa, tia Meri? – Evans veio em nossa direção, acompanhado de perto por Nicole.

– É... É cla... É claro que sim. – Gaguejou. America estava sem palavras e eu não estava muito diferente.

– Evans tinha um gravador. Ele estava gravando o que estávamos falando ontem. Por isso ficou ao lado de Andrew e por isso não o vimos mais depois que o Chamado acabou. – Nicole explicou e Evans deu de ombros.

– Não ia dar pra todos assistirem ontem, e a notícia se espalhou. Então eu deixei meu gravador na mão de um soldado, que passou pra outro, que passou pra outro, que passou pra outro, e assim foi. – Ele fez uma pausa e coçou a cabeça, meio constrangido com algo – Tio Max, será que você pode subir num banco e perguntar com quem ele parou? – Nicole revirou os olhos e fez isso ela mesma. Uma criada entregou o gravador a Evans, que agradeceu e sorriu.

– Foi muito bem pensado, Evans. – Elogiei e ele sorriu sem graça. Apesar de estar me chamando de Tio Max, ainda não tinha se acostumado a isso.

– Obrigado, tio.

Tomamos o nosso café da manhã e vimos quando chegaram vários carros, levando os setenta soldados que iam atrás de notícias. Alguns iriam para o aeroporto, outros fariam caminho direto para outras províncias.

Voltamos para dentro de casa e America ligou para a mãe no Hospital da Monarquia, que disse que Shalom ainda não tinha melhorado, mas que a cada dia aparecem menos repórteres.

– Ainda nada? - Perguntei assim que ela desligou o telefone e veio até o sofá.

– Nada.

– Vai ficar tudo bem. – Confortei-a.

Até um pouco depois do almoço o dia passou como um borrão, sem grandes atrativos. America e eu ficamos sentados lendo o livro das Grandes Construções de Illéa e analisando seus mapas ao som dos gritos e gemidos dos soldados em treinamento.

A situação mudou um pouco de tarde, que foi quando uma criada me entregou uma carta vinda do palácio.

– É uma carta de Addae. – Expliquei para America, já abrindo o envelope – Como foi que ele mandou isso pra cá? – Perguntei à criada.

– Eu não sei. – Respondeu simplesmente. Eu assenti e ela saiu. Voltei minha atenção para o envelope e percebi que dentro dele tinha duas cartas e um cordão de ouro. America e eu nos entreolhamos antes de começarmos a ler uma delas.

Maxon e America,

Estão se perguntando como enviei a carta, não estão? Imagino que sim. Agradeçam a seu General pela ideia. Pedi que um mordomo levasse a carta para a agência de correios e vocês provavelmente notaram que a carta está endereçada à senhora minha esposa. No caminho, o mordomo foi misteriosamente assaltado por dois desconhecidos. Quando voltou para me relatar do ocorrido, reclamei muito da violência nessa província e do quanto eu sinto falta da minha pacífica Sumner. Saúdem, por favor, aos dois soldados atores por mim. E deixo avisado que vou querer meu cordão de volta depois.

Minha missão de mensageiro foi concluída com êxito, mas não foi uma tarefa fácil. Quase fui pego. Felizmente, consegui escapar sem que ninguém me notasse. No entanto, seria um risco enorme tentar repetir isso e não sei como faríamos para trocar a correspondência. Espero que esta carta lhes satisfaça por hora.

A situação no palácio não é das melhores. Devo cumprimentá-los pela excelente apresentação e dizer que torço para que consigam o resultado esperado. Clarkson está furioso. Ao que me parece, conseguiram voltar ao ar por alguns minutos, mas o relógio já marcava três da madrugada e ninguém em Illéa assistiria. Pela manhã, não conseguiram repetir a proeza. Nem preciso dizer que a equipe de transmissão atual não é a mesma de ontem. E também não é surpresa dizer que a equipe atual está com seu emprego em risco.

