Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 12
Mr. Tinoco




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/484122/chapter/12

Suspiros. Ambos estavam aliviados pela grande escapada dos braços do corredor, e por fim estavam salvos no quarto do Mr. Tinoco. Mesmo com tudo que havia acontecido até agora, suas mentes não pensavam em mais nada, somente em como quase morreram há alguns instantes, como quase foram desmembrados por inimigos que, sem maiores explicações, saíram de dentro das paredes. Contudo aquilo não os surpreendeu, muito pelo contrário, algo como a cena vista no corredor já era esperada, afinal, aquele lugar só tinha apresentado situações inexplicáveis desde que chegaram ali. Sentados à beira da porta, os dois pararam para respirar em silêncio e se recuperar do sufoco que haviam passado. Após alguns instantes de reflexão e paz, Emma levantou-se e animou-se ao perceber que finalmente estavam no quarto onde a chave que representava a liberdade dos dois estava aguardando o herói, ou a heroína, que poria as mão nela.

Muito embora estivesse feliz por estar ali, o ambiente do quarto havia ganhado uma aparência ainda mais agonizante que o resto do andar. A carne da parede parecia estar ainda mais podre, com veias ainda mais grossas e vermelhas que iam e vinham de todos os lugares do quarto, haviam fios e tubos que saiam das paredes e percorriam o quarto até algum outro ponto onde retornavam para dentro delas, o piso estava vermelho com uma camada grossa e incrustada de sangue aparentemente seco, haviam alguns equipamentos também, equipamentos hospitalares inativos jogados em todos os cantos da sala, fazendo o ambiente parecer mais com uma despensa do que com um quarto. E... havia um pequeno cômodo no canto do quarto, um cômodo feito com quatro cortinas manchadas de sangue, de onde um fraco facho de luz vinha.

Emma, curiosa, pegou a lanterna e, sem dizer uma palavra, apontou para uma das cortinas, na esperança de ver através dela, no entanto, o que pôde ver lhe deixou um tanto incomodada: a luz na cortina permitiu que Emma visse a silhueta do que estava por detrás, algo semelhante como uma cama... e alguém deitado sobre ela.

– O que acha que é isso? – perguntou Sebastian recarregando a arma, quebrando o silêncio que antes era preenchido com respirações ofegantes.

–Mr. Tinoco... – Emma parou um instante – Isso... isso é impossível! O que um paciente do hospital estaria fazendo aqui?

– Não sei... – disse Sebastian tomando a dianteira e aproximando-se lentamente da cortina – Mas vamos descobrir.

Sebastian cuidadosamente pôs a mão sobre a cortina, apontou a arma em direção à cama e num súbito movimento, arrancou a tela que os impedia de ver o que de fato estava ali. Sebastian pôs uma das mãos na cabeça, uma no nariz e recuou uns dois passos diante da visão que tivera.

– O que foi? O que tem aí? – disse Emma se aproximando também.

– Nada, eu acho melhor você não vir aqui... – disse Sebastian tentando bloquear a passagem dela.

– Ah... vamos! – a garota o empurrou pro lado – Não pode ser tão ru...

Emma parou ao ver o que estava ali, ânsia de vômito seria pouco para descrever o que Emma sentiu quando viu a cena... o cheiro era horrível e a visão... não muito pior que ele... Porém, segurou-se e respirou fundo.

– Esse lugar ainda consegue me surpreender... – disse ela.

De fato, não se sabia se aquele era... ou havia sido o Mr. Tinoco, mas o que estava deitado naquela cama, com certeza não era humano. O corpo assemelhava-se ao de um ser humano normal, porém era totalmente branco, magro e estava num avançado estado de decomposição, o que fazia com que grande parte dele estivesse enfaixado, ou podre e/ou em carne viva, seu rosto era um amassado totalmente sem forma, que fazia as enfermeiras dali parecerem as donas das mais belas e definidas feições faciais. A criatura estava totalmente amarrada por cintos juntos à cama e coberta até a cintura com um lençol sujo e ensanguentado.

Porém um fator, mais do que os outros, chamou a atenção deles. A criatura estava toda presa por meio de fios ou tubos a algumas máquinas desligadas ao redor da cama, como se aquilo estivesse mantendo-a viva ou algo do tipo.

– A chave... – Emma recuperou-se do choque após alguns instantes e lembrou-se do verdadeiro objetivo ali – Temos que achar a chave do incinerador...

– Sim... claro... mas onde pretende procura-la no meio dessa bagunça?

– Eu... não faço a mínima ideia... – Emma passou o olho em todo canto da sala com a lanterna a fim de achar algo ao menos semelhante à chave.

– E se não estiver aqui? Sabe que teremos que voltar pelo corredor, né? Os braços... não quero ter quase morrido a procura de uma chave inexistente...

– Sebastian... FOCO! – apontando apara uma pilha no canto da sala.

– Ok... ok... – Sebastian dirigiu-se a uma pilha de equipamentos apontada por Emma e começou a revirar tudo, Emma fez o mesmo.

