Assim que chegamos a mansão, Pepper me abraça forte. Eu me deixo levar e choro em seu ombro. Só então percebo o quanto gosto dela. Não entendo como ela suporta Stark, mas é uma mulher doce e adorável.
— Acho que você devia falar com a Angie. Ela está mal.
— Quem... — eu não termino a pergunta. Angie é a minha sobrinha, a que me mandou para o aeroporto. — É claro. Eu vou até lá.
— Natasha, tem certeza? — Steve pergunta. — Você devia descansar primeiro.
— Não estou cansada. — eu retruco.
Eu só encontro Angie por causa de seus soluços escandalosos. Ela está abraçando os joelhos atrás de uma estante estreita na biblioteca. Seus cabelos negros caem em ondas até os pés. E só então noto o quanto ela se parece com a mãe.
— Angie?
— Saia daqui.
— Não. — ela levanta a cabeça e me encara. Seus olhos estão inchados e vermelhos, e duvido que os meus estejam melhores. — Também não estou no humor para conversa, mas vou te fazer companhia. Sofrer sozinho nunca é bom.
Eu me recosto na estante e fecho os olhos, tentando apagar os últimos minutos da minha vida. Se eu pudesse escolher um poder, seria esse. Voltar no tempo. Eu poderia consertar muitos erros, salvar muitas pessoas...
— Eu não sei se fico feliz ou não por ter ficado aqui. — ela diz, depois de um tempo.
— Você sobreviveu, isso é bom, não é?
— É bom pra você, que vive solitária, mas como eu vou viver sem minha família? Aliás, para onde eu vou? Não tenho parente algum! — só então eu pensei nisso. Os parentes por parte de pai não eram seguros. Ela não tinha avós por parte de mãe, nem qualquer outro parente vivo. A não ser eu. — Vão me mandar para um orfanato!
— Não é tão ruim quanto parece. — eu sussurro.
Eu a ouço se mexer, mas não preciso abrir os olhos para saber que ela se deitou no meu colo. Eu fico sem reação, mas depois afago gentilmente seus cabelos.
— Não deixe eles me levarem. — ela murmura antes de cair no sono.
Mais tarde eu a levo nos braços para o meu quarto. Deito-a num canto da cama e me acomodo no outro. Steve passa para checar como estou, me dá um beijo e depois vai embora.
Na manhã seguinte eu acordo com uma dor intensa no braço. Angie está deitada em cima dele. Retiro com cuidado para não alarmá-la e pego uma muda de roupas. Vou sorrateiramente para a cozinha, e vejo que Pepper está procurando alguma coisa na geladeira. Estranho, o cabelo dela parece mais claro... E ela não devia estar trabalhando?
— Bom dia, agente Romanoff. — ela se vira, e eu quase derrubo a tigela de cereal com o sobressalto. Não é a Pepper. É a agente 13.
— O que... O que faz aqui? — eu me recupero. Droga! Meus olhos ainda devem estar inchados, e estou com uma roupa muito casual. Não gosto que ninguém do trabalho me veja assim.
— Vim a trabalho, me chamaram aqui.
Ela trabalha para a CIA agora, então...
— Quem chamou?
— Coulson. Ele me disse que você precisava trocar uma palavrinha comigo. — ela arqueia as sobrancelhas, suspeita.
— Ah, é claro. Eu esqueci de avisar! — Stark se intromete. — Venha cá um momento, ruivinha. — eu o sigo até um lugar onde ela não pode nos escutar. — Coulson está recrutando nossos membros de volta a S.H.I.E.L.D, e ele quer que você a convença a ficar.
— Sim, é claro.
— Não entendi muito bem isso, acho que o Capicolé seria muito mais eficaz nesse trabalho. — ele provoca. Eu soco seu braço com força e me viro para Sharon.
— Então? — ela pergunta.
— Como está indo com a CIA?
— Corte o papo furado.
Eu pigarreio.
— Queremos você de volta a S.H.I.E.L.D.
— É... Não vai dar. — eu fico surpresa. Não tivemos muitos problemas com os outros membros.
— E por que não?
— Como quer que eu explique a CIA que estou simpliesmente saindo? E mais, a S.H.I.E.L.D ainda nem foi totalmente reconstruída.
— E é por isso que precisamos de toda ajuda possível. O quartel general está quase pronto, estamos fazendo um ótimo trabalho. Não precisa dizer a CIA onde vai!
