SOPHIA

Essa adaga é perfeita! Consigo manejá-la muito facilmente. Não é muito leve nem muito pesada, não é muito grande nem pequena demais além de ter um design muito lindo com pequenos desenhos de pavões.

– Nunca baixe a sua guarda. – Jason diz, sorrindo. – Você vai precisar treinar seus reflexos, defesa e agilidade. E modéstia parte... Eu sou o mais ágil do acampamento.

– Haha! Convencido. – Digo, rindo. – Mas pelo visto eu também posso controlar o vento, certo? Você não pode me ensinar a me esquivar mais rapidamente?

– Talvez eu possa... Vamos ver... – Ele diz, me estudando com os olhos semicerrados. – Tente flexionar os joelhos e jogar todo seu peso para cima, tomando impulso e pule o mais alto que conseguir.

A princípio eu hesitei, mas então, depois de 15 segundos pensando se eu morreria com a queda, caso isso funcionasse, flexionei os joelhos e pulei com os olhos fechados. Quando abro... É a vista mais linda que eu já havia visto. O pôr do sol por entre a colina Meio-Sangue. Apolo tocando os domínios de Poseidon, aquilo era muito lindo e romântico... Gostaria de poder estar com Nic-... O que eu estou pensando? É de David que eu gosto, não é? Sim, eu amo ele. Nico já é um homem, o que ele iria querer com uma garotinha de 12 anos? Então me dou conta que não estou mais indo em direção ao céu, perdi o controle das minhas emoções e estou caindo em uma velocidade imensa direto para o gramado do campo de treinamento, vi de relance o pinheiro gigante na colina com um pano brilhante e algo envolto a árvore, um monstro gigante e reptiliano, um dragão. E de repente paro no ar, mas não tem ninguém me segurando. Percebo que fui eu quem controlou o vento, eu estou nesse momento voando por cima do acampamento, vejo os chalés em forma de uma letra “U” ao contrário, formava a letra grega “Ômega” (Ω)

Quando desço ao chão, Jason vem correndo até mim com cara de preocupação e depois admiração, com os olhos bem abertos e um grande sorriso no rosto.

– Você está bem? – Pergunta ele, espantado. – Aquilo foi incrível pra alguém que não tem pratica!

– É... Eu estou bem sim, obrigado por perguntar. – Falei ofegante. – Mas você já notou que tem um dragão enrolado naquela árvore? – Apontei para o pinheiro.

– Ah sim, aquele é Trianus, nosso dragão guardião do Velocino de Ouro. O antigo guardião estava muito velho e acabou falecendo, Trianus é um dragão filhote, porém muito poderoso. – Diz ele, sorrindo.

– Ahn... Certo, ok, mas e sobre esse negócio de voar? Eu posso fazer isso?

– Bom, de acordo com a mitologia grega, Hera também podia controlar o vento igual ao meu pai, trazendo ventos bondosos e tempestades em tempos de seca dos rios e lagos da Antiga Grécia. – Ele falou tanto que me deu sono. – Então, se sua mãe controla os ventos, você controlar é algo bem normal. – Concluiu ele.

– Ok, eu posso ir descansar agora? Nós estamos treinando desde que eu acordei e já vai escurecer.

Jason assentiu e nós caminhamos em direção aos nossos chalés que eram vizinhos um do outro. Quando cheguei à porta do meu chalé, vi uma menina em frente ao chalé de Hefesto, sentada nos degraus. De onde eu estava, podia enxergar ela mexendo em algo com suas mãos, poderia ser um celular, mas Quíron nos tinha avisado que era proibido, pois atraía monstros, foi então que um pequeno pássaro mecânico voou das mãos da garota e pousou no telhado do chalé. O pássaro logo se solidificou e ficou lá, parado observando as árvores. Perguntei a Jason quem era a menina, ele disse que era uma das novatas do acampamento, chamada Amanda Gath, filha de Hefesto, óbvio... Ela é uma menina bonita até, tinha cabelos longos encaracolados, a pele um pouco bronzeada, rosto fino e orelhinhas pontudas, parecia até uma das filhas de Hermes com feições élficas, mas percebi que vi um dos instrutores hoje mais cedo com aquelas mesmas características, Jason o havia cumprimentado quando começamos a treinar, qual era mesmo o nome dele...? Leo! Exatamente, era Leo, mas eles não estavam treinando com armas, Leo estava ensinando aos novatos sobre peças mecânicas e mostrando a eles como se fazia um robô de 10 centímetros de altura que podia quebrar sua perna. Aquilo era meio assustador.

