Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

DOOOOOOOOOOOMINGO. DIA DE QUÊ? DIA DE QUÊ? CAPÍTULO NOVO.

Primeiramente, quero agradecer à Lady Starlight pela recomendação em Hope (e pelas outras duas em Light e Wings, amei, amei). E que venham mais recomendações *olhar de gatinho do Shrek*

Eu tenho duas ótimas notícias. A primeira é que já terminei de escrever Hope e adorei, sério, principalmente o capítulo 14. E a segunda é que já escrevi o capítulo 1 de Mirror.Também morri de amores.

Então, domingo que vem estaremos de volta com nosso casal Jeremy e Aliel. E a melhor parte? Tudo pelo ponto de vista de Jeremy.

Mas, agora está na hora de suspirar com o nosso anjo favorito. Aproveitem.



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Voltar para casa se tornou uma coisa quase que desesperadora para mim. Depois daquela enxurrada de informações, tudo o que eu queria era me encolher em minha cama e fechar os olhos, ansiando para ser um surto psicótico. Meus dedos se mexiam nervosos, desejando por alguma substância tóxica que me ajudasse a afundar naquele estado de torpor. Tinha perdido algo que era meu, mas que nunca me pertenceria.

Tentava repetir para mim mesma que aquele vazio era fruto do meu imaginário cruel. O mesmo que me fez trancar Adriel no banheiro, estava me fazendo sentir dor. Pena que meu coração não conseguia escutar o que minha mente cismava em repetir. Tudo era confuso. Tinha ganhado informações e abandonado esperanças. Porque – antes dessa loucura de Nephilim, Anjos e Quase-Anjos – por mais que fosse loucura, tinha expectativa de que Adriel me via de um jeito incomum. Diferente do que todos viam.

E mesmo retrocedendo com relação às bebidas e as drogas, tudo era consequência do avanço que tinha feito com meu coração. O coração que ardia e se apertava a cada olhar penetrante do meu Guardião. Agora eu sabia como um corpo recusa um órgão. A dor era tamanha que até concordaria se meu corpo implorasse pela remoção daquela parte sentimentalista que me completava. E era tão inútil.

Quando o carro parou em frente a minha casa, tinha um sorriso irônico nos meus lábios. Tantos anos que fiquei caçoando das pessoas apaixonadas estavam voltando diretamente para mim. Uma pequena e quente vingança. Ocultar a dor dos meus olhos foi prioridade quando meus braços envolveram o corpo alto e erguido de meu irmão.

“Graças a Deus você está inteira.”, ele sussurrou e beijou os meus cabelos. Segurou-me pelos ombros e me afastou para que eu pudesse ver sua expressão rígida. “E inteiramente de castigo até que o inferno congele.”, ao dizer essas palavras, deu um olhar nervoso na direção de Caliel. “Desculpe.”

Minha futura cunhada deu um sorriso doce e me abraçou. Estudei-a. Todos os sinais estavam ali, altos e claros. Aqueles cabelos eram dourados demais, seus olhos brilhavam com uma pureza e uma doçura quase inexistente no mundo atual. E quando Caliel me abraçou – cacete, até o nome dela era um sinal – senti minha dor apaziguada por alguns curtos segundos.

“Ela sabe de tudo.”

A voz de Adriel fez com que a dor retornasse com força e meu peito latejasse. Sua presença era facilmente perceptível a poucos passos de onde eu estava, mas me neguei o direito de encará-lo. Só a sua voz – rouca e suave – já era punição o suficiente. Quase ri. Não importava o quanto Nico quisesse me deixar excluída e reclusa, a maior penalidade seria dada por mim mesma.

Caliel arfou e seus olhos azuis se fixaram em mim. Nicolas ficou confuso por alguns segundos, até que arregalou os orbes e me encarou também. Senti que Adriel também me estudava. Mantendo a pose descontraída, dei de ombros e segui para dentro. Três pares de pés me seguiram. Minha mente pulsava, implorando por silêncio. E meus olhos queimavam enquanto as lágrimas suplicavam por liberdade.

Forcei um sorriso.

“O dono da gravadora disse que ligaria para dar notícias, caso ganhemos.”, declarei para todos. Encarei-os. Tão diferentes, mas todos interligados. “E sobre vocês terem uma ligação incomum com o reino dos céus...”, fiz uma careta. Fitei Nico. “Podemos conversar mais tarde? Realmente preciso dormir.”

