Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 11
Chaves


Notas iniciais do capítulo

"Não desista. Geralmente é a última chave no chaveiro que realmente abre a porta." Paulo Coelho (essa frase caiu como uma luva :D)



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Emma respirou fundo e pôs o pé sobre o primeiro degrau, ela olhou novamente para o lance de escadas que a aguardava e começou a subir. Foi quando, entre seus primeiros passos mal firmados, sua mão foi segurada de repente pela de Sebastian.

– É melhor eu ir na frente... você pode se machucar... – disse ele, olhando em seus olhos.

Emma puxou a sua mão da mão do rapaz violentamente e disse:

– Não preciso que me proteja. – voltando seu rosto para as escadarias e continuando a subir.

Mesmo estando com medo Emma queria mostrar que era o mais durona possível, não pagaria de protegida novamente, principalmente com Sebastian. Por isso, suprimiu suas angústias, suas dúvidas e medos do desconhecido dentro de si e seguiu seu caminho, seguida pelo rapaz. Ambos subiram a escada lentamente, com passos firmes e cautelosos, e embora estranhassem o fato da subida durar mais do que o tamanho da escada aparentava, seguiram sem maiores problemas. Uma névoa estranha tomava conta do ar conforme os dois se aproximavam do terceiro andar, era espessa e mal cheirosa, cheirava a éter e a podre ao mesmo tempo, como um cheiro hospitalar característico, porém um pouco mais fedorento.

Ambos prosseguiam sem conseguir ver muita coisa, quando Emma tropeçou no último degrau e caiu com as mãos no chão sobre o piso do terceiro andar, soltando um grito contido. Estava escuro e a tal névoa ainda tornava as coisas mais difíceis para os dois.

– O que houve? – perguntou Sebastian assustado.

– Nada... eu... eu só cai...

Ela levantou-se e incomodada, percebeu que suas mãos estavam úmidas, ela havia melado de alguma coisa que por acaso estava jogada ali quando caiu. Emma não conseguia ver muito bem o que era, por isso levou a substância até o nariz, a fim de reconhecer algum cheiro familiar, porém ela não precisou. O cheiro da coisa não precisava estar próximo ao nariz para ser sentido... era forte e horrível! Emma soltou um grito e seus olhos lacrimejaram, enquanto sacudia as mãos no ar para tirar seja lá o que eu fosse das suas mãos.

– Isso fede muito... – sussurrou Emma.

Sebastian, curioso, sacou a lanterna que havia na mala, ligou-a e apontou para o chão.

– Isso é... – disse ele arregalando os olhos.

– Sangue! – disse Emma já ofegante, e olhando enojadamente para suas mãos.

Sim, mas não só sangue. O que eles viram foi muito mais perturbador... após passar a lanterna pelo corredor principal do andar, os dois quiseram vomitar diante da horrível visão que tiveram, nada no hospital havia os chocado tanto como agora: nem o sangue, ou a ferrugem, ou os corpos, ou os monstros... As paredes do andar... eram carne! Carne viva, que pulsava, uma carne podre em tons mortos de marrom, com feridas enormes que percorriam todo o andar, até onde a luz da lenterna chegasse, feridas infeccionadas que liberam jatos de pus e sangue esporadicamente, melando todo o chão do andar, sangue esse com o qual Emma melou suas mãos...

– Meu Deus... Emma vamos sair daqui! – disse Sebastian puxando ela pelo braço – Nós vamos... nós temos que achar alguma outra saída! Não temos que ir por aí.

– Não... – disse Emma fitando o ambiente, que embora talvez estivesse mais assustada que o garoto, aproveitou sua chance de se mostrar forte - ... nós vamos achar essa chave e sair dessa merda de cidade! O que dizia mesmo o bilhete?

– Chaves... Mr. Tinoco... não especifica a sala em que ele está...

– Pois então iremos procura-la. – disse Emma adentrando o andar.

Sebastian, ainda hesitante, seguiu-a. Os dois entraram no corredor principal e começaram a procurar algo que os ajudasse a achar a tal sala. Para sorte deles as portas permaneciam intactas incrustadas nas paredes de carne, a não ser pelo aspecto ferruginoso e sujo dado a elas pelo outro mundo. A primeira porta estava trancada, era alguma espécie de enfermaria de primeiros socorros pelo que se via na pequena janelinha da porta, a segunda, também... Emma e Sebastian continuavam seu caminho pelo corredor, apontando as lanternas em todas direções possíveis a procura de portas onde o tal Tinoco pudesse estar. O medo se tornavam cada vez maior conforme se aprofundavam no corredor e a frustração crescia a cada porta trancada ou emperrada que o corredor apresentasse. Logo cruzaram todo o corredor, e nada obtiveram de importante, viraram a esquerda e continuaram, quando, andando até a porta seguinte, Sebastian se sentiu estranhamente desconfortável ao olha subitamente para trás.

