Premonição: Catedral escrita por MV


Capítulo 5
Anjo Caído


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, queria me desculpar pelo hiatus gigante que impus a fic. Estava tendo outros projetos(leia-se Premonição Chronicles), e então ficou difícil conciliar todos eles.
Mas para tentar me desculpar, postarei os capítulos com mais frequência, inclusive o capítulo 6 já está em desenvolvimento! E ainda tem um capítulo BEM GRANDE para vocês não botarem defeito!
Espero que gostem!



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29 de novembro de 2013.

— Eu… Eu não acredito. — Will falou, sorrindo. Chegou até perto do carro novo, e olhou pela janela do mesmo, observando o interior do mesmo. Ele se virou, e falou: — Obrigado. É… É…

— Eu sei filho. — Julia saiu para a parte de fora da casa, carregando um pequeno bolo de chocolate nas mãos. Em cima dele vinham duas velas. 18.

Mãe… mas eu pensei… Que… Eu não iria ganhar um carro.

— Will, era um segredo entre nós e o Martin. Ele que financiou tudo pra comprar o carro. — Lindsey falou. — Daí, ficou na casa dele até chegar o seu aniversário, ele que iria trazer o carro pra você. Mas…

Valeu Martin por comprar esse carro. Nunca vou conseguir retribuir.

— Sério, obrigado, obrigado, obrigado mesmo. — Ele olhou para o carro. — Vou estrear ele hoje mesmo.

— Will, não esquece disso. — Stuart falou, dando a chave do carro para Will.

— E também não esquece de assoprar as velinhas, meu filho. - Julia falou. — Feliz aniversário Will.

12:30.

Sarah estava andando pelo centro da cidade, mas daquela vez andava sozinha, sem Courtney ou Leo ao seu lado. Era dia de Black Friday, e a cidade estava uma loucura total. Lojas lotadas, descontos arrasadores, diversas coisas que não interessavam para Sarah. Ela prosseguia em sua caminhada incessante, até chegar na orla da cidade.

Sentou-se em um banco, na frente da mureta de pedra, e ouvia o mar chocar-se abaixo dos seus pés. Aquele barulho que a água fazia por vezes era perturbador, mas dava uma estranha paz á Sarah. A garota fechou os olhos, e ficou ali sentada.

No dia anterior, Courtney contara a ela sobre uma estranha história de que a morte estava perseguindo a todos eles, por conta da saída dos mesmos da catedral. Inicialmente Sarah não acreditou na história, mas depois acabou por descobrir que a irmã poderia estar envolvida naquela terrível história também. Lembrava-se de ter lido os nomes dos sobreviventes do Okanagan, incluindo a sua irmã, e de Courtney falando que todos tinham morrido. Será que aquilo realmente aconteceria com eles? Aquilo não deixava a garota em paz, e estar em paz era tudo o queria estar.

Tivera mais uma chance ao sair da catedral, uma chance de viver mais e realizar mais sonhos. Terminar a sua faculdade de artes cênicas, assim como mais apresentações de dança que viriam a seguir. Desde o desabamento da catedral, as aulas tinham sido temporariamente suspensas, mas deveriam voltar em breve. E Sarah estaria pronta, como sempre estava.

Para terminar, havia Leo. Sarah sempre fora apaixonada pelo garoto, mas nunca se declarara. Ela sabia que com essa nova chance que ganhara, ela finalmente poderia se aproximar de Leo. O grande problema é que Leo parecia estar se afastando cada vez mais de Sarah, e também de Courtney. E a garota já tinha quase certeza que sabia o porquê, mas tinha medo de estar correta.

Naquele mesmo momento, algo se chocou contra os pés de Sarah, tirando a garota de seus devaneios. Era uma folha, meio velha. Pegou-a e observou o que estava escrito, e identificou algumas palavras separadas, bem apagadas. Mas Sarah não precisava observar muito para saber o que estava escrito, ela conhecia aquele conjunto de palavras. Era a letra de uma música.

Beyond the Sea.

15:00.

Um vento frio tomava conta da grandiosa metrópole de Nova York. Dentro de um ônibus, Natasha mantinha suas sacolas de compras sobre o colo. Afinal, como já era de costume na Black Friday, a moça torrava todo o seu dinheiro em frivolidades, e essas frivolidades ela nunca usaria.

Estava quase dormindo, quando alguém a cutucou do lado. Abriu os olhos, e quando observou, quem estava sentada ao seu lado era Courtney.

— Antes de tudo, que fique claro que não estou falando com você por boa vontade. É mais por obrigação. Então. Você agora precisa me ouvir.

— Ouvir… O quê? — Ela perguntou.

— Então. Não sei por onde começar, mas… Enfim, você deve ter ficado sabendo da morte da Katie, claro. A questão é que ela não morreu por conta própria.

— Claro que foi. — Natasha falou. — Como que ela não morreria por conta própria?

— Essa não é palavra. — Courtney suspirou. — Sabe quando nós saímos da catedral antes de desabar, por causa daquele garoto? Nós éramos pra morrer lá, já que tudo desabou. Mas não morremos. Tivemos uma segunda chance, que Katie não aproveitou muito, pois três dias depois ela morreu. Até aí nenhum problema. Provavelmente um acidente infeliz…

— Não entendi onde você quer chegar, querida. — Natasha falou, mostrando que pouco se importava com o que ela falava.

— Vou continuar, e não me interrompa, por favor. Então, se fosse somente ela, poderia ser apenas um terrível acidente, mas não foi. Ontem de manhã, um outro sobrevivente da catedral morreu. Lembra do fotógrafo do casamento? Então, foi ele. O que acho é que... Olha você pode achar meio bizarro, mas isso já aconteceu antes. Alguns sobreviventes escapam de um acidente, e então, um por um começam a morrer. Como falei, existiram diversos casos assim, e acho que o nosso se encaixa nisso. É por isso que estou falando com você, porque...

— Espera, você acha que vou acreditar nisso? Me poupe e se poupe, Courtney. Isso é uma espécie de maldição? Por favor, essas coisas não existem. – Ela falou.

— Já imaginava que você teria essa opinião. Mas deixe-me terminar. – Courtney falou, num ar sombrio. – Eu tinha que falar com você, porque se for real, você também está destinada a morrer.

—Isso é um processo natural. Além disso, duas pessoas morrerem só pode ser coincidência. Nada pra se preocupar, querida. Ah, se fosse você esfriava a cabeça. – Natasha falou, fazendo um gesto de quem pouco se importava.

