Tudo foi ficando claro novamente. “Céus! Parece que eu dormi por séculos!” Loki olhava atento para mim quando despertei. Do lado esquerdo do quarto estava uma mulher de semblante amável envolto num vestido brega que reluzia junto com o seu cabelo azulado. Argh! Que coisa cafona! Olhei para os meus braços e senti meu sangue circulando normalmente. Suspirei. Havia tempos que não me sentia tão viva assim.

Ainda estava meio grogue quando percebi que estava viva. Okay, havia uma louca girando e gritando pela sala e só agora meus ouvidos voltaram a funcionar. Quem era aquele ser? Seja lá o que fosse, não era nada agradável. Desci meus olhos e vi Niflheim se abrindo aos meus pés. Quem raios teria feito aquilo? Levantei meus olhos para Loki novamente. E ele sorria.

– Vamos, Hela. – ouvi-o sussurrar. – Destrua essa impostora.

Desci do trono em um pulo, quebrando os fios que me amarravam a ele (Por que raios eu estava amarrada pra começo de história?). A sala estava completamente destruída, provavelmente aquela louca descontrolada havia tomado mais do que devia e estava tentando provar do que é capaz. Bem, agora ela vai ver do que eu sou capaz.

– Suma daqui, seu clone barato! – Gritei.

Toquei no cetro de Loki e senti minhas mãos arderem, (talvez estivesse perdendo o jeito). Direcionei meu olhar àquela cópia ofensiva de mim mesma e coloquei minhas mãos uma sobre a outra, pressionando a palma da mão direita.

– Vamos ver quem é quem, agora.

Apontei a palma da mão para ela e um raio de energia a lançou há alguns metros, quebrando outras duas paredes atrás dela. Imediatamente o furacão cessou e senti meu corpo se estabilizando novamente, era bom estar de volta.

– Bem-vinda de volta, Hela.

Loki sorriu e me colocou em frente a um espelho. Minhas roupas estavam mudando instantaneamente e mais uma vez o manto negro estava descansado nas minhas costas. Outro suspiro. Meus olhos arderam e alguns instantes depois, eles estavam ligeiramente avermelhados, assim como uma enorme mecha do meu cabelo.

– Obrigada, papai – sorri para Loki – É bom estar de volta.

(...)

– Vamos! Por ali! – Thor guiava Coulson e Fitz-Simmons até o esconderijo. – Ouviram esse barulho? Com certeza Loki está por perto.

– Tem certeza? – Fitz perguntou, um pouco temeroso. – Só ouvimos cacos de vidros e desmoronamentos. Poderia ser qualquer coisa, não?

– Uma coisa que eu aprendi com meu irmão é que por onde ele passa, fica um rastro de destruição. Então, se estamos vendo sinais de destruição...

– Loki provavelmente estará lá. – Coulson completou.

– Certamente, Philip, filho de Coul. – ele olhou para o amigo, antes de dar um passo adiante. – Você está bem com isso?

– Isso o quê? O Mussolini asgardiano?

– O quê? – Thor não compreendeu a referência.

– Era um homem que... Bem, deixa pra lá – Phil desistiu de explicar. – Está falando de Loki, não é?

– Sim. Da última vez que vocês se encontraram... Ele... Bem... O atacou. – disse o deus um pouco hesitante. – Tem certeza de que não tem problema com isso?

– Ele pode ter seus truques, mas agora ele está com a minha Skye. E eu não a perderei para um verme com um cetro pontudo – disse Phil, um pouco exaltado. – Desculpe por isso, eu sei que ele é seu irmão, vossa alteza, mas...

– Está tudo bem, meu amigo. Eu conheço o meu irmão. Entendo sua cólera. Digamos que ele não é muito bom em fazer amigos por onde passa. Nós vamos salvar a sua agente.

– Sim, nós vamos.

Eles estavam escondidos atrás das ruínas que vieram com a explosão onde Thor imaginava que Loki estivesse mantendo Skye, quando uma mulher ferida e suja saiu pelos escombros, andando de uma forma macabra.

– O que raios é aquilo? Fitz-Simmons perguntaram ao mesmo tempo.

– Não sei, vamos chegar mais perto. – Thor respondeu.

Não precisaram andar muito para que Thor a reconhecesse. Hela. Estava zonza e desorientada, caminhando pelo vão. O quarteto aproximou-se dela sorrateiramente, mas ao sentir a aproximação deles ela soltou uma gargalhada macabra que fez Fitz sentir um arrepio na espinha.