Tivemos uma reunião mais cedo sobre como evitar essa traição, ou como punir os traidores. Apelei para o bom senso no caso de toda a população aderir ao movimento. Disse que se isso acontecer e nós matarmos ou subjugarmos os traidores, então não haveria sobre quem governar. Clarkson sugeriu que eu também fosse um traidor, mas como ainda existem conselheiros sensatos, viram a verdade nas minhas palavras e me defenderam. Perguntou, então, o que eu espero que façamos e eu respondi que, se toda a população se levantar numa manifestação pacífica como vocês pediram, devemos reagir da mesma forma que fizemos com os levantes na época da deposição de America. Esperar os ânimos se acalmarem. Além disso, ele deveria continuar a difamá-lo e se preparar para um eventual ataque, que eu disse acreditar que demoraria.

Minha sugestão foi aceita, então se preparem e venham o mais rápido possível para que ele não esteja esperando por vocês.

Espero ter ajudado.

Com meus melhores votos de sorte e coragem,

Lord Addae.

Olhei para America para ver se ela já tinha terminado a leitura, e vi que não. Esperei um pouco e ela olhou para mim.

– Veja o lado bom: – Ela disse – Até eles já estão assumindo que toda a população vai nos apoiar.

Assenti, tentando ser otimista também. America ajeitou sua posição e chegou mais perto de mim, esperando pela carta da minha mãe.

Meus filhos,

Eu amo vocês.

Sei que devem estar ansiosos por notícias minhas, mas não há muito que dizer. Estou sendo mantida presa no meu quarto como vocês já sabem, mas não é tão ruim. Clarkson faz todas as refeições comigo e eu ainda posso trabalhar com meus projetos, que ele analisa todas as noites.

No entanto, parece que os últimos dias têm demorado a passar, e eu fico pensando o quão perto estive de conhecer minha neta e voltar a ver minha filha.

Se há algo que eu lamento mais do que isso, é não ter notícias de vocês. Fico ansiosa em saber se estão todos e o que estão planejando. Sei que não enviaram muitas notícias para não correrem risco, e eu os teria repreendido se enviassem, mas minha curiosidade apenas aumenta conforme passam os dias.

Sei que o que Clarkson fez não foi certo e, se eu pudesse, os ajudaria. Mas ainda assim, seja lá o que pensam em fazer, não permitam que ele seja assassinado como um inimigo da Monarquia. Apesar de tudo, ele acredita que está fazendo o melhor para Illéa; acredita que está fazendo o certo. Suas intenções são justas, mesmo que todo o resto não seja.

Poderia escrever muitas coisas neste papel, mas tenho apenas um último pedido a vocês. Façam o que tem que fazer e não se preocupem comigo. Sei que querem me proteger, mas eu estou segura com meu esposo também. Nenhum de vocês planeja me machucar. E se, contrariando as possibilidades, algo acontecer comigo,eu sei que sou uma mulher com fartura de dias, para não dizer que sou velha, e fui rainha por muitos anos. Minha memória permanecerá viva nos corações dos filhos e filhos de Illéa e isso me deixa feliz.

Um abraço forte e um beijo suave em minha linda neta, Nicole, em minha forte filha, America, e em meu amado filho, Maxon.

Eu os amo muito.

Com amor,

Amberly Schreave.

Abaixei a carta e nós ficamos em silêncio, apenas assimilando as palavras da minha mãe. Quase me assustei quando America desfez o silêncio.

– Eu serei realizada se conseguir ser a metade da mulher que nossa mãe é.

– Vocês duas são maravilhosas. Cada uma a sua própria maneira, mas as duas são maravilhosas. – Garanti.

Voltamos a ficar em silêncio e eu deitei no sofá, apoiando minha cabeça no colo da minha noiva, que começou a acariciar meu cabelo.

Ficamos bastante tempo ali, até Aspen entrar na sala, acompanhado de Lucy.

– As notícias começaram a chegar. – Ele disse e eu me sentei.

– Boas notícias? – Perguntei.

– Ótimas notícias. – Aspen respondeu. Percebi que ele pretendia continuar, mas foi Lucy quem fez isso.

– Os primeiros soldados a voltar obviamente foram os de Angeles. Blusas azuis, calças azuis, pulseiras, colares, enfeites de cabelo, maquiagem... Tudo azul. Disseram que alguns até colocaram panos azuis nas portas das casas e outros estenderam roupas azuis em varais.

