Tenho me preocupado demais com Thomas. Aquele louco do Marcos tá certo. Metido a filosofo de uma fica! Minha cabeça está a pipocar em milhões de pensamentos. Uma bagunça total que nem consigo me concentrar nas coisas que realmente são importantes. Um exemplo disso é como tenho sido tão idiota esses dias. Eu não sou assim, mas me deixei dominar pela minha paixonite idiota a qual tenho por ele.

Thomas sempre gostou de ser o centro das atenções. Talvez se eu o esquecer por um tempo as coisas voltem ao normal. Como o filosofo reencarnado disse: Às vezes só é preciso um pouco de quietude para tudo se acertar.

Com a cabeça encostada na janela, me encolho um pouco tentando me aquecer. Apesar do casaco que “O louco” emprestou que agora se encontra úmido. Ele não está sendo capaz de me esquentar. Afinal, estou encharcada. Pelo menos o casaco não está fedendo. Na realidade é cheiroso. Inalo a fragrância masculina impregnada no casaco.

Devo decidir se vou pra casa da Ranna ou do Bruce. Caso vá pra casa da Ranna, terei que pegar mais um ônibus. E se for à do Bruce, em breve chegará ao ponto, e terei que descer.

Retiro o celular da bolsa. Torcendo para que o infeliz esteja vivo, e não tenha morrido afogado nessa chuva. Ligo a tela, quase dando um pulo e gritos de alegria. O celular está vivo e bem. Vou até os contatos, logo em seguida teclando para chamar o número.

_Quem é? _Questiona irritada como sempre. O que não é nem uma novidade. Quando Ranna está calma?

_Oi pra você também.

_Eny. Pode esquecer...

_O quê? _Questiono se entender.

_É noite, tá chovendo e você está ligando pra pedir a minha ajuda porque assassinou o idiota do Thomas.

_Assassinei? _Ela tá viajando nas ideias. Essa garota tá usando drogas?

_Não falei! _Dar um grito, o que faz com que afaste o celular do ouvido, antes que meus tímpanos fossem estourados por uma louca psicopata.

_Ranna, deixa de delirar. Tomou suas taxas pretas direitinho hoje? Esquece... To vendo que não.

_Rainha, a pipoca está pronta. _Ouço uma voz masculina ao fundo. Não acredito... Será? Começo a gargalhar como uma louca.

_Pare de rir sua hiena! _Grita.

_É que é muita loucura do universo pra um dia só. Não acredito que o Kyle está na sua casa! Deixe-me adivinhar... Pipoca, filme, está de noite e chovendo... A temperatura ta subindo...

_Cala a boca sua ridícula! _Imito barulho de beijos.

_ Não é nada disso que você está pensando. Ele é apenas meu escravo.

_Quem é rainha? _O escuto perguntar.

_Não é da sua conta! _Só a Ranna sendo doce e educada como de costume.

_Deixe-me falar com ele? _Faço voz manhosa.

_Não! E não adianta imitar essa voz irritante de doce. Você não é mais criança, e se continuar a me perturbar, o papai Noel colocar carvão na sua meia.

_Que maldade Ranna. Muita maldade até pra você. Quer dizer que ainda acredita no papai Noel?

_Eny, não ouse dizer que ele não existe! _Caímos na gargalhada, rindo como loucas. Ainda bem que o ônibus está praticamente vazio. As poucas pessoas que têm já se conformaram que eu irei ficar rindo como uma hiena aqui.

_Nove meses depois... Que tal me dizer agora por que ligou?

_Pra ajudar a escolher o nome do bebê é claro.

_Gerúndio.

_Tá retardada? Não vou por o nome do meu filho de Gerúndio. E eu nem disse se era menino ou menina.

_Se for menina Creolina. Pronto, acabou. Vai registrar logo no cartório.

_Sei... E o seu filho vai se chamar Raimundo.

_Vai dizer o motivo da ligação ou quer continuar treinando pra se tornar palhaça com essas suas piadas ridículas?

_Você está estragando meu sonho. Desde pequenina que sonho em ser palhaça... _Imito um choro falso.

_Vá à merda Eny! Anda logo, quero ver um filme aqui.

_Se eu disser você me deixa falar com o Kyle? _Ela fica alguns segundos em silencio. Penso até que ela desligou. Olho o celular, mas não.

_Tudo bem.

_Eu ganhei! Sua curiosa de uma figa!

_Eny! _Ela me repreende com uma voz raivosa e assustadora.

_Queria saber se posso passar a noite na sua casa, mas como o Kyle está ai...

_Sua safada! Não fique imaginando coisas pervertidas sobre mim e esse idiota. E você já não queria vim mais, apenas usou da minha curiosidade e falta de paciência pra poder eu deixar que fale com ele.

_Nem pense em desligar Ranna! _Grito, mas já é tarde. Ele desligou na minha cara. Ligo de novo. Chama, chama, mas ela não atende. Já estou pensando em desistir.

_Alô! _Quem atende é Kyle. O que me surpreende e muito.

_Kyle, cadê a louca da Ranna?

_Saiu do quarto bufando. Mas parecia um dragão prestes a incendiar tudo. _Sei bem como ela está. Dou um pequeno sorriso.

_Ela me mandou atender. Disse que você queria falar comigo.

_Sim. O que está rolando entre você e a Ranna? _Vou direto ao ponto, sem fazer rodeios.

_Como assim?

_Quero dizer... Estão tendo algum envolvimento amoroso?

_Claro que não! _Responde rápido.

_Por que tá na casa dela? Vai dormir ai? _Facho uma avalanche de perguntas. Uma atrás da outra.

_Minha rainha estava se sentindo sozinha. Ofereci-me pra fazer companhia a ela. _ Dou um logo suspiro. Ranna sempre se sente sozinha quando está em casa. O Pai dela nunca está e despensa a empregada de propósito para deixá-la ainda mais sozinha. Não dispenso adjetivos para dize o quanto o pai de Ranna é horrível! Ele culpa Ranna pela morte da mãe, mesmo ela não tendo culpa alguma. E por talvez ela se tão parecida com a mãe. Mesmo pintando os cabelos, vestir roupas pretas e rasgadas e usar maquiagens pesadas, é visível a o quanto ela se parece com a mãe. Mas apesar disso, ele não deveria em nem um momento descontar sua raiva sobre a filha, que também está sofrendo, assim como ele.

_Tudo bem Kyle. Só cuida dela, está bem. Diz a Ranna que estou pedindo desculpas pelas brincadeiras e que a amo muito.

_Irei dizer.

_Obrigada. Tchau! _Encerro a ligação. É, pelo jeito terei que ir passar a noite na casa do Bruce.