Red Velvet escrita por Lena Saunders


Capítulo 3
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Quando cheguei no apartamento naquela noite eu estava psicologicamente exausta e precisava de um banho quente, uma refeição gostosa e uma cama macia. Não necessariamente nessa ordem.

– Astryd! Você demorou! - Aideen gritou da cozinha quando me ouviu chegar. - Estou fazendo o seu favorito hoje! Macarrão e nuggets!

– Obrigada Deen. - Joguei minha mochila no sofá. - Eu vou tomar banho e já volto. Oi meninos.

– O que aconteceu? - Aaron perguntou subitamente.

– Nada. Porque você pergunta? - Essa não era uma conversa que eu estava ansiosa para ter.

– É obvio que aconteceu alguma coisa. Você nunca espera para jantar.

–É verdade, Spring. - Alec usou meu segundo nome. Aquele que eu amava e odiava pela mesma razão. Aquele que me ligava à eles. - Você sempre chega exigindo o jantar. Desembucha.

Ah, meu querido irmão Alec Winter. Sempre tão delicado quanto uma jamanta desgovernada em uma loja de cristais.

–Vocês sabem o que aconteceu. Algum de vocês contou para Ethan Mahogany que são meus irmãos. E agora vou precisar ajuda-lo com uma competição estúpida. E pare de comer meus nuggets, Aaron!

– Pensei que você fosse tomar banho! - Ele protestou enquanto eu pegava a tigela de nuggets na frente dele.

– Mudei de idéia. Resolvi que vou jantar primeiro. Agora digam, quem foi que me entregou? Isso não é característico de vocês.

– É porque não fomos nós. Ninguém disse nada para ele. Mas fico impressionado que sua amiguinha finalmente tenha te contado que eles são irmãos. - Aaron disse enquanto tentava pegar um nugget.

– Vocês sabiam que eles eram irmãos esse tempo todo?

– Astryd, nós realmente sentimos por nao termos te contado. Mas esse era uma direito da sua amiga, ele é familia dela.- Respondeu Aideen.

– E vocês são a minha!

– Ah, agora nós somos familia. Muito justo, realmente. - A voz de Alec era amarga.

– Alec, este não é o momento... - Aideen intercedeu.

– Este é exatamente o momento, Autumn. Nós só somos familia dela quando é conveniente para ela! - Alec respondeu.

– Isso nao é verdade! - Argumentei.

– Claro que é! Nós estivemos juntos desde o útero Astryd! Nós viemos ao mundo juntos! Crescemos juntos! E do nada você decide que precisamos nos separar, mas nunca nos consultou! Nunca nos perguntou o que nós queríamos! Somos quadrigêmeos! Quatro, não um! Você não é a única que se importa! - Alec gritou, antes de ir para o seu quarto e bater a porta com o máximo de força que conseguiu.

– O macarrão está pronto. - A voz de Aideen era um sussurro.

Ele colocou o macarrão na vasilha de servir enquanto Aaron foi atras de Alec, sem nem mesmo pedir licença, o que não era muito típico dele.

– Você também acha isso, Aideen? - Perguntei. - Acha que eu estou errada?

– Nós temos 16 anos, Astryd. O que sabemos sobre a vida? - Ele coçou a barba rala e ruiva, cultivada com esforço.

– Mas o que você acha?

– Acho que você tomou uma decisão. Você pode ter vindo ao mundo com nós três, mas é diferente de nós, e sempre vai ser. Desde que era pequena eu sei que você se sente como se não se encaixasse. Alec não entende isso. Para ele, nós quatro somos apenas um. Mas tenho certeza que um dia você vai encontrar o seu lugar, e tudo ficará bem.

– E o que eu devo fazer até lá?

