Capitulo 3 – Lembranças.

 

 

 

A viagem ate Jaksonville pareceu mais longa que o necessário, Bella parecia impaciente também. O pior era o que estava por vir, longas horas em casa esperando que o sol desça para que eu possa colocar meu rosto na rua...virei os olhos para cima e para baixo esperando que aquilo passasse logo. Apesar de pequena Forks era muito mais nublada e receptiva a nós vampiros. Olhei para Bella e a observei com cuidado estava pensativa e calada. - Você estava muito quieta. O avião te deixou enjoada?

 

- Não, eu estou bem – ela pareceu sincera.

 

- Você está triste por ir embora? – indaguei.

 

- Mais aliviada do que triste, eu acho desnecessário pedir que ele mantivesse os olhos na estrada. Renée é muito mais... perceptiva do que Charlie de algumas maneiras.

 

- A sua mãe tem uma mente muito interessante. Quase infantil, mas muito intuitiva. Ela vê as coisas diferente das outras pessoas – o mais interessante, no entanto era o fato de Renée expressar o que realmente sentia, a mãe de Bella gostava de mim e como todos sentia-se fascinada pela nossa beleza. “ ele é muito bonito” pensava, “Minha filha parece muito apegada a ele, preciso conversar a sós com Bella.” Entretanto seus pensamentos também estavam preocupados com os jogos que seu marido Phil teria nesse final de semana.

 

Eu sabia que Renée queria estar sozinha com Bella embora eu não gostasse nada da idéia dela andando pela cidade sem minha companhia, ela era uma azarada nata, onde quer que ela estivesse o perigo a encontrava. Precisava inventar uma desculpa que coubesse exatamente naquela hora. Não queria interromper aquele momento que eu sabia, era tão importante para Bella. Eu sabia tudo que se passava na cabeça de Renée, todas as suas duvidas em relação a mim, ela ensaiava de todas as formas como faria para tocar naquele assunto com Bella.

 

Aquilo me preocupava mais não a ponto de acreditar que Renée desconfiava de algo, passei aquele tempo sozinho, imaginando como estariam as duas sozinhas naquela cidade movimentada, será que estavam bem? Será que Bella não tinha caído e se machucado? Por que demoravam tanto pra voltar? Carlisle tinha razão, eu era extremamente protetor em relação a ela, mas o que eu podia fazer se ela era tão atrapalhada? Emmett também me chamava à atenção em relação à transformação dela. Ele acreditava que os Volturi viriam logo e que ai sim estava o perigo.

 

Ouvi os pensamentos de Renée, pude notar que ela também achava estranha a forma como eu protegia Bella, eu precisava, eu a amava e dentro da sua mortalidade ela era capaz de me manter alerta a qualquer que fosse o perigo. Meu telefone vibrou em meu bolso, olhei o visor e percebi que era Alice – já passou Edward, pode ficar tranquilo agora.

 

No caminho de volta a Forks, Bella adormeceu em meu ombro, acariciei seu cabelo suavemente e beijei-lhe a testa.

 

- Você está em casa, Bela Adormecida. Hora de acordar – parei o carro em frente a casa de Charlie, lá de dentro pude ouvir os pensamentos de euforia e alivio por termos voltado, mais havia algo mais, não em Charlie e sim no ar. Um cheiro que eu conhecia bem...olhei ao redor e para a mata que se estendia atrás da casa rapidamente, tentei ouvir algo e nada, talvez Alice tivesse razão.

 

- Quão ruim? – ela parecia preocupada.

 

- Charlie não vai ser difícil ele sentiu a sua falta. - respondi ainda tentando identificar onde o cheiro era mais forte. Peguei a sua mala e a carreguei para dentro da casa onde Charlie nos esperava na porta - Bem vinda ao lar, guria! Como foi Jacksonville?

 

- Úmido. E com insetos.

 

- Então Renée não te convenceu a ir para a universidade da Flórida?

 

- Ela tentou. Mas eu prefiro beber água a inalá-la. – ele não queria deixar transparecer mais estava feliz com o retorno de Bella para casa ele tinha medo que ela decidisse morar com Renée novamente, ele era durão, não queria parecer feliz por me ver também. - Você se divertiu?

 

- Sim, Renée foi muito hospitaleira. – respondi, naquele momento eu ainda estava sentindo o cheiro que conhecia bem

 

- Isso é... hum, bom. Fico feliz que vocês se divertiram. – ele se virou abraçando Bella.