— Você realmente ouviu o que eu disse?

— Ouvi, ouvi. Agora sossega, tá? Nada disso vai acontecer. – Ela sorriu falsamente.

— Eu não consigo entender.

— Entender o que?

— Como você consegue ser assim, Natasha. Sabe, acho que eu já falei isso, mas eu tenho nojo de você. Do seu jeito esnobe de tratar o mundo. Você trata os outros como se fosse nada, inclusive sua melhor amiga que acabou de falecer, você trata como se fosse normal. Você é o centro do universo, não é? Pois você não é, Natasha. Você não é. Depois não diga que não avisei. – Courtney se levantou, e se dirigiu para a parte dos fundos do ônibus. Natasha piscou algumas vezes, parecia refletir sobre o que Courtney dissera, mas logo depois procurou seu celular, para colocar seu fone de ouvido.

...

19:00.

Will colocou uma jaqueta de couro e olhou no espelho, sorrindo.

É hoje, Will, é hoje. É hoje que você vai dar um jeito naquela belezinha sua.

Ele saiu do banheiro, e foi até seu quarto, pegando as chaves que tinha praticamente jogado sobre o criado-mudo. Stuart estava no quarto lendo um livro qualquer, e ele posicionava o livro sobre a face dele. Will deu uma olhada, percebendo que o livro era relativamente grosso, e perguntou:

— Que livro é esse aí?

Stuart desceu o livro e olhou para Will, e falou:

— Enciclopédia do Sobrenatural. Peguei na biblioteca da cidade.

— Ah, legal. E o que fala aí? De bruxas, lobisomens ou vampiros?

Stuart suspirou, e fechou o livro, deixando de lado.

— Não é sobre isso. Fala de casos sobre fantasmas, casos supostamente reais, e também de várias coisas que não podem ser explicadas normalmente... É interessante.

— E por qual motivo você pegou?

— É coisa pessoal, Will. Mas eu falo pra você. Senta aí. – Stuart falou, indicando a beirada da cama. – Então, você sabe o que vem acontecendo comigo né?

— Na verdade não.

— Will, eu tô vendo coisas. Coisas que eu não deveria ver entende? Desde o acidente na catedral, eu sinto que tem algo me perseguindo, me sufocando... Eu sinto uma presença do meu lado, como se... Ah, não sei explicar. É algo que eu sei que é terrível. E também estou tendo uns sonhos que me dão aflição...

— Por isso você tá lendo esse livro aí? Não era melhor se distanciar de tudo, se tá te atrapalhando?

— Qualquer um diria isso, mano. Mas o que eu quero é achar uma resposta pra tudo isso. Tudo o que vem acontecendo, não vem fazendo o menor sentido. – Stuart abaixou a cabeça. – Eu me sinto como um louco, e pior, as pessoas ao meu redor me veem como um louco. Eu não posso falar disso com a mãe, e não consigo com a Lindsey, mesmo sabendo que ela é de confiança.

— Acho que eu entendo. Mas fica melhor, cara. Olha, tudo vai terminar bem, como se nada disso tivesse acontecido. Todos nós recebemos uma segunda vida né? E essa segunda vida não serve para ficar se lamentando. Principalmente quando se trata de você. – Will apontou para Stuart. – Que teve a visão lá. Você é que deveria ficar feliz, salvou uma porrada de gente. Teve algumas perdas, mas... – Ele suspirou. – Os ganhos foram maiores em número.

— Será Will? Mesmo que tenham sido maiores, será que valeu a pena?

— Porra, você tá querendo morrer, é isso? – Will perguntou. – Stuart, para com esse lamento, caralho. Você tá parecendo uma daquelas tiazinhas idiotas que ficam se lamentando por causa do namorado. Mano, para com isso. Eu sei que tô longe de dar bons conselhos, mas cara... Deixa disso.

— É, pode ser que seja só coisa da minha cabeça mesmo. De qualquer jeito, valeu por escutar.

— Relaxa, tô aqui pra isso. Mentira, tô não. Não aguento ficar ouvindo gente lamentando na minha cabeça, coisa chata.

— Eu fico ouvindo você se lamentar o tempo todo.

— Não tava falando de mim, tava falando dos outros.

— Você é um canalha mesmo, Will! – Stuart falou rindo, jogando o livro na direção do garoto que pegou o mesmo.

— Eu sei, mano. Eu sei.

— Mas é ainda o melhor irmão que eu podia ter. Eu acho. – Stuart falou, fazendo uma careta no final.

— Obrigado pelo elogio. – Will falou. – Agora se me dá licença, tenho um carro pra estrear.

— Vai onde?

— Vou sair pra uma festa, ainda tenho que buscar uns amigos... Não espere por mim hoje. Avisa a Lindsey e a mãe pra não esperar também quando elas chegarem. Eu acho que só chego amanhã.

— Will? – Stuart o chamou.

— O que foi?

— Tenta não beber, ou beber pouco. Do jeito que está, você vai ficar alcóolatra, totalmente dependente de álcool. Tô falando isso pro seu bem.

— Ahn... Tá.

Will estava saindo com o carro quando viu que uma festa de criança acontecia na casa do lado. Teve uma sensação de que já tinha visto algo parecido antes, mas deixou essa sensação passar. Provavelmente era alguma festa que ele tivera quando era apenas uma criança.

...

20:00.

O carro de Will vinha em alta velocidade, sendo dirigindo pelo garoto. No banco de trás, os amigos do garoto praticamente faziam uma festa particular deles, com muita bebida e maconha. No banco da carona, uma garota vinha sentada olhando para o lado de fora. Música alta tocava.

Uma verdadeira zona.

Cindy?

— Oi? - Cindy, a garota, respondeu. - Que foi Will?

— Você tá bem?

— Eu só quero chegar na casa do logo. Não aguento mais ficar nesse carro. - Ela falou baixo, mexendo nos cabelos curtos e pretos dela. - Parecem um bando de macacos. É sério. - Falou quando Will soltou uma risada. E além disso esse cheiro de maconha é horrível. - Ela fez uma careta.

— Galera, vamos maneirar aí na maconha, valeu? - Will falou, sendo respondido por alguns grunhidos. - Esquece, já tão tudo brisando.

— Eles são loucos né? - Cindy riu mais uma vez.

— Nem tanto. Já vi coisa pior. - Will respondeu com veemência.