Meu irmão e Caliel pareceram aliviados com o meu pedido e assentiram. Captei o cruzamento de braços de Adriel pelo canto de meu olho. Ignorei. Segurei minha mala com força e puxei-a escada a cima. Senti-o me seguindo pelo corredor, mas não ousei desviar de meu caminho. Estava com alguns passos de distância. Poderia fechar a porta e respirar longe daquele mar de confusões que me rondavam.

Sua mão se fechou com firmeza entorno de meu antebraço, estragando os meus planos de reclusão. A facilidade com que ele virou meu corpo – e aproximou o seu simultaneamente – me surpreendeu. Quando dei por mim, estávamos com os rostos a poucos centímetros de distância. Pressionei meus lábios juntos diante de seu rosto tenso.

“O que houve?”, ele perguntou com a voz dura. Desviei meu olhar para sua mão e ele me soltou. “Está estranha desde que soube de tudo. Foi o excesso de informações, Mellany? Me desculpe.”, ele suspirou, passando os dedos por seus cabelos. “Deveria ter sido mais suave...”

“O que é Tentação?”, o interrompi. Dei um passo na sua direção, pressionando-me contra ele. Nossas respirações se fundiram. Deveria me afastar, no entanto apenas aquele pensamento fazia todo o meu corpo arder. “Você disse que eu era a sua Tentação quando estávamos sozinhos aqui. Não dei muita atenção na época, mas acho que tem um sentido além do comum. Já que você é um Anjo e tudo mais.”

Adriel ficou me encarando por alguns segundos, até que seus olhos se fixaram em meus lábios. Se seu objetivo era dificultar as coisas, estava cumprindo com veemência. Senti seus dedos se fechando entorno do meu pulso e arfei com o calor de seu toque. A noção de que Nico e Caliel estavam no andar de baixo, escapou da minha consciência.

“Tentação”, ele começou com sua voz sussurrante. Seu hálito fez minhas pernas bambearem e eu agradeci por ele estar me segurando. Mesmo que isso fizesse meu rosto ficar numa tonalidade avermelhada. “é tudo o que os Anjos têm que enfrentar para não cair. Alguns encontram outros não.”, deu de ombros. “Nunca imaginei que uma garota como você seria a minha.”

“Porque sou uma criança.”, me livrei de seu toque a agarrei minha mala novamente. Estava transformando aquela atração sem fundamentos em raiva. “Já entendi.”

Ele iria dizer mais alguma coisa, mas não aguentei. Limite. Limite. Adriel era o meu limite. Com uma velocidade surpreendente, entrei em meu quarto e fechei a porta. Tudo aquilo me atingiu e me tomou. Respirei fundo, tentando encontrar meus pulmões. Mas encontrei o gosto salgado da derrota por entre as minhas lágrimas.

***************************

“Hey, Mellany!”

Parei de falar com Mary e encarei Jeremy e Aliel vindo em nossa direção. Revirei os olhos. Depois da maldita semana de cão que eu estava tendo, essa era a última coisa que eu esperava. Vi Mary fixando os olhos no casal por alguns segundos e suas bochechas coraram. Levantei uma sobrancelha com aquela reação nova, mas resolvi não comentar nada.

“Eu vou indo.”, Mary me deu um leve tapa no ombro e saiu.

O casal maravilha chegou. Me recriminei por meu mau humor. Não era culpa deles. Não diretamente, quero dizer. E olhando para Jeremy, todo aquele momento com J.J voltou a minha mente. Parecidos demais gerava um relacionamento sem limites. E a beleza de Jeremy não valia uns dias na cadeia. Não mesmo.

Aliel passou os dedos por seus cabelos escuros e cacheados, demonstrando seu nervosismo. Jeremy notou e passou um braço entorno de seus ombros, como se lhe desse apoio. Ela deu um pequeno sorriso, constrangida. Assim como aconteceu com Caliel, consegui sentir a pureza que Aliel emanava só com sua presença. Jeremy era a Tentação de Aliel. E se ela não se entregou totalmente...

Nossa, ela era bastante corajosa.

Sorri.

“Então, você é um anjo?”, perguntei para Aliel, tentando parecer descontraída.

Jeremy soltou um riso enquanto a morena ficava tensa.

