POV Sadie

Talvez ir de avião para uma ilha potencialmente perigosa não foi a melhor das minhas ideias, mas me pareceu bem melhor e bem mais fácil que conseguir alguém que nos levasse de navio até a Costa Rica e de lá até a famosa ilha Nublar (Uma das ilhas cinco das mortes ou algo assim, era assim que a ilha era conhecida pela região), ninguém estava muito disposto a fazer essa viagem de navio.

Então demorou semanas para conseguir um transporte até a ilha, até que apareceu um homem de meia idade chamado Carlitos (Da primeira vez que eu ouvi quase me explodir de risadas), ele ofereceu seus serviços de aviador, mas desde que ele fosse bem pagos com alimentos e bastante dinheiro (que nem era mais tão importante, a comida estava se tornando uma moeda de troca ainda melhor que dinheiro) pagamos adiantado.

Demorou mais ou menos um mês desde que saímos de Manaus até conseguir o avião e alguém para pilotar e se soubéssemos o que ia acontecer, acredite em mim, eu teria ficado em Manaus, mas é claro que meu senso de dever e meu amor pelo meu irmão me forçaram a ir nessa viagem. Agora aqui estávamos nessa viagem suicida.

Carlitos pilotava o avião de apenas nove passageiros pelas nuvens, Anúbis tinha ido até a cabine do piloto perguntar se faltava muito para chegarmos a ilha, o tempo estava se fechando e isso definitivamente me preocupava, do jeito que a minha sorte está, as chances de o avião cair eram bem grande.

– Mais uma hora de viagem de acordo com ele – Anúbis falou ao voltar. Ele se sentou o meu lado.

Anúbis usava calças jeans pretas, uma camisa branca e um casaco preto por cima, foi o mais perto de roupa normal que eu consegui o fazer vestir, mas quando seu namorado é o deus dos funerais fica meio difícil achar coisas que ele goste que não seja relacionado a velórios.

– Ótimo – Falei exasperada – Vou ter que aguentar mais uma hora com a Hermione jogando informações nerds no meu cérebro.

Hermione, que estava sentada no banco a minha frente, se virou para e mostrou a língua, depois voltou a ler o livro sobre as espécies de dinossauros da Ingen (A empresa responsável pelos dinossauros da ilha Nublar), desde o início da viagem Hermione tem lido incansavelmente livros sobre dinossauros, os dois livros de Jurassic Park e os três filmes e qualquer outra coisa que pudesse ajudar a sobreviver naquela ilha.

– Essas informações nerds podem te manter viva quando chegarmos lá – Hermione falou.

Bufei – Ótimo, saber quantos metros tem o Tiranossauro Rex vai nos proteger quando ele nos abocanhar.

Ouvi Hermione dá um longo suspirou, Anúbis olhou para mim e sorriu.

– Você não tem jeito mesmo – Ele falou.

Sorri – Se eu tivesse jeito você nunca o acharia.

Os últimos meses têm sido particularmente difíceis, mas com Anúbis por perto tudo parecia ser mais fácil, ele tinha uma habilidade incrível com as palavras, não era como na época em que ele hospedava Walt, naquele tempo havia uma junção das personalidades de Walt e Anúbis, mas agora era apenas Anúbis.

O sono começou a bater em mim, outra coisa que tem quase sido impossível fazer era dormir, eram tantas preocupações, tantos monstros e tantas viagens constantes pela América central que dormir era um luxo ao qual eu não estava tendo, o que me deixava irritada o resto do dia em que eu passava acordada, por que eu não podia ter minhas 12 horas de sono?

– Vou dormir, quando chegarmos me acorde ok? – Perguntei e ele assentiu – E não se aproveite de mim?

Ele deu um sorriso malicioso e assentiu. Eu me acomodei na cadeira e tentei dormir. É claro que monstros e viagens constantes não eram o único motivo pela minha falta de sono, os pesadelos que tinha tinham começado a ficar piores, ás vezes eu sonhava com Carter gritando enquanto algo corria atrás dele, depois ele desaparecia na escuridão e depois eu acordava, esses pesadelos estavam ficando pior.

