“Eu parei de súbito. Era a mesma clareira ... a mesma onde a Nesme foi entregue a nós, onde ela lutou pra não ir embora, onde nós a seqüestramos e apagamos sua memória.”

Amanhecia quando eu voltei para a clareira. Renesmee dormia um sono leve e acordou ao menor som que meus passos fizeram.

- Bom dia amor! – ela era encantadora mesmo que ainda estivesse com os olhos inchados de sono.

- Bom dia querida.

Ela sentou na cama improvisada e me olhou com seriedade.

- Encontraram eles?

Era incrível como eu sempre acabava mentindo pra ela.

- Não querida, mas achamos algumas trilhas promissoras. Jane seguiu por uma delas deve estar aqui no fim da tarde. Eu resolvi voltar pra ver você. Não vou deixar você aqui abandonada, vamos ter a tarde inteira juntos.

Ela corou e pareceu desconcertada.

- O que foi Nesme? Não quer ficar comigo.

- Hum é que... eu fiz um novo amigo ontem e ... bem, nós combinamos de nos encontrarmos hoje na praia. – e acrescentou depressa – mas claro que você pode ir se quiser.

Um novo amigo? Nesse lugar? Por Deus que não seja um dos Cullen.

- E quem é esse seu novo amigo posso saber?

- Você não conhece, ele mora perto da praia.

- Qual o nome dele?

- Jacob. Jacob Black.

Ótimo, uma criança da lua. Tem como ficar pior? Mas eu não podia dizer que ela não devia ir, isso exigiria explicações maiores. De qualquer forma era bom que os lobos não soubessem que eu e Jane estávamos por aqui, éramos fortes mas enfrentar a matilha inteira era suicídio. De qualquer forma eu ficaria vigiando.

- Tudo bem querida, pode ir. É bom que você tenha companhia. Eu vou ajudar a Jane, talvez possamos terminar logo com isso.

Ela pareceu alegremente surpresa.

Com uma dor insistente no peito, causada em parte pelo ciúme de vê-la com outro e em parte por me preocupar que ela descobrisse algo, eu os segui o dia inteiro. Reconheci o cachorro assim que o vi, era o que estava sempre perto dela quando era criança, a descoberta não melhorou meu estado de espírito. Eles se encontraram na praia e sentaram na areia para conversar. Ela parecia alegre e descontraída. Eu tinha que me controlar pra evitar os rugidos que insistiam no meu peito sempre que ele se aproximava dela, ou alisava o seu cabelo. Passei o tempo imaginando diversas formas de matá-lo lentamente.

Eles se levantaram e escutei ele a convidando pra ir até a casa dele almoçar. Ele morava sozinho, o pai já havia morrido há décadas. Eu os segui tomando cuidado pra que o vento nunca levasse meu cheiro até eles. Eles entraram em uma casa de madeira muito velha e pequena sem vizinhos por perto. Fiquei ao longe olhando pela janela, estava decidido a não interferir, a não ser que fosse preciso. Eles comeram aquela comida humana nojenta e Nesme foi lavar a louça. Eles ainda conversavam animadamente quando o cachorro cortou o dedo com a faca que estava secando. O cheiro me atingiu em cheio apesar da distância. Eu percebi que a Nesme havia congelado no lugar, intimamente torci pra que ela o atacasse. Ela aparentemente pediu desculpas e pulou a janela se afastando com rapidez. O cachorro limpou o sangue da toalha e do chão e correu pra chamá-la. Em minutos os dois já estavam rindo do que aconteceu. Os dois se afastaram e eu resolvi chegar mais perto pra ouvir o que diziam.

- Você tem que ver essa clareira Nessie, é linda.

Nessie? Que apelido ridículo era esse? Comparar a criatura mais linda do mundo com o monstro do lago Ness?

- Mal posso esperar pra ver Jake! Você falou disso o dia inteiro!

Jake? Mas que intimidade é essa?

- Eu costumava brincar lá quando era mais jovem. Sei que você vai gostar.