“Quer dizer que você também se enrolou nessa história angelical?”, Jeremy perguntou sarcástico. Meu sorriso se ampliou. Ok, não estava totalmente imune ao charme de Read. Mas quem era? Se até um anjo tinha caído na armadilha de seus olhos azuis. “E eu pensando que Adriel era frígido.”, balançou a cabeça e fixou os olhos na namorada. “Parece que Nova Jersey humanizou vocês, Anjo.”

Aliel suspirou.

“Jeremy, você sabe que não posso falar disso.”, ela me encarou. “Não é nada contra você, Mellany. São regras. E já me encrenquei bastante na última vez.”

“E se tornou minha Guardiã.”, Jeremy retrucou beijando a testa da anja. “Que encrenca, Senhorita Sky. Cuidar de um bêbado e ex-viciado.”, ele gargalhou e me encarou, percebendo minha sobrancelha levantada. “Opa! Foi mal, Brown.”, mas seu rosto não possuía nenhum requisito de remorso. “Vamos apenas que o céu tem um jeito diferente de interpretar a palavra castigo.”

“Bem diferente.”, admiti. Cocei a cabeça e dei um meio sorriso sem graça. “Olha, eu adoraria conversar mais sobre o conceito de céu e inferno, mas tenho que encontrar com Harper.”

“Vai lá, Brown.”, Jeremy disse e acenou.

Dei um último sorriso e suspirei aliviada enquanto me afastava dali. Infelizmente, não fui muito longe até sentir alguém me segurando e me puxando para o armário de vassouras. Cacete! Estava pronta para gritar com quem quer que fosse, quando a luz precária – e que ficava piscando – se acendeu.

Iluminando o rosto de Austin.

E ele estava muito puto. Muito mesmo.

“Eu sei que foi você que fodeu meu carro, Brown!”, ele rosnou com o rosto colado no seu. Seus dedos estavam a poucos segundos de entrar na minha pele. “E não adianta negar.”

Tentei me soltar, mas isso só fez com que seu aperto ficasse mais forte. Reclamei de dor e sabia que ficaria uma bela marca. Estreitei os meus olhos, não querendo demonstrar fraqueza. Mas por dentro estava aterrorizada com a ideia do que ele poderia fazer comigo naquele armário malditamente apertado.

“Você está drogado?”, berrei. Então, pisquei algumas vezes o analisando. Seus olhos castanhos estavam miúdos e avermelhados. Arfei. “Você está drogado!”

Ele me balançou feito uma boneca de pano.

“Se você gritar mais uma vez, vai se arrepender.”, ameaçou. Pressionei os lábios juntos, cruzando os braços. “Boa menina.”, gracejou. Bufei. Passou a língua pelos lábios, olhando-me de cima a baixo. Meu peito apertou e minhas mãos tremeram de medo. Estava suando frio. “Você disfarça muito bem, Mellany.”

Contorci-me pelo jeito que meu nome saiu de seus lábios. Como se eu fosse uma prostituta ou qualquer coisa suja e podre que ele poderia comer a hora que quisesse. O medo misturado com a raiva me deixou paralisada. Seu sorriso se tornou malicioso enquanto suas mãos deslizavam por meus ombros. Fechei os olhos por um segundo, impedindo de xingá-lo.

“Sei que ainda me quer.”, ele sussurrou contra a pele de meu pescoço. A bile subiu e me segurei para não vomitar ali mesmo. “Só não quer ceder para se fazer de difícil.”

Quando seus dedos roçaram em meus seios foi o bastante. Afastei suas mãos de mim e pressionei as costas na parede, querendo manter o máximo de distância possível. Vi um brilho raivoso acender seus olhos castanhos e preparei minha mente para o pior. Seus dedos se fecharam no meu outro antebraço e lamentei. Estava doendo.

“Quantas vezes vou ter que dizer que você é minha?”, ele ralhou com o rosto perto do meu e me balançou com força. Soltou-me subitamente, fazendo com que me chocasse contra a parede. “É por causa do Crista, não é? Você está indo para a cama com ele e...”

“Cale a sua boca antes de falar de Adriel.”, respondi.

Seu sorriso retornou. Ele gargalhou.

“Então você realmente está com ele”, afirmou. Balançou a cabeça, passando os dedos por seus fios loiros, pensativo. Até que seus olhos se focaram em mim, obscuros. “Termine com ele ou irá se arrepender. Acha que me esqueci do meu carro? Vou te fazer pagar... do meu jeito.”