— E você não fuma também? - Cindy perguntou. - Quando eu vejo você, ou melhor, quando eu sempre vi você andando com os caras aí, pensei que também fazia isso...

— Não, não... Drogado eu não sou. Eu tenho cara, hein?

— Não, só tava falando deles ali atrás... Ah, deixa então. É que eu nunca tinha falado sério com você, só tinha pego carona porque o Ryder falou que você morava perto de mim. Gostei de você, Will. Não é um babaca como eles. - Cindy falou. - Não posso falar nada mesmo, sempre fiquei com babacas.

Will pegou uma garrafa de cerveja que estava do lado do seu banco, e bebeu um gole. A lembrança de Stuart o avisando passou pela sua mente rapidamente.

— Talvez eu tenha que repensar isso... – Cindy falou, rindo novamente.

— Quer? Toma um pouco. - Will falou, e Cindy pegou a garrafa de cerveja levando á boca. Deu novamente a Will, e no mesmo momento as mãos dos dois se tocaram, fazendo os dois se olharem fixamente. Uma fumaça de maconha surgiu e interrompeu o momento. Os dois balançaram a cabeça, e Cindy olhou para fora.

— Will, acho que chegamos. O apartamento do Ryder é um pouco mais pra frente. Para aqui.

...

Lindsey estacionava o seu carro na garagem da casa de sua mãe, enquanto ouvia a gritaria vinda da casa do lado. Sorriu, relembrando os seus tempos de infância. Julia desceu do carro, e foi andando até a casa, quando foi surpreendida por Stuart, que saiu correndo.

— Graças a Deus vocês chegaram, já estava pensando que não chegariam muito cedo.

— O que aconteceu, Stu? – Lindsey perguntou, surpresa.

— Mana, eu... vou precisar do carro seu, podia me emprestar? Calma, é por uma boa causa. Eu tô precisando dele de verdade.

Ela saiu do carro, e deu a chave para Stuart.

— Pode pegar, mas toma cuidado. Você sabe que se você estragar...

— Lindsey, eu sei dirigir.

— Tá, só estou um pouco preocupada. Desde que volte com o carro inteiro...

Stuart saiu com o mesmo, e foi seguindo na direção da suposta funerária onde ele deveria se encontrar com o trio. Ele ia em velocidade alta, e as luzes da cidade riscavam os vidros, até o momento que ele parou num sinal.

O celular de Stuart tocou, e ele se esticou para pegá-lo no banco do lado. Olhou no visor, e viu um telefone desconhecido na linha, mas mesmo assim atendeu. Quem respondeu era uma voz que soava familiar para o garoto.

— Stuart, certo? É Sarah. De ontem.

— Oi, Sarah.

—Então, quando você deve chegar por aqui?

O sinal abriu.

— Daqui a pouco tô aí. Vocês já chegaram?

— Estamos aqui perto, não demora por favor. Ah, o cara da jaqueta – Houve uma pausa. – O Jeff está com a gente.

— Que cara da jaqueta? Tá falando daquele cara de ontem?

Naquele mesmo instante, um cachorro saiu correndo na frente de Stuart, e ele teve que desviar. Nessa manobra, o celular de Stuart caiu de onde ele estava apoiando, e foi cair no banco de trás. Ele suspirou, conformando-se.

Ligou o rádio do carro de Lindsey, e procurou por alguma estação que estivesse tocando música. Deixou na primeira que encontrou, enquanto o carro continuava a correr pelas ruas iluminadas de Mt. Abraham.

...

21:00.

Stuart estacionou o carro na beira da rua e saiu. Um vento frio fazia as folhas caídas de outono se espalhar em volta dos pés do garoto, que andava a passos apressados. Levantou a mão, e quatro pessoas vieram ao seu encontro. Courtney, Sarah, Leo e Jeff.

— Tudo bem? - Sarah o abraçou. - É bom que tenha chegado.

— Prontos? Vamos então. - Courtney falou.

Chegaram até o local da funerária, e Courtney bateu na porta. Foi tentar a fechadura, e para sua surpresa estava aberta. Puxou a mesma e entrou.

—Não vejo nada de anormal nisso. Já sabia que estava aberta. - Jeff falou, mais para si do que para os outros.

Atrás dele, Sarah falou a Leo:

— Eu tenho medo desse cara, Leo. Sei lá, ele é meio estranho... Eu não posso falar nada mas, ele me dá arrepios.

— É. Ele é um pouco estranho mesmo. - Leo falou como se estivesse entediado.

O quinteto chegou a uma sala, e ficaram observando ao redor. Havia um corpo coberto por um pano com sangue no canto da sala. A lâmpada colocada sobre o local piscou repetidas vezes.

— Procuram por algo?

Todos se viraram na direção de um negro que vinha caminhando lentamente na direção deles.

— O senhor... Lembra de gente? - Sarah perguntou.

— Lembro sim, lembro muito bem. - Ele abriu um sorriso mórbido. - Principalmente desse aqui, não é Jeff?

— Vocês se conhecem? - Courtney perguntou. Jeff olhou para ela, fuzilando a garota com o olhar, e ela se sentiu acuada.

— Vejo que você está com uns problemas... Não só você, como eles também. Não é garota? - Ele falou, dirigindo-se a Courtney. - Não precisa falar, já sei o que está havendo. Não é a primeira vez. - Ele falou agora se dirigindo até o corpo e retirando o pano sujo, revelando o rosto dilacerado de Katie. Sarah e Courtney acuaram assustadas.

— Não precisam ter medo de mim, meninas. Devem ter medo do que está acontecendo com vocês, depois que saíram da catedral. Vocês me lembram uma garota que eu conheci muitos anos atrás. Clear Rivers. Ela também buscava respostas para o que acontecia com ela...

— O que aconteceu? - Stuart tentou perguntar.

— Morta. - O funerário respondeu. - Ela sofria as mesmas coisas que você estão passando agora...

— Que tipo de coisas? Você está falando das mortes?

— Sim. E elas estão apenas começando. Vocês foram muito inteligentes em já tentarem descobrir o que está acontecendo, mas não fazem ideia de como será. A morte vai pegar vocês. Um por um. Até todos estarem mortos.

— Mas por... - Leo voltou a perguntar, mas foi cortado pelo funerário.

