Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hey, people. Sei que não é o meu dia habitual de postar, mas eu tenho três capítulos adiantados e esse foi outro que eu adorei escrever. Obrigada a todos que estão comentando. E aos fantasmas: Amores, apareçam.


Aproveitem.



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Adriel não estava facilitando nenhum segundo do meu plano.

E quando eu digo nenhum¸ estou sendo sincera. Ele chegou vestindo uma camisa preta tão apertada que me obriguei a não perguntar se ele estava respirando. Novamente o pensamento de como ele era seguro de si mesmo apareceu em minha mente. Seu sorriso pecaminoso me trouxe pensamentos inadequados para aquele horário. Era fácil esquecer que ele seria meu cunhado.

O tom da camisa destacava sua pele pálida e macia, fazendo parecer ainda mais clara do que verdadeiramente era, mas sem dar-lhe uma aparência doente. Seus olhos me estudavam de cima a baixo de um jeito impróprio e o meio sorriso em seus lábios cheios deveria ser proibido. Reparei que ele estava com a barba por fazer. Engoli a seco ao imaginar seu rosto áspero roçando no meu depois de um beijo.

Péssimo dia para fugir de casa.

“Não vai se sentar, Mellany?”, ele perguntou batendo no espaço ao seu lado. Assenti, me preparando mentalmente. Ele deu um riso leve e curto, ainda me encarando daquele jeito estranho. Como se me quisesse, mas se fosse errado. Ok, eu o entendia. Eu tinha idade para ser sua... Bem, nada. “Estamos perdendo tempo.”

Revirei os olhos, sentando-me ao seu lado. O seu cheiro invadiu minhas narinas, fazendo todo o meu se arrepiar em questões de segundos. Cacete, eu nunca tinha ficado tão nervosa do lado de um cara. Entrelacei os meus dedos e respirei fundo, recuperando o controle do meu corpo. Levantei os meus olhos e mantive o meio sorriso.

“Temos a noite inteira, Adriel.”, murmurei. Tentei manter em minha mente que aquilo era apenas parte do plano. Ousado e que eu iria me aproveitar. Mas parte do plano. Pus uma das minhas mãos por cima da sua e vi seu olhar se esquentando ao mesmo tempo em que seu corpo ficava rígido. “Tempo é o que não irá faltar.”

Com satisfação, me dei conta que eu não era a única que tinha aquelas reações malucas. Seu rosto ficou em tom avermelhado e ele desviou o olhar por um segundo. Percebi que estava tremendo um pouco. Deveria estar mais feliz, mas me senti culpada. Ele estava sendo assediado por uma garota de dezesseis anos e sabia que era muito errado.

Com aperto no coração, fechei os olhos. Era como se aquele incomodo se espelhasse em mim, me causando dor. Mordi o lábio inferior e respirei fundo. Tinha que ir adiante. Engoli a seco e forcei o sorriso a voltar para os meus lábios. Coloquei minha mão livre em seu queixo, forçando-o a me encarar.

“O que houve?”, perguntei em um sussurro.

Seu orbe esmeraldino se fixou nos meus olhos e quem começou a tremer fui eu. Tudo dentro de mim pareceu se agitar. E ao mesmo tempo, me sentia a pessoa mais suja do mundo. Meu coração estava a poucos segundo de quebrar meu tórax com a força com que batia. Meus pulmões haviam perdido sua função inicial, me deixando totalmente sem ar.

Que se foda o plano.

Eu queria beijar Adriel Crista.

“Mellany...”, ele disse deixando meu nome flutuar de seus lábios até o ar tenso ao nosso redor. Fechei os olhos, saboreando a sensação de escutá-lo em sua voz rouca. “Você é a minha Tentação.”, abri os meus olhos a tempo de vê-lo balançar a cabeça e dar um sorriso triste. “Totalmente o contrário de mim. Bem que Caliel me avisou que isso aconteceria. Mas tinha que ser com uma criança?”

“Hey”, dei um salto do sofá, pondo as mãos na cintura, ofendida. “Sou poucos anos mais nova do que você, camarada. Segura a onda.”

Tarde demais percebi que tinha estragado o plano. Adriel pareceu se recuperar do desconforto e sorriu com mais naturalidade. Mantive as mãos na cintura e retribuí o sorriso. Ele se levantou, parando bem a minha frente. Evitei fazer careta por ter que olhar para cima para encará-lo. Seu sorriso se ampliou e ele coçou o cabelo loiro, divertido.

“Idade são apenas número, Mellany, mas números bastante considerados.”, ele disse me analisando. “E não é apenas isso.”

Cruzei os meus braços.

“É por que sou virgem?”, questionei, fazendo levantar uma sobrancelha sério. Revirei os olhos e dei uma pequena risada. “A quem quero enganar. Eu não sou virgem. Então isso não é um impedimento para você.”