– Aonde pensam que vão, meus queridos? – ela perguntou, com seu típico tom de insanidade.

– O que faz aqui, Hela? Até onde eu sei você foi banida por Odin, e eu ordeno que...

– Eu não sigo mais ordens de você! – Ela gritou, cuspindo um líquido negro no chão – Nem de você, nem de Odin, nem de Loki... Eu não sigo ordens de mais ninguém! – ela despejou.

– Hela, você sempre foi instável e louca... Mas agora você está completamente fora de si!

– Não! Ele é quem está! – Ela gritou, agachando-se para mexer no líquido que ela despejara segundos atrás.

– Ele quem? – Thor aproximou-se dela.

– Loki! Ele é quem está louco!

Ela continuou mexendo no líquido com um pequeno bastão, formando uma espécie de barro negro que sem dúvida nenhuma era algo extremamente corrosivo, bem como tudo que saía dela.

– Ele a trouxe de volta e me mandou embora! Descartada! Como se eu não fosse filha dele! A verdadeira filha – ela falava, cada vez com mais ódio. – Mas agora... Ele vai pagar por isso! Na verdade... Todos que se colocarem no meu caminho vão pagar!

– O que está dizendo, Hela? Quem ou o quê Loki trouxe de volta?

– “Hela. A Rainha de Niflheim” – ela imitou a voz do pai com uma dose reforçada de sarcasmo.

– Pensei que esta fosse você. - Thor franziu a testa.

– Não. Eu sou apenas “Hela, A Descartada Que Não Tem Poder Suficiente Para Cumprir Os Desejos Nefastos Do Pai Ambicioso”.

– Então, quem está com Loki?

– A sua pequena Skye. – ela respondeu com sarcasmo, olhando para Coulson e percebendo o ar de preocupação escrito em sua testa. – Quero ver se ela o reconhecerá quando a vir novamente.

Coulson arregalou os olhos e assistiu Hela abrindo um buraco negro da massa que ela estava remexendo no chão. Ele não conseguia pensar direito, apenas tentava imaginar o que Loki estava fazendo com Skye nesse momento.

– Se os mocinhos me dão licença – ela disse, enquanto entrava no buraco negro. – Chegou a hora de atacar. Fogo contra Fogo.

– O que vai fazer, Hela? – Thor girava o martelo em uma das mãos.

– Vou dar ao meu pai o que ele quer – ela sorriu, insana – Vou conjurar um exército de mortos!

– Você sabe que isso não é possível! – Thor aproximou-se o suficiente e a segurou pelo braço – E mesmo que consiga fazê-los atravessar a barreira da Ordem, eles estarão muito fracos! Durarão um dia, no máximo, antes de serem sugados de volta para Niflheim!

– E você acha que eu não sei? – ela soltou uma gargalhada – Não imagina quantas vezes eu tentei conjurar um exército de mortos e todas as tentativas falharam... Mas quando Skye me atingiu com o raio de energia de Loki ela repassou um pouco do seu poder para mim.

Coulson e Fitz-Simmons pareciam estátuas nesse momento. Será possível que a Skye que eles conheciam seria mesmo capaz de fazer algo assim?

– Claro que isso não se compara ao poder que ela tem – ela admitiu com nojo de si mesma por estar dizendo aquilo. – Mas deve ser o suficiente para um pequeno batalhão de mortos efêmeros – ela deu uma pausa para auto piedade – Claro que isso nunca seria o suficiente para Loki. Mas eu vou provar a ele que eu poderia conseguir.

– Você não precisa fazer isso. – Thor tentou convencê-la. – Se você esquecer essa vingança pessoal, poderei esquecer que esteve aqui sem permissão.

Hela soltou uma gargalhada farta.

– E você acha mesmo que eu estou interessada nisso? Sua digníssima clemência? Boa sorte tentando enfrentar Loki, estou indo preparar meu batalhão. Nos vemos em breve.

Os poros de sua pele se abriram e um líquido negro deslizante fez com que Thor a deixasse escorregar entre suas mãos. O quarteto estava em choque, principalmente Phil e sua equipe. Como lidar com um ser tão poderoso? Ou melhor, dois?

– O que faremos agora? – Phil perguntou a Thor.

– Precisamos ir, rápido. Temos que descobrir a gravidade do caso.

