Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 26
Tour na Zona Residencial


Notas iniciais do capítulo

"Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado." - Caio Fernando Abreu



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/484122/chapter/26

Os olhos de Emma abriam-se de pouco em pouco, sua visão, um tanto embaçada e distorcida, era recuperada gradativamente enquanto as coisas a sua volta ganhavam cada vez mais forma e nitidez. Um som constante e alto de buzina começava a tomar conta de seus ouvidos e uma dor significativa, da sua cabeça.

Ela suspirou e pressionou uma de suas mãos contra a testa, o epicentro da dor.

– Argh... – levantou-se aos poucos e teve conhecimento do que se passava.

O carro estava caído de ponta-cabeça num barranco de terra e plantas rasteiras, uma fumaça branca e consistente saia do capô e envolvia o ambiente. Com um pouco de esforço, Emma arrastou-se para a fora do carro e olhou para a estrada, que estava no topo do barranco, a grade de ferro agressivamente interrompida denunciava o que havia acontecido: o carro capotara; mais precisamente após bater de forma violenta contra a grade de proteção da estrada devido à falta de atenção de Emma na luta em alta velocidade.

– Isso é bom... - ela ironizou, ainda recuperando-se da pancada, cruzando os braços e contemplando o carro caído -... isso é ótimo... Ei... - ela notara algo: o porta-malas do carro estava aberto. Ela aproximou-se e achou, dentro dele, uma caixinha onde havia um pequeno molde de espuma com uma silhueta côncava em formato de revólver, o qual, por sua vez, não estava encaixado ali. Embora parecesse, no mínimo, suspeito, Emma não deu lá muita atenção.

Chateada e desanimada com a situação, ela ainda sabia que, embora estivesse impossibilitada de continuar de carro, não tinha tempo a perder e deveria ir ao bairro residencial para pegar a chave da ponte o mais rápido possível. Ela agachou-se na janela do carro e procurou, em meio aos medicamentos e papéis que caíram de sua bolsa e espalharam-se por todo lugar, o mapa da cidade. Achando-o, ela concluiu que a sua corrida pela vida de pouco antes não havia sido de toda em vão.

Embora tivesse acelerado sem rumo pelas ruas por momentos intermináveis, Emma aproximara-se ainda mais da zona residencial, mesmo que sem perceber. Ele agora encontrava-se a poucas quadras dali e não renderia mais que um leve cansaço andar até lá. Recuperando a força e o ânimo devido à descoberta, Emma agachou-se novamente e recolheu, em sua bolsa de couro, tudo que achou necessário do que estava espalhado, deixando-o uma coisa ou outra para trás, a fim de deixa-la um pouco mais leve.

Antes de partir, ela leu novamente o bilhete achado na cabine da ponte.

“Ao John Humphrey, o novo encarregado da ponte levadiça,

Bom, John, antes de tudo quero informar a você que é uma grande responsabilidade ser o supervisor da ponte de Silent Hill. Com exceção de uma distante estrada precária de barro que cruza a floresta e de uma ponte mais rústica do outro lado da cidade (que quase já não é usada), esta é a única via terrestre que cruza o Lago Toluca. Por tal motivo, torna-se imprescindível que você compareça sempre nos horários corretos e garanta a passagem de nossos cidadãos. Seus dias de supervisão já foram informados, porém você deverá pegar a chave operante da ponte na casa do Phil (seu colega), ele mora na Holloway Street Nº 13, na zona residencial da cidade, nada mais que alguns minutos daí. Seja breve. Ele lhe dará mais detalhes.

Atenciosamente, Jenna Sherman”

Guardando o bilhete, empunhando a lanterna numa mão e a arma na outra, Emma subiu o barranco e voltou a estrada. Nenhum sinal das criaturas da outra vez, uma ótima notícia. Ela pôs-se na direção correta e não andou mais que quinze ou vinte minutos até perceber que se aproximava do seu destino.

Os pequenos edifícios e sobrados de diferentes larguras e alturas eram substituídos por pequenos prédios padronizados e as lojas e conveniências que uma vez ou outra davam as caras, apareciam cada vez menos, dando lugar a sequencias de casas iguais conforme Emma adentrava mais e mais a rua: estava na zona residencial. Era um lugar bonito, os canteiros vazios, ocupados esporadicamente por uma ou outra árvore que sobrevivera ao tempo, mostravam uma arborização vasta e planejada, as calçadas eram largas e as casas eram aconchegantes e simples, o local parecia ser perfeito para se levar uma vida feliz e pacata se, bom, não estivesse totalmente entregue ao acaso e ao tempo numa cidade fantasma.

Não havia ninguém ali, humano ou animal, natural ou não.

O vento gélido produzia ecos suaves à medida que percorria a cobertura das casas ou atravessava uma ou outra janela aberta, balançando os cabelos de Emma, enquanto seus passos solitários eram nítidos pisando sobre a rua asfaltada e deserta.

Rápido e inesperado como um raio ou uma onda, um vendaval de lembranças e sensações atingiu a garota naqueles instantes e a possuiu por breves momentos. Aquela cena, aquele bairro, aquele estilo. O lugar era familiar para ela, não por já ter estado ali alguma vez na sua vida ou visto em algum outro lugar, mas porque tudo nele, as casas iguais, a estética, a calma, tudo a lembrava um antigo bairro, nos arredores de Jersey, onde ela vivera grande parte da sua infância.