Ela parece ponderar sobre o assunto, e depois seu olhar se desvia para algo atrás de mim. Eu me viro e vejo Steve parado, fitando Sharon. Sinto uma onda de ciúmes percorrer meu corpo. Ela precisava olhar daquele jeito? Eu pigarreio novamente.
— Então, o que vai ser?
— Preciso voltar a Washington, vou ajudar com o quartel. Me considere dentro.
Eu sorrio, mas na verdade, não estou tão feliz assim. E Steve só piora tudo:
— Ótimo, nós estamos voltando também. Vamos juntos.
— Seria ótimo! — eu forço uma risada.
— Excelente, partimos hoje a tarde.
Eu cumprimento Steve formalmente, o que parece incomodá-lo, e depois vou atrás de Angie. Me sinto extremamente protetora em relação a ela. Sinto como se eu devesse isso a todos eles, mantê-la a salvo. Quando estou quase entrando no quarto percebo que ela na verdade está com Tony, jogando um videogame de última geração, e até parece feliz. Por mais incrível que pareça, Tony também parece gostar dela.
— Natasha. — uma voz atrás de mim chama.
— Ah, oi Pepper.
— Ele gosta mesmo dela! Já até a deixou mexer com o Jarvis, dá pra acreditar? — ela sorri melancolicamente. — Mas o que eu queria dizer... Parece que James Bucky se lembrou de você. Eu não queria dizer perto do Steve porque afinal vocês não eram super amigos como eles, mas talvez você devêsse passar por lá antes de ir para Washington.
Eu assinto. Não consigo pensar em Bucky sem lembrar da facada nas costas, ou dos dias de tortura. Eu queria aproveitar meu tempo aqui para descobrir quem foi que fez aquilo com minha irmã, mas sei que posso fazer isso de longe, e Steve nunca me perdoaria se eu não fosse.
— Pepper, se souber de alguma coisa, qualquer coisa sobre o incidente do aeroporto...
— A polícia está investigando. A S.H.I.E.L.D também, mas eles estão disfarçados desta vez, não querem provocar um escândalo. Descobriremos logo, Natasha.
Eu dou um meio sorriso. Me sinto mais tranquila com o fato de a S.H.I.E.L.D estar cuidando disso. Visto uma roupa mais apropriada e vou até a base onde Bucky está.
Sou rapidamente levada a sala vasta onde Bucky se encontra. Ele parece melhor, o cabelo está limpo, os olhos menos selvagens. Mesmo assim, me mantenho a uma distância segura.
— Natasha Romanoff. — ele sauda, com um sorriso.
— James Bucky.
— Ouvi dizer que você está com o Capitão América.
— Se lembra dele?
— Não. Mas me lembro que você era minha namorada.
— Isso foi há muito tempo, James.
— É uma pena, você ainda é muito bonita. — ele sorri. Eu rio.
— Obrigada.
— Quais são as novidades? Ficar recluso aqui não me ajuda a ficar atualizado.
— Por onde começar? Ahn... Eu me juntei a .S.H.I.E.L.D. — ele franze o cenho, interessado. — Você ficou muito mal, estava sendo controlado pela HIDRA... Tentou me matar. A mim e ao seu amigo.
— O Capitão. Ele veio aqui um dia, me falou de você.
— Jura? O que ele disse?
— Estava chateado por ter perdido você. Disse que você tinha ido a uma... Clínica. — eu sinto um arrepio ao mencionar a clínica. — Vocês já se acertaram?
— Eu diria que sim.
— Isso é bom.
Ficamos um momento em silêncio, e ele pega minha mão. Eu me sobressalto com o gesto, mas não recuo. Deixo ele deslizar os dedos pelos meus.
— Sinto falta do mundo. Como está o clima lá fora? — ele pergunta, melancólico.
— Está nublado, um frio ameno. — respondo. — E não se preocupe, logo você estará livre.
— Eu sei.
— Prometa que vai me visitar.
— Onde vai estar?
— Isso depende muito. Estou indo para Washington ainda hoje, mas nunca estou em um lugar fixo.
— Tudo bem. Eu procuro você.
— Só mais uma coisa, Bucky.
— Sim?
— Tente se lembrar de Steve. Eu nunca fiz nada de bom para você, mas ele sim. Ele não desistiu de você nem um minuto. Quando ainda estavam na Guerra, ele foi atrás de você numa missão suicida. Ele é o melhor amigo que alguém poderia pedir.
Ele sorri.
— Pode deixar, Viúva Negra. Eu vou me esforçar.