Pelo escuro escrita por Olavih


Capítulo 2
Seja Mal-Vinda


Notas iniciais do capítulo

heey pessoas do meu coração! Estou de volta mais cedo do que eu planejava kk. Mas enfim eu amei os comentários, realmente foi muito legal o que vocês escreveram. Enfim aqui está mais um capítulo, aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499972/chapter/2

—Kyra onde tá o achocolatado? — perguntou Ethan.

—Na prateleira de cima. — respondeu Kyra. Já havia se passado uma semana e dois dias que Ethan, Kyra e eu morávamos juntos. Eu já tinha me acostumado com o café ruim de Ethan, com a minha rotina — que era basicamente fazer ginásticas, arrumar a casa e assistir as diversas séries do Ethan — e a ficar sozinha.

Não que eu ficasse só o dia todo. Na verdade Ethan ficava comigo a maior parte do tempo. Porém Ethan era praticamente uma estátua. Ele nunca fala nada a não ser que precise achar alguma coisa. Só então ele se lembrava de que eu existia. A maior parte do tempo ele está trancado no quarto, e na outra ele está na cozinha com um livro enorme a sua frente. Sua única diversão no dia a dia e no fim de semana era dormir. Estou impressionada como ele está comendo agora.

Kyra quase nunca fica em casa. A maior parte do tempo ela está na faculdade e na outra no trabalho, ou em algum projeto voluntário. Nós conversávamos sempre que dava e quando chegou fim de semana eu sinceramente esperava que ela ficasse em casa, para que curtíssemos uma balada, como era antigamente. Mas tive minhas expectativas frustradas. Ela havia marcado um encontro com a Sociedade dos Ambientalistas Amadores que ninguém sabe que existe, mas que ela fica orgulhosa em fazer parte. Até me chamou para ir junto, dizendo-me que seria legal passear pelos campos, esfriar a cabeça. Não tenho nem que comentar qual foi a minha resposta não é mesmo?

Então, lá estava eu assistindo a quarta temporada de Lost, vendo Ethan procurar o achocolatado e Kyra procurando desesperada uma de suas meias. Kyra estava uma pilha de nervos e qualquer um que cruzasse seu caminho levava uma repreensão não muito educada.

—Eu te falei que você deveria ser mais organizada.

—Cala a boca Ethan! — rebateu Kyra. — muito ajuda quem não atrapalha.

—Até por que você já se atrapalha o suficiente não é? — replicou Ethan. Ele deu um meio sorriso e eu comecei a rir, porém reprimi a risada assim que vi a expressão de Kyra.

—Escuta aqui Ethan... — eles começaram uma discussão que eu sinceramente não estava a fim de prestar atenção. Aumentei o volume da televisão e continuei comendo a minha pipoca. Ethan se sentou ao meu lado e olhou para o balde de pipoca, pegando um pouco logo em seguida.

—Comendo pipoca de novo Evangeline? Você não se cansa? — lancei lhe um olhar repreensor e rezei para Kyra não ter ouvido. É óbvio que minhas preces não foram atendidas.

—Evangeline Marie Corner o que mais você comeu além de pipoca? — bati minha mão na própria testa. Fiquei em silêncio esperando que ela esquecesse, e por um momento achei que ela realmente o tinha feito. Até que ela me apareceu com um misto quente enorme em cima de um prato e um suco de laranja nas mãos. — come.

—Não to com fome.

—Não foi isso que eu te perguntei.

—Nossa, vai ofender mesmo? — tentei enrolá-la.

—Eva, — ela respirou fundo e se ajoelhou. — por favor, Evazinha: come vai!

—Só se você prometer nunca mais me chamar de Evazinha! — sorri e peguei o prato e o copo. Deixei em cima do sofá e continuei olhando para a televisão. Porém Kyra não se moveu. —Kyra você vai se atrasar.

—Então sugiro que você coma logo. — Kyra sorriu cínica. Droga.

—Tá. Droga. — comecei a comer e lancei outro olhar fulminante para Ethan que levantou as mãos.

—Coitada Kyra, ela não é criança. Ela come se ela quiser. — Ethan intercedeu.

—Fica quieto Ethan, que isso é coisa nossa. — levantei a sobrancelha. Então Ethan não sabia de nada? Típico de Kyra ser tão fechada. Mas no fundo fiquei feliz. Só ela já era marcação o bastante. Embora duvide que Ethan fosse se preocupar se eu estava comendo ou não.