Fazia anos que eu não pisava naquela floresta, mas conforme fomos seguindo a trilha eu subitamente lembrei que clareira era aquela mesmo antes de chegarmos. Eu parei de súbito. Era a mesma clareira ... a mesma onde a Nesme foi entregue a nós, onde ela lutou pra não ir embora, onde nós a seqüestramos e apagamos sua memória. Onde Aro tirou o cordão do pescoço dela e mandou que eu me livrasse dele. Apertei o cordão no meu bolso, não podia ser, ela não podia voltar lá.

Quando voltei à realidade era tarde demais. Ouvi a exclamação de surpresa da Nesme. O cachorro começou a explicar como ele tinha descoberto esse lugar. Corri para alcançá-los e parei na entrada da clareira escondido entre as árvores.

O cachorro estúpido continuava falando da clareira. Nesme estava bem no centro, sua pele cintilando suavemente com os raios do sol, entre as flores que cresciam em toda parte. Mas o que me espantou foi a expressão dela, ela estava de olhos vidrados olhando tudo em volta.

- ... eu e o Paul vínhamos aqui pra matar as aulas da escola e ... Nessie o que deu em você?

Percebeu né ameba?

- Eu... eu conheço esse lugar...

Oh não, era o que eu temia. O maldito cachorro tinha uma expressão vitoriosa no rosto.

- O que você lembra Nessie? Nessie... Nessie o que foi você... NESSIE!

Ela começou a chorar olhando pra um ponto fixo na clareira. Suas pernas balançaram e vacilaram. ela desmaiou em meio a uma crise de desespero. Eu senti um impulso de ir correndo ver como ela estava mas ela mal tinha caído nos braços do cachorro quando acordou.

- Jake eu ... ah foi horrível!

- O que foi? O que você viu?

- Eu vi ... eu vi um vulto com uma capa negra. Eu não sei porque mas senti um desespero, como se eu tivesse que correr até ele mas não conseguisse alcançá-lo.

Ela soluçou e abraçou o cachorro. Dessa vez sim, um rugido baixo escapou do meu peito mas nenhum deles pareceu notar.

- Acho que é melhor sairmos daqui.

Finalmente o cachorro disse algo que prestasse. Eles voltaram para praia onde ficaram até o sol se pôr e se despediram. Nesme voltou pro acampamento. Senti uma vontade incontrolável de seguir o cachorro e matá-lo mas consegui me segurar e seguí-la. Não seria prudente ter o bando nos caçando agora. Nesme pareceu desapontada que eu ainda não tivesse chegado e foi dormir.

Minha cabeça rodava com aquele amontoado de informações. Por Deus ela estava lembrando! Era exatamente isso que eu temia. Os poderes dela eram fortes demais, até para Marcus. Eu tinha que fazer alguma coisa. O melhor era fazer com que ela encontrasse os Cullen de uma vez e eles sustentassem a nossa história, ela se decepcionaria e voltaríamos pra Volterra. Era terrível fazer isso com ela, mas era preciso. O único jeito de forçar os Cullen a sustentar nossa história era ameaçando-os de matar a todos inclusive a Nesme. Foi isso que os impediu de procurá-la depois que a levamos, era isso que os impediria agora. Mas pra isso precisaríamos da guarda toda. Ouvi passos na entrada da clareira, era a Jane.

- Você demorou.

Ela tinha uma expressão desolada no rosto.

- Estava cuidando de uns assuntos meus.

- Ah sei, o Jasper. – não me importei quando ela me olhou com os olhos vermelhos como se quisesse me trucidar – Temos um assunto mais importante pra cuidar agora.

Contei pra ela sobre o encontro com o cachorro, a súbita lembrança da Nesme e meu plano de chamar a guarda. Durante a história Jane por várias vezes soltava rugidos tão altos que eu temia que ela acordasse a Nesme.

- Você está certo – ela estava realmente furiosa – vai lá e chama a guarda, Aro não vai se arriscar a perder a Nesme.

- Eu ir? Na verdade eu estava pensando em você ir.

- Aro não vai vir se eu pedir, ele acha que eu aumento as coisas. Você sempre foi sensato, ele vai te ouvir.

- Tudo bem mas jure que vai cuidar dela, vigiá-la sempre e mantê-la longe do cachorro!

- Sim eu prometo.

Peguei algumas coisas e dei alguns passos para fora da clareira, em direção ao sul, quando Jane me chamou.

- Alec?

- Fala.

- Não se preocupe, eu amo ela tanto quanto você.