 

- Impressionante – ouvi ela cochichar, segurei o sorriso e Charlie também.

 

- Eu realmente senti sua falta, Bells. A comida aqui é uma droga quando você não está.

 

- Eu vou cuidar disso – ela soltou-se do abraço dele indo em direção a cozinha.

 

- Você poderia ligar para Jacob antes? Ele esteve me enchendo a casa cinco minutos desde as seis horas dessa manhã. Eu prometi que te faria ligar pra ele antes mesmo de desfazer as malas.- aquelas palavras me atingiram como um raio, o que aquele lobo queria com Bella? Percebi a insegurança em seu olhar, tentei conter meu impulso de tirar satisfações com aquele vira-latas

 

- Jacob quer falar comigo? – ela disse ainda insegura.

 

- Muito, eu diria. Ele não quis me dizer sobre o que era, só disse que era importante.- o telefone tocou, naquele instante senti todo meu corpo enrijecer.

 

- É ele de novo, eu aposto o meu próximo salário - Charlie murmurou.

 

- Eu atendo. – ela seguiu para a cozinha enquanto eu a seguia, precisava manter o controle sobre minhas emoções, não iria estragar tudo com Charlie por causa de Jacob. - Alô? – ela atendeu, não precisei forçar meus ouvidos para ouvir o que ele falava do outro lado da linha.

 

- Você está de volta – ele disse caloroso demais, por que eu não conseguia ler os pensamentos de Bella? Seu olhar vagou pela cozinha como se estivesse lembrando-se de algo. Será que ela se lembrava dos momentos que passou com ele? Fechei os punhos para não demonstrar o que estava sentindo, por que ele havia ligado? Será que tinha ligação com aquele cheiro? Bella pigarreou desconcertada.

 

- Sim – ela respondeu.

 

- Porque você não me ligou? – ele questionou, quem ele pensava que era?

 

- Porque eu estava em casa há exatamente quatro segundos e a sua ligação interrompeu Charlie que estava dizendo que você ligou.- Ela explicou.

 

- Oh. Desculpe.

 

- Claro. Agora, porque você está assediando Charlie?

 

- Eu preciso falar com você.

 

- É, eu descobri essa parte sozinha. Vá em frente.- a conversa estava tomando um rumo desconhecido. Ele parecia pensar na próxima pergunta.

 

- Você vai para a escola amanhã?

 

- É claro que vou. Porque não iria?

 

- Eu não sei. Só curioso.

 

- Então sobre o que você queria falar, Jake?

 

- Na verdade nada, eu acho. Eu... eu queria ouvir a sua voz.- aquela revelação me fez ranger os dentes baixinho. Prendi o rosnado de raiva na garganta.

 

- É, eu sei. Eu estou tão feliz por você ter ligado. Eu... – esperei o termino da frase, ela parecia editar as palavras mais uma vez, droga...aquilo me matava. Não poder ler seus pensamentos saber o que ela pensava ou sentia.

 

- Eu tenho que ir.

 

- O que?

 

- Eu falo com você em breve, ta legal?

 

- Mas Jake...- ouvi o click do outro lado da linha, tentei parecer o mais natural possível embora minha vontade fosse de matar o vira latas arrancando membro por membro como se faz com um vampiro.

 

- Isso foi curto – ela disse.

 

- Está tudo bem? – perguntei agindo naturalmente como se aquela conversa houvesse passado despercebida por meus ouvidos.

 

- Eu não sei. Eu me pergunto o que foi isso. – ela parecia confusa.

 

- A sua suposição provavelmente é melhor do que a minha – segurei um sorriso

 

- Mmm. – o olhar preocupado da semana anterior havia voltado exatamente depois da conversa com Jacob Black, me inclinei sobre o balcão fitando-a, tentando decifrar suas preocupações. E acho que estava certo quando intui que se tratava do lobo. Seu silencio me atormentava, seu rosto mudava de expressão a cada segundo como se ela estivesse montando um quebra cabeças mental, o que ela estava tentando decifrar? Qual o motivo de tanta preocupação? De repente ela congelou e o pacote de hambúrguer que estava em suas mãos caiu, peguei rapidamente antes que caísse e sujasse tudo, atirei-o no balcão segurando-a pela cintura com a outra - Qual é o problema? – ela sacudia a cabeça com uma expressão confusa, levou algum tempo para que me respondesse me deixando angustiado - Bella? – chamei-a de volta.

