22. RASTROS

Depois de fazer com que Bella adormecesse, me dirigi ao escritório de Carlisle. Lá eu poderia ordenar meus pensamentos. Eu sabia que não poderia mais voltar atrás em minha promessa de eu mesmo transformá-la. Bella, quando queria, se fazia bem mais persuasiva do que qualquer um de nós vampiros. Ao menos essa era sensação que eu tinha quando ela pedia “por favor”.

Ela indiscutivelmente havia se decidido em transformar-se em um ser sem alma... Sem salvação. Recordei-me com muita dor do dia em que me despedi dela, lá no meio da floresta, quando ela me falou que não queria sua alma se eu não estivesse por perto, se ela não me tivesse. Ela realmente me amava. Quaisquer recursos que eu pretendesse usar agora seriam inúteis frente a meu juramento.  

A noite se passou mais rápido do que eu pretendia. Logo iria clarear. Voltei ao quarto e fiquei velando seu sono. Por quantas noites eu havia feito isso? E quantas noites mais eu poderia, se a cada dia que passava mais próxima estava sua transformação? Bem eu teria que me acostumar. Eu teria outras vantagens, embora vê-la dormindo fosse algo realmente fascinante.

O sol estava brilhante fora da parede-janela, com pequenas nuvens fugindo rapidamente no céu. O vento balançava o topo das árvores até que parecia que a floresta inteira ia se partir. Quando ela acordou, dei-lhe um beijo de bom dia e segui para a cozinha para preparar-lhe o café da manhã, assim ela teria privacidade para vestir-se e eu conseguiria coordenar meus pensamentos, longe da idéia de ver mais do corpo de Bella, e isso era realmente tentador.

Ao chegar à cozinha me dei conta de como as coisas haviam ganhado um rumo inesperado. Por mais que eu conhecesse Bella, jamais poderia imaginar que ela aceitaria de bom grado a minha proposta. Não era uma coisa tão grande, uma viagem de carro à Las Vegas. Ela usaria jeans velhos, a cerimônia certamente não demoraria muito tempo, não mais que quinze minutos no máximo, então eu podia lidar com isso. Mas e Alice? Será que ela poderia lidar com a idéia de não poder promover uma grande festa?

E aí, quando estivesse acabado, eu teria que cumprir com a minha parte na barganha. Eu iria me concentrar nisso, e esquecer o resto. Eu havia lhe dito que não era necessário contar para ninguém, e ela, ao que pareceu, estava tentando forçar-me ao mesmo.

Alguns minutos depois, Bella estava sentada à mesa degustando uma de suas refeições preferidas. Ovos mexidos com bacon e café. O cheiro não era dos melhores, mas vasculhei em minhas escassas memórias humanas e me lembrei que esse também era um dos meus pratos prediletos. Minha mãe biológica, Elizabeth Massen, gostava de prepará-los para mim pessoalmente, jamais permitindo que empregados o fizessem. A lembrança deixou-me nostálgico e apreensivo, pois eu também iria tirar os sabores da vida de Bella e ela só reconheceria um sabor: Sangue.

Passamos o resto da manhã abraçados e nos fazendo carícias. Eu precisava daquilo mais que nunca. Na sala, assistíamos às últimas notícias sobre Seatle pela televisão. Minha família chegou em casa por volta do meio dia. Havia uma nova atmosfera, muito formal os cercando, e isso nos levou de volta para a grandeza e importância do que estava prestes a acontecer.

Os pensamentos de Alice estavam anormalmente mal humorados. Ela certamente viu quando eu propus a Bella que nos casássemos em Las Vegas em uma cerimônia comum e intimista, o que significava nada de festas pomposas e vestuário apropriado.  Bella engoliu a frustração dela até que ela voltou a se comportar costumeiramente, parecendo voltar ao normal, porque as primeiras palavras dela para mim eram uma reclamação sobre trabalhar junto com os lobos. A questão é que seus pensamentos a entregavam, e, Bella sabia o motivo de toda aquela irritação.

- Eu acho - ela fez uma cara enquanto usava a palavra incerta - que você vai querer os lobos por perto para o clima frio, Edward. Eu não posso ver exatamente onde você está, porque você vai sair com aquele cachorro hoje à tarde. Mas, a tempestade que está vindo, parece particularmente ruim naquela área em geral. – Eu assenti.

