Caio no sono ainda decidida a não desistir tão fácil. Tenho que conseguir um plano concreto para quebrar as castas, mas sei que isso só será possível se eu conseguir ler o resto daqueles diários. Maxon não conseguirá pegá-lo novamente pra mim, e duvido que ele confie em mim o bastante depois da burrada que eu fiz da ultima vez. Não tiro a razão dele, mas ainda assim isso me machuca de maneiras que eu não consigo entender.

Isso me lembra que tenho que provar minha confiança para Maxon, e acho que isso será ainda mais difícil do que eliminar as castas. Posso saber bagunçar as coisas, mas nada como sei bagunçar meu relacionamento com Maxon.

Acordo com uma fresta de luz batendo no meu rosto. Me levanto, ainda sonolenta, e apenas obedeço as ordens de minhas criadas quando elas vêm me arrumar. Ainda estou entorpecida. Mal consigo me mexer. Desço para o café da manhã sem prestar muita atenção no que está a minha volta. Estou imersa em pensamentos, mas ao mesmo tempo não consigo pensar em nada.

A presença da princesa Daphne me incomoda de tal maneira que mal consigo desfrutar do café da manhã delicioso que estou comendo. Sei que minha cara não é das melhores, mas não consigo deixar de encará-la. Ela é tão perfeitinha, tão delicada e princesinha que me deixa com mais raiva dela, porque não importa o quanto eu me esforce pra ser boa para Maxon ou para o cargo, nunca serei como ela que já nasceu pronta pra isso, e isso me deixa irritada porque não posso fazer nada para mudar isso. Minha vontade agora é de chorar, mas não me permito fazer isso , não na frente das outras selecionadas e de Daphne.

Após o café, subo para meu quarto ainda pensando em meu próximo passo. Tenho que chegar até os diários para conseguir montar um plano para eliminar as castas. Ainda me lembro do caminho para a biblioteca, então saio rapidamente e vou andando discretamnete, fingindo que estou apenas admirando o castelo.

Tomo cuidado para nenhum guarda suspeitar de mim. Subo algumas escadas que sei serem proibidas para as selecionadas.

– A senhorita não tem permissão para subir aqui - diz um guarda com a voz grossa e firme parado na escada.

– Tudo bem , me desculpe - digo sorrindo.

Me afasto apenas o suficiente para que ele não consiga me ver. Então, quando ele sai de seu posto por alguns minutos para falar algo com outro guarda um pouco mais distante, eu corro escada acima. Me arrependo quase que imediatamente de não ter trocado de sapatos.

Encontro o lugar onde a biblioteca fica. A entrada escondida esta escoltada por 3 guardas. Permaneço ali tempo o suficiente para ver um dos guardas entrando na biblioteca para ter certeza que ninguém esta lá dentro e depois voltando para seu posto. Automaticamente uma luz de ilumina e eu sei exatamente o que fazer.

– A Senhorita não tem permissão para ficar aqui - ouço a mesma voz grossa e firme acima de mim.

– Desculpe, eu não sabia - digo, andando na direção oposta do guarda, que agora foi até o outro guarda que entrou na biblioteca e fica no lugar dele. Eles trocaram seus turnos.

Tenho certeza que esse meu atrevimento de vir até a biblioteca chegará aos ouvidos do Rei. Ele com certeza vai colocar mais guardas para monitorar a sala, mas isso não impedirá o meu plano. Viro-me e vou embora para meu quarto, ansiosa para pedir ajuda para uma pessoa que sei que irá me ajudar.

Espero anoitecer e todos irem dormir para sair do quarto novamente. Coloco uma das calças que Maxon me deu em nosso primeiro encontro e uma blusa que trouxe comigo de casa. Abro a porta do meu quarto apenas o suficiente para colocar a cabeça para fora. Após checar que não tem ninguém no corredor, saio andando cuidadosamente pelos corredores do palácio.

Eu sei que o palácio é enorme e que provavelmente não vou achar quem estou procurando, mas não desisto. Desço as escadas o mais rápido e sileciosamente que consigo e torno a correr olhando em volta. Vejo a silhueta que procuro do lado de fora do jardim, ollhando para os lados, montando guarda.

Me aproximo cuidadosamente e toco seu ombro. Ele se vira alarmado.

– Meri - Aspen diz - O que faz aqui? Volte pro seu quarto, é perigoso.

– Preciso falar com você.

– Alguém pode te ver. - ele sussurra.

– Vire de costas pra mim e continue montando guarda... Vou ficar escondida atrás de você.

Aspen se vira, ainda um pouco duvidoso.

– Ta bom, o que foi? - ele sussurra pra mim.

– Aspen, estou com um problema.

Conto a ele sobre o bilhete rebelde, e que estou planejando acabar com as castas, mas que preciso da ajuda dele para dar inicio ao plano.

– Preciso da sua ajuda.

Sem pestanejar ele responde:

– Qualquer coisa... Mas pra que precisa de mim?

– A biblioteca do palácio esta sendo sempre monitorada agora.

– Sim, a cada duas horas um guarda entra lá pra checar que ninguém entrou sem autorização. - Aspen confirma.

– Não posso pedir para Maxon entrar e trazer livros pra mim. Seria arriscado demais e o Rei suspeitaria.

– Então você quer que eu entre? - ele pergunta.

– Sim... Aspen, você é guarda... Posso pedir para Maxon trocar seus turnos e você poderia trazer os livros para que eu possa bolar alguma coisa pra eliminar as castas.

– Posso mudar meus turnos, você não precisa pedir a ele - Aspen diz, quase que cuspindo a ultima parte.

Apenas ignoro.

– Seria melhor ainda. Não posso envolvê-lo nisso... Não ainda.

Aspen fica em silêncio, apenas digerindo o que eu acabei de dizer. Ele olha ao redor, apenas confirmando que ninguém esta nos vendo. Faço o mesmo. Por fim, ele suspira.

– Meri, eu acho um ótimo plano... Eu realmente quero que as castas acabem mas... Por que você esta tão decidida a fazer isso? É só por causa do bilhete?

Engulo em seco. Não posso contar para ele que minha verdadeira motivação é parar o casamento de Maxon e Daphne, porque eu quero me casar com ele. Não posso dizer isso a Aspen porque não quero magoá-lo e também porque ele iniciará uma discussão e eu não estou com cabeça pra discutir agora. Respiro fundo.

– Sim... É só por causa do bilhete. - minto.

Aspen vira a cabeça apenas para conseguir me ver de canto de olho. Sei que ele não acredita em mim, mas ele apenas assente.

– Tudo bem... Fique acordada amanhã a noite e eu levarei os livros pra você... Agora volte pro seu quarto antes que alguém te veja.

– Obrigada Aspen. - digo. Depois faço o mesmo caminho de volta ao meu quarto sentindo um peso sobre meus ombros por ter o enganado assim.