Então, Amanda se levanta e me encara por alguns segundos, depois entra no chalé, faço o mesmo, me deito na cama e imediatamente durmo. Para minha surpresa, não tive pesadelos, apenas pequenos flashes de quando estávamos no Orfanato, eu brincando com Amber, ajudando Sra. Baynes a fazer Brownies, depois tive um pequeno sonho que eu estava lutando contra Amber, mas parecia muito com uma previsão e não apenas um sonho, era mais real.

Acordei com o som da trombeta de Quíron, o toque para o café-da-manhã, pelo visto, eu estava atrasada. Levanto-me rapidamente, visto minha calça jeans rasgada nos joelhos e a camisa do Acampamento, meu quarto já estava limpo, não tinham mais teias de aranha, arrumo minha cama, e quando saio do quarto, todas as filas já estavam formadas e aquela filha de Afrodite estava parada na frente da fila de seu chalé.

– Ora, ora, se não é a filha da Rainha dos Deuses. – Disse ela com tom de sarcasmo na voz. – Dormiu bem, princesa?

– Stefany, você vai arrumar confusão com uma novata? Eu acho que isso não é uma boa ide-...

– Fique quieta, Dominique. – Cortou Stefany. – Eu sou a líder do chalé de Afrodite, você não tem que achar nada.

A menina chamada Dominique aparentemente ficou envergonhada e se pôs no fim da fila, aquilo me deu muita raiva, desejei que Stefany fosse jogada longe... E isso realmente aconteceu, uma rajada de vento a atingiu e ela foi jogada a 3 metros de distância. Não foi tão longe quanto eu gostaria, mas consegui tirar toda aquela pose de dona do mundo que ela tem.

Já no refeitório, nós demos nossas oferendas aos deuses como de praxe e nos sentamos pra comer, olhei para a mesa de Hefesto, e a menina que estava sentada em frente ao chalé estava lá, mas ela parecia sem fome, pois nem olhava para o prato, ela tira algumas peças dos bolsos e começa a brincar com elas, logo depois, um pequeno robozinho sem braços começa a andar pela mesa e todos os filhos de Hefesto comemoram, sabe-se lá por que.

Caminhei pelo campo de treinamento e vi Amanda sentada em baixo de uma árvore, e adivinhe... Ela estava mexendo com peças mecânicas.

– Você passa o dia inteiro fazendo isso? – Pergunto me aproximando e sentando ao seu lado.

– Bom... Sim. Eu tenho hiperatividade, meus dedos têm sempre que estar em movimento, e eu gosto de construir coisas, é um dos dons que nós herdamos do nosso pai. – Disse ela sorrindo para mim.

– Jason me disse que o melhor amigo dele é como você, não consegue permanecer com os dedos parados, tem sempre que mexer em algo.

– Leo? Sim, meu irmão é o melhor construtor de mecanismos do acampamento, ele não é bom em construir armas, mas tudo relacionado à robótica ele consegue fazer. Em uma das missões que ele fez, encontrou uma esfera, disse que Arquimedes a teria inventado, depois de descobrir todos os segredos dela, ele aprendeu que ela era mágica, isso ajudou muito na construção de defesas para o acampamento. Ele disse que me ensinaria a usar ela e um dia ele a daria pra mim, por isso eu passo a maior parte do tempo mexendo com pequenas peças, para quando ele der ela pra mim, já ter pelo menos a mínima noção do que fazer.

– Você gosta muito dele, não é? Eu não tenho irmãos, provavelmente nunca irei ter, mas tenho a Amber, ela pode ser irmã do David, mas eu a considero como se fosse minha irmãzinha menor. – Meus olhos começaram a lacrimejar, eu sinto que com Amanda eu posso me abrir e confessar meus segredos. Sequei as lagrimas com a manga da minha camisa.

– Sim, eu gosto muito dele, ele é brincalhão e cuida de mim, eu sou novata no acampamento, no meio do mês passado, mas ele me trata como se me conhecesse a vida toda. – Agora, eram os olhos dela que estavam cheios d’água.

– Amanda... Esse é seu nome, não é?

– Mandy. – Ela sorri. – Pode me chamar de Mandy.

– Serio? Ok, Mandy, você aceitaria se eu pedisse pra vir na minha missão comigo e com o David? Nós precisamos de alguém inteligente, e quem sabe você não aprende coisas novas sobre mecânica no caminho?

– Seria uma honra! – Diz ela com um enorme sorriso no rosto. – Sophia, assim que você se chama?

– É, mas pode me chamar de Sophie, a partir de agora, nós somos amigas!