Depois de alguns minutos eu adormeci. Dessa vez eu estava em uma espécie de prédio abandonado, havia plantas crescendo pelas paredes, os vidros das janelas estavam quebrados, havia algo que pareciam ser máquinas com estufas e dentro disso estavam ninhos que poderiam ser de pássaros ou de alguma outra coisa, havia algo que parecia ser casca de ovo espalhado pelo chão e na parede oposta a minha havia marcas na parede que pareciam ser de sangue.

No meio da sala havia uma garota de costas a mim, ela tinha cabelos pretos longos e usava um vestido preto, ele se virou e eu prendi a respiração. A garota tinha olhos azuis-safira e um sorriso fácil, era Samantha, mas havia algo diferente nela, seu cabelo parecia mais liso que o comum e ela tinha um sorriso malicioso que não pertencia a Samantha, era ela mas ao mesmo tempo não era.

– Samantha? – falei o nome dela para ver se ela reagiria, mas ela continuou sorrindo – É você?

– Talvez sim, talvez não – Ela falou – O que importa é o que eu vim fazer aqui.

Algo no modo como ela falou me incomodou, aquela definitivamente não era Samantha – O que você veio fazer aqui?

Sua expressão se tornou séria – Te avisar.

– Avisar sobre o quê? – Perguntei me sentindo um pouco irritada.

– Vai ser mais difícil do que você pensa Sadie – Samantha ou a garota que se parecia com Samantha falou – Há dois lugares nesse mundo em que não se pode usar magia e uma delas é a ilha Nublar, a magia não vai te proteger, você vai ter que lutar como uma mortal.

Franzi a testa – Como assim não posso usar magia?

– Há um motivo para aquele lugar não ter magia, mas não é algo que você precisa saber, talvez você nem consiga sair viva de lá – Ela falou numa calma assustadora.

Bufei – Se você veio me ajudar, está fazendo um ótimo trabalho.

Ela riu e foi um riso diferente dos que os risos da Samantha – Eu não falei que eu ia te ajudar, acredite em mim você vai preferir morrer aqui, seus amigos, por exemplo, vão morrer de um jeito horrível. Você sabia que seu amigo Jace morreu ontem? Ele e a namorada dele.

Meu coração subiu até a minha garganta – O quê?

– Só se lembre do que eu avisei – Samantha falou e deu um sorriso – Nós ainda nos veremos por aí.

– Você definitivamente não é a Sam – Falei.

Ela riu – É claro que não boba, agora você precisa acordar, seu avião está caindo.

O sorriso dela se dissolveu, de repente tudo escureceu e eu acordei com um grito, era Hermione. Senti uma mão balançado meus ombros, abri os olhos e vi Anúbis com um expressão entre algo que mostrava preocupação e desespero.

– Sadie acorde! – Ele praticamente gritou – Nós estamos caindo.

Olhei para a pequena janela que mostrava o lado de fora do avião. Lá fora estava o mar se aproximando cada vez mais de nós, mas percebi também uma ilha com floresta verdes e montanhas, o luar parecia ser uma daquelas ilhas tropicais, o avião estava indo na direção da ilha.

– Ele vai tentar pousar na ilha – Hermione falou ao se aproximar da gente – Ele está fazendo o possível para manter o avião no ar.

– O quê aconteceu? – Falei mas a tremedeira do avião e o alto barulho do vento contra fuselagem fez mais voz soar fraca.

Hermione passou as mãos nervosamente pelos cabelos – Eu não sei, assim que nos aproximamos da ilha o avião começou a falhar, eu tentei concertar com um feitiço, mas não funcionou.

Lembrei-me do sonho – Nenhuma magia vai funcionar.

– O quê? – Anúbis falou.

Um barulho de explosão preencheu o ar, o avião tremeu violentamente e Hermione foi jogada para trás, Anúbis foi jogado contra cadeira a minha frente e bateu a cabeça, ele se levantou rápido e olhou para o a janela, seus olhos se arregalaram.