Respirei fundo, tentando manter a calma.

“Se depender de mim para pagar por seu carro – e não fui eu quem fez aquilo – você está muito fodido.”, eu ri, encarando-o com deboche. Deveria ter parado ali, mas um gatilho interno parece ter sido ativado e as palavras jorraram de seus lábios. “Eu nunca vou ser sua, Austin. Nunca nem cheguei a ser sua. Pertencia às bebidas, às drogas, à popularidade. Só isso. E se você está tão interessado. Sim, eu gosto de Adriel e – se Deus permitisse – ficaria com ele. Porque em uma semana, ele foi algo que você nunca vai ser. Fiel, autêntico, companheiro. Um limite entre mim e a reabilitação.”

Os olhos de Austin se arregalaram e eu me orgulhei de mim mesma. Finalmente estava fazendo uma coisa certa. No meu ponto de vista, pelo menos. Pelo ódio que meu ex-namorado me encarava, parecia que eu tinha cometido o maior erro de toda a minha vida. Sua mão levantada e ameaçando em direção ao meu rosto foi uma boa dica.

Fechei os olhos, me preparando para a dor, mas ciente de que isso levaria Austin para um reformatório. Talvez provocá-lo não tivesse sido de todo um mal. Conseguia sentir a dor se repetindo em minha mente. Dor mental transformada em dor física. Era o que eu gostaria de sentir nesse momento. Ansiava. Assim poderia ter uma boa desculpa para revidar.

A porta se abriu, no segundo em que o tapa estalou em meu rosto. Senti minha bochecha arder enquanto a diretora – acompanhada pelo inspetor estupefato e por minha melhor amiga raivosa – observavam a cena. Austin arregalou os olhos e começou a gaguejar apontando para mim. Segurei o sorriso. Tinha vencido. O inspetor me puxou para o lado de fora e me pôs ao seu lado, como se me protegesse.

“Para a minha sala, Senhor Parker.”, a diretora disse respirando com força. Austin tentou se defender, mas - pela primeira vez em toda minha vida – ela se exaltou. “Agora!”, gritou.

Austin abaixou a cabeça e foi caminhando até a direção. O inspetor me analisou de perto e perguntou se ele tinha me machucado muito. Vi seus olhos se prendendo em meus antebraços e em meu rosto – os lugares atingidos – e seus olhos relampearam de raiva. A diretora acariciou meu cabelo e quis me acompanhar até a enfermaria. Neguei.

“Estou bem.”

“Eu vou com ela.”, Harper disse se postando ao meu lado. Lhe dei um olhar agradecido e seguimos para a enfermaria. “Vi ele te puxando para o armário.”, ela respondeu a pergunta que soava em minha mente. “Tive que tomar uma decisão difícil. Minha vontade foi de dar uma surra nele, mas tínhamos que dar um fim nisso.”, seus olhos se abaixaram. “Eu sei que não fui uma boa amiga naquela festa”, ela balançou a cabeça. “Será que já me justifiquei?”

Revirei os olhos.

“Para o inferno aquela festa, Nephilim.”, ri.

Ela trombou comigo.

“Por favor, não comente com ninguém sobre...”, ela gesticulou para si mesma. “Como já percebeu, não somos muito aceitos.”

Assenti.

“Segredo absoluto.”, passei um braço em volta do dela, desviando o caminho da enfermaria para a sala de aula. Franzi o cenho. “O que você acha que irá acontecer com Austin?”

Ela deu um meio sorriso.

“Suspensão, no mínimo. Seja o que for vai ser pouco comparado ao que merece.”, ela bufou e revirou os olhos. “E eu quem mereço ir para o inferno. Acho que está na hora do céu reavaliar suas prioridades.”

*********************************

“O que aconteceu com você?”

Soquei o saco de porrada mais uma vez, ignorando o efeito que aquela voz tinha contra o meu corpo. Repreendi-me por começar a tremer. Meus sentidos pareceram se apurar com a sua presença. Escutei sua respiração pesada enquanto se aproximava – talvez tentando controlar sua raiva – e seus passos contra o piso do porão vibraram contra os meus pés.