– Emma... tem alguma coisa errada.... as paredes... elas estão olhando para gente... e se movendo....

– É claro que estão Sebastian, estamos vendo ela pulsar desde que entramos aqui, é assustador, quer por favor focar na chave? – respondeu Emma com um baixo tom intimidador, sem nem olhar para ele.

– Eu sei... mas tinha algo saindo daquela ali que recuou quando olhei... parecia uma....

– Secretaria....

– Não, não parecia uma secretaria, parecia...

– Secretaria Sebastian! – disse Emma apontando para o facho de luz da lanterna que iluminava uma pequena placa numa porta escrito “Secretaria Piso 3” – Podemos encontrar informações sobre os pacientes deste andar....

– Bem pensado... mas será que está...

– Aberta! – disse Emma empurrando lentamente a porta.

Os dois entraram e não se deparam com nada “diferente” do já visto, apenas uma escrivaninha quebrada, uma pequena estante e uma cômoda com quatro gavetas enormes, com um pequeno molho de chaves em cima.

– Comece por ali... eu vejo se acho algo nessa parte aqui... – apontando para a cômoda e para a estante.

– Acho que não precisaremos de tanto esforço.... veja.... está tudo adesivado em ordem alfabética... - apontando para a cômoda!

– Ótimo! – disse Emma se ajoelhando rapidamente em frente a cômoda – Ganharemos tempo! Qual era mesmo o nome? Tinoco? A...G...R...T! T! – Emma fazia um pequeno movimento labial folheando os arquivos da sessão T – TINOCO! Eu achei! Ótimo!

Ambos estenderam o arquivo na mesa e o abriram... haviam algumas folhas, Emma procurou nas folhas toda e qualquer informação sobre a sala do homem. Emma passava o dedo em todas linhas que lia apressadamente, estava aliviada por achar aquela informação de maneira tão fácil e isso havia lhe dado mais ânimo na busca.

– ... internado na sala 7 da ala A... pacientes infeciosos... – movimentos labiais – É a dois corredores daqui! – Emma pegou o arquivo, pôs na mala e se dirigiu a porta, sendo seguida por Sebastian, porém, antes de sair da sala, subitamente parou e olhou de novo para trás – Espera... tem algo que eu... quero ver se consigo... – disse Emma voltando em direção a cômoda.

“Qual era mesmo o nome... Goulard... Gillard... Gi.. Gille.... Gillespie!” Emma pensava com seus botões. Folheando rapidamente a sessão G, Emma procurava mais informações do caso assombroso da menina da cabana. Sem muito esforço acabou achando tal arquivo. “Consegui!” pensou um pouco alto demais.

– Conseguiu o quê?

– As informações sobre uma menina que quase foi assassinada na cabana em que passamos aquela noite, ela foi internada aqui!

– Menina?

– Longa história... – Emma abriu o arquivo sobre a escrivaninha e o folheou, onde acabou achando a versão completa do pedaço de papel que achara no andar de baixo.

“Alessa Gillespie foi internada em nosso hospital esta manhã, está com o corpo quase 100% queimado e por isso a paciente precisa de cuidados especiais, porém temos que ter cuidado, a polícia já está na minha cola por causa das acusações sobre o tráfico de drogas, a Dahlia disse que tudo ficaria bem e que se eu a ajudasse ela me ajudaria e tiraria as autoridades do meu encalço, sem chamar atenção. Ela disse que tudo que precisaria era do porão emprestado para cuidarem dela até que a garota esteja apta para fim do ritual, não sei em que droga me meti com essa mulher, mas esse caso não pode chegar ao público. Por isso, a enfermeira Lisa ficará cuidando dela até lá, sozinha e discretamente. Precisamos agir rápido quero acabar com essa palhaçada e envolver menos gente possível.”

– Estavam trabalhando juntos... – disse Emma para si mesma.

– Quem?

– A mãe dela... o hospital... estavam querendo matá-la para alguma espécie de sacrifico de um culto maluco ou algo assim.... Não sei ao certo... Acho que poderia dizer que, hipoteticamente.... – Emma parou para pensar.