 

- Eu acho... eu acho que ele estava checando. Checando pra ter certeza...De que eu sou humana, eu quero dizer.- então eu estava certo, Bella estava pensando no vira-lata, rosnei inconscientemente pela lembrança. - Nós teremos que ir embora antes. Para que o acordo não seja quebrado. Nós não seremos mais capazes de voltar.- segurei-a com força, minha vontade era arrancar a qualquer custo aquelas lembranças de sua memória, mais como poderia fazê-lo? Jacob era uma lembrança viva e presente em sua vida, desde que fui embora nada mais seria como antes e eu precisava me acostumar com isso, se ela quisesse que eu fosse embora, eu faria tudo para vê-la feliz mesmo que isso valesse a minha felicidade.

 

- Eu sei.- travei a mandíbula com os meus pensamentos, estava tão concentrado em Bella que não percebi Charlie chegar.

 

- Ahem – Bella se afastou de mim num susto, eu ainda tentava conter minha raiva e minha vontade de matar o lobisomem, inclinei-me novamente para ouvir os pensamentos de Charlie dessa vez “acho mesmo que deveria mandá-lo para casa, assim Bella poderia fazer o jantar em paz”, ao menos seus pensamentos não eram de animosidade somente fome.

 

- Se você não quer fazer o jantar, eu peço uma pizza.

 

- Não, está tudo bem. Eu já comecei.

 

- Ok – Charlie se manteve na cozinha enquanto esperava o jantar, seus pensamentos estavam relativamente tranqüilos, então ao menos por hoje eu não precisaria me preocupar. Cheguei em casa rapidamente, somente para trocar de roupa e ver minha família.  Os olhos de Alice cintilaram a me ver chegar, seus pensamentos estavam traquilos, Carlisle estava com Esme sentados no sofá como eternos apaixonados, Rosálie pintava as unhas enquanto Emmett e Jasper tinham ido caçar – e então Edward? – Alice perguntou – como foi o final de semana dentro de casa em jaksonville? Espero que tenha se distraído - ela sorriu com a própria brincadeira. Abracei-a com força, ela era minha irmã preferida e embora fosse irritante, eu a amava.

 

- Fomos bem Alice, e aqui? Algum problema? – perguntei preocupado.

 

- Não Edward, tudo sob controle. Exceto que quase a pegamos dessa vez.

 

- Quase? O que houve dessa vez? Alice preciso que me conte tudo.- olhei através dos seus pensamentos, ela não precisava me dizer nada, Victoria, a visão de Alice estava certa mais uma vez, ela havia voltado e havia estado próxima a casa de Bella para certificar-se de que ela estaria sozinha desprotegida, os lobos captaram seu rastro e minha família também, encontrara-se na fronteira entre o território neutro e as terras dos Quileutes. Paul e Emmett? Eles quase se mataram? Como pode ter acontecido aquelas terras são neutras? – ah! Aqueles vira-latas vão ver só...

 

- Calma Edward...- senti a mão suave de Carlisle no meu ombro – ninguém se feriu gravemente – meu pai era mesmo muito complacente, sua bondade me causava inveja.

 

- Mais pai...como...- continuei confuso- não posso contar isso a Bella.

 

- Nem precisa - Esme falou, agora já passou isso só a preocuparia.

 

- Esme tem razão Edward – Alice interrompeu meus pensamentos – não consigo ver nada que seja perigoso por enquanto.

 

- Essa humana vive nos trazendo problemas. – ouvi a voz agressiva de Rosálie – deveria transformá-la logo ou deixar que Victoria a pegue de uma vez assim você nos poupa de seus problemas, ou você é muito egoísta para perceber que esta nos colocando em risco.- rosnei avançando em direção a ela e fui contido pelo meu pai.

 

- Você não sabe o que diz Rosálie.

 

- Sei sim, e sei também que se acontecer algo a ela teremos que nos mudar de novo por sua causa. -  ela estava furiosa.

 

- Cale-se Rosálie - Carlisle pediu, ela deu as costas e saiu resmungando coisas que eu sabia que ela tinha razão. Esme me abraçou delicadamente.