Vi America sorrir aliviada, e eu sabia que o principal motivo é que esse apoio poderia significar segurança.

– Então temos uma província. Faltam trinta e quatro. – Falei, mas sem nenhum pessimismo na voz.

Nos permitimos ficar esperançosos, enquanto aguardávamos mais notícias.

– Vou ligar para a Nick. Prometi que a manteria informada. – America disse e se levantou saindo da sala, claramente procurando privacidade para conversar.

POV: Aspen

Durante aquela tarde, os soldados chegavam trazendo notícias praticamente a cada hora. E elas não poderiam ser mais promissoras. Anotei as informações que recebi e comparei com uma lista que pedi para Maxon fazer sobre quais castas eram predominantes em cada província. Conforme as notícias iam chegando, reparei que as províncias em que nossa causa gerou maior aceitação foram as que as castas mais baixas predominavam.

Eu já esperava por esse resultado. Os que permaneciam ao lado de Clarkson eram os que se beneficiavam com o sistema de castas.

No entanto, mesmo que não todos, tínhamos um bom número de Dois e Três aliados também. Acredito que o apoio deles seja ideológico. Provavelmente por alguma experiência ruim com o sistema de castas a alguém próximo, como aconteceu com Addae, ou talvez por ainda se ressentirem do que aconteceu com America, como uma espécie de resquícios das manifestações que aconteceram há onze anos.

Além disso, é certo de que, se não todos, então a maioria ficou comovida pela visão familiar que tiveram de Maxon, America e Nicole. Ela provou que o abismo entre a realeza e povo não é tão grande, porque, no final, eles também são apenas mais uma família, filhos e filhas de Illéa e não apenas rostos sob coroas.

Enquanto setenta dos nossos aliados estavam percorrendo as trinta e cinco províncias de Illéa, eu estava explicando o plano aos que iriam invadir o palácio comigo. Chamei apenas os soldados mais experientes para essa invasão, porque eu precisava chegar até o arsenal sem chamar atenção e eles conheciam melhor o palácio do que os novatos. Se chamássemos atenção antes de estarmos com as armas... Nada legal!

Felizmente, até agora, tudo está saindo conforme o plano. Desde que eu fui para a Itália, aprendi coisas novas sobre treinamento de batalha e, mesmo que eu desejasse que as coisas não tivessem acontecido como aconteceram, essa é uma excelente forma de eu me provar.

Os generais italianos levam os estudos sobre a guerra muito a sério. Lembro-me de que um dos livros que mais me ajudaram com isso foi sobre um general chinês que viveu no século IV a.C., Sun Tzu. Os princípios que aprendi com ele ainda me norteiam até hoje.

“Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio será derrotado em todas as batalhas.” (A arte da guerra, Sun Tzu).

Sabendo disso, comecei a comparar nossas forças. Avery me contou que o estrategista do palácio ainda era o mesmo da época da Seleção. Já começamos bem, porque aquele velho não sabe planejar guerras direito. Como eu sei disso? Simples. A parte illeana da Guerra com a Nova Ásia estava sendo planejada por ele, e já estava insustentável. Se não fosse pela interferência de Maxon assim que se tornou rei, e de algumas sugestões minhas, teríamos perdido, sem dúvidas.

Não conhecia o novo Chefe da Guarda do palácio. Avery disse que o último se aposentou alguns anos após a minha ida para a Itália, mas traçamos um perfil dele: impaciente, rígido, intolerante... O tipo de cara que obtém respeito através do medo. Bem diferente de mim, por exemplo, que estou construindo um laço de companheirismo com meus soldados.

Eu tive que analisar o terreno também. Desde que estamos invadindo o palácio, vamos entrar no terreno deles, ou seja, todo cuidado é pouco. A vantagem, é que sabemos onde fica cada mísero corredor escondido desde que Addae nos enviou o livro das Grandes Construções de Illéa. Eu preciso me lembrar de dar um troféu para aquele velho careca. Ele foi de muita ajuda.