— Vocês quebraram o esquema da morte. Como falei, todos vocês deveriam ter morrido naquele acidente da catedral, sendo enterrados para sempre. Mas quando você - Ele apontou para Stuart. - teve aquela visão, você quebrou com tudo o que ela planejou. Vocês sobreviveram. Conseguiram enganar a morte, mas ela já veio. E está aqui, matando todos vocês. Dois já foram.

— E não tem alguma maneira de acabar com isso? - Sarah perguntou, desesperada. - Não podemos ficar esperando ela chegar a acabar com a gente.

— Você tem iniciativa, mocinha. Pena que isso não adiante muito. Mas existem modos de tentar interromper o ciclo.

— Que tipo de modos? - Courtney falou.

— Alguém tem que morrer no seu lugar. Essa pessoa tomará o seu lugar na lista, e quebrará todo o esquema criado. Com essa pessoa, a morte não consegue mais seguir. E quem estiver vivo, permanecerá.

— Você está falando pra outra pessoa entrar no nosso lugar na lista? – Jeff perguntou. – Como que fazemos isso? Temos que matá-la, e assim salvamos o resto?

— Jeff... Eu não faço as regras. Pense como quiser. Mas estarão salvos se seguirem.

Stuart levou as mãos à boca e suspirou. Aquela conversa louca não estava ajudando em nada. Continuava com as mesmas dúvidas, e agora elas haviam aumentadas com o suposto meio de escapar da lista. Resolveu perguntar.

— E se nós simplesmente salvássemos a pessoa de morrer em determinado momento? Não acabaríamos com a lista logo de uma vez? Porque a pessoa seria salva, o que a morte não quer...

Bludworth se aproximou de Stuart e falou:

— Quem disse que um simples salvamento pode deter a morte? Se quer acabar com ela, faça de forma com que ela não volte mais. Boa sorte. – Ele falou, dando as costas para o grupo.

— Espera, é só isso? – Courtney perguntou, indignada. – Só isso? E como vamos fazer isso, como vamos interromper esse ciclo, como? Escuta, não precisamos saber.

— Mocinha, como falei você me lembra muito Clear Rivers. Mas não sei se já disse isso, eu não dito as regras, apenas faço a limpeza e mando as pessoas para o além. Eu não posso fazer nada. Mas corram, que mais cedo ou mais tarde, eu verei todos você aqui. – Ele falou, puxando outra maca, com um corpo das sombras. Era Logan.

Sarah desviou os olhos instintivamente após ver o ferimento causado na cabeça de Logan pela furadeira, encostando a cabeça no peito de Leo, que arfava forte. Courtney piscava os olhos repetidamente, Jeff estava chocado e Stuart lembrava das terríveis coisas que tinha visto no dia anterior.

— Apenas corram. E novamente, boa sorte.

...

Julia abriu um grande cesto de roupas que estava na área externa da casa, ao lado da lavadora. Começou a pegar as roupas separando-as, e depois colocando na lavadora.

— Mãe? – Lindsey apareceu na porta. – Tudo certo aí fora?

— Claro filha. Por que pergunta?

— Não, eu só senti algo... Meio que um pressentimento de algo ruim e...

— Pare com isso, Lindsey! Tem tanta desgraça acontecendo na nossa vida, e você ainda pensa em coisa ruim! Por favor, filha.

— Desculpa... Eu só não quero que aconteça alguma coisa com você mãe. – Lindsey falou. – Deve ser bobeira minha.

Julia sorriu.

— Relaxe. Não há nenhum problema em querer bem... – Julia foi interrompida por um barulho irritante vindo de trás. O varal giratório estava girando, como se um vento tivesse o atingido. Logo as duas também sentiram o vento.

— O que é isso? – Julia perguntou, olhando ao redor. Logo depois, a senhora sentiu um calafrio.

Arthur.

— Mãe?

— Filha, não foi nada. Nada. – Julia falou, voltando a colocar as roupas na máquina de lavar. Mas sua voz a denunciou.

— Mãe, tem algo acontecendo. Pode falar o que você sentiu. Eu vi seu rosto, sua voz... Coisa boa não foi.

— Tudo bem, filha, tudo bem... – Ela pegou mais uma roupa e colocou no interior da máquina. Quando Julia viu, a filha estava ao lado do cesto de roupas, apoiando-se na máquina.

— Tem alguma coisa errada, e não adianta você tentar escapar de mim. Eu preciso ver você bem.

Ela se abaixou novamente, pegando mais uma roupa.

— Lindsey, pela última vez. Não tem nada acontecendo comi...

Um estrondo vindo da casa do vizinho assustou as duas. Instantaneamente, Lindsey gritou e bateu no botão para ligar a máquina, justamente no mesmo momento em que Julia que colocava a roupa dentro da lavadora. O funcionamento da lavadora começou com a tampa aberta e a cabeça de Julia presa dentro da mesma. Água começou a escorrer de todos os lados, enquanto a máquina mexia fortemente, e Julia sentia os lados baterem contra sua mandíbula.

Gritou, mas seu grito foi abafado por várias roupas que continuava a balançar, e iam na sua face, junto com a água.

A primeira coisa que Lindsey pensou em fazer foi em desligar a lavadora, e apertou o botão na primeira vez, e percebeu que estava emperrado. No desespero, tentou socar o botão mais algumas vezes, até que em um momento o mesmo afundou. A lavadora parou repentinamente, e Julia parecia não ter protestado.

— Mãe? Mãe?

Nada foi ouvido por Lindsey, que se desesperou. A mãe ainda estava com a cabeça presa na máquina, sem nenhuma reação. As mãos de Julia, que seguravam a lavadora, deslizaram. O terror passou pela mente de Lindsey. Minha mãe não, minha mãe não... Por favor, minha mãe não...

Ela fez a primeira coisa que viera a sua mente, e verificou o pulso da mãe. Não batia, não batia, não batia...

Bateu.

Lindsey relaxou um pouco, ao saber que a mãe ainda estava viva, mas sabia que precisava de ajuda. Pensou em Stuart e Will mas logo percebeu que eles não estavam na casa. Saiu correndo até o telefone da casa, e ligou para o 9-1-1. Depois da ligação, correu para a casa do vizinho, procurando por ajuda.

...

22:45.

— O que a gente faz, afinal? – Leo perguntou desanimado. – Vamos morrer de qualquer jeito.

— Leo, não pensa nisso. – Sarah falou. – Olha, vamos conseguir sair desse buraco, todos vivos. Sair da catedral teve um propósito e não foi morrer.

