― Acho que não devemos ― disse Adam parando de repente.

― A ideia foi sua! ― defendeu-se Madison enquanto agitava os cabelos para trás.

Eles estavam parados nas escadas que já estavam mudando para um lugar diferente. A intenção era ir até a Sala Comunal da Grifinória para finalmente contar a Nicholas o que estava acontencendo. E Madison tinha razão, a ideia fora de Adam. Uma noite, quando se encontraram na deserta Torre de Astronomia, ele havia dito que não queria mais esconder do amigo o que estava havendo, e que também não gostava de ignorar Madison nos corredores para não levantar suspeitas. Ela concordou que deveriam contar e agora ele estava mudando de ideia.

― Eu sei mas, nada me tira da cabeça que ele vai querer me matar ― argumentou.

― Você devia estar feliz de estar indo contar isso para Nicholas e não para meu pai! ― falou enquanto aguardavam as escadas se moverem de novo.

― E seu pai faria coisa pior do que me matar?

― Claro que faria ― afirmou enquanto ele a encarava tentando esconder o espanto ― Quando contei que beijei Luke, ele foi até a casa dos Edwards e minha mãe teve que ir atrás dele para impedí-lo de fazer alguma coisa. E foi só um beijo, imagina o que ele faria se soubesse do nosso namoro.

― Madison, sinceramente, sua família precisa aprender a controlar a raiva ― declarou agitando os cabelos com impaciência.

― Eu estou brincando ― Madison deu uma gargalhada enquanto as escadas se moviam e os dois se viam cada vez mais perto do quadro da Mulher Gorda ― Meu pai não sabe de Luke e, se depender de mim, nunca saberá ― Adam resmungou, como sempre fazia quando ouvia o nome de Luke saindo da boca de Madison ― Prometo que se Nicholas tentar te matar, eu interfiro.

― Obrigado ― disse sem humor.

Madison não podia negar o quanto aquela situação a divertia. Adam estava realmente nervoso com a ideia de revelar tudo a Nicholas mas, ela mesma tinha dúvidas de que o irmão faria algo violento. Ela era sua irmã e Adam seu melhor amigo, deveria ser a combinação perfeita. Todavia, se analisassem bem, ele era superprotetor e um desconhecido seria mais fácil de perdoar de que um amigo naquela situação. A loira não compartilhava esses pensamentos com Adam justamente porque ele já estava nervoso o suficiente.

Adam foi quem falou a senha que permitiu que ambos entrassem na Sala Comunal, e aquele cômodo se encontrava animado. Havia um grupinho de alunos jogando snap explosivo, outros comiam feijõezinhos de todos os sabores e se divertiam das caretas que faziam quando comiam um de sabor ruim, uns estavam jogando xadrez de bruxo numa mesa ao canto e tinha aqueles que até estudavam no meio daquela confusão. Nicholas não estava em nenhuma dessas situações. Ele estava jogado no sofá de qualquer jeito enquanto rodopiava a varinha nas mãos. Uma garota teve de se sentar no chão porque ele não quis se ajeitar no sofá para ela sentar mas, ele não pareceu ligar.

― Nicholas ― Madison o chamou fazendo com que ele conseguisse ouví-la dentre tantos alunos barulhentos. Ele deixou a varinha cair sobre seu rosto mas abriu um sorriso ao caminhar até a irmã ― Bem, agora é com você ― ela sussurrou virando a cabeça discretamente para Adam.

― Vocês estão juntos? ― ele perguntou com naturalidade quando parou na frente dos dois.

― O que? ― Madison se engasgou. Esperava que precisasse ser mais direta e que ele não esbanjasse tanta naturalidade e tranquilidade assim entretanto, ao olhar para Adam, percebeu que ele estava bem feliz com a reação. Sua fisionomia já não estava mais tão tensa.

― Vocês entraram juntos pelo buraco da Mulher Gorda, quis saber se estão andando juntos, tentando se entender, entenderam? Os dois são monitores agora, deveriam pelo menos se aturarem, digamos assim. Já chegaram nesse ponto de não quererem estrangular um ao outro? Aquele papo na aula de Poções sobre "é apenas uma trégua temporária" não convenceu muito ― perguntou levantando a sobrancelha de modo divertido. Madison percebeu que ele não havia entendido nada, afinal.