Teoricamente, eu deveria comparar a disciplina dos soldados, mas como eles estão aqui há menos de três dias, ainda posso dizer que a disciplina dos meus é idêntica aos do palácio. É óbvio que estou tentando manter um ritmo de exercícios físicos e acrescentando uns exercícios para o trabalho em equipe mesmo que eles estejam aqui há pouco tempo. Segundo alguns relatos que ouvi, os soldados do palácio tem muito treino individual, mas não são muito bons em grupo. Se não tiverem um líder gritando ordens, ficam perdidos como baratas tontas. Isso, é claro, é uma vantagem evidente para o nosso lado.

Mas por mais vantagens que tenhamos, a superioridade militar deles é um grandessíssimo problema. E a superioridade bélica é catastrófica. Saquear o arsenal do palácio é uma necessidade.

Outra diferença alarmante entre nós é que, enquanto nossos soldados lutam por uma recompensa, os do palácio lutam por temer a punição por alta traição. A grande massa dos soldados vem de castas mais baixas, ou seja, o desejo por uma Illéa sem castas está lá, escondido sob uma camada de covardia.

– Aspen, o que está fazendo? – Reconheci a voz da minha esposa.

– Dando uma revisada nos dados. – Respondi ainda sem olhar para ela.

– “Ser invencível depende da própria pessoa, derrotar o inimigo depende dos erros do inimigo”. – Lucy citou e eu finalmente a fitei abismado.

– Sun Tzu. Como sabia disso? – Ela revirou os olhos.

– Você tem o hábito de ler alto. E eu já perdi a conta de quantas vezes você mencionou esse cara quando estávamos na Itália. Eu memorizei algumas frases. – Deu de ombros como se não fosse nada de mais.

Eu puxei Lucy para um beijo. Se planejar uma batalha era estressante quando era apenas um treinamento na Itália, agora que é real é muito pior. Mas Lucy sempre dá um jeito de mostrar que se importa com o que eu faço e que está aqui se eu precisar. E eu a amo por isso.

– Se eu soubesse que reagiria assim com uma simples citação, teria feito isso mais vezes. – Brincou assim que o ar se fez necessário e eu sorri – “Administrar um exército grande é, em princípio, igual a administrar um pequeno: é uma questão de organização”.

Deduzi que quando Lucy fizesse citações de guerra é porque ela quer que eu pare de falar de guerra para ficar com ela. Obedeci à sua indireta e a beijei de novo.

– Lucy... Eu... Preciso... Preciso... Planejar o... O ataque... – Murmurei entre beijos, sem a menor vontade de voltar a planejar o ataque. Lucy se afastou de mim e se sentou na cama, me deixando em pé no meio do quarto observando seus movimentos.

– Pode ir. Volte a planejar seu ataque. – Fiquei estático e um pouco irritado por termos sido interrompidos, mesmo que tenha sido eu a sugerir isso.

– Lucy... – Temi que ela tivesse ficado chateada. Quando isso acontecia, eu recebia tratamento de silêncio.

– Está tudo bem. Eu entendo. – Ela garantiu.

– Quer saber? – Eu perguntei e ela me encarou.

– O que? – Ela perguntou confusa.

– Chega de planejar. Eu acho que já está na hora do ataque. – Sugeri e ela sorriu compreensivamente.

– E a estratégia já está pronta? – Ela perguntou enquanto eu me aproximava.

– Ainda não. Primeiro eu preciso fazer um reconhecimento do terreno. – Sentei de frente para ela e comecei a desabotoar sua blusa. – Depois, preciso conferir se os soldados estão prontos para a luta. – Continuei.

– Disciplina, condições físicas, trabalho em equipe... Essas coisas? – Lucy me perguntou enquanto lutava com os botões da minha blusa.

– Exato. Isso sem contar com o sistema de recompensas e punições. – Continuei, lhe lançando olhares sugestivos.

– “O comandante é o equilíbrio da carruagem do Estado. Se este equilíbrio estiver bem colocado, a carruagem, isto é, a nação será poderosa...” – Impedi que ela continuasse empurrando-a para trás e beijando-a e, por fim, fazendo a minha investida.