– Nós vamos bater! – Ele gritou – Se segurem!

Olhei para o lado de fora e vir o mar de arvores logo abaixo, Anúbis se sentou ao meu lado e segurou a minha mão, Hermione foi para o banco da frente e se segurou. Eu segurei um grito na minha garganta quando eu senti o avião bater violentamente contra as arvores, ouvi Hermione gritar e lá na cabine o grito estrangulado do piloto Carlitos, então bruscamente o avião parou eu fui jogada para a frente e senti minha cabeça bater contra o banco da frente.

Eu fiquei tonta e tudo ao meu redor ficou embaçado, levei minha mão até minha testa e senti um líquido quente, era sangue, segurei minha mão contra a testa e olhei para o lado, Anúbis estava caído no meio do corredor do avião, ele se levantou devagar e colocou a mão na cabeça, Hermione já havia se levantado e estava andando em direção a cabine do piloto.

– Você está bem? – Anúbis perguntou, ele tirou a jaqueta e pressionou contra a minha testa.

– Já estive em situações melhores – Falei.

Foi então que Hermione gritou lá da cabine do avião, dei um rápido olhar para Anúbis e corremos em direção a cabine, lá dentro havia sangue espalhado por todo o canto, um galho de árvore bem grande perfurou a frente do avião e atingiu a cabeça do piloto Carlitos, apenas uma pouca parte de carne e osso segurava a cabeça de Carlitos a corpo. Náusea tomou conta do meu estômago e eu senti vontade de vomitar.

– Ele não teve chance – Hermione falou e desviou o olhar do corpo.

Anúbis olhou para o corpo e depois para o lado de fora do avião – Acho que ainda não aterrissamos.

Hermione franziu a testa – Você falou que nem o cara do Jurassic Park 3.

– E dai? – Anúbis disse usando uma expressão de desdém.

Hermione revirou os olhos – E daí que segundos depois eles foram atacados por um dinossauro.

Como se apenas estivesse esperando Hermione abrir a boca, um rugido tão forte que fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem ecoou pelo lugar, era algo definitivamente grande e definitivamente perigoso.

– Você e sua boca grande – Falei de cara feia para Hermione.

Passos fizeram o avião e tudo ao redor dele tremer, Anúbis fez um sinal de silêncio com o dedo e tentou olhar para o lado de fora pelo lado da cabine, os passos continuaram firmes e pareciam se aproximar e então parou e tudo ficou silencioso. Eu sempre ouvia as pessoas dizerem que quando a floresta focava em silêncio era por que o predador havia saído da toca.

– Não vejo nada aqui fora – Anúbis falou.

Ok, eu definitivamente tinha que proibir Anúbis e Hermione de abrirem a boca, algo bateu com força no avião e jogou a mim, Hermione e Anúbis contra o canto da cabine, o avião pendeu pra um lado e de repente eu o senti caindo e depois com um forte baque eu ouvi o barulho da fuselagem do avião batendo contra o chão, o baque foi tão forte que me jogou contra o teto e me fez bater a cabeça pela segunda vez.

Um rugido ainda mais forte e zangado soou pelo lugar e quase fez meus ouvidos explodirem, eu olhei para o lado de fora e vi patas enormes se movimentando do lado de fora e ouvir a criatura gritar furiosa, senti batidas enorme contra o avião e eu sabia que o dinossauro estava tentando achar um jeito de destruir a fuselagem.

– Precisamos sair daqui – Hermione falou, enquanto se levantava – Agora!

Corremos para as janelas e saímos do avião, não me atrevi a olhar para trás, do lado de fora as árvores eram grandes e tapavam quase que totalmente o sol e o espaço de diferença entra um arvore e outra era grande o que devia deixar fácil a locomoção de dinossauros pela ilha, eu e os outros nos escondemos atrás de um árvore e arriscamos um olhar para trás.

– Uau – Hermione falou.