O garoto suspirou, como se concordasse, mas ainda mantinha a face pensativa. Os dois estavam deitados lado a lado em uma cama da casa de Courtney. A latina, Jeff e Stuart discutiam sobre aquelas coisas que ouviram na sala. Sarah dissera que não queria ouvir mais nada sobre a conversa, e Leo a seguiu.

— É. Mas não éramos pra ter saído de lá. E agora estamos na mesma situação, só que pior. Podemos morrer a qualquer instante, já pensou nisso? – Leo falou. – Eu já. Muitas vezes.

Sarah se aproximou de Leo, e olhou no fundo dos olhos castanhos do garoto.

— Já passou, Leo. Já passou. Como isso vai passar também.

Leo começou a mexer em algumas pulseiras que tinha no braço, parecendo entretido com elas. Sarah sabia o que o garoto estava passando, o risco de morte aparecia novamente para Leo, mais forte do que nunca. Para Sarah, aquilo despertava lembranças terríveis. Lembranças de Carly. Agora Sarah passava por tudo o que Carly tinha passado.

— Leo?

— O que foi, Sarah?

— Eu fico falando essas coisas de que nós vamos conseguir, nós vamos vencer e tal... Eu sei que sou uma garota, uma mulher forte, e tudo isso, mas e se nada disso adiantar? E se como você falou, todos morrermos? Isso aconteceu com a Carly, e ela era assim como eu então... Não, eu não quero que você pense que sou uma pessoa fraca, mas é que... – Sarah se calou quando Leo segurou a sua mão.

— Enquanto eu estiver aqui nada de ruim vai acontecer com você, tá? E você é sim uma garota forte. A mais forte que eu conheci, a mais verdadeira e a mais bonita também. Nós vamos enfrentar isso juntos. Nós e os outros. Se não conseguirmos... – Leo abaixou o olhar. – Não conseguimos. Mas tentamos, é melhor que ficar se lamentando. Como eu ficava fazendo. Lutar é sempre o melhor remédio. E Sarah...

Leo foi bruscamente interrompido por Courtney que entrou no quarto, procurando os dois.

— Ai, desculpa. Não quis interromper o momento de vocês dois. Mas vou ter que interromper, o Stuart se lembrou de uma coisa crucial.

...

23:00.

A música alta tomava conta do apartamento de Ryder, o último de um prédio de 20 andares. O vizinho do andar de baixo estava viajando, o apartamento do lado desocupado e os pais, com seus irmãos mais novos, estavam fora de casa. Momento perfeito para uma festa.

A festa tinha começado exatamente ás 20:00. Bem cedo para uma festa normal, mas mesmo assim, a festa atingia o seu ápice. O síndico dera um ultimato para Ryder, e a festa deveria acabar antes de atingir a meia-noite. Chegada a meia-noite, deveria tudo acabar.

Mas quem disse que alguém ligava para isso? A própria dona da casa estava bêbada, e a casa estava virada de casa de pernas pro ar.

Na sala, Will e Cindy dançavam colados um no outro. Os dois tinham ficado a festa inteira juntos, conversando, dançando e bebendo juntos. Ambos tinham muito álcool no sangue.

— Sabe o que eu lembrei agora? Meu irmão... Ele me disse pra não beber...

— Seguiu direitinho a recomendação hein? – Ela riu.

— Por que você ri tanto? – Will perguntou.

— Tem algum problema com isso? – Cindy perguntou.

— Não, nada... – Dessa vez foi Will que riu.

— Viu, riu também. Cala a boca, Will. Deixa que eu faço isso. – Cindy falou, e logo depois se aproximou do garoto e o beijou. Will retribuiu, e os dois ficaram se beijando por um bom tempo.

— Hum, beija bem. – Cindy falou.

— Quer mais um? – Will perguntou, beijando ela de novo, e os dois se chocaram contra a parede, chutando um guarda-chuva e um skate que estavam colocados, e pouco a pouco os dois corpos foram se entrelaçando, e começaram a andar na direção do corredor. Suas bocas se separaram mais uma vez, mas eles continuavam entrelaçados.

Will passou a mão próxima dos seios da garota, e ela segurou forte, e retribuindo com um olhar de quem estava gostando. Will sorriu maliciosamente.

— Aqui não. – Cindy cochichou no ouvido do garoto.

A porta do quarto dos pais de Ryder foi praticamente chutada por Will, que logo depois trancou a mesma. Quando se virou, Cindy tinha tirado a sua blusa, e empurrou Will para a parede. Mais um beijo intenso e Will soltou o sutiã da garota, enquanto Cindy tirou a camiseta de Will, e agora ambos sentiam o calor que emanava do outro.

Caíram na cama, e a calça de Will foi puxada para baixo, assim como a saia de Cindy. Em pouco tempo, mais nenhuma roupa havia sobrado. Apenas dois corpos nus que descobriam o prazer do sexo.

...

— Pode falar Stuart. – Courtney falou.

— A gente tava conversando – E indicou com a cabeça Jeff e Courtney. – Sobre essas mortes, sobre o que temos que fazer, e tudo mais, então eu me lembrei de algo que pode ajudar... Na minha visão...

— O que foi? – Leo perguntou curioso.

— Assim... – O garoto fez uma pausa e continuou. – Na minha visão, eu tinha visto todos morrerem, sem nenhuma exceção. Todos. Eu não me lembrava muito bem dela, mas agora algumas coisas voltaram á minha mente. Eu percebi que todas essas mortes não ocorrem por caso. É um padrão.

— Padrão do que? – Dessa vez foi Sarah que perguntou. – Aliás, como assim um padrão?

—Na minha visão se não me engano, quem morria primeiro era o padre Ernest, depois o Martin e a Madison. A cruz caía em cima dos três – Stuart fez um gesto representando a cruz caindo.

— Exatamente como aconteceu. – Jeff falou. – Continua.

— Então, depois disso... – Stuart fez força para tentar se lembrar. – A Katie morreu esmagada. E o Logan... O Logan... Morreu logo depois! Ele foi empalado pelo tripé da câmera acho...

— Ernest, Martin, Madison, Katie, Logan. E eles morreram nessa ordem mesmo. Um por um. – Courtney falou.

— Achamos o padrão das mortes então! – Leo falou. – Se a morte estiver seguindo um padrão, é esse. É uma lista.

— Então, todos nós morremos nessa ordem, não é? – Sarah perguntou. – Já vimos que a lista é real, um padrão.

