Andei lentamente, me afastando da árvore onde Albus e Dorminique se agarravam.Eu estava distraído, assobiando, com as mãos nos bolsos, tentando afastar a ideia de Rose com outro de minha cabeça.

O que seria aquilo afinal?Não tínhamos nada, ela bem podia ficar com outro cara, assim como eu poderia ficar com outra garota.Então porque a ideia de Rose estar ficando com outra pessoa atormentava tanto minha mente?

Suspirei balançando a cabeça.

Continuo andando sem rumo, até achar uma canto um pouco escuro, perto da floresta proibida.Parecia bem confortável, de modo que me sentei ali, a cabeça recostada no tronco rígido, e pensamentos me acometendo o tempo todo

O que Rose estaria fazendo nesse momento?Será que ela estava pensando na detenção de ontem?Será que havia dormido com medo das alucinações?Ou será que não havia dormido?Tentei mais uma vez afastar Rose de meus pensamentos, consciente de que isso só me faria mal.E de que eu teria que admitir que Albus estava certo e eu estava me apaixonando.

Sacudi a cabeça.

Olhei para o céu, tentando ocupar minha mente com outra coisa.Qualquer coisa.

Então algo atrapalha minha visão.

–Olá, Scorpius.

...

Engulo em seco.Quantas merdas eu seria capaz de cometer em 24 horas?

Acho que eu descobriria agora.

–Olá, Luke.-Falei tentando não parecer deseperada.Luke sorriu.

–Você parece um pouco irritada.-Ele comentou.Blace ao meu lado só faltava cuspir fogo.

–Que nada só...

–E se ela estiver?-Interrompeu-me Blace.Zabini a fitou com um sorriso malicioso nos lábios.

–Parece que mais alguém está esquentada hoje.-Ele disse debochado, então olhou para mim, o sorriso se alargando.-Não só hoje, como ontem a noite também.

Tive que segurar Blace para ela não socar Luke.Ela já tinha começado a gritar vários palavrões e soltado várias ameaças de morte quando finalmente ele se foi.Blace se aprumou e continuou a andar, tive que apurar o passo para alcançá-la.Ela me lançou um olhar de canto.

–Como você conseguiu dormir com um nojento desse?-Indagou ela.Soltei todo o ar de meus pulmões.

–Eu estava com sono, com raiva e praticamente embriagada pelas alucinações de...-Me interrompi, esquecendo do pequeno detalhe que eu nunca havia mencionada para Blace meu medo de aranhas, muito menos de minhas alucionações de medo.

–De o que Weasley?-Perguntou ela desconfiada.

–De nada, é só um modo de dizer que eu estava fora de mim.-Concertei a frase.Blace me lançou um olhar desconfiado, mas não disse nada.

Nos sentamos em um banco de pedra que ficava perto das paredes do castelo, e começamos a conversar, enquanto Blace fumava, e ocasionalmente tentava retornar ao assunto “Scorpius”, mas eu sempre conseguia contorná-la, e voltar para as banalidades de sempre.

Em algum ponto da conversa, Blace se retirou, alegando que eu estava melancólica e chata demais,e que iria procurar algum garoto para se agarrar, antes que eu a fizesse ficar triste também.Não me incomodei, afinal era Blace quem estava dizendo aquilo e Blace era simplesmente... a Blace.

Encostei minha cabeça na parede de pedra, fechando os olhos e tentando esquecer tudo desde o momento em que e cheguei no dormitório da sonserina.Mas alguma coisa me incomodava, e eu não sabia exatamente o que era.Me remexi desconfortável e me sentei ereta novamente.

Suspirei e tentei pensar em algo produtivo, algo que trouxesse frutos, algo que não seja nojo de mim mesma.Tentei focar em meus deveres, e pensei em me trancar nas masmorras estudando até desmaiar de exaustão.Mas eu estava desanimada atá para isso.

Mesmo assim forçei minhas pernas a se moverem e me levarem para minha Sala Comunal, lugar onde fiz todos os meus deveres em cima da hora, e no tempo que me restou me joguei em um sofá perto da lareira, me sentindo estranhamente leve e confortável, com uma sensação de dever cumprido.

Adormeci ali mesmo.

...

Levantei os olhos e dou de cara com Roxanne.Ela se sentou ao meu lado e me fitou por alguns segundos.

–Oi.-Respondi.Roxanne me avaliou com os olhos.

–Você tá bem?-Indagou ela depois de um tempo.Dei de ombros.

–Não que eu esteja radiante de felicidade, mas sim, pode se dizer que estou bem.-Resmunguei.Roxanne me mediu com o olhar novamente.

Aquilo me assustou um pouco,porque Roxanne era realmente penetrante com aqueles olhos azuis elétricos.Na verdade Roxanne era uma pessoa quee possuía um tipo de beleza diferente, com a pele amorenada, e cabelos castanho-avermelhados, e um par de penetrantes olhos azuis.Definitivamente ela era diferente.

–Você não parece bem.-Ela comentou.Dei de ombros novamente.