Algum tempo depois nos encontrávamos ambos abraçados e ofegantes, agora lutando contra a vontade de dormirmos um pouco. Mas não pude me permitir dormir. Um palácio precisa ser saqueado.

Me levantei da cama com um gemido de protesto de Lucy. Fui em direção ao meu banheiro, tomei um banho rápido, e coloquei uma roupa inteiramente preta. Com o auxílio da lua nova, tentaríamos passar despercebidos hoje.

Enquanto Lucy tomava banho para descermos para o jantar, analisei o mapa do palácio mais uma vez, fitando o caminho que precisaríamos passar para chegar ao nosso destino. Mesmo com o treinamento que eu continuava fazendo, essa seria a primeira vez em muitos anos que eu poderia estar num combate real. Não que eu esteja nervoso, normalmente apenas fico concentrado. Sempre soube que o nervosismo apenas atrapalha. Se conseguirmos fazer com que Maxon, America e Nicole voltem ao poder e se eu me tornar de fato o Estrategista Real e o Guardião da Família Real, então treinarei minha equipe de elite a lidar com as situações um passo por vez. O nervosismo está associado ao medo do futuro e do desconhecido, se vivermos apenas o presente, é mais fácil se concentrar no que está acontecendo a sua volta.

Assim que Lucy terminou de se arrumar, foi conferir Evans no quarto que dividia com Nicole e, depois de alguns minutos, descemos todos para o jantar. Os soldados que foram para mais distante ainda estavam chegando, mas percebi que a maioria já estava de volta e comentando a experiência em suas respectivas províncias.

America e Lucy se afastaram para conversar um pouco, enquanto Maxon e eu comentávamos sobre o resultado do Chamado também. De Nicole e Evans, nem sinal, mas geralmente era assim mesmo. Cada jantar eles passavam perto de soldados ou criadas diferentes.

– Como Lucy reagiu? – Maxon me perguntou de repente, mas sem olhar para mim. Segui o olhar para a mesma direção que ele e vi nossas esposas paradas conversando seriamente.

– Ela não conversou muito comigo sobre o que acha disso. Está tentando ser forte. Ela sabe que eu tenho um instinto protetor e não quer dar motivos para eu me preocupar ou desistir de ir por ela. – Respondi sem dúvidas na voz. Os anos me fizeram conhecer Lucy de uma forma que eu não julguei ser possível.

– Faria isso? Desistir, eu quero dizer. – Me perguntou.

– Me responde você. – Repliquei – Desistiria de tudo por sua família?

– Sim. – Respondeu sem pensar duas vezes.

– Eu também. – Confessei, enquanto observava elas voltarem.

Cedo demais e já estava na hora de partirmos.

– Boa sorte, Aspen! – Maxon me deu um abraço.

– Obrigado. – Respondi simplesmente e me afastei do abraço. Se alguém me dissesse há anos atrás que o príncipe de Illéa seria um dos meus melhores amigos, eu não teria acreditado.

– Se cuida, Aspen. Não vai tentar dar uma de herói, ouviu? – America me abraçou também. Eu sorri e prometi que iria fazer o possível.

– Tio Aspen, - Nicole correu em minha direção e eu a levantei do chão em um abraço – o senhor consegue! – Para uma criança, Nicole tinha tanta certeza na voz que era impossível não acreditar nela. Coloquei-a no chão e levantei o meu garoto, que me observava atentamente.

– Eu volto logo, tudo bem? – Perguntei e ele assentiu.

– Me conta como foi quando voltar? – Perguntou entusiasmado. O fato de eu ser um estrategista enchia meu filho de orgulho e eu só conseguia sorrir diante disso. Sorrir e me esforçar para ser digno do orgulho dele.

– Conto. Pode deixar, filhote. – Concordei e recebi um abraço apertado seu.

Lucy veio em minha direção e eu envolvi sua cintura com meus braços.

– Escuta aqui. Eu não quero ter que contar essa história ao nosso filho. Eu acho muito bom voltar para contá-lo você mesmo. – Ela fez uma carranca de seriedade para mascarar seus olhos vermelhos.

– Sim, senhora. – Abracei-a e ela escondeu o rosto contra o meu peito.