Ethan bufou e virou-se para frente, prestando atenção ao episódio de Lost. Eu fui obrigada a comer todo o sanduíche e beber todo o suco que ela colocou para mim. Confesso que a cada mordida era como um sonho para meu estômago, que o recebeu de bom grado e por um instante eu até considerei a ideia de que seria bom comer um pouco. Assim que terminei entreguei o prato para Kyra que o levou para a cozinha, passou de volta pela a sala, deu-me um beijo na testa e saiu dizendo que voltaria mais tarde. Cinco minutos depois de sua saída eu repensei sobre ter comido muito. Minha próxima parada: banheiro.

***

—Ethan, eu estou indo para o supermercado, você vem? — perguntei.

—Não Evangeline, obrigado. Tenho prova de cálculo amanhã, além de começar um trabalho ainda hoje.

—Novidade não? Olha seria bom se você saísse um pouco, não acha?

—Pode deixar que da minha vida cuido eu tá? — Ethan e eu estávamos parados um em frente ao outro, no portal da cozinha. Ele estava com uma camiseta verde escura e simples e uma bermuda para dormir. Os cabelos que geralmente estão banhados de gel naquele momento estavam naturais, uma parte deles caindo sobre sua face. Ele parecia menos nerd e, confesso, até mais bonito e sexy assim.

—Tá, tudo bem então. — dei de ombros, peguei a bolsa em cima da mesa e dei um passo à frente. De repente o mundo começou a rodar e me apoiei em Ethan que me segurou rapidamente.

—Evangeline, está tudo bem? — perguntou ele. Minha respiração foi se acalmando e por um momento achei que fosse desmaiar. Fechei os olhos e pensei: por favor, não agora! E dessa vez deu certo. A tontura passou e logo me soltei de Ethan que me olhou com uma expressão preocupada.

—Está tudo bem sim. É só que... Fiquei tonta.

—Tem certeza?

—Claro. — arrumei minha postura e sorri confiante. —até mais.

—Até.

Continuei meu caminho pelo supermercado. Não era tão perto, mas eu não queria pegar um táxi. Tinha que andar pra perder um pouco de caloria que eu havia ganhado com a pipoca e com tudo que Kyra anda me entupindo. A paisagem aqui era bem pacífica. Árvores floridas, céu claro e limpo, as crianças corriam e algumas mães conversavam. Eu conhecia algumas delas, que me trouxeram um bolo como forma de boas vindas e por isso as cumprimentei quando passei. A maioria parecia ter mais de trinta anos e todas estavam um pouco acima do peso e pareciam ser pessoas de bem.

O caminho até o supermercado passou rápido. À medida que ia andando ia me lembrando de como era na minha antiga cidade e consequentemente de Patrick. Tudo me lembrava de Patrick. Seja alguém usando alguma coisa roxa, que era sua cor favorita, ou alguém fumando, algo que ele fazia quando estava nervoso, ou até mesmo alguém de moto, que era o meio de transporte que ele mais detestava.

O supermercado se mostrou na outra esquina e assim que cheguei peguei um carrinho. A casa estava ficando sem mantimentos e era minha função os repor. Comecei pela sessão de limpeza e peguei tudo que usava no dia a dia, fazendo as contas pra saber de quanto precisava. A casa era grande eu gostava de limpá-la pelo menos duas vezes por semana o que dava um pouco de trabalho, mas que assim eu me esquecia do tédio.

Passei pela sessão de shampoo e observei uma cena curiosa. Um homem que estava com dois absorventes na mão e uma expressão confusa no rosto. Ele era muito bonito e é claro que uma boa alma como eu não deixaria de ajudá-lo certo?

—Quer ajuda? — ofereci. Ele levantou os olhos azuis pra mim e abriu um sorriso torto maravilhoso. Contive-me para não derreter ali mesmo.

—Oh claro. É que minha sobrinha pediu para comprar um absorvente alguma-coisa pra ela, só que eu esqueci como era pra comprar. Ela disse algo sobre abas, mas aqui tem dois estilos: com abas e sem abas. E sem contar as marcas que são inúmeras.

—E porque você não liga para ela?

—Esqueci meu telefone. — ele sorriu sem jeito e coçou a nuca. Aww, eu já falei que eu amo homens com essa mania?

—Ah, não tem problema, você pode ligar pra ela do meu celular.

—Se eu soubesse o número...

—Hum, você gosta de complicar as coisas em mocinho? — nós rimos. — certo, então será na base da adivinhação. Que idade a sua sobrinha tem?

—Quinze.

—Certo, então pode ser que ela goste desse aqui. — peguei uma marca que eu uso. — ele é confortável e absorve bem. Além de ser uma linha para garotas da idade dela mesmo e é a marca que eu uso.