― Mais ou menos ― a garota disse uma vez que parecia que Adam fosse mudo.

― Fico feliz que tenham se aproximado um pouco ― Nicholas comentou com os olhos azuis indo de Madison a Adam sucessivas vezes ― Só espero que não se aproximem demais, não gosto que mexam com a minha irmãzinha ― Adam engoliu em seco enquanto Madison fazia uma expressão cansada, por quê sempre achavam que ela deveria ser protegida? ― Então, Adam, quer ouvir sobre meus planos de vingança contra o Luke Edwards? Tenho várias ideias e preciso da sua genialidade para o mal.

― Desde quando você está planejando uma vingança contra Luke? ― Madison piscou várias vezes tentando assimilar.

― Desde que ele te beijou no Baile de Inverno, eu só não falava alto porque achava que você poderia sentir alguma coisa por ele mas, percebi que não sente ― ele deu um sorriso como se não estivesse falando nada demais.

― Eu sinto alguma coisa por ele, sim ― se defendeu e Adam a encarou com as sobrancelhas erguidas e os braços cruzados como se a desafiasse a continuar ― Ele é meu amigo, Nick, nos convidou para aquela festa e tudo mais. Não tem por que você estar querendo uma vingança, ele não fez nada para você! Se alguém pudesse querer uma vingança, esse alguém seria eu. E eu não quero.

― Certo ― ele fez uma careta ― Não vai ser uma vingança, só um lembrete para ele se afastar de você. Vem me ajudar, Adam?

― Sim, eu já vou subir. Só preciso conversar com Madison sobre os turnos de vigia ― ele disse mantendo sua pose enquanto Nicholas assentia, guardava a varinha no bolso e subia as escadas que levavam aos dormitórios ― Então, teremos que adiar aquela conversa com ele.

― Imaginei que diria isso ― Madison deu uma risada fraca e sem graça.

― E se você não se explicasse sobre "eu sinto alguma coisa por ele, sim", eu iria realmente adorar ajudar Nicholas naquela vingança ― ele acrescentou com uma voz carregada de ciúmes que fez Madison querer dar-lhe um beijo mas, teve de se conter ― Vejo você no turno de amanhã.

― Isso soou mais como: beijo você no turno de amanhã ― ela sussurrou.

― Foi exatamente isso que eu quis dizer, mas eu gosto de ser sutil ― respondeu no mesmo tom antes de dar um sorriso e seguir pelo mesmo caminho que Nicholas havia seguido.

Madison estava pensando no que iria fazer o resto da tarde quando Isabelle entrou correndo na Sala Comunal. Ela estava pálida e com os fios de cabelos completamente desalinhados quando parou diante da prima. Sua respiração estava descontrolada e ela teve de esperar até estar mais calma para finalmente dizer o que queria.

― Me entregaram isso e mesmo estando endereçado a você, eu li ― admitiu e tirou um papel do bolso ― Confesso que estou assustada.

― Sua expressão transmite exatamente isso ― brincou Madison pegando o papel das mãos de Isabelle e observando a caligrafia com que o autor assinara. Não era reconhecível, pelo menos não para a garota. Logo em seguida desdobrou para encarar a mensagem.

"Dizem que quem muito procura, acaba achando o que não devia. No seu caso, se achar algo, não vai viver o bastante para contar o que descobriu"

Assim que acabou de ler, sentiu o sorriso que antes estava em seus lábios desaparecer por completo e seu sangue tornou-se gélido. Escutou Isabelle murmurar seu nome mas, parecia estar distante. Seus olhos estavam fixos no bilhete que acabara de receber, era uma ameaça direta e de alguém dentro do castelo.

― Quem te entregou isso? ― ela ergueu os olhos verde-água para Isabelle.

― Uma garotinha da Lufa-Lufa ― contou ― Ela não disse quem mandou. Disse que achou no jardim e resolveu levar até a pessoa endereçada, no caso, você. Como ela não te achou em lugar nenhum, entregou para mim.

― Isso é uma ameaça direta ― declarou ― Temos que contar à McGonagall. Se antes o perigo que corríamos era meramente teórico agora temos uma prova que estamos mesmo precisando de proteção!

