POV Percy

– Achou que fosse a Cinderela, Percy? Creio que meu cabelo é um pouco mais escuro e curto que o dela... – falou Nico entre as gargalhadas

– Ha-ha. Muito engraçado, Nico. Pensei que fosse um mostro.

– E se fosse um monstro, você ia fazer o que? Tirar essa toalha aí e matar de decepção?! Rs – E caiu em gargalhadas mais uma vez.

– Idiota. – Falei com um muxoxo, e fui pro meu armário escolher alguma coisa pra vestir.

A maioria das prateleiras estava ocupada com camisas do Acampamento, mas consegui encontrar uma camisa do Led azul escura, que estava perdida no canto. Cheirei a camisa pra ter certeza de que ela estava limpa, a vesti e procurei uma cueca box nas gavetas junto com uma calça jeans claro. Caminhei pro banheiro terminar de me vestir.

– Sabe, até que você tem uns LP’s bem legais aqui, cara... – Disse Nico admirando o “A Night at the Opera” do Queen que estava jogado em cima de minha mesa.

Saí do banheiro e joguei a toalha que estivera envolta em minha cintura em cima da cama, ou melhor, tentei, porque ela acabou caindo na cabeça do Nico. Eu ri de canto por isso.

– Na verdade, esse daí é da Annabeth. Ela adora o Queen. E com razão, eles são foda!

– Aí cara, se essa é uma das suas táticas de sedução, não está funcionando. – Jogando a toalha longe, com desprezo – Ela tem um ótimo gosto pra música! E aliás, coitada da Annabeth se tiver de ficar dependendo desse seu sex apeal aí! Conta aí, como conseguiu aquela gata? Só pode ter sido um trato com os Deuses, porque com essas suas habilidades fraquinhas aí, não ia rolar não. Garanto que quando vocês... bem, você sabe, ela tem muito mais atitude que você cara! - E rachou de tanto rir.

– Muito engraçado, Nico. Estou rachando de rir, não vê? Santo Poseidon!! –Praguejei em grego e em latim enquanto pegava a toalha pra jogar no cesto de roupa suja, junto com o resto das roupas que estavam espalhadas pelo chalé. Tropecei no pé da cama enquanto isso, e xinguei pra valer de tanta dor. Estava tendo até pontos escuros em minha visão.

– Calma, Pers, foi só uma brincadeira! Não precisa se estressar tanto... – e foi aí que o Nico me estudou, e percebeu que eu não estava tão nervoso por raiva de sua brincadeira, e sim por estar envergonhado com sua insinuação. – Ah, espera um pouco, não entendo! Você não está com raiva de mim, está encabulado!!

E disse isso como se fosse “a” descoberta do universo. Esses dons de garoto sombrio, às vezes me assustam, como o quanto que ele é observador e “saca” as pessoas.

– Não vá me dizer que vocês nunca... ? – Ele deixou a pergunta no ar, mas eu sabia muito bem sobre o que ele estava falando. O cara era mais novo do que eu, e era difícil acreditar que ele estava mesmo me perguntando aquilo.

Sexo. Ele queria saber se eu e Annabeth já havíamos feito sexo.

E bem, essa era uma pergunta que eu não queria responder.

– Não cara. Nós, ainda não.

– Como não, cara? Vocês já têm, sei lá, 1 ano e pouco de namoro, e você que me dizer eu não rolou nada! – Ele quase pulava da cadeira – Para de querer me enganar, Percy! Pra mim você pode contar, eu não vou falar pra ninguém! Juro! – E fez o sinal com os três dedos puxando do coração.

– 1 ano e 5 meses. E não, Nico, não tenho o que te contar porque ainda não rolou nada.

– Nada?? Tá bem, vou fingir que acredito! Vocês dois estão sempre achando um tempo pra ficarem juntos e escondidos de todo mundo, e nem venha querer desmentir que eu sei que a Annabeth vem escondido aqui pro seu chalé direto!

Devo ter feito uma cara muito do tipo “WTF” e “Como você sabe disso?”, porque eu achava que ninguém (além de mim e Annabeth) sabia disso. Não tinha como negar mais, então perguntei:

– Mais alguém sabe?

– Não que eu saiba. – Respondeu Nico, dando de ombros. – E aí não vai responder não? Já sabe que eu tenho minhas fontes... – com um ar de indiferença disfarçando a curiosidade. Dava pra notar que a curiosidade dele vinha crescendo gradativamente

– Sério, Percy, nadinha? Como a Annie é jogo duro!! Ou então, você que é lerdo demais! Rs

. Como ele parecia não acreditar muito em mim tive de responder com mais detalhes as suas insistentes perguntas. Tentando não ficar ainda mais vermelho ao fazê-lo:

– Olha Nico, se você ainda não entendeu, eu repito: a gente ainda não transou! Mas não é porque eu seja lerdo, ou a Annabeth seja difícil, é só porque... ainda não chegou a hora!

Ele pareceu dar-se por convencido depois disso.

– Mas cara, diz aí se as coisas não ficaram muito mais quentes alguma vez... e

O que me fez lembrar as mãos dela em minha nuca, suas unhas grandes puxando meu cabelo e arranhando meu couro cabeludo, meu corpo pressionando o seu em cima do divã verde e cheio de almofadas que ficava em frete a televisão e a lado da fonte elétrica que havia no quarto.

– Não sei se ela está pronta... E, não quero estragar tudo.

(...)

– Já acabou de se arrumar, Barbie?

Passei a mão pelo emaranhado de cabelos escuros e bagunçados em minha cabeça. Não adianta insistir, essa coisa nunca fica do jeito que eu quero. Resolvi deixar prá lá então, gritei pro Nico:

– Quase!

Virei-me pro armário do banheiro e escolhi aleatoriamente um perfume, não resisti a encarar o adolescente de aspecto desleixado no espelho. Cabelo desgrenhado, camisa de rock antigo um pouco amassada, um jeans simples e fora os brilhantes olhos verdes (que por sinal, eram herança de meu pai), não havia nada de realmente especial em mim. Sério, o que é que há de especial em um encrenqueiro eu não sei! E o que a Annie vê de especial em mim muito menos, mas contanto que estejamos juntos está tudo muito bem!