- Vai nevar nas montanhas - ela me avisou.

- Eca, neve - Bella murmurou para si mesma. Era Junho, pra dizer o mínimo.

- Use um casaco - Alice disse.

A voz dela não estava amigável, e isso surpreendeu. Bella a examinava como se tentasse ler suas expressões, mas ela desviou. Então Bella me olhou e eu dei-lhe um sorriso, o que estiva incomodando Alice estava realmente me divertindo, embora eu não precisasse que ela me enganasse com outros pensamentos.

Se eu ficasse ali por mais tempo, tenho certeza que ela avançaria sobre mim, então resolvi que era hora de me preparar para a excursão de logo mais.  Fui para a garagem onde eu tinha utensílios de camping mais do que suficientes, alguns benefícios na farsa de sermos humanos. Nós éramos bons clientes da loja dos Newton. Separei então um saco de dormir, uma pequena barraca, e vários pacotes de comida desidratada. Dei um sorriso malicioso quando Bella fez uma careta para mim e Alice, e enfiei todos aqueles itens em uma mochila. Alice ficou vagando pela garagem enquanto nós estávamos lá, observando as preparações sem dizer uma palavra. Era melhor que eu a ignorasse, embora seus pensamentos nervosos dissessem insistentemente que eu iria pagar pelo meu erro de pedir Bella em casamento sem pompa e sem festa. Quando acabei de empacotar as coisas, lhe dei meu telefone e a instruí, enquanto segurava o sorriso.

- Ligue pra Jacob e diga a ele que estaremos prontos em mais ou menos uma hora. – continuei tentando manter o controle da gargalhada que queria sair, ler os pensamentos de Alice era tão divertido quanto ler os do Emmett - Ele sabe onde nos encontrar. – O cão sarnento não estava em casa, mas seu pai, Billy, prometeu que ia sair procurando até encontrar um lobisomem disponível pra passar as notícias.

- Não se preocupe com Charlie, Bella – Ouvi Billy dizer, enquanto travava mais uma batalha mental com Alice. Ela agora me condenava por não permitir que ela participasse da nossa alegria - Eu estou com a minha parte disso sob controle. – Billy continuou para lhe assegurar.

- É, eu sei que Charlie estará bem - Eu sabia que ela não se sentia tão confiante sobre a segurança do seu pai e nem vira-latas, mas ela não queria acrescentar isso.

- Eu queria poder estar com o resto deles amanhã - Billy gargalhou ressentidamente. - Ser um velho é dureza, Bella.

Enquanto a conversa de Bella fluía com o Velho Quileute, Alice estava a um passo de me condenar eternamente, especialmente pelo sentimento de culpa que ela insistia em colocar em mim.

“Edward, não é justo comigo e você sabe disso!” Eu olhei pra cima e pra baixo para concordar.

“Logo eu que sempre fui a favor do amor que você sente por Bella... Quando todos estavam contra eu te apoiei e você me agradece desta maneira... Sempre fui condescendente... Estou decepcionada com você!”

A chantagem definitivamente devia ser uma característica feminina. Eu ainda não me esquecera do que Bella fizera comigo na noite anterior, quando me convenceu a transformá-la, usando praticamente as mesmas armas. A única diferença eram os objetivos. Elas eram todas as mesmas.

- Se divirta com Charlie. – Ouvi Bella desejando a Billy.

- Boa sorte, Bella - ele disse.

- E... Passe isso para os, er, Cullen por mim.

- Eu passo - ela prometeu, e sua expressão era de surpresa pelo gesto.

“Edward, por favor, não seja egoísta, deixe-me ao menos fazer um jantar?” Eu fiz uma careta para Alice em retorno a sua revolta mental, infeliz com o que ela me pedia. Eu prometi à Bella e não voltaria atrás, mesmo que fosse para agradar minha irmã preferida.

Enquanto Bella passava o telefone de volta para mim, ela percebeu que eu e Alice estávamos tendo algum tipo de discussão silenciosa. Alice me encarava, implorando com os olhos e pensamentos.

- Billy desejou 'boa sorte'.