–Talvez eu não esteja, porque quer saber?-Retruquei.

–Curiosidade.-Devolveu ela.Ficamos em silêncio.

Minha mente não se aquietava.Por algum motivo eu queria ver Rose de novo, queria que a detenção dessa noite chegasse logo, nem que fosse para ficar olhando-a polindo os troféus.Eu queria vê-la.Balancei a cabeça espantando tais pensamentos.Como eu poderia ter ficado assim, tão viciado?Isso me faria mal?

–Não posso deixar de notar que você está, bem, vivendo um conflito interno.-Apontou Roxanne, me sobressaltando, eu havia esquecido que ela estava ali.-Suponho que Al não tenha ajudado em nada, na verdade achoq ue ele só botou mais lenha na fogueira.

–Porque vocês mulheres conseguem entender as pessoas desse jeito?-Perguntei assombrado.-Na boa, isso assusta.

Roxanne riu, mas não disse nada, apenas ficou ali, olhando para o céu, assim como eu.De novo meus pensamentos foram para Rose.Mas que merda estava acontecendo comigo?

–Sabe, as vezes falar é bom...-Sugeriu Roxanne.Olhei para ela, e considerei por um momento contar tudo para ela.Mas então imaginei como ela riria de mim, assim como Albus fez, então não respondi.

Ficamos por mais algum tempo em silêncio, mas logo depois me levantei, despedindo-me de Roxanne e indo até a Torre da Grifinória, pronto para encher a minha cabeça com deveres, redações e muito estudo para os N.O.M.’s que ainda estavam a meses de distância, mas é previnir é melhor que remediar.

Ocupei minha tarde inteira com estudos e mais estudos, e li até as letras começarem a saltar das páginas depois disso.Só voltei a pensar normalmente quando a noite caiu.Olhei para meu relógio e fui tomar um banho e me aprontar para a detenção.

Cheguei a sala dos troféus, e me sentei no banquinho como habitualmente.Esperei por um tempo e olhei para o relógio novamente.Faltavam apenas alguns minutos para dar a hora em que deveríamos nos encontrar para a detenção, então descartei a possibilidade de Rose ter resolvido faltar, já que ela sempre chegava atrasada.

Esperei por mais um tempo.10, 11, 12, 13, 15, 20 minutos se passaram e nada de ela aparecer.

Meia hora se passou e estava pensando em chamar McGonagall e avisar que Rose havia faltado em uma de suas detenções quando Rose apareceu, ofegante no portal da sala dos troféus.

Ela estava com uma blusa verde surrada, e sua saia estava meio torta.Seus cabelos estavam revoltos e seu rosto vermelho e amassado, o que indicava que ela estava dormindo há alguns poucos minutos, e provavelmente havia se lembrado da detenção somente agora.

–Me...desculpe....pela...demora.-Ofegou Rose, tropeçando sala adentro.

–Você sempre demora mesmo.-Digo, tentando não parecer aliviado.Ela assente e anda em minha direção, se senta de pernas cruzadas no chão e começa trabalhar.

Não pude deixar de perceber que ela tremia ligeiramente, como também estava definitivamente avermelhada, e eu tinha certeza que não era pela corrida que Rose havia feito até ali.Me desconfio um pouco mas não me preocupo muito com isso, apenas fico observando-a, reparando no modo como suas mãos mexiam para limpar a superfície brilhante do troféu, e em como suas pernas pareciam emboladas no chão.

Definitivamente aquilo iria me fazer mal.

...

Acordo com alguém me sacudindo, abro os olhos e me deparo com os olhos negros de Blace.

–O que você pensa que tá fazendo ruiva?Você deveria estar na detenção há pelo menos meia hora atrás!-Esbravejou ela.Arregalei os olhos e corri pela sala comunal, nem me dando ao trabalho de trocar de roupa ou fazer qualquer outra coisa que fosse.Cheguei ofegante na sala dos troféus, me desculpei e então me sentei no chão, forçando-me a trabalhar.

Tentei evitar olhar Scorpius, porque por algum motivo eu me sentia envergonhada pelo que havia feito na noite anterior.O que me deixou incomodada, afinal eu não tinha nada com ele, e nem pretendia ter.Mas por algum motivo eu insistia em corar e tremer somente pelo fato de ele estar a centímetros de mim.

Eu podia sentir o olhar de Scorpius sobre minhas costas, e novamente me lembrei de seus lábios, e o gosto viciante de sua língua.Não era a primeira vez que isso ocorria hoje.Respirei fundo, contendo a vontade de agarrá-lo ali mesmo, como nas duas detenções anteriores.

Aquilo precisava acabar.Eu não queria me apegar a Scorpius, e muito menos que ele se apegasse a mim.Quanto mais distância melhor, e talvez algum dia eu volte a odiá-lo como devia ter sido desde o começo dessas detenções.

Mas de algum modo eu queria arriscar, tentar alguma coisa séria com alguém pelo menos uma vez na vida, e achava que a pessoa certa para aquilo era Scorpius.Aumentei a força com que eu esfregava o paninho sobre a taça de ouro com o nome de minha mãe nele.