– Eu sei que você tem que ir... Mas me prometa que vai voltar. – Ela pediu.

– Eu prometo. – Sussurrei para que só ela ouvisse. Percebi que não tínhamos plateia. America e Maxon tinham levado Nicole e Evans para um pouco mais distante de onde estávamos e eu apreciei a privacidade – Você não vai se livrar de mim nem se quiser, entendeu?

– Que bom. Porque eu não quero. – Ficamos quietos por um tempo até Lucy quebrar o silêncio - “Um comandante militar deve atacar onde o inimigo está desprevenido e deve utilizar caminhos que, para o inimigo, são inesperados”.

Ela citou, me lembrando da nossa conversa mais cedo e eu a beijei.

– Eu te amo. – Declarei – Mas isso não é uma despedida.

– Eu sei. E eu te amo também. Volte logo. – Ela pediu.

– Voltarei.

Lucy se afastou do meu abraço e eu acenei para America, que voltou para perto de nós junto com Maxon, Nicole e meu filhote.

– Aspen, já está todo mundo aqui. Assim que você quiser, podemos ir. – Avery apareceu me alertando.

– É... Vamos nessa! Até mais tarde – Respirei profundamente e fui ao encontro dos meus soldados.

– E aí? Todo mundo pronto? – Kota perguntou. Ele e James iriam dirigir até nos deixarem próximos ao muro do palácio. Poderíamos ir andando, porque a distância não é tão grande, mas dez homens vestidos inteiramente de preto durante a noite seria, no mínimo, suspeito.

– Estamos. – Respondi e entrei no banco do carona do carro de James. Avery entrou no banco do carona no carro de Kota e os outros oito soldados se dividiram e se espremeram no banco de trás dos carros.

Alguns minutos depois, desembarcamos a leste do palácio, nos movimentando em silêncio e sendo protegidos pelas árvores densas e pela escuridão. A alguns metros de distância do muro, ficaríamos a céu aberto, sem a proteção das árvores.

Parei os soldados um pouco antes de isso acontecer.

– Estamos quase lá. Quando ficarmos a céu aberto vão precisar tomar mais cuidado. De acordo com o livro, esse é o único ponto cego das torres de vigia do palácio, mas ainda assim, não dá pra descuidar. Quando entrarmos no palácio, sejam ainda mais silenciosos. Qualquer atenção que chamarmos pode significar nossa morte. Se precisarem entrar em combate com alguém, a prioridade é silenciá-los. Não deixem que chamem ajuda. E não estamos aqui para matar ninguém. Se for necessário, subjuguem. Illéa precisa de nós hoje. Podem entrar comigo e viver ou morrer com honra ou voltarem agora para suas famílias, desonrados pela covardia. Vocês estão comigo? – Perguntei e todos assentiram – Então está na hora. Vamos lá.

Depois desse meu pequeno discurso, fomos em direção ao muro do palácio, encurvados, rápidos, silenciosos e atentos.

Graças a um feriado que Gerad passou na França, tínhamos um equipamento de alpinismo emprestado, que nos ajudaria muito na tarefa de entrar no palácio. Infelizmente era um processo lento, desde que teríamos que subir um por vez, e perigosamente audível. Mas estávamos numa parte suficientemente afastada para não precisarmos nos preocupar com o barulho.

Passamos carbonato de magnésio nas mãos, preparamos os equipamentos e nos aventuramos a escalar o muro. Eu fui o primeiro e Avery, o último. Um dos soldados, Trevor, caiu na hora de descer, mas eu e Eric o seguramos na queda. Ele fez uma auto-avaliação rápida e constatou que estava bem e que podia prosseguir sem problemas. Esperamos até os outros chegarem e recolhemos os equipamentos, guardando todos eles em uma única mochila. Iríamos precisar das outras para transportar as armas.

Fizemos uma inspeção rápida do local. Se tivéssemos errado o local e alguém nas torres de vigia tivesse nos visto, então o alarme já teria tocado e a essa hora uma dezena de soldados entraria em formação para nos impedir de entrar no palácio. Esperei pelo som do alarme, mas ele não veio. Suspirei aliviado.