 

- Somos uma família meu filho, sua família. Nunca deixaremos nada acontecer a Bella. – seus pensamentos eram sinceros.

 

- Vá Edward – Alice disse segurando minha mão – Bella o espera. Aquela noite foi uma das mais difíceis pra mim, não queria esconder de Bella que Victoria a estava procurando mais também não poderia fazer nada, deixei-me vagar pelo seu rosto enquanto dormia, naquela noite pude perceber o quanto Jacob Black era importante pra ela, enquanto sussurrava meu nome sussurrou o dele também “meu Jacob”. Rangi os dentes e rosnei interiormente para não acordá-la, não podia fazê-la esquecer mais também não queria ouvi-la lembrar, era difícil saber que ele também ocupava um lugar no seu coração.

 

- Se eu te pedisse pra fazer uma coisa, você confiaria em mim? – perguntei no caminho para a escola. Podia ouvir os pensamentos dele de longe, o que ele estava fazendo aqui? Pela sua mente eu sabia que iria ter problemas. Segurei o volante com força, não iria fazer nada que pudesse assustar Bella, percebi sua corrente sanguínea acelerar, seu coração pulsar mais forte antes da sua resposta.

 

- Isso depende – ela disse enquanto estacionava o carro.

 

- Eu temia que você fosse dizer isso.

 

- O que você quer que eu faça, Edward?

 

- Eu quero que você fique no carro – desliguei o motor enquanto lutava contra minha vontade de matar aquele lobo - Eu quero que você espere aqui até eu voltar pra te buscar.

 

- Mas... por quê? – ela vasculhou o estacionamento parecendo procurar o que me preocupava, pousou seu olhar na direção onde vinham os pensamentos - Oh. – ela o olhava com admiração e aquilo cada vez mais me incomodava, precisava resolver o que quer que fosse logo, antes que ele causasse mais problemas.

 

- Você tirou a conclusão errada na noite passada. Ele perguntou sobre a escola porque ele sabia que eu estaria onde você estivesse. Ele estava procurando por um lugar seguro pra conversar comigo. Um lugar com testemunhas.

 

- Eu não vou ficar no carro – ela resmungou alto.

 

- É claro que não. Bem, vamos acabar logo com isso. – saímos do carro caminhando em direção a Jacob, seus olhos fitavam Bella para ter certeza se estava segura. Os alunos estranhavam aquela presença não habitual na escola, todos estavam curiosos para saber o que viria a seguir, parei mantendo distancia, minha vontade era de quebrar sua mandíbula naquele momento, precisava manter Bella afastada dele a qualquer custo - Você podia ter nos ligado.

 

- Desculpe...Eu não tenho sanguessugas na minha discagem rápida.- ele respondeu num tom irônico.

 

- Você podia ter me encontrado na casa de Bella, é claro.-  retribui sua provocação - Esse dificilmente é o lugar, Jacob. Podíamos discutir isso depois?

 

- Claro, claro. Eu vou passar na sua cripta depois da escola. Qual é o problema com agora? – tentei mostrar a ele num movimento de olhos quantas testemunhas havia ali, quantas mentes voltadas num intuito de nos ver brigar pelo amor de Bella, mal sabiam eles que o real motivo deveria preocupar a todos, havia uma vampira louca a solta e ela bebia sangue humano - Eu já sei o que você veio pra dizer – sussurrei - Mensagem entregue. Nos considere avisados. – ficar mais um minuto perto dele me fazia ter vontade de matá-lo, ele fedia a cachorro.

 

- Avisados? Do que vocês estão falando? - Bella captou minhas palavras por mais baixas que eu tivesse tentado deixá-las.

 

- Você não contou pra ela? O que foi você estava com medo de que ela escolhesse o nosso lado? – Jacob parecia feliz em me fazer passar por mentiroso.

 

- Por favor deixa pra lá, Jacob – tentei manter a calma.

 

- Por que? – olhei seus pensamentos, ele não tinha a intenção de recuar, ele havia ido lá não só para conferir como ela estava, mas também para contar toda a verdade.

 

 - O que eu não sei? Edward? Jake? – ela estava confusa, tentei fingir que não havia nada mais aquele débil estava lá, estragando tudo.

 

- Ele não te contou que o... irmão mais velho dele cruzou a linha Sábado à noite?  Paul está totalmente justificado em...- seu tom continuou irônico.