Então eu tentei pensar no que ela diria.Mas aquilo não adiantou,pois aposto que minha mãe diria que Scorpius era um moço para casar e viver para sempre, como em um conto de fadas.Mas eu não queria aquilo, odiava relações perfeitas, onde tudo é flores corações e arco-íris.

Pensei no que Blace diria.Provavelmente ela diria que Scorpius era encrenca, mas até que valia alguma coisa e poderia enfiar juizo na minha cabeça.Ela provavelmente também diria várias coisas desnecessárias sobre ele ser um loiro gostoso e que ela já tinha visto ele sem camisa e que deixar um gato desses escapar era pecado.Mas eu provavelmente ignoraria essa parte, então ignorei esse pensamento também.

Lançei um olhar para Scorpius, e tentei achar qualquer pista que me diria que era seguro apostar nele, e que nem eu nem ele sairíamos machucados naquilo, mas não encontrei nada.Voltei a me concentrar na tarefa, mas a cada segundo que se passava se tornava mais difícil me concentrar naquela tarefa com Scorpius ali ao lado.

Até que aquilo passou de dificuldade para tortura.Porque eu queria tanto aquela boca?Porque eu gostava tão de seu gosto, seu cheiro?

Logo eu já não respondia por mim, e estava me levantando, me virando para Scorpius e sem uma palavra, beijando seus lábios.

Algo dentro de mim se remexeu, querendo mais.Infiltrei minha língua em sua boca,segurando seu rosto entre as mãos, travando uma batalha deliciosa com sua língua.Meus lábios trabalhavam sozinhos, e de novo aquela coisa dentro de mim se remexeu, espalhando uma sensação deliciosa por todo meu corpo, algo que eu nunca havia sentido antes.Eu sentia as mãos de Scorpius em minha cintura, acariciando aquela região sobre o tecido da saia.

Minhas mãos tremiam, e eu queria mais, mais, era algo insaciável, nada diminuia aquela vontade, nem o movimento mais ousado de minha língua, nem o aperto mais firme de minhas mãos.Então o ar se fez necessário.Mas eu não queria em separar dele, eu queria continuar naquele beijo, se possível, para sempre, mas eu sabia que era impossível, lentamente descolei meus lábios dos dele, sentindo como se tudo o que me preocupava me atingisse em cheio novamente.

Colei minha testa a dele, tentando entender o que estava acontendo, tentando compreender o que se passava na minha cabeça, tentar achar uma solução para aquele quebra-cabeça infinito.Respirei fundo.

Senti as mãos dele acariciando meus cabelos, mesmo ele ainda permanecendo sentado.Nesse momento me senti mais suja do que nunca, lembrando de como eu havia ficado com outro cara há menos de um dia.Impulsionada por isso, me afastei, sentando no chão novamente e voltando a polir o troféu.

Porque que tinha que ficar tão sentimental agora?

Tudo em mim dizia para voltar a beijá-lo.Mas eu havia me afastado.Porque?

Tentei pensar nas opções possíveis, talvez eu estivesse me importando com Scorpius, como eu havia me “importado” com ele na noite anterior.Ou talvez eu tenha tentado proteger a mim mesma.De qualquer modo, respirei fundo e voltei a trabalhar.Algo me dizia que teria que polir muito mais troféus do que nas outras detenções.

...

Assim que Rose voltou a polir os troféus, eu me magoei.Não sei muito bem o motivo, talvez eu estivesse gostando mesmo do beijo, ou...

Não.

Eu não iria me apaixonar justo por Rose Weasley.

Mas foi quando olhei novamente para ela, percebi que era tarde demais para tentar evitar.Eu já havia caído nos encantos daquela ruiva, e não havia como escapar.Respirei fundo e olhei para o teto, tentando ler a mente dela, desvendar o que se passava naquela cabeça, entender o que ela queria comigo, descobrir se ela estava com outra pessoa, saber o motivo de ela estar fazendo tudo aquilo.

Mas duvidei que ela mesma soubesse tudo aquilo.

–A gente podia esquecer, sabe.-Ouvi a voz baixa de Rose.Demorou um tempo para perceber que ela estava se referindo ao que acontecia nas detenções.

–Não.-Respondi sem nem ao menos hesitar.Rose levantou os olhos para mim, e ela parecia prestes a explodir, não sabia exatamente em que sentido, talvez raiva, tristeza, confusão.Eu não consegui decifrar.

–Porque?Porque simplesmente eu não posso sair por aquela porta e nunca mais voltar?-Ela perguntou, irritada e desamparada ao mesmo tempo.Eu não sabia o que responder.Rose me olhou nos olhos, e vi que ela estava a ponto de chorar.

–Eu...-Não consegui terminar.-Essas detenções só terminam até cada troféu dessa sala estar brilhante.

–Eu não quero mais essas detenções.-Falou Rose, parecendo abalada.

Olhei para Rose por mais um tempo.

Eu queria que essas detenções durassem para sempre.