― E McGonagall faria o que? Avisaria toda Hogwarts e deixaria todos os estudantes aterrorizados e é tudo que eles querem e tudo que não pode acontecer agora ― disse Isabelle parecendo sensata uma vez na vida. Madison a encarou como se quisesse analisar se ela estava falando sério ou brincando.

― Mas McGonagall pode tomar alguma providência sem ser avisar os estudantes, acho que deveríamos tentar ― insistiu enquanto olhava rapidamente para o bilhete.

― Deveríamos decidir isso em grupo. Esperaremos Safira e Emma para decidirmos o que fazer, certo? Sei que deve estar assustada porque o bilhete foi para você então deixe-me ser a madura dessa situação ― Isabelle deu uma risada. Madison deveria saber que ela não se manteria tão séria por tanto tempo.

― Tem uma assinatura aqui ― comentou aproximando o bilhete dos olhos para ver a assinatura relativamente pequena: "TAB" ― TAB? Quem seria TAB? Não consigo pensar em ninguém com essas iniciais.

― Se você conseguisse, era mais fácil a pessoa ter assinado o nome! ― Isabelle revirou os olhos ― A pessoa não quer que você saiba quem é e quer que você pare de correr atrás das pistas pro novo Lorde como: perguntas a Haver, pesquisas na biblioteca e até mesmo questionamentos que você fez ao pai de Emma e Faísca. Alguém deve estar seguindo seus passos e sabendo de seus avanços, quer te deixar com medo e fazê-la parar.

― Mas eu não vou parar ― afirmou colocando o bilhete no bolso ― Olhe, já estávamos correndo perigo antes então nada mudou. Só temos que ter cuidado em quem pode estar ouvindo nossas conversas ou quem está atrás da gente. Precisamos ser mais discretos quando o assunto for essas "investigações". Só vamos tratar disso no dormitório, certo?

― Certo! ― concordou Isabelle ― Vamos subir e esperar as meninas lá em cima.

Madison assentiu e seguiu Isabelle até o dormitório feminino. Emma estava jogada na cama dormindo, para variar. Isso era o que ela fazia na maior parte do tempo desde que voltara do Natal. Não passava mais horas na biblioteca e até havia esquecido de fazer dois deveres, algo estava muito errado. E talvez todo mundo soubesse o que era: Peter. Eles ainda não haviam se acertado e a única culpada da história era Emma. Ela tinha uma escolha a fazer e ele estava esperando que ela a fizesse com cuidado.

― Acorde, Bela Adormecida ― Isabelle sacudiu os ombros de Emma fazendo a despertar com os olhos arregalados ― Está dormindo quase o dia todo!

― Talvez eu tenha um motivo, você já parou para pensar nisso? ― resmungou esfregando os olhos e sentando na cama.

― Não ― respondeu Isabelle com sinceridade enquanto se sentava sua própria cama ― Nada justifica ficar trancafiada nesse dormitório dormindo enquanto Hogwarts é tão grande e tão linda.

― Isabelle hoje está ótima em conselhos, você deveria aceitá-los ― sugeriu Madison enquanto Isabelle sorria vitoriosa ― Tenho que tocar em um assunto que possa ser um pouco desconfortável para você, Em ― a garota a encarou como se já soubesse o que era ― Recebi um bilhete que continha uma ameaça e acredito que seja de um espião em Hogwarts. Seu pai tinha me dito que com ele eram três ao todo aqui, e uma vez que ele se foi, sobraram dois. Um desses dois já descobrimos ano passado durante a captura das varinhas dos comensais que é Jason Haver. O último espião ainda é um segredo para nós.

― O que está querendo dizer? ― Emma disse com a cara fechada.

― Sei que seu pai vem mantendo contato com você através de cartas, pergunte se ele não sabe, diga que é urgente e já sofremos uma ameaça direta ― afirmou.

― Ele não me disse nada sobre esse assunto até hoje, não quer dizer que ele vai revelar só porque eu pedi! ― argumentou ― Fora que se ele soubesse, já teria dito. A filha dele está correndo riscos e também a filha da sua ex paixão, tenho certeza que ele já teria contado tudo para McGonagall se soubesse ― disse com indiferença.

― Não, ele não teria. Ele está escondendo de McGonagall, não iria contactá-la diretamente ― respondeu Madison no mesmo tom ― Você poderia ser a ponte das informações. Ele contaria para você e você passaria para McGonagall, ocultando o paradeiro de seu pai.