“Não importa.”, soquei o saco mais uma vez, sentindo o suor escorrendo por meu rosto. “Foi um pequeno desentendimento entre mim e Austin em um armário de vassouras.”, pelo canto do olho o vi parando ao lado do saco de pancada. Ignorei-o. “Isso me causou algumas marcas bastante visíveis e uma suspensão – um possível processo e uma quase expulsão – para Austin.”, dei de ombros.

Dei um giro rápido, me preparando para dar um chute, mas com a mente distraída, acabei mirando errado. Para me defender, a culpa era toda de Adriel por estar tão perto. Quando vi o percurso que meu pé faria já era tarde demais. Fechei os olhos, esperando o impacto que nunca chegou. Senti meu tornozelo sendo segurado por seus dedos quente e arfei.

Abri meus olhos surpresa. Primeiro, por ter conseguido mirar tão perfeitamente na direção de seu rosto. Segundo, pela temperatura de seus dedos contra a minha pele e a maneira como ele conseguia me segurar sem machucar, ao contrário de Austin. Terceiro, por sua rapidez em parar meu chute. Não que eu quisesse atingi-lo. Ou talvez quisesse. Só que não fisicamente.

“Mire mais para a esquerda, na próxima vez.”, ele disse com a voz mais rouca que o normal. O vi engolindo a seco antes de soltar meu tornozelo. Assenti, tentando evitar que meu rosto corasse – sem sucesso. O vi sorrindo. “Sabe, sua péssima mira não constava na ficha.”

Franzi o cenho.

“Minha ficha?”, levantei uma sobrancelha. Seu sorriso se ampliou. Voltei minha atenção para o saco de pancada, acertando mais uns socos nele. “Por que tenho a leve impressão de que não é da minha ficha acadêmica que estamos falando?”

Ele se moveu lentamente até parar atrás de mim. Seus dedos se fecharam, suaves, em meus pulsos e eu arfei. Meu coração se acelerou de um jeito improvável e meus pulmões foram facilmente esquecidos. Sua respiração entorpeceu minha orelha enquanto ele direcionava os meus socos. Seu peito se pressionou nas minhas costas e eu engoli a seco. Ele não estava ajudando muito.

“Porque estou falando da sua outra ficha.”, ele continuou. Fechei os olhos com força. Seu cheiro tinha que ser tão bom? “A ficha de toda a sua vida humana.”

Abri os olhos, sobressaltada.

“Toda?”, perguntei com um fio de voz. Tanto por conta de surpresa quanto da situação em que me encontrava. “O que está escrito?”, senti-o ficar tenso quando dei um passo desajeitado para trás, fazendo com que minha bunda se pressionasse onde deveria estar... bem aquilo. “Por favor”

Escutei-o limpar a garganta algumas vezes e soltou meus pulsos. Minha pele ficou fria instantaneamente. Adriel voltou a ficar na minha frente e achei que era melhor me concentrar em algo que não fosse os seus olhos tão intensos e brilhantes. Ele hesitou, talvez pesando as consequências. No final, suspirou e cruzou os braços. Sempre analisando os meus movimentos. Possivelmente esperando outro chute.

“Mellany Elizabeth Carter Brown”, congelei por um segundo ao escutar o meu nome todo saindo de seus lábios. Voltei a socar. “Dezesseis anos. Nasceu dia dois de fevereiro de mil novecentos e noventa e oito. Filha de Phillip Duncan Brown e Vanessa Lilian Carter.”, meu corpo se tencionou ao escutar o nome de meus pais. “Irmã mais nova de Nicolas Vincent Carter Brown – que possui sua guarda atual – e Gerard James Carter Brown – casado com Annie River Brown. Residia em Seattle até há quatro meses atrás. Vivia uma vida perfeita até que sua mãe descobriu a traição de sua melhor amiga, Joanne Emma Lieder com o marido. Vanessa saiu de casa. Phillip entrou em depressão e se tornou alcoólatra. Você começou a ter um péssimo desempenho na escola. Notas ruins, comportamento pior ainda. Gerard saiu de casa três anos depois da mãe e um ano depois de terminar a faculdade. Assim que se formou, Nicolas conseguiu um emprego na escola St. Loise em Nova Jersey. O processo para conseguir sua guarda ocorreu no mesmo ano em que Nicolas completou vinte e um – há dois anos. Teve um rápido relacionamento com Paul Oliver Slater quando ainda residia em Seattle.”