– Eric, faça uma marca para sabermos por onde devemos voltar. – Ordenei e ele fez um corte em X numa árvore próxima e colocou uma pedra no lugar que descemos. – É o suficiente. Vamos.

Conferi a bússola e fomos em fila para uma parte um pouco menos vigiada do palácio. Teria que me lembrar de consertar isso quando voltar, por que essa área seria justamente a que nos permitiria entrar.

Nos escondemos após perceber uma movimentação nos corredores do segundo andar e esperamos alguns segundos antes de nos movimentarmos de novo. Corremos agachados até a parede e eu comecei a tateá-la, procurando o abrigo para criados que eu sabia que tinha ali pelos meus anos de guarda e pelo livro.

– Eu faço isso. – Avery sussurrou e encontrou a entrada muito mais rápido do que eu faria. Fiquei instantaneamente contente por ter apenas soldados experientes. Entramos no abrigo rapidamente e a porta se fechou. Tateei a parede novamente, dessa vez procurando o interruptor. Quando acendi a luz, vi meus soldados procurarem a passagem subterrânea que sabíamos que tinha ali. A maioria dos abrigos tinha apenas uma entrada e uma saída, mas alguns poderiam ser usados como rota de fuga no caso de um risco à família real. Parece irônico que estávamos usando uma rota de fuga para entrarmos e não para sairmos.

Encontramos algumas caixas com suprimentos de emergência e revistamos. Guardei a caixa de primeiros socorros e Trevor entregou uma barra de cereal para cada soldado.

– Comam. E torçam para que não seja nossa última refeição. - Disse.

– Não vai ser. Pare de ser pessimista. Está tudo de acordo com o plano até agora. – Falei

– Ainda não encontramos a passagem. E temo que sair do palácio seja um pouco mais difícil do que entrar.

– Para que está se preocupando em sair? O plano agora é entrar. Uma coisa de cada vez. – Adverti, comi minha barra de cereal e afastei as caixas – Aí está sua passagem. Então, o que você dizia mesmo?

Trevor me encarou e terminou com sua barra de cereal.

– Nada. Vamos.

Peguei uma lanterna na minha mochila e liderei o caminho pelos corredores estreitos. Escada, direita, esquerda, esquerda, direita, escada, esquerda. Saímos num quarto de uma das criadas, que felizmente, estava dormindo.

Saímos no corredor e procuramos a outra passagem na parede. Repetimos isso umas quatro vezes. Enquanto nos movíamos pelos corredores ocultos, estávamos seguros.

Chegamos à Ala dos Soldados, e eu sabia que esse era o máximo que conseguiríamos nos locomover sem grande risco de nos expormos.

– Agora as coisas ficam difíceis. Toda atenção é pouca. Estamos praticamente na metade do corredor dos alojamentos, e precisamos passar pelos vestiários, pelos Salões de Treinamento 1 e 2 e pela Academia antes de chegarmos a um corredor de dez metros que dá na entrada do arsenal. – Relembrei o caminho.

– Sem querer desanimar, mas o que estamos fazendo é loucura, sabiam? Estamos nós dez na parte do palácio que tem mais guardas. Por quê? Ah é! Porque aqui é a Ala dos Soldados. – Eric falou.

– E o que você esperava? O arsenal fica aqui. É aqui que precisamos estar. Redobrem a atenção e calem a boca antes que acordem todo mundo. – Ordenei.

– Se bem que a essa hora apenas os guardas de plantão estão acordados e não vão fazer rondas por aqui. O risco é trombarmos com algum guarda saindo do quarto de alguma criada ou perambulando pelos corredores. – Avery comentou e eu concordei.

– Tudo bem, agora calem a boca antes que a gente chame atenção.

Assim que saímos do quarto onde estávamos para o corredor nos deparamos com um guarda. Ele arregalou os olhos e ameaçou gritar, mas não antes de Josh nocauteá-lo com um gancho de direita e levá-lo à inconsciência.

– Nunca gostei dele. – Disse, enquanto escondia o corpo para não alertar ninguém que passasse por ali.