 

- Aquela terra não tem donos! – interrompi seus pensamentos antes que suas palavras saíssem.

 

- Não é não!

 

- Emmett e Paul? O que aconteceu? Eles estavam brigando? Por quê? Paul se machucou? – Bella estava apavorada, ela não entendia o que estava acontecendo e eu podia ouvir isso em suas palavras, ver em seus olhos.

 

- Ninguém brigou. Ninguém se machucou. Não fique ansiosa – olhei para ela com carinho.

 

- Você não contou absolutamente nada, contou? Foi por isso que você a levou embora? Pra que ela não soubesse que...

 

- Vá embora agora. – eu não conseguia mais conter minha raiva, se ele não fosse embora eu iria cometer um erro terrível, matar o lobo e quebrar a trégua. Ao longe ouvia um amontoado de pensamentos mais um em especial chamou minha atenção, Newton também desejava que eu batesse em Jacob “ele merece apanhar por causa daquele nosso encontro”, se eu não estivesse com tanta raiva poderia rir pela lembrança de Newton no banheiro do cinema e a expressão de sarcasmo de Jacob ao vê-lo sair debilitado.

 

- Porque você não contou pra ela? – Jacob quebrou o silencio que havia se feito naquele ambiente. Ouvi Bella tossir, engasgar-se com o próprio ar, ela tremia como se alguém a estivesse se sacudindo, como se estivesse com frio - Ela voltou por mim – segurei-a com força e acariciei o seu rosto com ternura.

 

- Está tudo bem, está tudo bem. Eu nunca vou deixá-la se aproximar de você. Está tudo bem. – tentei acalmá-la para que seu tremor passasse - Isso responde a sua pergunta, mongol?

 

- Você não acha que Bella tem o direito de saber? É a vida dela. – seu tom de era de raiva.

 

- Por que ela devia ser assustada se ela nunca esteve em perigo?

 

- Melhor assustada do que enganada. – ele tossiu as palavras num tom áspero, os olhos de Bella procuravam não sei o que, eles começaram a se encher de lágrimas, elas desciam com força. Limpei-as com carinho tentando acalmá-la e passar a segurança que ela precisava naquela hora, maldito lobo, quando eu estivesse a sós com ele...eu iria matá-lo - Você realmente acha que machucá-la é melhor do que protegê-la? – perguntei.

 

- Ela é mais durona do que você pensa e ela já passou por coisa pior – aquelas lembranças me atingiram em cheio, eu via Bella parecendo um zumbi, ela estava deitada na grama onde a deixei na tarde que fui embora, parecia morta, a preocupação de Charlie, a forma como ela agiu, a moto, as quedas, os abraços, o carinho com Jacob, o pulo do penhasco e a quase morte. Aqueles pensamentos eram demais pra mim, todo perigo e sofrimento que a fiz passar? O que eu tinha feito? Não consegui esconder minha dor, aquilo era como a própria morte e eu merecia ter morrido na Itália. Ele a amava e talvez a merecesse mais do que eu, mais eu iria lutar por ela e também pelo seu amor - Isso é engraçado – “ela quase morreu por você”. Ele concluiu em seu pensamento “ela entrou num buraco por você, seu sanguessuga idiota”. Olhei para Bella e percebi seus olhos em mim, tentei segurar meu gemido de dor por tudo que eu a havia feito passar, eu era um monstro e nunca esqueceria aquelas imagens.

 

- O que você está fazendo com ele? – ela gritou

 

- Não é nada, Bella...Jacob tem uma boa memória, isso é tudo.- ele continuava mandando imagens para mim como se fossem choques, ele me mostrava todos os momentos os quais pareciam que ela estava em outro planeta, as reuniões com os lobisomens, suas idas a La Push.

 

- Pare com isso! O que quer que você esteja fazendo.

 

- Claro, se você quer. No entanto, é culpa dele mesmo que ele não gosta do que eu lembro. -  Ele estava sendo cínico, mais estava certo.

 

- O diretor está a caminho para desencorajar badernas no terreno escolar. Vamos para a aula de Inglês, Bella, pra que você não se envolva em problemas.- segurei-a pela mão e fomos saindo, mais os pensamentos dele continuavam fervendo e me mandando imagens de como se divertiam, eu nunca havia visto Bella tão feliz e sorridente, aquilo me machucava.