Só percebi que estava de boca aberta quando Adriel pousou os dedos em meu queixo e a fechou. Estava congelada com a torrente de informações jogadas de uma vez contra o meu rosto. Nem eu sabia que o segundo nome de Nicolas era Vincent. E que Paul tinha sobrenome. Pisquei com força mais algumas vezes. Sabia que ele estava apenas resumindo e destacando os pontos mais importantes.

“Sua primeira vez foi com Paul, uma semana antes de partir para Nova Jersey.”, assenti devagar e desviei meus olhos dele. Voltei a socar o saco de pancada, sentindo meus dedos saindo do estado de dormência. “Sua primeira amiga foi Harper Marie Moore.”, sua voz se engrossou ao dizer o nome da Nephilim. “Que lhe apresentou a Dexter Amaro Castelli e Mary Rose Bogossian. E assim nasceu a banda The Looser. Iniciou um romance com Austin Miller Parker, mas apenas para causar ciúmes em Jeremy Demétrius Hathaway Read.”

“O segundo nome de Jeremy é Demétrius?”, gargalhei. “Ainda bem que não investi.”, revirei os olhos, pondo as mãos na cintura. “Pode pular toda essa coisa chata e ir para uma coisa interessante.”

Ele sorriu.

“Como quiser.”, sua expressão ficou dura e fria. “Três semanas atrás você quase foi estuprada por seu ex-namorado, Parker. Mas foi socorrida por sua futura cunhada Caliel Crista e seu irmão Nicolas. Parker foi agredido fisicamente por Jeremy. Você tem quinze advertências, três suspensões e uma quase expulsão em seu histórico escolar. Tem o desejo de cursar veterinária – caso o sonho de ser uma estrela do rock não dê certo.”, ele voltou a sorrir e meu peito se aliviou um pouco. “Acho que isso é o básico. Ah, recentemente envolvida com drogas e bebidas alcoólicas.”, seus olhos se estreitaram.

“Você não poderia ter omitido esse pequeno detalhe.”, gracejei.

Ele balançou a cabeça.

“Não se pode esconder nada dos céus, Mellany.”

Bufei e peguei uma toalha limpando o suor de meu rosto. Meu corpo todo tremia, mesmo que eu mantivesse a fachada de indiferente. Saber que estava sendo observada desde que nasci era amedrontador. E saber que não tinha nada de bom na minha ficha era pior. Olhei para baixo, vendo minha blusa de alça totalmente ensopada de suor. Passei a toalha no meu decote e escutei Adriel puxando o ar com força.

Obriguei-me a não encará-lo e joguei a toalha do outro lado da sala. Tomei um pouco de água e o escutei se aproximando. Parecíamos imãs. Éramos feitos da mesma coisa, mas o poder de repulsão era maior. Nos movíamos de acordo com o movimento do outro. Era engraçado. Minha garganta se fechou quando o senti parando atrás de mim. Seus dedos levantaram meu rabo de cavalo e passaram a toalha por minhas costas.

Gemi.

“Ás vezes é tão difícil esquecer que você é um anjo.”, sussurrei, fechando os olhos.

A leveza de seus movimentos era alarmante. Uma ideia de ocorreu e eu virei de repente. Não deveria ter feito aquilo. Nossos peitos se roçaram e eu arfei com a proximidade de seus lábios dos meus. Seu rosto estava corado e seus olhos pareciam queimar contra os meus. Tudo em mim paralisou por um segundo, antes de acelerar. Seus dedos ainda estavam em minha pele, dificultando o raciocínio.

Ele passou a língua pelos lábios e seus olhos pousaram em minha boca, antes de engolir a seco. Eu tentando controlar meu coração antes que quebrasse meu tórax. Ele cismava que pertencia á Adriel e que deveria estar em suas mãos. Seus dedos se fecharam entorno de meus ombros. Segurei os seus pulsos.

A decisão era dele. Afastar-me ou pecar.

“Adriel...”, sussurrei. Seus olhos voltaram a se fixar nos meus. “Tem uma coisa que não está em minha ficha.”, umedeci meus lábios com a língua. “Tenho a péssima mania de me apaixonar por quem não posso.”

Ele deu um meio sorriso.

“Eu sei disso.”