– Hum... tal pai tal filha...

Emma olhou rapidamente para ele.

– o que disse?

– Você aí... bancando a detetive, tudo a ver com a cena na casa do seu pai.

Emma ficou estática, andou em direção a Sebastian, agarrou seu colarinho e aproximou seu rosto do dele.

– Eu... não... tenho... NADA... a ver ... com ele! – disse em palavras lentas e curtas, mas de furor indescritível. E isso não vem ao caso Sebastian! Vamos logo a sala 7! – disse Emma saindo furiosa.

Ao chegarem no corredor, sua tarefa parecia fácil, afinal só precisavam atravessar mais dois corredores e chegariam na sala descrita pelo arquivo, e se as coisas corressem naquela velocidade, rapidamente conseguiriam a chave. Ao longo do segundo corredor havia apenas mais uma porta aberta, uma espécie de despensa, lá, conseguiram mais alguns medicamentos e munições. Chegando no fim do corredor, dobraram novamente a esquerda e chegaram ao corredor descrito pelo arquivo: a ala de pacientes infecciosos. Bom, o que encontraram foi no mínimo inesperado, não havia portas ao longo do corredor como nos outros dois... apenas uma, bem no fim, com o que parecia um sete riscado pelas unhas de uma fera. A névoa do corredor era mais grossa e podre, e as paredes, além de aspecto decomposto ainda mais intenso, haviam ganhado veias em um vermelho vivo, que convergiam para um ponto comum: a porta.

Emma e Sebastian atravessaram o corredor e se aproximavam da porta com todo o cuidado, o corredor silencioso parecia ficar mais apertado e sufocante conforme se aproximavam, e um som abafado de respiração podia ser ouvido cada vez mais nitidamente vindo do interior da porta. Ao chegarem ao pé da porta, Sebastian pôs sua mão na maçaneta, respirou fundo e antes de girar, lembrou-se de um detalhe.

– O bilhete não diz que deveríamos usar roupas de proteção contra seja lá o que encontraremos aí?

– Sebastian, o máximo que encontraremos aí dentro será mais uma daquelas enfermeiras... – disse Emma sacando e engatilhando a arma – e estou pronta para elas.

– Só tenta acertar dessas vez....

– Estupido!

Sebastian soltou um pequeno sorriso em meio ao pânico que se encontrava, olhou novamente para a porta e girou a maçaneta.... Trancada.

– Ué... trancada?

– Só pode esta de brinc... Ei! Havia uma molho de chaves em cima da cômoda da secretaria!

– Ótimo! Passa pra cá!

– Eu não trouxe comigo...

– E está esperando o quê? Vai lá buscar!

Emma olhou para trás e contemplou o corredor escuro que teria que atravessar novamente para recuperar a chave. Pensou uns instantes, hesitou e ficou tentada a recusar a oferta, porém uma vez o destino havia lhe dado a chance de provar que não precisava de ninguém e ela não iria desperdiça-la.

– Posso levar a lanterna? – disse Emma estendendo as mãos e a recebendo de Sebastian – Pode esperar aqui, não vou demorar... – disse Emma já correndo até o fim do corredor.

“Vamos Emma... pegue as chaves e volte, apenas faça isso!” pensava a garota. Mal havia se dado conta já havia atravessado o primeiro corredor e só precisava chegar ao fim do próximo para chegar a secretaria e achar a chave, “Isso, quase!”, continuou correndo entre o corredor e chegou até aporta da secretaria. Entrou e apontou a lanterna sobre a escrivaninha, percebendo de cara o objeto metálico que refletiu a luz, “Ótimo.”, Emma pegou o molho e se retirou da sala. “Agora é só voltar.” Dizia andando de volta pelo corredor... “Só voltar... só voltar... só... AAAAAH”, Emma escorregou repentinamente no chão ensanguentado e caiu de joelhos, melando um pouco de sua perna com resquícios de pus. “Droga...” Ela levantou-se e começou a retirar a substância da sua perna com a ponta dos dedos, quando sentiu uma mão apertando seu ombro.

– Não precisava ter vindo, eu caí... só isso... eu estou b.... HHHMMM! – a mão havia tampado sua boca.

Com um pouco de esforço Emma libertou-se do inimigo e virou-se para olhar para ele.

– Mas que droga... – Emma estava aterrorizada.