 

- Ele é super protetor, não é? Um pouco de problema é divertido. Deixa-me adivinhar, você não tem permissão pra se divertir, não é? - encarei-o mostrando os dentes.

 

- Cala a boca, Jake - ela disse.

 

- Isso soa como um não. hey, se um dia você sentir vontade de ter uma vida novo, você podia vir me ver. Eu ainda estou com a sua moto na garagem. – “e pronto pra te receber de braços abertos” ele pensou.

 

- Era pra você ter vendido aquilo. Você prometeu a Charlie que venderia.

 

- É, certo. Como se eu fosse fazer isso. Ela pertence a você, não a mim. De qualquer forma, eu vou guardá-la até você voltar. - ele sorriu abertamente numa tentativa clara de me irritar.

 

- Jake...- ela implorou - Eu acho que estava errado antes, sabe, sobre e eu você não sermos capazes de ser amigos – suas palavras pareciam sinceras, continuei abraçando-a evitando que chegasse perto daquele cachorro. Ele se aproximou, seus pensamentos estavam calmos agora, estavam voltados somente para a saudade que sentia por estarem longe, aqueles pensamentos embora involuntários, também me causavam dor.

 

- Eu sinto sua falta todos os dias, Bella. Não é a mesma coisa sem você.

 

- Eu sei e eu sinto muito, Jake, é só que eu...- percebi seus braços se afrouxarem e fechei os meus com mais força.

 

- Eu sei. Não importa, certo? Eu acho que eu vou sobreviver ou algo assim. Quem precisa de amigos? – o sofrimento dele também existia mais eu não podia deixar Bella se aproximar dele novamente, era muito perigoso.

 

- Tudo bem, para as salas – o diretor havia chegado antes que pudéssemos sair dalí. - Mova-se, Sr. Crowley.

 

- Vá para a escola, Jake – ela sussurrou baixinho numa tentativa inútil de afastá-lo. - Eu falo sério, detenção pra todo mundo que ainda estiver aqui quando eu me virar de novo. Ah, Sr. Cullen. Temos um problema aqui? – ele disse agora virando em nossa direção.

 

- Absolutamente não, Sr. Greene. Nós estávamos a caminho da aula. – tentei parecer calmo.

 

- Excelente. Eu não pareço reconhecer o seu amigo.  Você é um estudante novo aqui? – ele perguntou virando-se para Jacob. “quem é esse desordeiro que veio tirar a tranqüilidade da nossa escola”

 

- Não - Jacob respondeu prontamente.

 

“eu já devia imaginar” ele pensou antes de falar.- Então eu sugiro que você se retire da propriedade escolar imediatamente, meu jovem, antes que eu ligue para a polícia.

 

“há, há! Seria realmente muito engraçado ver a cara dele quando Charlie chegasse me cumprimentando.” Ouvi os pensamentos de Jacob - Sim, senhor – ele concluiu com uma saudação militar “ ele acha que manda em mim”, montou em sua motocicleta e foi embora “nos veremos em breve  Cullen”.

 

“exibido, garoto insolente” - Sr. Cullen, eu espero que você peça que seu amigo se retenha de invadir de novo.

 

- Ele não é meu amigo, Sr. Greene, mas eu vou passar o aviso.-  respondi solene.

 

- Eu entendo. Se você estiver preocupado com qualquer problema, eu ficaria feliz em...

 

- Não há nada com o que se preocupar, Sr. Greene. Não haverá nenhum problema. – interrompi suas palavras antes que seus pensamentos se organizassem, queria pensar nas coisas que o lobo me mostrou, eu precisava me libertar daquelas lembranças mais como eu iria fazer isso?

 

- Eu espero que isso esteja correto. Bem, então. Para a aula. Você também, Srta. Swan.

 

- Você se sente bem o suficiente para ir para a aula?

 

- Sim – ela sussurrou de forma monossilábica, porém seus olhos me diziam que ela estava mentindo. Eu sabia que cedo ou tarde ela iria querer saber de tudo e eu precisava contar a verdade mesmo contra a minha vontade, não queria que ela ficasse com medo, não havia necessidade. Chegamos atrasados a aula de inglês, Bella ainda tremia parecia agitada e confusa, ela arrancou uma folha do seu caderno escreveu algo com sua letra mais feia do que nunca e jogou pra mim “O que aconteceu? Conte-me tudo. E para com essa bobagem de me proteger, por favor.”