– Temos que ser rápidos. Se ele acordar, estamos ferrados. – Falei.

Seguimos a passos rápidos e cuidadosos pelos corredores e tivemos que passar escondidos pela porta do Salão de Treinamento 2 que estava com a porta aberta e tinha dois homens lutando. Quem em sã consciência treina na hora que deveria estar dormindo? E por que essas portas têm que ser tão grandes?

Mas é claro que Peter tinha que tropeçar.

– Você ouviu isso? – Ouvimos uma voz perguntar dentro do Salão de Treinamento e nos apressamos para virar uma esquina e sair da vista deles.

– Você só está tentando me distrair, cara. Sabe que não consegue me vencer numa luta justa. – Continuamos ouvindo a conversa.

– Não, cara. Dessa vez é sério. Espera aí.

Ouvimos passos em nossa direção e eu me preparei para atacá-lo. Mas, ao que parece, ele não quis procurar tanto assim.

– Deve ser só o Robb saindo da academia pra se aventurar no quarto da Katherine.

– Acha que ele consegue? Da última vez ele tomou um tapa na cara.

– E dessa vez é capaz dele tomar um chute onde o sol nunca bate. Aquela garota é difícil. – Os dois riram e voltamos a ouvir sons de luta.

– Vamos. – Sussurrei.

A academia também estava aberta, mas, ao contrário da Sala de Treinamento 2, não tinha ninguém por ali. Entrei e peguei dois pesos para musculação de 1Kg.

Quando avistamos o arsenal, tinha um guarda saindo de lá e dois na porta. Joguei um peso de musculação distante da porta do arsenal de forma que ele rolasse pelo chão.

– Ouviu isso? Fique aqui. Eu vou ver o que é. Fiz um sinal para Avery que saiu com mais quatro para onde ele tinha ido. Esperei eles voltarem.

– Está apagado. – Sussurrou e eu assenti.

– Falta o outro. - Joguei o outro peso de musculação na direção do primeiro.

– Bruce? Cara, tudo bem aí? – O guarda restante perguntou sem obter resposta e ficou em estado de alerta. Deu dois passos para frente com a arma em punho e olhou em volta. Quando estava preocupado conferindo a sua direita, caímos sobre ele pela esquerda e o dominamos antes que ele pudesse gritar.

– Avery, o esconda junto com o outro. Coloque o uniforme dele e depois fique de guarda na porta e avise se aparecer alguém. Você também Trevor. – Eles assentiram e foram para onde o tal do Bruce estava. – Enquanto eles estiverem se trocando, vocês três ficam aqui de guarda. Quando eles voltarem, entrem. – Apontei para Eric, Peter e Josh.

Começamos a encher as nove mochilas vazias com armas, munição, granadas e espadas.

– Ainda não entendi o porquê das espadas, se temos armas de fogo. – Charles comentou.

– Se precisarmos lutar para sair daqui e você usar uma arma de fogo, vai ser o mesmo que sair correndo e gritando “Estou aqui!”.

Ele assentiu e nós terminamos de carregar as mochilas. Depois de aproximadamente vinte minutos saímos dali e cada um colocou sua mochila nas costas. Voltamos pelo mesmo caminho que viemos, agora ainda mais ansiosos. Passar pela Ala dos Soldados não foi tão difícil quanto deveria ser.

Quando estávamos quase chegando a um dos quartos com entrada para os corredores ocultos, ouvimos uma voz, terrivelmente conhecida.

– É o rei. Toma, se escondam. – Avery e Eric nos entregaram suas mochilas enquanto nós entrávamos num quarto de hóspedes qualquer. Felizmente, o quarto estava vazio.

– Majestade. – Ouvi a voz de Eric, provavelmente reverenciando Clarkson.

– Barra limpa. Vamos. – Avery avisou e nós saímos.

Já estávamos quase no muro quando o primeiro guarda nos avistou. Quase como um pesadelo, ouvi o alarme soar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Me perdoem por qualquer erro de português. Não deu pra eu revisar.
O que acharam do capítulo???
Enviem dicas, sugestões, críticas... Gosto de saber o que pensam.
Beijos e até a próxima.



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