O dinossauro era maior do que parecia ser, mas nem de longe era a maior coisa que eu já havia enfrentado, mas também ao mesmo tempo havia algo de tão terrível nele que fazia todos os outros monstros parecerem animais de zoológico. O dinossauro tinha uma cabeça enorme poderia facilmente engolir dois homens adultos, pernas fortes e musculosas, mas o braços bem minúsculos, o que dava um visual engraçado ao réptil.

Hermione deu um longo suspiro – É um Tiranossauro Rex, é ainda mais impressionante na vida real.

– Não basta ser uma bruxa você tem que virar uma paleontóloga também? – Falei exasperada.

– Eu estou surpresa que você saiba o que é uma paleontóloga – Ela falou – Bom, mas esse nem é o maior dinossauro que existe.

Anúbis franziu as sobrancelhas – Tá dizendo que existe dinossauros maiores que esse aí.

Hermione assentiu – Existe sim, o Spinossauro com alguma sorte ele só existe na ilha Sorna.

– O quê – Falei quase num grito e então abaixei o tom da minha voz – Quer dizer que existe duas ilhas com dinossauros?

Hermione bufou – Dá para vocês pararem de repetir frases dos filmes de Jurassic Park? Olha não tem tempo para conversa, precisamos dar o fora daqui.

Ela falou e começou a ir à direção oposta a do dinossauro, eu e Anúbis começamos a seguir ela.

Primeira coisa sobre essa ilha, era quente como o inferno deveria ser e de vez em quando eu passava por alguns pequenos lagos vaporizados, aquela devia ser uma ilha vulcânica, segunda coisa era que era cheia de insetos e mosquitos e outras coisas irritantes, eu não era do tipo de menina que reclamava de alguns poucos mosquitos, mas o número que tinham naquela ilha era absurdo, eu provavelmente tinha mais sangue na barriga dos mosquitos do que no meu corpo.

Terceira coisa, a umidade, não era algo inédito para mim, a cidade de Manaus, no Brasil, ficava no meio da selva amazônica e era quente e úmida, mas nada comparado a essa ilha, aqui era quente de mais e úmido demais, eu provavelmente havia suado 10 litros na em 5 minutos.

Depois de uma hora de caminhada mais ou menos (Eu recomendo sempre estar com um relógio caso você resolva ir para uma ilha recheada de dinossauros e outras coisas que podem te matar), demos de cara com um prédio abandonado, parecia um centro bem antigo de pesquisas, a maioria dos vidros da porta e da janela estavam quebradas e a vegetação já tomava conta do lugar.

Senti um arrepio na minha nuca e me virei, pensei ter ouvido um silvo e senti uma sensação de que havia alguém, ou melhor, algo nos observando, continuei a olhar para trás, mas eu não via nada, devia ter sido coisa da minha imaginação.

– Vamos, pode ser um lugar para passar a noite – Hermione falou – Eu não quero ser comida viva.

Sorri maliciosamente e me lembrei de Jace, ele provavelmente faria algum comentário cheio de cretinice como só ele sabia fazer e então uma tristeza tomou conta de mim e me lembrei do sonho que eu havia tido.

Comecei a andar em direção ao prédio abandonado meio que inconscientemente, meus pensamentos vagueando, eu estava me perguntando onde estaria Percy, Finnick e Sam agora? Será que eles sabem do que aconteceu com Jace?

– Cuidado! – Hermione gritou e uma flecha voou pelo ar e parou a centímetro do meu pé, eu estanquei e tentei ver de onde havia vindo.

Na entrada do prédio estava uma garota de cabelos pretos amarrados em uma trança, roupas meio prateadas e brancas e um arco com uma flecha apontada diretamente para mim, ao lado dela havia dois garotos segurando espadas, eles olhavam para nós e pareciam querer nos intimidar.

– Parem aí mesmo – A garota falou – Não se mexam ou eu atiro.

Os dois garotos com a espada vieram em nossa direção.

– Vocês vão desejar nunca ter invadido nosso terreno – A garota falou e deu um sorriso meio maldoso, mas pareceu mais com uma careta.

Eu sentia que esse ia ser um longo dia.