 

A contra gosto comecei a escrever no papel numa velocidade mais rápida que a normal “Alice viu que Victoria estava vindo. Eu te tirei da cidade meramente por precaução, nunca houve uma chance de que Victoria chegasse a algum lugar perto de você. Emmett e Jasper por pouco não a pegaram, mas Victoria parece ter algum instinto para fuga. Ela escapou bem por baixo da fronteira Quileute como se ela estivesse vendo um mapa. Não ajudou muito as habilidades de Alice serem inúteis com os Quileute. Para ser honesto, os Quileute podiam ter pego ela também, se nós não tivéssemos entrado no caminho. O grande cinza achou que Emmett tinha ultrapassado a barreira e ficou defensivo. É claro que Rosalie reagiu a isso, e todos abandonaram a caçada pra proteger seus companheiros. Carlisle e Jasper conseguiram acalmar as coisas antes que elas saíssem do controle. Mas até aí, Victoria já tinha escapado. Isso é tudo.”

 

Eu sabia o que ela estava pensando naquele momento, estava preocupada, pelos seus olhos eu podia ver. Bella continuava a tremer, ela apagou tudo que escrevi e reiniciou a conversa por bilhetes “E quanto a Charlie? Ela podia ter estado atrás dele.”

 

Antes que ela terminasse de escrever eu já sabia embora não pudesse ler seus pensamentos que se preocupava com Charlie, ainda antes que eu pudesse articular ela completou “Você não pode saber que ela não estava pensando isso, porque você não estava aqui. Flórida foi uma má idéia.” Como podia uma criatura tão quebrável ser tão teimosa?

 

“Eu não estava disposto a te mandar sozinha. Com a sua sorte, nem a caixa preta sobreviveria.” Respondi escondendo um sorriso.

 

“Não foi isso o que eu quis dizer. Eu quis dizer que nós devíamos ter ficado aqui juntos. Como se eu não pudesse voar pelo país sem fazer o avião cair. Muito engraçado.” O que era aquilo? Uma conversa por bilhetes no meio da aula de inglês? “Então digamos que a minha má sorte tivesse derrubado o avião. O que exatamente você teria feito sobre isso?”

 

“Porque o avião está caindo?” eu quase não podia mais conter meu sorriso.

 

“Os pilotos desmaiaram de bêbados.”

 

“Fácil. Eu pilotaria o avião.” Agora ela parecia distante dos problemas, parecia ter esquecido Jacob Black.

 

“Os dois motores explodiram e estamos caindo em espiral em direção à morte.”

 

“Eu vou esperar até estarmos bem perto do chão, te segurar bem apertado, chutar a parede fora, e pular. Depois nós voltaríamos à cena do acidente, e nós andaríamos por aí como os dois sobreviventes mais sortudos da história.” Bella me lançou um olhar confuso - O que? – perguntei.

 

- Nada – ela sussurrou. “Você vai me contar da próxima vez.” Eu a olhei com carinho, seus olhos confusos e perdidos, amedrontados pelo iminente perigo, Victoria não iria desistir e nos dois sabíamos disso, eu não iria escrever as palavras que ela queria ouvir apenas assenti e fiz um movimento positivo com a cabeça.

 

- Obrigada. – ela respondeu amassando o papel e guardando-o para que ninguém o visse.

 

- Há alguma coisa que você queira dividir aí, Sr. Cullen? – o professor Berty perguntou.

 

- As minhas anotações? – mostrei tentando demonstrar inocência. Ele pegou meu bloco de anotações e percebeu que eu havia escrito praticamente tudo que ele disse na aula “impressionante como o Cullen é organizado, bom menino, excelente aluno” ele pensou.

 

Naquela tarde enquanto Bella estava na aula de calculo pude fugir da minha próxima aula e me refugiar no meu carro, como pude ser tão tolo em deixá-la sozinha? As imagens que Jacob Black havia me mostrado estavam latentes em minha memória, corroendo minha carne. Eu queria poder voltar atrás e não tê-la feito sofrer daquele jeito. Agora toda escola comentava o ocorrido mais cedo, os meninos faziam apostas e as meninas invejavam Bella, pobres coitados não sabiam que estavam cercados de predadores, eu quase sorri com meu pensamento. Eu iria mudar aquela situação, eu iria me redimir, eu jamais faria Bella sofrer novamente e isso era uma promessa.