The Bear escrita por JMcCarthyC


Capítulo 4
Três - Interferências




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Capítulo TRÊS – Interferências

 

I’m finding my way back to sanity again

Though I don’t really know what I’m going to do when

I get there.

-      Breathing, Lifehouse

 

 

Eu não ia para de correr.

Simplesmente não ia até que eu encontrasse um bom motivo para tanto e, sinceramente, eu estava torcendo para que o motivo em questão demorasse a aparecer.

Por mais que eu tentasse ignorar, tudo o que pulsava em meu cérebro era a imagem do insuportável do Edward me olhando com indiferença e depois me empurrando para longe.

Qual era o problema dele, afinal?

O que tinha de tão errado assim comigo que eu não conseguia ver? Ou melhor, que só o Edward parecia conseguir ver?

Sacudi a cabeça como se os pensamentos pudessem sair com o tranco, mas não aconteceu. Eles continuavam ali, martelando, ricocheteando em meu cérebro com uma intensidade incrivelmente maior do que a anterior.

Acelerei o passo.

Talvez a distância me fizesse bem. Talvez tudo que eu precisasse fosse ficar longe dele, do Carlisle e da Esme por algum tempo.

Andar sozinha.

Talvez nem voltar, se fosse possível. A não ser que eu realmente tivesse um motivo muito bom.

E eu não ia ter.

Passei meus olhos pela placa ao lado da estrada que avisava que eu estava entrando nos limites do estado da Carolina do Norte e parei de correr. Talvez aquilo fosse sul demais para mim.

Eu não ia ter onde me esconder, e o sol naquela região era forte demais. Não, decididamente eu não queria descer mais.

Tentei pensar no que fazer.

Tentativa inútil.

Eu não ia voltar e eu não tinha para onde ir. Olhei para o céu. Até onde eu sabia, eu ainda tinha bastante tempo até o amanhecer.

Respirei fundo.

O ar estava seco, mas consegui sentir uma brisa leve que se aproximava de mim. Uma brisa que trazia um cheiro que fez minha garganta arder com violência. Deixei que meus músculos se travassem, como se estivessem prontos para uma explosão a qualquer momento.

Fazia tempo.

Fazia tempo desde que eu havia cravado meus dentes no pescoço deprimentemente mole e quente de um humano... De um certo humano.

Um humano que havia merecido cada mililitro de sangue viscoso que havia sido sugado sem permissão de seu corpo. Sugado com vingança, sugado com ódio.

Só percebi que meus lábios estavam retorcidos em um sorriso quando precisei voltá-los para a posição normal.

O cheiro estava mais forte, eu começava a ouvir os passos tão desajeitados amassando a folhagem no chão.

Eles estavam se aproximando e eu podia dizer que era um grupo. Fosse pela sinfonia desafinada das respirações pesadas, fosse pelos timbres diferentes das vozes que sussurravam pela floresta.

Tentei por um segundo pensar no que eu deveria fazer.

No seguinte, desisti e me lancei pela floresta.

Eu não queria matar ninguém que não merecesse. Embora, tecnicamente, eu não precisasse obedecer Carlisle e nem seguir suas regras, alguma coisa dentro de mim se recusava a sair pulando no pescoço das pessoas sem motivo.

A minha garganta não aprecia concordar muito com aquilo, mas não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

Voltei a correr, outra vez sem um destino em específico.

Só o que eu sabia era que estava indo para o oeste e em pouco tempo passei por outra placa.

Uma placa que avisava que eu havia entrado o estado do Tennesee.

Lancei um olhar indiferente a ela e continuei a correr. O cheiro dos humanos já havia desaparecido, mas havia sido o suficiente para que minha garganta decidisse começar a reclamar de sede.

Tudo bem, talvez uma caçada não fosse tão ruim assim. Talvez poder descontar um pouco da minha frustração em um animal inocente me fizesse bem.

Mas teria que ser um animal grande. Enorme.

Alguma coisa com a qual eu pudesse brincar um pouco.

Me embrenhei mais na floresta, apurando a audição e o olfato.

O ritmo dos meus passos diminuiu, eu sabia que nada conseguiria me ouvir. Nada conseguiria me evitar.

Eu podia perceber a vegetação ficar mais densa, o ar cair ligeiramente mais frio.

Foi então que eu ouvi.

Interrompi a sequência de passos mudos e fechei os olhos, me concentrando apenas no som que a criatura fazia.

Ela estava sozinha, eu podia dizer. A algumas centenas de metros... Talvez um quilômetro a oeste, no máximo.

Eu não demoraria muito a chegar nela, mas eu não sabia se o esforço valeria a pena. A floresta era grande, devia haver centenas de animais corpulentos por ali, muito mais perto e que me proporcionariam o mesmo divertimento.

Devagar, avancei alguns passos para o norte.

Com um movimento brusco, virei minha cabeça para oeste outra vez.

A criatura urrava e eu sabia que apenas eu conseguia escutá-la àquela distância.

Lancei um outro olhar à floresta a minha volta. Silêncio.

Respirei fundo.

Eu precisava extravasar minha frustração de alguma forma, afinal e, foi como se meu corpo tivesse tomado a decisão por mim.

No segundo seguinte eu estava correndo a toda pelas árvores, desviando dos trocos e das pedras sem emitir um único som sequer.

Era estranho aquilo. Passar despercebida.

Correr sem ser notada, falar sem ser ouvida. Existir sem ser desejada.

Sacudi a cabeça com mais força quando o rosto de Edward se materializou em meu cérebro outra vez e eu acelerei os passos.