Algum tempo se passou desde que começaram a procurar e até aquele momento, a chave não havia dado nenhum sinal de existência, a exposição prolongada àquele ambiente já tornava o cheiro da sala insuportável, e a atmosfera do ambiente, sufocante. “Vamos...” pensava Emma impaciente, enquanto passava a lanterna em todas as pilhas de entulho no quarto.

O medo do fato da chave não estar realmente lá já começava a tomar conta dos dois... proporcionando a ambos uma certa desesperança durante a procura. Foi quando Emma, por acaso, passou a lanterna sobre um dos equipamentos ligados ao corpo na cama e reparou num pequeno objeto metálico preso nele.

– Sebastian, olhe isso! – disse Emma se aproximando do objeto.

– Isso? – Sebastian levantou-se e andou em direção a ela, tentando ver para o quê a lanterna apontava.

– Sim... – Emma sorriu ao olhar o objeto mais de perto – É a nossa chave! Tem até uma etiquetazinha com o nome “Incinerador”.

– Ótimo! Pega!

Emma pegou a chave e puxou da máquina, porém não conseguiu retirar, puxou novamente, nada.

– Está presa!

– Deixe-me ver... – Sebastian aproximou-se, girou a chave pro lado e a tirou sem maior dificuldade – Viu? – disse balançando a chave em frente ao rosto de Emma.

Um zumbido pôde ser ouvido dentro da sala.

– Sim... estou vendo! – disse irônica, procurando a fonte do ruído.

Em questão de segundos, todas as máquinas ligadas ao Mr. Tinoco ligaram-se de uma vez, mas não só elas, as luzes do quarto e todos os equipamentos da sala também. A intensidade da luz emitida pela sala era de cegar qualquer um, como se a cidade estivesse querendo compensar de uma vez todo o tempo que eles passaram no escuro. Os tubos começaram a conduzir algo para dentro da criatura, como um liquído, e essa começou a ter espasmos, debatendo-se na cama. As luzes começaram a piscar desenfreadamente e as máquinas, a emitir um “som elétrico” alto e estrondoso, causando tontura e desequilíbrio nos dois, que caíram no chão, desorientados.

Tão rápido como começou, tudo terminou. Em questão de segundos tudo se apagou e sala voltou a seu estado “normal”. Sebastian foi o primeiro a levantar-se do chão, com a mão na cabeça e com a visão um tanto embaçada, foi até Emma e a ajudou a levantar.

– Está bem?

– Sim... eu... o que houve aqui? – disse Emma levantando-se.

– Não faço ideia... mas vem, temos que sair daqui. – disse Sebastian, caminhando até a porta.

Os dois dirigiram-se até a porta da sala, com o prêmio nas mãos, prontos para sair dali. Porém antes que pudessem chegar ao destino, ouviram uma inspiração violenta, como se alguém ou alguma coisa quisesse todo ar do mundo numa só respirada. O som da respiração gelou a espinha dos dois, que ficaram imóveis imediatamente, sem reação diante do que tinham acabado de ouvir e com medo do que teria emitido o tal som. A respiração continuou, cada vez menos intensa, ecoando dentro do quarto, porém nenhum dos dois teve coragem de olhar até então. Emma foi a primeira, virando a cabeça lentamente para a origem do som.

– Sebast... Sebastian... – disse ela com voz trêmula.

– O quê? – disse ele, trêmulo, virando a cabeça também.

Ele virou seu rosto e encontrou Emma estática apontando para a cama do Mr. Tinoco, que agora já não estava mais tão morto. O que os dois eram viram era totalmente novo e perturbador. A criatura embora continuasse deitada se debatia violentamente na cama, os cintos que as prendiam haviam ficado mais compridos e agora se apoiavam no chão, suspendendo a cama no ar, quatro de cada lado, formando a estranha figura... de uma aranha. Cujos patas eram as cintas e o corpo, a cama do Sr. Tinoco com o corpo preso a ela. A criatura ergueu-se e virou na direção de ambos, usou as cintas que lhes serviam como braços e arremessou as estruturas das cortinas contra os dois, acertando Emma em cheio, que caiu no chão. Logo, começou a andar lenta e descoordenadamente em direção aos dois, Sebastian mais que sem demora sacou a arma e apontou contra a cabeça da criatura, descarregando o pente de munição em quanto a mesma se aproximava.

– Não está funcionando!!! – disse ele, temendo que o pente chegasse ao final – Emma corra para porta!

– S...sim... – respondeu Emma, respondeu Emma retirando a estrutura de cima de si.

Emma levantou-se e correu para a porta... girou a chave da maçaneta e a abriu.

– Oh não.... – recuou Emma.

– O que houve? – gritou Sebastian.

– Os braços continuam aqui.... não podemos atravessar!

– Nós não temos esc.... AAARRGHH! – a criatura havia acertado um golpe em cheio no peito de Sebastian, que caiu.

– Ah meu Deus! – Emma gritou assustada.

A criatura pegou Sebastian pelo pé, suspendeu-o de ponta cabeça, e com duas patas puxou seus braços em direções diferentes, a fim de parti-lo em dois.