Não sei o que aconteceu no segundo entre essa frase e o nosso toque. Talvez fosse a tensão que nos envolvia mesclada com o desejo. Mas achava que era só nós dois sendo humanos. Seus lábios se pressionaram nos meus, fazendo todo o meu corpo queimar, como larva deslizando lentamente por meus membros. Fechei os olhos, sentindo suas mãos tocando minha cintura suavemente.

Toquei seus cabelos – algo que almejava há muito tempo – e o escutei gemer contra os meus lábios. Tive que me controlar, já que – por mais irônica que fosse a situação – eu era a mais experiente. Adriel me puxou para mais perto e entreabriu os lábios. Gemi ao sentir nossas línguas se tocando e o seu gosto doce. Estava na ponta do pé, para compensar na altura. Deixei que meu coração batesse na velocidade que achasse apropriada e dei uma folga ao meus pulmões, esquecendo de respirar.

“Mellany...”, ele gemeu contra os meus lábios. “Minha doce Tentação.”

Descontrolei-me. Aquilo foi a gota de água para que eu atingisse o limite do meu autocontrole e me jogasse de cabeça no precipício. Empurrei-o para a parede mais próxima, pressionando-me contra ele. Adriel apertou minha cintura com força – mas ainda sem me machucar – e arfou. Abri os olhos, pensando que o tinha machucado. Abaixar a guarda foi uma falha minha.

Adriel trocou nossas posições e me vi presa entre ele e a parede. Seus dedos angelicalmente pecaminosos deslizaram por minha pele até alcançar minha bunda e puxou-me para cima. Envolvi minhas pernas entorno de seu quadril, sentindo sua respiração contra o meu rosto. Seus olhos permaneciam fechados e ele voltou a me beijar com voracidade e paixão que nenhum anjo deveria possuir. Pus meus cotovelos em seus ombros e minhas mãos voltaram para o seu cabelo loiro.

Ser tão perfeito assim deveria ser proibido. Seus corpo másculo se encostava em todos os pontos possível do meu. E ele me segurava como se eu pesasse a mesma coisa que uma pena. E para um iniciante, seu beijo era muito bom. Intoxicante, envolvente, inebriante. Por mais que estivesse arfando por falta de ar, não queria me separar de seus lábios.

Aos poucos nos acalmamos. Suas mãos só saíram de mim quando meus pés se firmaram no chão. O que demorou um pouco, já que estava tonta e ofegante. O tom avermelhado do rosto de Adriel rivalizava com o meu, mas tinha uma ideia de que o meu estava pior. Seus dedos tocaram o meu queixo, me obrigando a encará-lo. Seus olhos verdes me atravessavam, atingindo minha alma.

“Mellany, olhe o que você fez.”, pegou minha mão e pôs por cima de seu peito. Meu coração parecia uma tartaruga comparado com o seu. “Estou mais humano do que deveria.”

Estava preparada para dar uma resposta sarcástica, mas uma forte luz encheu o porão, me calando. Adriel inclinou seu corpo tenso por cima de mim, me protegendo de algo. Tudo em mim entrou em alerta. Não sabia ao certo o que aconteceria em seguida e isso me amedrontava. Meus ossos congelaram com o olhar de Adriel. Ele era a minha base, mas o medo emanava de sua essência. Abaixou a cabeça e lamentou.

“Arcanjo Miguel, que prazer.”


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Notas finais do capítulo

Agora pegou fogo. Arcanjo Miguel na área. Quem se lembra de Adriel falando em Wings sobre como Miguel era rígido. Parece que vamos descobrir o quanto.

Prévia:

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"Meu irmão cometeu um grande pecado.", Miguel soou calmamente.
Levantei os olhos novamente, os estreitando.
"Por amar Deus além do normal, eu sei.", dei de ombros, fingindo estar descontraída. "Só porque quebrei algumas regras do Senhor, não quer dizer que não conheça a história.", cruzei os braços, batendo o pé no chão. "Sabe o que é o mais engraçado? O quanto fui fiel aos céus e vocês sempre me ferraram. E agradeçam por eu não dizer outra palavra com F."
Miguel tirou os olhos de Adriel e continuou me olhando sem nenhuma emoção.
"Como te ferimos, Humana?"
"Ferir não era a palavra certa para o que vocês me fizeram, mas serve.", retruquei.

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Mellany sendo Mellany. O que acham que irá acontecer? E o que acharam do beijo? Comentem. E recomendações são aceitas de braços abertos e beijos carinhosos nas bochechas. Até quinta.



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