– Siga seu coração. Há alguns meses ele te disse que você precisava se emancipar de nós e dos nossos pais. Por isso viemos para cá lembra? E por isso fingimos não te conheçer. Para te dar seu espaço. Mas pense em como você se sentiu quando descobriu que Ethan e Khyra são irmãos. Isso não é nem de perto como ela vai se sentir quando descobrir sobre nós. Você nunca teve amigas antes, mas acho que honestidade deve ser algo importante.

– Então eu devo contar à ela?

Ele sorriu. O sorriso de Aideen era doce e agradável, como sempre.

– Não, menina boba. Você deve fazer o que você quiser e se preocupar consigo mesmo pelo menos uma vez na vida. Acha que pode fazer isso?

– Eu sempre posso tentar.

– Esse é o espirito. Agora coma.

Alec retornou para a cozinha assim que acabei de me servir, a mão de Aaron em seu ombro.

– Me desculpe Astryd, eu sei que você não quis magoar nenhum de nós. - Alecdisse. - Eu estou tentando entender sua perspectiva. Juro que estou.

– Tudo bem Alec. Eu sinto muito por complicar as coisas para vocês. Aqui, pegue o resto do nuggets.

– Hey! - Aaron protestou.

Ah sim. Eu nunca me cansaria disso. Apenas mais uma noite em casa, com meus irmãos. Com a minha família.

Cheguei mais cedo do que o necessário para as aulas do sábado, já que Ethan não especificara o horário do treino e eu não pretendia dar a ele quaisquer motivos para contar meu segredo. Ele já estava na quadra se alongando, seus músculos realçados pela camiseta justa.

– Pode se alongar. Começaremos com tiro ao alvo hoje.

– Bom dia para você também, Ethan. Eu estou bem, e você?

– Eu estaria melhor se você estivesse se alongando.

Revirei os olhos e comecei meu alongamento. Cinco minutos de puro silencio depois ele me pediu para segurar uma pistola vermelha de plástico.Ela era muito mais leve do que uma de verdade e não tinha lugar para colocar as balas.

– Para que serve isso?

– Para treinarmos sua pontaria.

Ele caminhou até uma tela no canto da quadra e a ligou, configurando-a em seguida. Os três primeiros alvos vermelhos surgiram na tela, prontos para serem atingidos.

Me lembrei da viajem que fizéramos para a Suíça, há seis anos. Meu pai insistira para eu e meus irmãos jamais contarmos à minha mãe o que ele iria nos ensinar.

Arrumei minha postura. Inspirei. Expirei. Inspirei. Três alvos, parados. Três tiros. Novos alvos surgiram, se movendo lentamente. Mais três tiros. Me afastei, indo até a metade da quadra. Novos alvos. Corpos marcados, dessa vez. Cinco tiros. Cabeça. Cabeça. Coração. Cabeça. Coração. Mais alvos.

Eu amava aquilo. Assim como amara há seis anos. Embora atirar com aquela pistola não possuísse a mesma magia ou o mesmo impacto de uma de verdade. Havia algo magnifico em se segurar uma arma, e não falo do poder de matar alguém. Não. O impressionante é o poder da decisão. Poder decidir entre atirar ou não. Decidir entre a vida e a morte. Salvar alguém. Atirei novamente.

– Bem, acho que eu acertei ao te escolher. - Ethan disse.

– Obrigada, eu acho.

Ele se sentou e eu continuei atirando. Os alvos se moviam mais rápido. Depois de quinze minutos, era uma simulação. Pessoas andavam pela rua e eu precisava acertar apenas as que tinham um ponto vermelho acima da cabeça. Errei apenas quatro, que passaram de raspão pelos alvos.

Quando o sinal para a aula tocou, agradeci mentalmente. Meu braço estava ficando dolorido após passar tanto tempo atirando.

– Eu te aviso antes do nosso próximo treino.

– "Nosso treino"? Eu fiz todo o trabalho!

– Eu treinei antes de você chegar. Mas, se é tão importante para você me ver suando, treinaremos juntos da próxima vez.

– Muito engraçadinho, Ethan. Tão engraçado que esqueci de rir.