– Emma!!!! A arma!!! – Sebastian gritou de dor.

Neste momento, Emma cogitou em pegar a arma da mão dele e atirar na criatura, porém não queria correr o risco de ferir Sebastian, afinal, ela sabia que era péssima e que já tinha dado muita sorte no tiro do corredor e essa maré poderia não ajuda-la dessa vez... Por isso, correu até uma pilha de entulhos que havia no canto da sala e apanhou um cano de ferro, o qual tinha a ponta quebrada. Correu até o monstro, e num golpe só, furiosamente, atravessou a barriga do mesmo com o cano, deixando-o cravado nele. A criatura, desnorteada pela dor, grunhiu furiosamente, lançando Sebastian contra a parede, enquanto o sangue jorrava sobre ela.

– Vem, teremos que atravessar o corredor de qualquer maneira! – Emma ergueu Sebastian pela mão e ambos foram em direção ao corredor.

Ao saírem do quarto, Emma rapidamente trancou a criatura lá dentro, numa tentativa vã de ganhar mais tempo, uma vez que logo que os dois se puseram a correr dentro do corredor, ela arremessou a porta fora do quarto com um golpe e começou agilmente a persegui-los. Os braços ainda tentavam agarrá-los com o mesmo furor de antes, mas os dois, já acostumados com os movimentos, seguiram com o máximo cuidado possível, em alguns momentos até chegaram a ter seus cabelos ou membros puxados, mas todo o esforço era essencial para não serem apanhados pelos braços e inevitalmente pela criatura.

Os dois corriam rapidamente através do corredor, na tradicional técnica de combate, Emma com a lanterna e Sebastian com a arma. A criatura, ainda sangrando, corria desnorteada atrás dos dois, dando saltos e se apoiando nas paredes. Não demorou muito até que Emma e Sebastian chegassem a escadaria. Sem pensar duas vezes os dois pularam escadas a dentro e desceram até o segundo piso, estavam quase no incinerador e, para a alegria de ambos, haviam ganhado uma certa vantagem em relação a criatura, que, embora continuasse a persegui-los incansavelmente, estava atordoada pelo cano em sua barriga.

– Estou vendo o tubo!! - gritou Emma apontando para frente - Chaves em mãos?

– Em mãos! - respondeu Sebastian, cerrando a chave em sua mão esquerda.

Logo chegaram ao tubo, estavam a um unico passo da salvação, agora só precisavam descer por ele e subir até a porta principal, e Sebastian, mais do que depressa pôs a chave na fechadura e abriu o tubo do incinerador, que rangiu como o mais enfereujado e mal tratado dos metais.

– Você primeiro! - disse Sebastian abaixando-se e oferecendo suas mãos como suporte aos pés de Emma.

Emma não queria ir primeiro, não mesmo! Não existia a regra do pioneirismo para as damas em seu mundo, e como já dito, não queria nem um pouco pagar de indefesa para Sebastian. Porém nào tinha escolha, aquela nào era a hora para atentar em seus caprichos, a besta se aproximava e a última coisa de que precisavam era de uma discussão. Por isso, sem demora, ela se apoiou em Sebastian e deslizou para dentro do tubo, sumindo na escuridão do percurso. Sebastian foi o próximo, pôs primeiro seu tronco dentro do tubo, e com um salto, deslizou para dentro, porém a criatura foi mais rápida, agarrando seu pé com uma das cintas e o puxando para fora.

– Desgraçado! - disse Sebastian tentando inutilmente se segurar nas paredes do tubo.

Olhando para todo o percurso que havia de fazer no tubo, Sebastian apenas via a escuridão, e sabia: Emma estava ali, não importava onde exatamente. E se ela estivesse sozinha... em perigo? Se tivesse caído numa situação pior? Mas..., e se estivesse salva? Apenas esperando por ele, para que eles saissem juntos dali? Naquele momento Sebastian se encheu de vontade e determinação! Precisava sobreviver! Engatilhando a arma, ele virou-se e disparou um único tiro, mas dessa vez contra a cinta que lhe prendera. O tiro atingiu em cheio, rasgando a cinta e decepando o "braço" da criatura, libertando-o e permitindo que deslizasse até o fim do tubo.

– Aaaaaahhhh! - gritava Sebastian ao terminar a descida no tubo e começar a cair em meio a uma escuridão cegante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Emma e Sebastian chegam ao quarto do Mr. Tinoco, e encontram um corpo, provavelmente dele sobre a cama. Eles acham a chave do incinerador presa a um equipamento que está ligado ao corpo. Sebastian gira a chave para retirá-la do equipamento e acaba ativando-os, o que "ressuscita" a criatura. O corpo se funde a cama e juntos formam uma criatura distorcida, que ataca os dois. Após uma breve luta dentro do quarto, Sebastian e Emma cruzam o corredor, perseguidos pela criatura e pelos braços, e chegam ao segundo andar: abrindo o tubo do incinerador e descendo por ele.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hill: Sombras do Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.