- Isso foi generoso da parte dele - Eu disse, me desviando das duas. Mas Alice não havia se contentado somente com minha negativa e logo iria me colocar em apuros com Bella. Elas realmente eram todas iguais. Por que tinha que ser sempre tão difícil?

- Bella, será que eu poderia, por favor, falar com você sozinha? - Alice pediu rapidamente.

- Você está prestes a fazer a minha vida ser mais dura do que o necessário, Alice – Eu lhe avisei por entre os dentes. - Eu realmente preferiria se você não fizesse isso.

- Isso não é sobre você, Edward - ela disparou de volta.

“Tem haver com uma linda festa que eu queria dar e me recordar dos casamentos lindos que já promovi para Rosalie e Emmett. Eu ainda lembro o seu desdém, mas no fundo era só inveja.” Eu ri e Bella sabia que alguma coisa na resposta dela era engraçada pra mim.

- Não é - Alice insistiu. - É uma coisa feminina. – Eu lhe fiz uma careta.

- Deixe-a falar comigo – Bella me pediu e eu reconheci aquela expressão, ela estava curiosa.

- Foi você quem pediu - eu murmurei e ri de novo, meio com raiva, meio divertido, e saí marchando da garagem. Quando Bella soubesse do que se tratava me entenderia.

Eu a observaria pelos pensamentos de Alice. A idéia da festa que Alice tinha em mente me agradava demasiadamente. Algo que passei a alentar desde que conheci Bella e me apaixonei. Vi quando ela se virou para Alice, preocupação e curiosidade cintilando em seu rosto agora, mas ela não olhou para Bella. O mau humor dela ainda não havia passado totalmente. Ela foi se sentar no capô do Porsche dela, com o rosto abatido. Ouvi Bella a seguir, e se encostar próximo.

- Bella? - Alice chamou numa voz triste, mudando de posição e se curvando para ela. A voz dela parecia tão miserável que Bella expressou compaixão e passou o braço ao redor dos ombros dela pra confortá-la.

- O que há de errado, Alice?

- Você não me ama? - ela perguntou com o mesmo tom triste, Hollywood estava de fato perdendo uma grande atriz. Aquela era a chantagem emocional mais perfeita que Alice já havia encenado.claro que eu já conhecia suas artimanhas, mesmo quando ela fingia não querer nada, Jasper era seu alvo principal, ele nunca conseguiu dizer não.

- É claro que amo. Você sabe disso. – a expressão de Bella era de preocupação.

- Então porque você está escapulindo pra Las Vegas pra se casar sem me convidar?

- Oh – Bella murmurou as bochechas ficando cor-de-rosa. Deus como era lindo aquele tom de rosa em sua face. Eu podia notar que havia culpa em nela por ter magoado seriamente os sentimentos de Alice, então a vi se defender.

- Você sabe que eu odeio fazer um grande evento com as coisas. De qualquer jeito, foi idéia de Edward.

- Não me importa de quem é a idéia. Como você pôde fazer isso comigo? Eu esperava esse tipo de coisa de Edward, mas não de você. Eu te amo como se você fosse minha própria irmã.

- Pra mim, Alice, você é uma irmã.

- Palavras! - ela rosnou.

- Tá bom, você pode vir. Não haverá muito pra ver. - Ela ainda estava fazendo careta.

- O que? - Bella quis saber.

- O quanto você me ama, Bella? – Que ótimo, agora ela iria chantagear Bella também.

- Por que? - Alice a olhou com seus olhos implorativos, as longas sobrancelhas se aproximando do meio e se juntando, os lábios tremendo nos cantos. Era uma expressão de partir o coração. Se eu tivesse um.

- Por favor, por favor, por favor - ela sussurrou. - Por favor, Bella, se você realmente me ama... Por favor, me deixe fazer o seu casamento. – Alice usou a mesma arma de Bella. Questionei-me se isso era ensinado na escola, à parte, sem conhecimento da ala masculina.

- Aw, Alice! – Bella gemeu, se afastando e ficando de pé. - Não! Não faça isso comigo!

- Se você realmente, verdadeiramente me ama, Bella. - Vi quando Bella cruzou os braços no peito.

- Isso é tão injusto. E Edward meio que já usou isso pra cima de mim.