Um braço! Um braço magro e esfolado havia saído de dentro de uma das feridas nas paredes... e tentava ao máximo alcança-la, Emma recuou para trás e teve seu braço agarrado por uma outro braço que havia surgido atrás dela. O primeiro agarrou seu rabo de cavalo e puxou na direção oposta.

– SEBASTIANNN!!!!!!!!! – Emma gritou.

Ouvindo o grito do outro lado do corredor, Sebastian correu o mais depressa que pôde para alcançar a menina. Chegando então no corredor onde ela estava, deparou-se com uma cena não muito agradável: todos os membros de Emma haviam sido agarrados pelos braços das paredes, que a puxavam em todas as direções, suspendendo-a no ar, a não muito tempo de um desmembramento total.

– EMMA!! – Sebastian gritou, logo após reparar que ela havia soltado a arma no chão.

Correu até lá, engatilhou a arma e atirou na ferida que liberava o braço que segurava seu pescoço.

– Arrgg... atrá...ss...de... voc...ê! – Emma apontou com um pouco de esforço.

Sebastian olhou para trás e viu que duas mãos se preparavam para agarrá-lo, rapidamente deu um tiro nas duas, que recuaram de volta para dentro da parede. Sem perder muito tempo, Sebastian atirou em todas as feridas, até que Emma caísse no chão, tonta de dor. Ele ajudou-a a levantar e ambos correram através do corredor até a sala 7. Conforme corriam, mais braços saiam das paredes e tentavam agarrá-los, quanto mais perto da porta mais forte eles ficavam e em maior quantidade apareciam, Sebastian atirava em todos o quanto era possível, de modo que ambos conseguissem chegar até a porta. Estando quase no objetivo, um braço saído de um ponto mais baixo da parede agarrou o pé de Sebastian, este caiu no chão deixando a arma cair mais à frente, um outro agarrou seu pescoço e o puxou para junto da parede, a fim de sufoca-lo.

– E..mma... – disse Sebastian apontando para a arma.

Emma correu até o objeto, engatilhou a arma e apontou para a ferida. A princípio, recusou-se a atirar, a cabeça de Sebastian estava muito próxima do seu alvo e apesar de tudo ela sabia que era uma péssima atiradora. Porém não havia escolha para ela, era tentar ou ver seu parceiro morrer, era correr o risco ou a certeza, ele já estava demostrando sinais de inconsciência, tamanha a força com a qual o braço apertava seu pescoço, por isso não havia tempo para pensar. Emma apontou com cuidado e atirou, fechando os olhos novamente como força do hábito.

Ao abri-los nova e lentamente, Emma pode comtemplar o corpo de Sebastian caído no chão em meio ao sangue. Seu coração se encheu de medo e desespero, e agora? O que faria sem ele? Ele havia sido um dos maiores aliados até ali, não queria que ele morresse, principalmente por sua culpa... A garota já estava quase desmoronando em pânico quando o rapaz levantou-se lentamente com a mão amaciando o pescoço.

– Podia ter me matado...

– Mas... – Emma arregalou os olhos surpresa com o tamanho da sua sorte – Mas não matei... – disse aliviada.

Ela ajudou-o a levantar e ambos chegaram a porta, enquanto Sebastian atirava nos braços que apresentassem ameaça, Emma sacou o molho trêmula e começou a testar as chaves na porta, porém nenhuma das testadas abria a tão almejada porta.

– Vamos, as balas acabarão a qualquer momento e não acho que temos tempo de recarregar...

– Calma.... eu estou quase... - disse Emma ficando cada vez mais nervosa.

– Emma!!! - Sebastian prosseguia atirando - As bal... - *click* *click* *click* - Droga! Emma!

– Consegui! - Emma gritou em alvoroço quando ouviu o *cleck*, empurrou a porta com tudo puxou Sebastian e os trancou lá dentro.


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Notas finais do capítulo

Emma e Sebastian se deparam com um andar "feito de carne", eles percorrem todo o andar atrás de informações sobre o quarto do Mr. Tinoco, onde supostamente estaria a chave do incinerador, a busca os leva a secretaria, onde Emma acha a localização do quarto e mais detalhes sobre a história da menina da cabana. Ambos vão até o quarto em questão, porém descobrem que a chave para abrir a sala havia ficado na secretaria, Emma volta e recupera a chave porém é atacada por braços monstruosos oriundos das paredes. Sebastian a ajuda, ambos lutam contra os braços e com um pouco de esforço conseguem entrar no quarto do Mr. Tinoco.



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