― Por quê você não escreve para ele e pergunta? Tenho certeza que ele vai adorar te responder! ― ela gritou e Isabelle se levantou sobressaltada ― Ele fala de você nas cartas, sabia? Pergunta como você está em relação a isso tudo e se você não está se metendo em encrencas, eu estou cansada! Quando eu penso que ele já não liga mais para a sua mãe, ele deposita todas as atenções em você!

― Eu sinto muito ― Madison falou com os olhos fixos na amiga.

― Não é culpa sua ― disse Emma voltando ao normal ― Desculpe por isso tudo, eu só estou nervosa. Há tanto acontecendo e eu não consigo tomar uma decisão quanto a Peter, descontei em você. Mas meu pai pergunta de todas vocês, aliás. Ele está realmente preocupado. Diz até que quando isso tudo acabar, talvez podemos morar juntos novamente: eu, ele e minha vó.

― Torço por isso ― disse Isabelle e Madison assentiu sorrindo, reforçando a ideia.

Emma também sorriu como em agradecimento e Safira entrou como um furacão. Ela estava com os cabelos presos em um rabo de cavalo, as mangas da blusa chamuscadas, o rosto sujo de cinzas e as mãos vermelhas. As garotas ficaram olhando esperando uma explicação mas Safira só se pronunciou após ir ao banheiro pra se lavar.

― Trevor e eu achamos umas larvas interessantes e raras que podem pegar fogo como defesa. E bem, fomos queimados ― ela disse enquanto arrancava sua blusa chamuscada e colocava outra limpa ― Então, é algum tipo de reunião? Espero não estar atrasada.

― Você está! ― Isabelle disse rapidamente ― Poderíamos estar mortas e você não estaria aqui para chorar em cima dos nossos corpos.

― Depois vocês reclamam da minha negatividade ― falou Madison com as sobrancelhas levantadas enquanto seu olhar ia de Emma a Safira.

― Tenho certeza que não precisarei chorar em cima dos seus corpos tão cedo, Isabelle ― afirmou Safira com uma expressão divertida e depois colocou seus olhos em Madison ― O que houve? Você parece tensa e mais pálida do que o normal.

― Mandaram uma garotinha da Lufa-Lufa me entregar esse bilhete, e como não me acharam, deram à Isabelle para ela pudesse fazer com que ele chegasse até mim ― ela tirou o bilhete do bolso e entregou na mão de Safira. Emma saiu de sua cama e foi se colocar ao lado de Safira para poder ler o que tinha no papel também.

― Quem escreveu foi bem direto ― Safira disse depois de devolver o bilhete para a amiga ― E foi bem arquitetado o plano. Lufanos são conhecidos pela sua lealdade e bom coração, ninguém suspeitaria da garotinha que lhe entregou esse bilhete. E aí, temos suspeitos?

― Sim, o último espião de Hogwarts. Pena que não sabemos quem é ― Madison esclareceu ― TAB não me lembra ninguém. Mas a reunião é para decidir o que vamos fazer, contar ou não à McGonagall.

― Acho que devemos reunir mais coisas antes de contar para a diretora ― se pronunciou Emma ― Você sabe que esse bilhete seria impactante, ela tomaria várias medidas de defesa e os comensais saberiam que estamos com medo. Atacariam na primeira oportunidade.

― Mas por outro lado ― continuou Safira ― Se contarmos à McGonagall, ela talvez possa tomar alguma providência. Talvez ela até tenha um suspeito de espião.

― Duvido que ela saiba ― afirmou Madison ― Ela não sabe até hoje que Haver faz serviço duplo e que o irmão dele é o líder dos Comensais. E nós não temos provas para mostrar a ela. Isso nos trás de volta a estaca zero. Sobre esse bilhete não temos informações relevantes também. Essas inicias podem ser completamente aleatórias. Então Isabelle e Emma estão certas, vamos juntar mais coisas e depois contamos a McGonagall sobre tudo. Não podemos deixar que pensem que estamos vivendo a base de insegurança. Ano passado Haver disse que era isso que eles precisavam para começar a se manifestarem mais ofensivamente: insegurança.

― Você vai guardar o bilhete? ― Isabelle quis saber.

― Claro, esse e os outros que com certeza virão ― a garota respondeu girando o papelzinho nas mãos.