- Eu aposto que Edward preferiria fazer isso tradicionalmente, apesar de que ele nunca te diria isso. E Esme? Pense no que isso significaria pra ela! – Bella estremeceu.

- Eu preferiria enfrentar os recém-nascidos, sozinha.

- Eu vou te dever por uma década.

- Você me deveria por um século. - Os pensamentos de Alice brilharam.

- Isso é um sim?

- Não! Eu não quero fazer isso!

- Você não tem que fazer nada além de andar alguns metros e repetir as palavras do Juiz de paz.

- Ugh! Ugh, ugh!

- Por favor? - ela começou a saltitar no mesmo lugar.

- Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor?

- Eu nunca, nunca vou te perdoar por isso, Alice. – Agora eu tinha certeza, ensinavam na escola e nós meninos não éramos informados. Bella estava prestes a ceder. Eu via pelos pensamentos de Alice o quanto ela estava amolecida com o “por favor” de minha insana irmã.

- Yay! - ela esguichou, batendo as mãos.

- Isso não é um sim! – Bella esbravejou.

- Mas será - ela cantou. Claro que seria. Chantagem é uma arma e tanto quando bem utilizada. E se Alice já estava cantando vitória é porque sabia que Bella aceitaria.

- Edward! – Bella gritou, saindo da garagem.

- Eu sei que você está escutando. Venha aqui. - Alice estava bem atrás dela, ainda batendo palmas.

- Muito obrigado, Alice – Eu disse acidamente, vindo por trás de Bella. Quando ela se virou para despejar sua indignação, tratei de demonstrar minha melhor expressão preocupada e aborrecida, assim ela não faria suas reclamações. Chantagem era muito bom mesmo. Ao invés disso, ela atirou os seus braços ao meu redor, escondendo seu rosto, provavelmente no caso de “a umidade raivosa dos seus olhos fizesse parecer que ela estava chorando”, como Bella costumava justificar suas lágrimas, tão humanas, tão doces. De imediato me arrependi e sussurrei em seu ouvido:

- Vegas – eu lhe prometi, olhando com ira para Alice.

- Sem chance - Alice rosnou.

- Bella jamais faria isso comigo. Sabe, Edward, como irmão, às vezes você é uma decepção.

- Não seja má - eu murmurei pra ela.

- Ele está tentando me fazer feliz, diferente de você. – Bella me defendeu.

- Eu também estou tentando te fazer feliz, Bella. Só que eu sei melhor o que te deixará feliz... Em longo prazo. Você vai me agradecer por isso. Talvez não daqui a quinze anos, mas algum dia.

- Eu nunca pensei que veria o dia em que eu estaria disposta a apostar contra você, Alice, mas esse dia chegou. - Eu ri, porque sabia que as palavras de Bella eram verdadeiras.

- Então, você vai me mostrar o anel? – Bella fez uma careta de horror quando Alice agarrou a sua mão e a soltou igualmente rápido. O anel não estava lá. Bella havia pedido para guardar, tinha medo de perder.

- Huh. Eu o vi colocando-o em você... Eu perdi alguma coisa? - ela perguntou. Ela se concentrou por meio segundo, apertando as sobrancelhas, antes de responder às suas próprias perguntas.

- Não. O casamento ainda está de pé.

- Bella tem um problema com jóias – Eu lhe expliquei.

- O que é mais um diamante? Eu acho que o anel tem muitos diamantes, mas o meu ponto é que ele já colocou um...

- Basta, Alice! – Eu tinha de cortá-la. O jeito que eu a encarava, certamente me fez parecer vampiro.

- Nós estamos com pressa.

- Eu não entendo. O que têm os diamantes? - Bella perguntou.

- Nós vamos falar sobre isso depois - Alice disse.

- Edward está certo, é melhor vocês irem. Vocês têm que armar uma armadilha e fazer acampamento antes que a tempestade chegue. – Ela fez uma careta, e a expressão dela estava ansiosa, quase nervosa.

- Não esqueça o seu casaco, uBella. Parece que... estará frio demais para a estação.

- Eu já cuidei disso – E lhes assegurei.

- Tenham uma boa noite - ela nos disse como adeus.

[...] Continua [...]