Ele me olhou sério, suas sobrancelhas franzindo como as de Khyra. Não acredito que eu não notara as semelhanças entre eles antes. Alguns segundo de silêncio se passaram, seu semblante variando de sério à confuso.

– Até mais, Ethan.

Me virei e, sem olhar para trás, fui para minha sala.As aulas se arrastaram naquela manhã. Eu sabia que precisava falar com Khyra a respeito dos meus irmãos, mas não sabia por onde começar. Eu caminhava até a saída enquanto pensava no que dizer.

"Então, Khyra. Lembra quando eu disse que não conhecia aqueles caras lá na cantina? Então, eu menti. Eles são meus irmãos e nós vamos pedir pizza hoje, quer vir?" - Não. Direto demais.

"Khyra, minha ami... Khyra! Eu sinto muito por não ter te contado mas eu tenho irmãos. Três deles, na verdade. Ah, e são aqueles caras ali."

Isso seria complicado. Eu pensava em mais formas de dar a notícia, quando uma mão tocou meu ombro. Reflexivamente eu dei uma cotovelada no estômago do ser não identificado e em seguida me virei, meu pé voando na direção do rosto de Peter. Cora agarrou meu pé no ar, me soltando assim que me acalmei.

– Eu sinto muito! Você me assustou! Ah meus deuses! Você está bem?!

– Agh. Tudo bem. Vou sobreviver. Nós estávamos te chamando há um tempão. - Peter respondeu. - Vamos almoçar em um restaurante aqui perto, pode vir se quiser.

– Ah, claro. Sim. Obrigada.

Caminhamos enquanto todos os outros conversavam. Maeve estava em um intenso monólogo sobre a importância de uma boa hidratação capilar, enquanto Eccho e Cora fingiam ouvi-la. Inusitadamente, Peter parecia genuinamente interessado. Derek e Isaac permaneciam concentrados em se manter fora da conversa.

Acabei ficando um pouco para trás para mandar uma mensagem para meus irmãos, avisando que almoçaria fora, e Khyra prontamente se juntou a mim. Acho que era o destino. Respirei fundo antes de começar.

– Ãh... Khyra. Eu preciso te contar uma coisa, mas não sei como. - Mexi nos meus próprios dedos, tentando me acalmar.

– Oh, não se preocupe. Eu sei que seu cabelo é pintado, mas não está tão ruim, eu juro. - Ela disse afagando minha cabeça.

Acho que fiquei em estado de choque por uns três segundos. Isso significava que meu cabelo estava realmente deplorável. Mas isso era assinto para mais tarde. Khyra era minha primeira amiga, se é que eu já podia chamá-la assim, e eu não queria magoá-la.

– Na verdade, é sobre a minha família. - Tentei começar de um modo genérico.

– O que tem? Eles moram na Europa, não é? E você esta morando sozinha aqui para terminar seus estudos.

Pelo menos essa era a história que eu contara. Tantas mentiras.

– Então, eu não estou exatamente sozinha. Estou com meus irmãos.

– Ah, então você tem irmãos? - Ela piscou seus enormes olhos azulados para mim.

– Sim, três deles na verdade. - Respire, Astryd. Respire.

– Espero conhecê-los um dia.

– Você já os conhece, Khyra.

– Ah sim. Fico feliz que tenha decidido me contar. - Ela me chocou.

– O que?! Você já sabia?! - Eu estava gritando.

– Não se preocupe, só eu sei. Seu segredo está seguro.

– Será possível que só eu não sei das coisas aqui?

– Do que você está falando? - Agora ela parecia confusa.

– Do fato de você também ter um irmão! E de ele ser o diabo em pessoa!

Khyra parecia chocada, mas não esperei pela sua próxima reação. Marchei até o taxi mais próximo e voltei para o meu apartamento. Para a minha família.


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Notas finais do capítulo

Cade meus lindos leitores fantasmas?
Adoro vocês apesar do vácuo e do silêncio.
~ Lena.



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