Tinha sido um fim de semana inesquecível. Tudo estava na perfeita ordem e Molly quase podia tocar nas nuvens em que pisava. Will estava mais feliz que nunca, tinha aceitado Sherlock Holmes como seu pai, amigo, ídolo e tudo mais. A volta para casa tinha sido cheio de conversa daqueles dois. Quem diria que Sherlock pudesse falar tanto.

Agora que Molly estava no seu escritório, encarando um monte de documentos empilhados na sua mesa, a vida tinha voltado mais forte do que nunca. Mas ela estava feliz. Um sorriso teimava em aparecer nos seus lábios todas as vezes que ela olhava a foto dela com William já instalada na sua mesa. Ia pegar o primeiro documento para analisar, quando sentiu sue celular vibrar no bolso do terninho:

Não se preocupe. Vou buscar Will hoje na escola.

Teremos um dia de pai e filho.

Estou com saudades.

SH

De novo o sorriso. Dia de pai e filho? Que idéia seria essa agora Sherlock? Molly apenas sorria. Não tentava mais entender Sherlock. Ele era um mistério na maior parte do tempo e ela gostava. Tinha aprendido a gostar.

***

Sherlock tinha acordado renovado. O fim de semana tinha sido cheio de surpresas. Apesar de não gostar de surpresas, tinha gostado de algumas. Exceto pelo tapa surpreso de Molly. Aquilo realmente não estava nos planos, mas Molly era sempre a pessoa que mais o surpreendia. Ele a amava ainda mais por isso. E agora ele era pai. Estava até que se saindo bem com isso. Teve então uma idéia, pegou o celular e digitou uma mensagem. Se levantou e foi estudar alguns dos seus casos antigos. Ia ter uma longa conversa com um fã seu hoje. Precisava estar preparado.

***

Will tentava prestar atenção na professora falando alguma coisa sobre as plantas. Olivia o cutucava mostrando alguma coisa no caderno. Um coração. Um coração enorme vermelho. Dentro estava escrito: Olivia e Will.

Plantas. Redbeard. Ele tinha adorado o fim de semana. Tinha conhecido sua avó, avô, tio e conversado com Sherlock Holmes. Ele era legal, William tinha que admitir. Ele sabia que ele era legal, ele era Sherlock Holmes. Estava adorando a idéia. Seu pai era Sherlock Homes. Não podia estar melhor. Então o sinal tocou. Todos guardavam seus lápis de cor, estojos, cadernos e livros nas mochilas coloridas e saíam em disparada. Enquanto se levantava William sentiu um abraço. Olivia. Sem perceber ele estava abraçando também.

–Tchau Will. Até amanhã. – Olivia disse correndo em direção a porta, com as bochechas rosadas. Will apenas sorriu. Talvez ele tivesse uma fã. Elementar.

***

Quanta criança. Precisava que seu plano desse certo. O lugar era perfeito. Vários pestinhas correndo para os braços dos seus pais. Uma tremenda confusão. Ninguém nem iria perceber. Ele e Mark já estavam posicionado. Ele sabia exatamente o que fazer, nunca tinha estado com uma idéia tão simples na cabeça. Ah, ali vem ele, sua mente concluiu, a sua boca automaticamente esboçando um sorriso. Tão pequeno. Tão esperto. Tão Sherlock Homes.

***

– Will – Mark acenou para que ele pudesse vê-lo no meio daquela multidão. William então o viu. Sentiu um medo, aquele medo toda vez que olhava para Mark. Tentava não cruzar com ele nos corredores da escola. Depois daquela “briga”, William evitava Mark a todo custo. E agora ele estava ali. Acenando para ele. No desespero, William procurou Molly. Não a achou em lugar nenhum. Começou a andar em direção a Mark. Um homem com um sorriso medonho estava com as mãos no ombro dele.

– Oi Will. Esse aqui é o meu pai. Não precisa ter medo. Eu quero apenas te pedir... desculpa.

– Desculpas de verdade, certo Mark? – O homem sorria para Will.

– Sim, meus pais disseram que seria o certo fazer. Hey, você gostaria de ir tomar sorvete com a gente? – Mark sugeriu com uma certa animação. William não entendia. Mark estava sendo legal? E sorvete? Com todo aquele frio? William endireitou a pequena mochila nas suas costas. Mamãe, cadê você? Então William se lembrou de Molly ter dito para ele fazer mais amizades. Ele não tinha obedecido muito bem. Só tinha Olivia de amiga. Talvez um sorvete não seria má idéia. E Molly estava atrasada. Talvez quando voltassem Molly já tivesse chegado para pegar ele na escola.

– Tudo bem. Mas não posso demorar, minha mãe vai vir me buscar. – William disse. Então viu Mark entrar dentro de um carro preto estacionado atrás deles, deixando a porta aberta:

– Pode entrar Will. – O homem, pai de Mark disse. – Vai ser bem divertido. – Disse enquanto digitava alguma coisa no celular.

***

Sherlock estava atrasado. Tinha ficado muito tempo lendo sobre seus casos. Adorava fazer isso e sempre perdia a noção do tempo. Estava ansioso para encontrar William. Ia ser somente eles dois.

Enquanto andava muito rápido pela calçada, Sherlock esbarrava em algumas pessoas. Já estava quase chegando na escola de Will. Tinha tido a péssima idéia de não pegar um táxi e ir andando.

Agora Sherlock já conseguia ver aquela confusão das crianças saindo da escola. Não estava tão atrasado assim. No meio da confusão, reconheceu um rosto. Jack. Jack do St. Bartholomew’s Hospital? O que ele está fazendo na saída da escola de Will?

Sherlock conseguiu ver uma criança parada na frente dele. Pela descrição que Will tinha contado no fim de semana, aquele deveria ser Mark. Mark-valentão. Sherlock sorriu, uma boa hora para ter uma conversa com esse Mark.

Enquanto se aproximava, Sherlock sentiu o celular vibrar no bolso:

Miss me?

JM

Sherlock parou automaticamente assim que viu as iniciais. Não podia ser. Sherlock estava parado, a uns 5 metros da escola de Will. Sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. Encarava o celular, tentando entender que brincadeira era aquela e sentia suas mãos tremerem.

Quando olhou para frente viu uma criança pequena de cabelos pretos encaracolados entrar num carro preto. William. Jack estava olhando para o celular com um sorriso no rosto enquanto segurava a porta para Will entrar.

Sherlock não entendia. Onde Will estava indo? E ainda mais, com Jack?

Quando Sherlock ia dar um passo, foi interrompido. Jack agora olhava para ele. Seus olhos o encaravam, estavam com um brilho maligno nos olhos que Sherlock conhecia bem. Jim Moriarty tinha esse brilho maligno nos olhos. Jack estava sorrindo para Sherlock. Um sorriso cheio de falsidade e superioridade. Exatamente igual a Jim Moriarty. Com um aceno com o celular para Sherlock, Jack fechou a porta do carro.

De novo, Sherlock tentou dar um passo, mas como num piscar de olhos, Jack tinha desaparecido.

Desaparecido e levado William junto.