Eu só queria fincar os dentes na criatura, só queria poder bater em alguma coisa, despejar minha raiva de alguma forma.

Os passos do animal foram ficando mais fortes, o cheiro mais intenso.

Era um urso.

Era perfeito.

Era exatamente o tipo de desafio que eu precisava, o tipo de animal que me daria trabalho suficiente para que eu deixasse de pensar no insuportável do Edward por alguns minutos.

Ele estava perto, muito perto...

Eu quase conseguia ouvir o sangue sendo bombeado pelo coração enorme, rasgando as veias com velocidade, aquecendo o animal que em breve estaria morto.

Parei por um instante, mantendo a presa focada em minhas retinas.

Minha garganta ardeu com mais força, querendo sangue.

Eu obedeci.

Com um salto, me lancei contra o urso e tudo que eu conseguia ouvir eram os urros inúteis do animal tentando me atacar.

As patadas não doíam, sequer faziam um arranhão. As presas não conseguiam alcançar minha pele.

Aquilo era frustrante, de uma certa forma. Eu ia vencer, mas a parte da distração não estava funcionando como eu havia planejado.

Tive vontade de deixá-lo ir.

O sangue, tirado dele simplesmente por tirar, já não era mais tão convidativo.

Senti um baque em minha cabeça e percebi que havia sido uma patada do urso.

Bom, talvez aquele fosse um bom motivo pelo qual morrer, e assim que minha consciência concordou comigo eu escalei o corpo do animal e atingi a jugular dele com uma mordida certeira.

Eu podia sentir mais patadas contra mim enquanto o sangue quente descia pela minha garganta, todas inúteis. Com as veias drenadas, o animal foi amolecendo, os urros diminuindo, a inconsciência chegando.

Antes que eu pudesse terminar, meu corpo foi tomado por um frenesi e, com um movimento brusco, eu me virei.

O cheiro do sangue do urso ainda em meus lábios camuflava um pouco, mas eu tinha certeza.

Havia um humano ali.

Sem ter tempo de pensar, lancei-me entre as árvores e fiquei à espreita. O barulho do humano se aproximando aumentou e, segundos depois, ele estava ali.

De frente para mim, a apenas algumas dezenas de metros.

Eu podia ver os olhos dele, assustados. Arregalados e faiscantes, escaneando com incredulidade o corpo do urso inerte no chão.

Podia ouvir a respiração ofegante, podia ver o peito forte subir e descer para acompanhar o ar que entrava e saía dos pulmões em um ritmo frenético.

Engolindo em seco, ele deixou um pedaço de galho que segurava cair no chão e eu ri.

Ele só podia estar de brincadeira se pensava que seria capaz de abater um animal daquele tamanho com um pedaço de galho. Ou talvez ele fosse apenas pretensioso demais.

Apesar da noite, eu conseguia ver que ele era forte. Talvez fosse um soldado, o biótipo encaixava.

Corri meus olhos com mais cautela pelo corpo do homem, até que tive que eliminar a possibilidade anterior por causa dos cabelos. Eles não estavam em um corte rente, muito pelo contrário. Os cachos grandes eram visíveis por debaixo da boina, emaranhados por uma provável corrida.

Ainda em choque, percebi quando seus olhos – azuis, eu pude ver – encontraram os meus.

Foi por uma fração de segundo, mas eu percebi. E eu sabia que ele tinha me visto também, mas, por algum motivo, o homem deu meia volta e voltou para o meio das árvores de onde tinha saído.

Esperei que o cheiro que emanava dele se dissolvesse antes de deixar meu esconderijo, por assim dizer. Quando finalmente pude ir ao encontro do urso outra vez, o corpo do animal já estava frio. Dei um empurrão no braço do bicho com o pé; nada.

Inconsciente, voltei meu olhar para o pedaço de galho que jazia estirado no chão e o tomei em minhas mãos.

De uma certa forma, aquilo era perturbador.

De uma certa forma, eu havia salvado a vida daquele homem sem nem me dar conta daquilo.

Porque sim, ele ia morrer se tivesse trombado com o urso vivo. Ele não teria a menor chance e eu sabia daquilo.

Troquei o galho de mãos, ainda pensando no destino que aquele humano teria caso eu não tivesse chegado a tempo.

Caso eu não tivesse brigado com Edward, caso eu não tivesse decidido sair da Virgínia. Caso eu tivesse corrido um pouco mais devagar, ou tivesse decidido atacar os homens na Carolina do Norte. Caso eu não tivesse ficado com sede, caso não tivesse ido imediatamente atrás do urso, ou se eu o tivesse deixado ir embora...

Eram condições demais, situações demais. E eu havia contrariado todas elas. Eu havia contrariado o inevitável, talvez tivesse contrariado o que era para ser daquele jeito.

Talvez eu tivesse contrariado o destino.

O que era para ser ou não, eu nunca ia saber.

***

 

N/A: Rápido antes que o Nyah dê overloaded! q

Bom gente, desculpa pela demora, mas eu juro que é a QUARTA vez que eu tento postar! Vamos torcer pra dessa vez ir, porque tá #TENSO.

Bom, esse é o capítulo 3, onde as coisas começam a acontecer (?) hehehe

E aí, o que acharam? Deu nó na cabeça? É, quando eu comecei a pensar na coisa deu na minha também... ._.

Mas por favor, comentem! E cruzem os dedos pro Nyah colaborar com os capítulos, por favor... ¬¬'

Beijos gelados,

JMcCartyC, querendo destroçar o Nyah.

No twitter: http://twitter.com/JullieMcCartyC


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