Eu quero ir mais rápido! - dizia sorrindo a garotinha, pedalando com seu vestidinho em sua nova bicicleta ao longo da calçada.

– Quando você for maior poderá ir na velocidade que quiser... - riu o homem, segurando-a e empurrando-a por trás, controlando sua velocidade – Mas você é pequena e pode se machucar se for mais rápido que isso.

– Mas eu quero ir agora! - ela meteu os pés nos pedais e, soltando-se do homem, avançou a toda velocidade.

Embora soubesse que não possuía muita habilidade com a nova bicicleta, ela queria experimentar escapar por um momento da proteção exagerada do seu pai e voar com suas próprias asas. Uma péssima ideia. O passar rápido das casas idênticas pelos seus olhos e o vento contra seus cabelos davam à garotinha a sensação de que estava se movendo sem sair do lugar; ela, embalada pelo sentimento, descuidou-se e conduziu a bicicleta até um buraco na calçada, caindo.

– Emma! - o homem gritou, correndo até ela e pegando-a nos braços, limpando seu vestido com a mão - Está machucada? Onde? - ele a olhava.

– Eu estou bem, papai... - ela cobriu seu cotovelo ralado com a mão, querendo esconder a dor para aparentar ser forte - Eu já sou uma mocinha!

– Hunf! Espero que não tente isso de novo tão cedo.

Ela sorriu.

Emma tentou ser forte, mas não pôde evitar que uma única lágrima corresse pelo seu rosto. Ela a enxugou com a ponta dos dedos e, raivosa, a sacudiu na rua, como se fosse algo inútil e totalmente desprezível ou desnecessário. Prosseguiu andando. Cruzando uma, duas, três ruas, observando as placas velhas e gastas que, em cada esquina, nomeavam as ruas, a fim de achar aquela que constava no bilhete achado na cabine da ponte.

– “Sir François” ... não! – Emma havia atravessado uma rua, impaciente.

– “Flower Sky” ... não.... – já estava chateada ao cruzar uma outra.

– “Nate River” ... nada! Mas que droga de lugar! – ela falou para si mesma, entrando na terceira.

Ela cerrou os punhos, amassando o mapa em suas mãos. Os nomes das ruas não constavam nele e o bairro era enorme, Emma não tinha muita paciência e o pouco que lhe restara havia se esvaído na procura incessante e sem resultados.

– Hunf! - ela sentou-se na calçada e jogou a cabeça sobre os joelhos.

O silêncio tomou conta absoluta da rua, e àquela altura, o som suave do movimento da névoa já era perceptível. Por esse motivo, não foi difícil para Emma ouvir um passo rápido vindo da esquina mais próxima, um passo que não era seu e que poderia, muito provavelmente, representar uma ameaça.

Sem fazer muito barulho, ela levantou-se e dirigiu-se, com a arma engatilhada, ao fim da rua, esforçando-se para ver através da névoa, a fonte do ruído: um vulto humano então apareceu. Emma parou.

– Ei você! - ela o chamou.

O vulto, talvez por notar a presença da garota e ouvir seu chamado, recuou apressadamente e desapareceu de novo na névoa. "Se está fugindo... não pode ser ameaçador...", Emma concluiu sem pensar demais.

– Tem... alguém aí? - ela gritou, com uma mistura estranha de esperança e medo.

Não houve resposta e pior, havia se denunciado por causa do grito.

– Alguém?! - ela gritou novamente, apontando a arma em várias direções diferentes, temendo um ataque silencioso, mas nada.

Emma baixou a arma e decidiu ir a procurar do tal vulto, não havia muito mais o que se pudesse fazer e ela definitivamente não queria ficar por ali, perdendo seu tempo parada e vendo sua esperança se esvair. Poderia ser algum desavisado, que, no fundo, estivesse tão assustado quanto ela por estar ali sozinho. Ela o chamava, em um tom de voz nem tão alarmante nem tão discreto, enquanto corria pelas ruas. Mais uma, duas, três, quatro ruas foram cruzadas e suas pernas já doíam de tanto andar: não havia sinal nenhum de ninguém, nem de nada. As casas iguais e aparência repetitiva que as ruas possuíam não ajudavam na busca. Os lugares plantavam ideias como "Já não passei por aqui?" na cabeça de Emma diversas vezes e a garota já não sabia mais o que fazer ou esperar do lugar. Foi quando ela achou algo ainda melhor que o vulto. Sobre a placa gasta da esquina, ela leu que, por fim, estava no lugar certo.

– "Holloway Street!" - ela sorriu – Agora só preciso achar a casa correta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Emma acorda e percebe que sofreu um leve acidente. Embora impossibilitada de prosseguir de carro, ela continuou a pé até seu destino: a zona residencial. O lugar lhe traz lembranças e ela, após quase desistir de procurar a rua correta, pensa ter visto um vulto humano nas redondezas. Amedrontada, ela decide continuar e com um pouco mais de procura, acha a rua correta.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hill: Sombras do Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.