— Eu não acho. – Jeff falou relutante. – Acho que vocês estão querendo explicar o sobrenatural. O sobrenatural não pode ser explicado, ele só é.

— Mas é um padrão, Jeff. – Stuart respondeu. – Não dá pra perceber?

— Pode até ser, mas não me convence. Tudo isso que está acontecendo conosco não é normal. E vocês vão tentar achar soluções pra isso? Já não basta sabermos como iremos sobreviver a isso? Aliás, deveríamos falar mais sobre isso, porque tá foda.

— Ninguém tá querendo achar uma solução para o sobrenatural, Jeff. Ninguém. – Sarah falou.

— Claro que estão. Dá pra perceber de longe.

— Jeff, só queremos descobrir como escapar disso. Com esse padrão fica mais fácil interrompermos o ciclo. Afinal, ele não falou nada sobre salvarmos apenas uma pessoa. Vamos supor que eu sou a próxima, e consigo me salvar do acidente. A lista vai se quebrada, o padrão vai se quebrado. Vai terminar tudo bem. – Courtney respondeu.

— É. Tem isso também. – Stuart falou concentrado nos seus pensamentos.

— Por mim, vocês estão indo pra um caminho totalmente errado. Não conseguem perceber que tudo isso é bobagem, ou vou ter que repetir tudo de novo? – Jeff falou.

— Tudo bem. Você tem toda a liberdade de não acreditar. – Courtney disse. – Mas espero que não seja a sua vez, espero mesmo.

— Não esquece mocinha, que qualquer um aqui pode ser o próximo. E não sabemos quando ela vai atacar. Pode ser que estejamos conversando aqui e de repente... BUM! Alguém morre. – Jeff falou, abrindo um sorriso sarcástico. – E sabe o que é mais engraçado? Vocês três sempre completam a frase do outro. Eu sei que não tem nada a ver, mas mesmo assim. Engraçado.

— Dá pra parar com esse papo? Eu não tô bem. – Sarah disse. – Já chega. Vocês ficam discutindo sobre quem vai se o próximo a morrer, mas ninguém liga pra viver! Porra gente, viver é o nosso alvo.

— Mãe...

— O que Stuart? – Leo se aproximou do garoto. Jeff se agachou.

— Will...

— O que você tá falando? – Jeff falou.

— O sino desabou sobre eles. É isso. – O garoto se levantou. – Eu preciso ir até minha casa, urgente. Se tudo estiver certo, minha mãe e meu irmão são os próximos da lista. Desculpa a pressa, mas vocês devem entender.

— Calma Stuart... – Courtney tentou falar. – É, acho que a reunião acabou.

— Então, tá. – Jeff falou. – Espero que vocês tenham sorte da morte não chegar até vocês, antes de nos encontrarmos de novo. – Adeus. – Ele falou, sem olhar para trás.

...

— Acha que vai conseguir alguma coisa, correndo desse jeito? – Jeff falou, parando ao lado de Stuart, que abria a porta do carro.

— A salvação da minha mãe. – Ele falou, fechando a porta do carro.

Antes que Stuart pudesse trancar ou ligar o carro, Jeff entrou no mesmo e se sentou. Stuart olhou para o homem com um olhar de “o que você pensa que está fazendo aqui?”

— Antes que você fala qualquer coisa, eu quero ver se essa teoria é tudo verdade. Ou então, ajudar quem sabe.

— Então tá, né.

O carro saiu dando uma arrancada, na direção da casa de Stuart. No meio do caminho, Stuart deu o celular para Jeff, e disse para ligar para Lindsey. Na terceira vez, a ligação foi atendida.

— Stuart? Ainda bem que você ligou...

—Não é o Stuart. É um amigo dele. Ele tá dirigindo, e perguntando onde você tá.

— Pera, que amigo? Eu não posso...

— Dona, por favor, só fale. Ele tá falando que é caso de vida ou morte. Quer falar com ele?

— Passa.

— Lindsey, tá aí? Escuta, onde vocês estão?

— Stuart, eu realmente precisava...

— Depois eu falo com você, mana. Onde você e a mãe estão?

— No Hospital Central. Aconteceu uma coisa aqui em casa...

Stuart gelou diante da resposta de Lindsey. Apenas disse a Jeff:

Desliga.

— E aí?

— Hospital Central. – Stuart falou, acelerando cada vez mais.

...

23:30.

Stuart abriu as portas do hospital, e procurou por Lindsey com o olhar, achando a mesma no canto da parede, dormindo.

— Lindsey. Ei, mana. – Stuart falou a balançando.

— O que, que... – Lindsey falou meio sonolenta. – Stuart, ainda bem que você chegou. – Ela falou, levantando-se.- Aconteceu uma coisa com a mamãe... Uma coisa terrível.

— Fala o que foi logo de uma vez. – Stuart falou, ofegante.

— Um acidente lá em casa, a mãe ficou presa na máquina de lavar, com a cabeça presa. Conseguiram tirá-la de lá e ela tá viva, tá bem. Mas mesmo assim, não sei, estão fazendo exames com ela, mas ela pode ter fraturado o crânio... E o pior, a culpa é minha. Eu que acabei ligando o botão por acaso e... – Lindsey começou a chorar, e foi abraçada por Stuart.

— Calma. Tá tudo bem agora, tudo bem...

Então, como num passe de mágica o hospital sumiu. Ele estava agora em uma rua, e olhou para frente. A magnífica catedral desabava. E então viu Julia e Will descendo as escadas. Um estrondo.

Pouco antes do último degrau, Will empurrou Julia para baixo, e a mulher caiu no chão, olhando para o filho, mas a cena logo sumiu, porque a torre do sino desabou completamente sobre a escada, soterrando Will, mas sua mãe estava sã e salva.

— Stuart? – Lindsey perguntou, tirando o garoto de seus devaneios.

— Will... Will...

— O que tem o Will, Stu?

— Mana, eu prometo que eu volto, mas eu preciso procurar o Will agora, é urgente. Depois eu explico tudo pra você e pra ele. Mas agora eu realmente não posso.

O garoto saiu correndo na direção do carro seu, e Jeff apenas observava a corrida de Stuart. Quando o garoto finalmente entrou no carro, ele disse:

— E aí?

— Minha mãe tá salva. Mas tenho um problema muito maior. Ela nunca morreria na catedral, ela está fora de lista. Já meu irmão... É o próximo, e eu não faço a menor ideia de onde ele...