Ok, talvez esse comentário não tivesse sido necessário. Os olhos de Adriel se estreitaram e eu vi uma faísca dentro deles. Raiva, ciúmes e um pouco de ressentimento. Ainda bem que não havia entrado em detalhes. Afinal, havia sido apenas uma vez e há muito tempo – ok, não muito tempo assim. E não tinha previsão de repetir.

“Foi com Austin?”, ele disse em um tom ameaçador.

Engoli a seco, balançando a cabeça enquanto reunia coragem para falar.

“Não, Deus me livre.”, eu disse vendo a sua careta ao dizer o nome de Deus em vão. Revirei os olhos. “Foi quando eu ainda morava em Seattle. Minha última semana lá. Eu tinha um namorado, se é que pode chamá-lo assim. Foi só uma vez e eu queria.”, dei de ombros, me perguntando internamente o porquê de sentir essa necessidade de me justificar.

Ele ficou me olhando de cima a baixo, com uma expressão estranha. Seu olhar hostil se amenizou até se tornar especulativo. Confusa, pendi a cabeça para o lado esperando por seu veredicto sobre mim. Aquilo estava me deixando doida. Afinal, eu nunca havia contado sobre minha época de Seattle para ninguém. E parada ali, em frente a Adriel, tudo o que eu queria era soltar o peso de anos.

Fechei os olhos.

“Eu poderia culpar meu pai por isso, mas seria injusto.”, sussurrei, abrindo os olhos mas mantendo-os focados em meus pés. “Ele – meu namorado, Paul – era meu refúgio.”, dei um pequeno sorriso ao lembrar-me dele. “Me escutava e sabia que poderia contar com ele.”, suspirei, sentindo meu peito mais leve. “Meu pai não conseguia notar o quanto eu estava desmoronando com o seu desespero. As bebidas, as gritarias...”, comecei a sentir minha garganta secar. Era incrível habilidade feminina de mudar de assunto. “Tudo soa na minha cabeça repentinamente.”, pus as mãos em minhas têmporas, massageando-as. “Eu só queria provar a mim mesma que poderia ter uma chance de ver a felicidade novamente.”

“Que poderia amar novamente.”, Adriel acrescentou, fazendo-me voltar a encará-lo.

Arfei. Não tinha percebido o quanto ele havia se aproximado de mim, mas quando levantei os meus olhos novamente, ele estava parado bem á minha frente. Seus olhos – sempre queimando em um verde sobrenatural – haviam clareado, tingindo-se de um tom de azul esverdeado. Era lindo. Meu coração disparou ao sentir seus dedos roçando em minha bochecha e novamente minha batalha interna aconteceu.

Aquilo parecia a coisa mais certa que eu já tinha feito em minha vida, mas me sentia suja, repulsiva. Queria afastá-lo e abraçá-lo. Pelo franzido em seu cenho, eu não era a única. Minha respiração estava densa e quase impossível, mas eu dei um passo a frente, pressionando-me a ele. Aquela atração era forte demais para que continuasse lutando. Além disso, eu não tinha tempo a perder.

“Adriel...”, sussurrei quase sem mover os lábios. Vi seu pomo de adão subindo e descendo em seu pescoço enquanto ele engolia a seco. Dei um meio sorriso, sentindo meu corpo todo esquentar com o toque de sua mão na minha. “Isso é tão errado.”

“Mas parece tão certo.”, ele finalizou. Ele abaixou o rosto parando os lábios a poucos centímetros dos meus. Ainda não tínhamos fechados os olhos, presos naquele momento. “Não quero que você sofra mais, Mellany.”, sua voz rouca fez tudo dentro de mim se agitar. “Posso não te fazer sorrir todos os dias, mas irei garantir que não chore. Eu arrisco por você.”

Não sei bem o que aconteceu em seguida, mas o impacto de suas palavras me fez dar um passo para trás. Adriel arregalou os olhos, espantado com a minha reação. Bem, éramos dois. Só que, eu estava cansada das pessoas arriscando por mim. Nicolas arriscou para me tirar de Seattle. Caliel arriscou seu emprego ao enfrentar Austin. Harper arriscava sua permanência na escola pelo simples fato de andar comigo.

Mas Adriel era o meu limite.

“Eu eu”, gaguejei. Passei os dedos por meu rosto, vendo como estava tremendo. Aquilo era intenso demais para que eu pudesse lidar. Adriel arregalou os olhos, como se tivesse tomado consciência do que iria fazer. “O que está acontecendo?”, perguntei para mim mesma, mantendo os olhos nele. “O que você tem?”, exigi.

“Mellany, eu...”, ele esticou a mão na minha direção, mas eu recuei. “Por favor, me deixa explicar, ok?”