Acima deles, a nave alienígena também seguia em direção ao esconderijo. May, Ward e Lady Sif estavam indo direto para Loki e Skye, sem nem ao menos saber da situação atual. Os olhos de todos se espantaram, a nave estava indo muito rápido e Thor precisaria estar com os agentes, caso algo acontecesse. Não podia deixar que “Philip filho de Coul” morresse novamente.

– Eles não sabem sobre Skye. – Fitz declarou o óbvio.

– Precisamos nos apressar. – Thor começava a correr à frente deles.

– E encará-los sozinhos? – Simmons perguntou, tentando correr o máximo que podia.

– É isso ou deixar que eles nos encontrem. O que devo dizer, não será nada bom. – Coulson interveio.

– E como eu disse antes, Loki não sabe que eu e Sif estamos aqui. É a nossa melhor chance. – Thor reafirmou.

– Só uma coisa, alteza – Coulson olhou fixamente para Thor. – Por favor, não a machuque.

– Farei o possível para não precisar, Philip filho de Coul.

– Vamos para a toca da fera, então. – Disse Fitz, apressando o passo.

Como era o previsto, May, Ward e Lady Sif chegaram primeiro. May aterrissou a nave, orgulhosa de si mesma. Mal esperava para contar à Skye que tinha riscado aquele item da sua lista. May e Sif desceram de um pulo da nave e Ward desceu devagar e mancando. Todos seguiram em direção ao desmoronamento de minutos atrás.

– É este o lugar. – Sif apontou para o esconderijo.

– Eu já falei que você ficou engraçada com essa armadura? – Ward tirou sarro da May mais uma vez.

– Sim. Por isso você está mancando de uma perna. – May respondeu secamente.

– Ah, e sobre aquilo... Não foi justo, eu não estava olhando no momento em que...

– Esperem – Sif interrompeu o pequeno discurso de Grant. – Tem alguma coisa errada aqui.

– O que houve? – May e Ward perguntaram juntos.

– Olhem esse rastro – Sif apontou para o chão e havia uma pasta negra, fazendo um caminho. – Só conheço um ser que deixaria uma marca dessas – May e Ward se entreolharam. – Vamos, precisamos seguir e ver até onde vai.

Os três seguiram o rastro negro de Hela e chegaram até a sala em que Iduna estava presa. Viram a mulher pálida deitada sobre o mármore e aproximaram-se dela.

– Iduna?! – Sif perguntou, tentando quebrar o escudo transparente que a envolvia.

– V-viol-et – Iduna sussurrou, antes de perder os sentidos.

– Esta é a... Mãe da Skye? – Ward arregalou os olhos e observou a bela senhora quase sem vida na plataforma gélida.

– Não sabemos ao certo. Iduna nunca falou que tinha outra filha além de Skadi.

– Então como vamos saber se...

– Olá amigos de Midgard. – uma voz asquerosa e familiar soou nos ouvidos de Sif.

– Loki. – Sif deu um passo para trás, desembainhando sua espada de dois gumes e May fez o mesmo com a lança.

– E de Asgard também. – Loki sorriu para Sif que o olhou com desprezo.

– Cadê a Skye? – Ward apressou-se em perguntar.

– E você, cadê a sua arma? – o deus da trapaça perguntou, balançando a cabeça negativamente. – Como acha que vai ter o seu amor de volta? Espera quebrar minha cara com as próprias mãos?

– Se for preciso, sim.

– É uma pena que não tenha chances contra nós.

– Nós? – Sif perguntou. – Só estou vendo um de você aqui.

– Oh! É verdade – ele fechou os olhos e levou uma das mãos à testa, em deboche. – Como pude me esquecer! – ele deu dois passos para trás. – Conheçam a minha mais bela e poderosa criação.

Skye largou a capa preta e saiu da escuridão. Na verdade ela estava o tempo todo na sala, mas o manto negro a tornou invisível aos olhos de todos. Com os olhos e os cabelos enrubescidos pelo sangue dos mortos, ela caminhava lentamente dentro de um vestido preto de veludo com várias camadas por cima, alternando entre vermelho e preto.

– Skye – o semblante de dor no rosto de Ward era indescritível – O que fizeram com você?

– Skye? – Ela perguntou, numa cara de dúvida. – Quem é Skye?

– Quem é você, então? – May perguntou, abaixando a lança e dando um passo para trás.

– Eu sou Hela. – ela pronunciou poderosamente. – A Rainha de Niflheim.