— Tenta ligar, eu assumo a direção.

— Tá. Olha, eu vou tentar ligar, mas vamos pra minha casa, vou mostrando o caminho. De lá talvez consiga alguma coisa, sei lá.

...

00:20.

Will abriu os olhos, ainda meio sonolento. Olhou para o lado e viu Cindy dormindo, tranquilamente. Foi inevitável um sorriso.

Ele se levantou, ainda nu, e começou a andar pelo quarto, pegando suas roupas, ainda pensando no sexo que tivera com Cindy, na sua primeira vez. Foi quando passou pela sua mente que algo tinha faltado. A maldita da camisinha.

Ah, foda-se.

Depois de vestir apenas a calça, saiu do quarto e viu que em uma hora a festa tinha terminado mas tivera resultados terríveis. Pessoas estavam caídas no chão, babando, dormindo. Conseguia ouvir alguns rangidos de cama vindos de um dos quartos. Ao chegar na sala, garrafas de vodka estavam jogadas no chão, com alguns estilhaços. No sofá, diversas pessoas dormiam juntas.

— Eita porra. – Will falou. – Olhou para a varanda do apartamento, e conseguiu identificar uma figura. Ryder. Se aproximou do garoto, e falou:

— Cara, a festa já acabou?

Ryder olhou para ele e riu.

— Acabou? Acabou. Tão tudo louco ali. Tudo...

É assim que eu fico quando tô bêbado? Caralho, coitado do Stuart...

— Calma aí, Ryder. Você vai cair daí se ficar assim. A grade é pequena. – No momento em que Will colocou a mão no garoto para tentar segurá-lo, ele deu uma garrafa de vodka para Will, que pegou e resistiu a beber aquele líquido.

— Pode tomar. – Ryder falou, com um soluço. – E então, como foi?

— Foi o que? – Will perguntou, se apoiando na varanda. – Ah, sei do que você tá falando. Foi maneiro, não, quero dizer...

— Eu sei que a festa foi maneira.

Então tá né.

— Eu achei que passei um pouco da conta hoje... – Will falou, piscando os olhos. – Eu tô meio louco, as coisas não tão no lugar...

— Também tô sentindo isso. – Ryder falou. – É como se... eu estivesse nas nuvens. – Ryder fechou os olhos. – Andando... – Will de novo segurou o rapaz.

— É mais ou menos isso. Ah merda, não dá. – Will falou, segurando a garrafa de vodka. Em vez de bebê-la, o garoto tentou deixar a mesma longe dele, derrubando no chão. A mesma saiu rolando até bater em uma pessoa dormindo na sala. O garoto sorriu, orgulhoso de si mesmo.

— Tem certeza que não quer? – Ryder falou, soluçando.

— Mais ou menos... Tô a fim não. Já devo entrado na ressaca. Ou não. Caralho, não tô falando coisa com coisa.

...

— Não adianta. Não atende. – Stuart falou. – Maldita hora em que o Will resolveu sair.

— Se eu fosse você relaxava, cara. Se esse padrão for verdade, pode ser que ela não ataque agora. – Jeff falou.

— Ou então pode ser que sim. Não dá pra saber, por isso eu quero avisar ele. E pelo o que indica, ele é o próximo.

— Hum... Tá.

— Jeff, será que você não entendeu? Eu quase perdi minha mãe hoje, minha mãe! E agora meu irmão está com a corda no pescoço. Sabe o que é isso? A qualquer momento, pode acontecer a execução. E eu já perdi muita gente na minha vida, não aguento mais perder ninguém... Meu outro irmão, meu pai, meu... Irmão gêmeo.

— Você tinha um irmão gêmeo? – Jeff perguntou. – O que aconteceu com ele?

— Eu prefiro... Prefiro não falar nisso...

— Pode falar. Eu sou de confiança. – Jeff falou, abrindo um sorriso amarelo. Era óbvio que não era muito seguro contar um segredo para justamente Jeff. Mas ele não podia fazer mais nada a respeito, já tinha acontecido, e não faria nenhuma diferença na vida dele. Nenhuma.

— Então Jeff... Quando eu tinha uns cinco anos, numa noite de Véspera de Natal...

COLIN!

— Eu e meus irmãos estávamos brincando de esconde-esconde, e minha mãe tinha saído como alguns dos meus irmãos também. Só que entrou um grupo de bandidos em casa... Aconteceu uma série de eventos...

Acorda, Colin, acorda!

— Só que meu irmão gêmeo, o Colin... Ele desafiou esses bandidos, entende? Mesmo sem querer. Mas eles não tiveram piedade e...

Deixa meu pai em paz...

— E... e... – Stuart gaguejou. – Mataram ele á queima-roupa. Na minha frente. Eu era só uma criança, mas me lembro claramente daquele momento. E depois, meu pai... – Stuart engoliu em seco, e percebeu que seus olhos estavam marejados. – Ele correu pra despistar o bando, mas acabou atingido, e morreu, ali mesmo. Eu e a minha irmã sobrevivemos, mas ficou o trauma.

Jeff olhou para Stuart, como se estivesse avaliando o garoto. Por fim, disse:

— É complicado, mesmo. Parece que vocês dois eram muito ligados mesmo...

— Se um dia encontrar gêmeos tão unidos quanto a gente, me avisa. Eu fico pensando em como a minha vida seria diferente se ele estivesse vivo.

— Mas se vocês eram muito ligados... Uma parte de você morreu com ele. Porque geralmente gêmeos que são extremamente ligados, sentem essa separação muito fortemente, e é como se um fosse parte do outro, entende? Uma coisa meio sobrenatural.

— Tem uma parte de mim morta? É isso que você quer dizer?

— E talvez uma parte do seu irmão viva em você... Eu sei que é cabuloso, mas acredito nisso.

Stuart afundou no banco, ainda mais imerso nos seus pensamentos. Então ele estava morto, e Colin vivo? Como assim? Não fazia sentido, mas fazia ao mesmo tempo. O que poderia explicar as visões que tinha? Ou como se algo faltasse dentro de si o tempo todo?

Talvez essa fosse a explicação de tudo e...

Stuart saiu de seu silêncio, quando percebeu que o rádio havia ligado.

— O que é isso?

Uma música começou a tocar subitamente no carro. Stuart percebeu que era do mesmo CD que continha a música que tocara durante certa noite. Lindsey havia pego no dia seguinte, mas ainda não tinha devolvido. A questão é que nem Stuart, nem Jeff, quanto menos Lindsey tinha ligado o rádio naquele instante.