Por um segundo, tive medo. Não sabia o porquê, mas algo em mim gritou que o que quer que fosse que Adriel dissesse, iria mudar minha vida de ponta a cabeça. E eu já estava confusa demais para lidar com isso. Por isso corri em direção a escada e me tranquei no banheiro. Escutei os seus passos atrás de mim, porém não foi rápido o suficiente.

Pressionei minhas costas na porta e escorreguei até sentir minha bunda tocando o chão frio. Sabia que ele estava do outro lado da porta. Conseguia sentir a sua presença, mas foi um alívio fugir de seu olhar. Era como se ele vasculhasse minha alma e eu não queria que ele sentisse repulsa com o que encontrasse. Outro motivo para eu estar ali era porque fazia parte do plano. Um plano que saiu um pouco do controle, mas era um bom plano.

Respirei fundo, me levantando. Tinha pouco tempo. Teria que improvisar. A culpa me tocou de um jeito mais profundo do que antes e me surpreendi por não estar chorando. Sentia dor, mesmo não tendo marcas visíveis. Tateei meu peito, como se pudesse encontrar a fonte daquele sofrimento. Nada. Vazia. Era assim que eu estava.

Abri a porta encontrando-o encostado na parede em frente. Os braços cruzados, um dos pés na parede e os olhos perdidos. Aquela dor aumentou, mas mantive a expressão fria. Não tinha tempo, ficava repetindo para mim mesmo. Por isso, estiquei minha mão e puxei-o para dentro do banheiro, abraçando-o.

“Desculpe por tudo isso.”, murmurei contra o seu peito, tentando absorver o máximo de seu cheiro. Inicialmente seu corpo estava tenso, mas ele relaxou e passou os braços entorno de mim. Com uma mão livre, peguei a chave do banheiro. “Me desculpe mesmo.”

Não tive coragem de encará-lo enquanto empurrava-o – o mais cuidadosa possível – na banheiro. Hesitei um segundo apenas para ter certeza se ele se machucou. Seus olhos se arregalaram de surpresa e eu fechei a porta antes que desistisse. Tranquei. Um segundo depois, vi a maçaneta se mexendo e seus punhos batendo com força contra a madeira.

“Mellany, me tire daqui!”, ele gritou. Sua raiva me fez dar um salto. “Mellany!”

Como eu era uma pessoa precavida, tinha retirado o seu celular do bolso enquanto abraça-o. Mas sabia que era questão de tempo até ele abrir a porta – ou com algum objeto no banheiro ou com a força bruta. Dei dos passos para trás, tomando impulso e chutei a maçaneta, vendo-a quebrar. Aquilo me daria mais tempo. Abaixei, deixando a chave a uma distância segura da porta, mas bastante visível.

Seus gritos se tornaram mais altos quando corri para o quarto, pegando minha mala – que havia escondido embaixo da cama – e desci com ela. Parei na cozinha pegando um bloco onde anotávamos os recados e deixei um rápido bilhete para Nicolas, dizendo para que não se preocupasse. Que estava com o celular e que ele poderia me ligar. E que aceitaria o castigo eterno quando retornasse.

Meu celular apitou com uma mensagem de Dexter, avisando que já estava parado na minha porta. Saí rapidamente e guardei minha mala no carro em tempo recorde. Entrei no veículo sem dizer nenhuma palavra. A adrenalina e o remorso me tomaram por completo tirando a minha capacidade essencial de pronunciar qualquer palavra que fosse.

Fechei os olhos.

Desculpe, Adriel.

******************************

“Ele vai te perdoar.”, Harper disse pegando minha mão. Estávamos sentadas juntas e mesmo que a tensão ainda nos envolvesse, fiquei feliz por ela estar ali. “Você fez o que achava certo. E ele te conhece bem o suficiente para saber que se fez isso é por algum motivo aceitável.”

“Claro que Nicolas irá perdoá-la.”, Mary disse passando os dedos por seus cabelos dourados e empurrando Dexter com os ombros. Fez uma careta. “Minha mãe vai querer me deportar quando eu voltar para casa.”

Dei um pequeno sorriso com o comentário de Mary e olhei para Harper, satisfeita por nossa ligação permanecer a mesma. Elas estavam falando de pessoas diferentes. Harper manteve o olhar concentrado em mim por alguns segundos e desviou para a janela. Me encolhi, segurando o impulso de abraçar minhas pernas.

Harper havia me garantido que Adriel iria me perdoar.

Fechei os olhos, me focando nesse pensamento e escutei o piloto anunciando que iríamos decolar para Nova York. Só que eu ainda estava inquieta. E mesmo quando o avião tomou altitude e me vi voando por entre as nuvens, a sensação de ser estar sendo vigiada não diminuiu nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

Comentem. O próximo capítulo eu chamei de "capítulo dica" porque dá uma dica do motivo de tensão entre Harper e Adriel.



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