—Uau, você foi paga pra fazer propaganda? — eu ri.

—Não, é só um dom natural mesmo. — mexi em uma mecha de cabelo parecendo envergonhada. Ele estendeu a mão.

—Sou Caio. E você é... ?

—Eva. — trocamos apertos.

—Você é muito bonita Eva. Têm planos para hoje à noite?

—Quer me chamar para sair? — sorri vitoriosa.

—É o mínimo que eu podia fazer depois que você me salvou. — ele balançou o pacote de absorvente. Ri sem jeito.

—Não sei se devo sair com um estranho.

—Se você aceitar sair hoje eu não serei mais um estranho. — ele sorriu abrindo uma fileira de dentes brancos e lindos. Normalmente eu já teria aceitado. Porém eu sabia muito bem identificar tipos de homem. O dele é daqueles de uma noite só, e apesar deu preferir assim, não estava afim hoje. Quem eu estou querendo enganar? Eu só não aceitei por ainda pensar em Patrick.

—Vamos fazer assim: você me dá o seu número, e eu vou pensar no seu caso. Prometo que até o fim da noite eu te dou uma resposta.

—Hum, feminista? — ele perguntou com um sorriso safado.

—Prefiro o termo mulher moderna. Até porque não temos caneta e nem o seu celular pra anotar o meu número certo? — ele riu.

—Agora você me pegou. Está bem, anota aí. — e falou o número. Eu anotei e salvei em contatos. Depois nos despedimos com beijinhos e eu terminei minhas compras. Cheguei a casa suspirando.

—Kyra chegou? — perguntei fechando a porta com dificuldade por causa das sacolas. Não escutei resposta. Caminhei e coloquei as coisas em cima da mesa e escutei o barulho do chuveiro no andar de cima. Ethan deveria estar tomando banho e Kyra não devia ter chegado ainda.

Dei de ombros e comecei a tirar as compras. Tirei primeiro as coisas de limpeza e as guardei. Depois foram as comidas e as guardei também, tirando apenas o necessário para fazer o jantar de hoje. Estava pensando em fazer uma receita nova que aprendi e por isso peguei a receita em cima do armário. Comecei a preparar as coisas em cima do fogão e coloquei o iogurte que estava tomando em cima do balcão ao lado.

Minha mente voltou ao Caio e sobre sua proposta. Seria bom sair e arejar e aposto que Kyra iria amar, mas... Simplesmente não conseguia pensar em sair com outra pessoa. Tudo com Patrick era muito recente e ele ocupava meu coração completamente. Mas, será que eu deveria abrir uma exceção? Quer dizer, ele parece ser um homem de uma noite só e era exatamente assim que eu estava procurando, mas... Mas, mas, mas... Sempre o “mas”. Droga.

Mexi o braço e esbarrei no iogurte que caiu e derramou em uma folha qualquer. A princípio achei que fosse a receita e quando comecei a limpar a folha percebi que eram cálculos. Não deu nem tempo de sumir com a folha. Ethan chegou vestido como sempre, porém com o cabelo molhado e viu a cena. Ele avançou e tomou a folha de mim olhando incrédulo.

—Ethan... Ethan eu posso explicar. — comecei.

—Não Eva, você não pode. — gritou Ethan. — e mesmo se pudesse não me ajudaria em nada. Caramba garota será que você não entende? Esse é o trabalho da minha vida. — quis falar, mas ele começou a gritar. — É importante sabia? Pode não ser para você que é uma burra e acha que trabalhar em qualquer lanchonete a vida toda é a vida perfeita, porém pra mim não é. Eu quero um futuro e se você não quer um pra você não atrapalhe o meu. Que droga Evangeline. Porque não vai ser a vagabunda que você sempre foi a outro canto e me deixa concertar isso aqui?

Por fim eu não sabia nem mesmo como respirar. Não achava minha língua pra rebater e nem minhas pernas para correr. A única coisa que eu achava era meus olhos pra chorar. Ethan continuou olhando para a droga da folha ridícula dele e eu finalmente achei as minhas pernas. Passei correndo por ele e subi para meu quarto batendo a porta quando cheguei nele.

Respirei com dificuldade e comecei a socar o travesseiro. Minhas mãos estavam trêmulas e a única coisa que me veio à cabeça foi que eu deveria sair dali. Peguei meu celular no bolso de trás e cacei o número do Caio. Controlei minha voz, respirei fundo e no quarto toque ele atendeu.

—Alô?

—Oi Caio?

—Fala Eva! E aí pensou na minha proposta?

—Aonde você pretende me levar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Gostaram? Digam o que acharam please. Vejo vocês nos comentários.