There's a wild wind blowing

Down the corner of my street

Every night there the headlights are glowing

As a cold war coming on the radio I heard

Baby, it's a violent world!

Oh, love, don't let me go!

Won't you take me where the streetlights glow?

I can hear it coming

I can hear the siren sound

Now my feet won't touch the ground.

No mesmo momento olhou para fora, enquanto viu um caminhão passando em alta velocidade.

Beba com responsibilidade! – O caminhão dizia. Stuart sentiu uma estranha sensação.

Will terminara de se vestir, com exceção de sua jaqueta, que continuava no quarto de Cindy. Ele e Ryder continuavam olhando pela varanda do apartamento, apenas falando inutilidades. De repente, Will piscou e sentiu como se flutuasse.

Ele abriu os olhos, e percebeu que tinha asas. Asas de verdade. E então saiu voando por cima da cidade de Mt. Abraham, maravilhado. Sim, ele tinha asas!

Quando percebeu, estava sobrevoando Manhattan e seus grandes edifícios, passando ao lado do Empire State. Deu voltas no ar, e se divertia. Era livre, como sempre quis. De repente, viu uma grande parede de tijolos se aproximando, e ele não pode evitar o impacto. No momento exato da batida, ele abriu os olhos. Ainda estava no apartamento de Ryder.

— Que foi? – Ryder perguntou. – Fumou maconha também?

— Não, Ryder, não. Uma coisa estranha, um sonho. Eu estava... Voando, tinha asas, era livre. Acho que ficar naquele carro não me fez bem. – O garoto balançou a cabeça. – Vou entrar um pouco.

Ao se virar, viu a luz da sala falhando, e seu coração pulou, como se sentisse que algo estava errado. Repentinamente, quando voltou a andar, sentiu seu pé deslizando em algo. Ouviu Ryder dizendo:

— O skate!

Will não conseguiu nem ao menos ver o mesmo skate, e bateu as costas na grade da varanda, que simplesmente, e com a batida, metade do corpo de Will ficou para fora da varanda, e o resto foi puxado. O resultado foi a queda. O fim.

O vento selvagem fazia a visão de Will ser prejudicada, ficando com os olhos quase fechados. Mas ele conseguia distinguir as luzes ao seu redor. Luzes que vinham e iam, até que conseguiu abrir os olhos. Estava de cabeça para baixo, e via os prédios sumirem rapidamente, as luzes dos postes se aproximarem, a pista também.

Era inevitável que o choque seria fatal. Will adquiria uma velocidade fulminante a cada andar que passava. Ele estava voando finalmente, voando para sua liberdade. Mas para alcançar a liberdade existia um preço. E esse preço era a morte.

Pouco antes de chocar-se contra o chão, teve sua luz cegada por duas grandes luzes que vinham na sua direção, seguida de uma buzina.

O caminhão de cerveja atingiu o corpo de Will em cheio, fazendo o jovem ser literalmente atropelado em pleno ar, e se num instante havia luz, agora só havia escuridão para o garoto.

Mas ele mesmo não podia ver a escuridão que o circundava.

Will teve o corpo repartido em vários pedaços pelo choque, criando uma explosão de sangue e tripas que tingiram o asfalto da rua de um vermelho-rubro.

...

Alguns instantes antes.

Gravity, release me

And don't ever hold me down,

Now my feet won't touch the ground.

A música continuava a tocar no carro de Stuart, e o mesmo já estava assustado com tantas coisas acontecendo, quando sentiu o vento gelado entrando no carro.

— O vento. Porra, o vento!

— O que foi?

— Eu senti esse vento... Esse mesmo vento gelado quando o Logan morreu na Build It!, e antes da Katie morrer, e na catedral... Isso quer dizer que ela está próxima, Jeff! O Will vai morrer se não acharmos alguma solução! – Ele pegou o celular e tentou discar o número do irmão novamente.

— O que é aquilo no céu?

Stuart observou pelo espelho e viu uma figura caindo, caindo, até atingir a frente do caminhão. Ele pode ver uma explosão de sangue vinda da frente do caminhão.

— Para o carro.

— O que?

— Para o carro. Eu vou ver o que aconteceu ali na frente.

Logo depois de sair do carro, Stuart saiu correndo na direção do caminhão que parara. Antes de chegar ao cenário, viu alguns órgãos arremessados no chão, e muito sangue. Um braço estava caído ao lado do pneu. Stuart vomitou diante daquilo. Mas ele não sabia que o pior estava por vir.

Quando chegou na frente da caminhão, viu que toda a frente havia sido tingida de sangue, e alguns pedaços da pessoa estavam espalhados pelo chão. E tinha um corpo jogado no meio da rua, mas a cabeça estava do outro lado do caminhão. O corpo estava somente com um braço, o tronco todo dilacerado e com tripas dessa pessoa ao seu redor. Uma das pernas quase saía do corpo, enquanto a outra tinha se dobrado em uma posição impossível.

Stuart piscou, repetidas vezes, até ver que o emblema da cerveja estava totalmente coberto por sangue. Virou-se novamente para o corpo e sua curiosidade falou mais alto. Passou para o outro lado e tentou observar quem era a coitada da pessoa que tivera esse destino.

Levou as mãos á boca, e sentiu as lágrimas descerem pelo seu rosto.

— NÃO! NÃO!

Olhando para Stuart estava Will. Mas agora o seu olhar estava perdido, estava opaco. Sua boca estava aberta, e despejava sangue. E no topo de sua cabeça, caíam alguns pedaços de massa encefálica.

Stuart caiu sobre o chão da rua, chorando. Ele perdera não só mais um sobrevivente para a morte. Perdera o irmão.


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Notas finais do capítulo

Então, tenho pouca coisa a falar aqui.
A música tocada no capítulo foi: Life In Technicolor II - Coldplay.
Então a caçada começou de verdade. Precisava de algo assim para chocar o protagonista, e mexer com ele. Por isso colocar Will e Julia bem antes na lista. E sobre Julia estar fora da lista... É verdade sim. Sempre quis colocar alguém que parecia estar na lista, mas não estava na realidade. Embora isso não tenha tido tanto desenvolvimento, mas enfim...
E a conversa de Jeff com Stuart ainda não terminou. Ainda não.
Acho que é isso. Desculpa novamente para demora, e o capítulo 6(Terminal) chegará em breve!



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