SOPHIA

Você já se imaginou numa casa gigantesca, sem nenhum dos seus amigos, e essa casa infestada com os vilões dos piores filmes de terror que você já assistiu, à cada passo levando um susto? Foi mais ou menos assim que eu me senti quando vi um homem... quer dizer, um cavalo... quer dizer... Aaah, esquece... um centauro, isso, um centauro, Quíron era, da cintura pra cima, um homem de meia-idade com barba e cabelos parcialmente longos e da cintura pra baixo, um cavalo, um garanhão de quase 3 metros de altura.

– Você deve ser Sophia, correto? – Ele me perguntou como se fosse algo super normal ele ser metade cavalo, mas acho que no mundo onde eu estava, ser um humano comum que era estranho...

– É... sim, sou Sophia, Sophia Forbes. E você deve ser Quíron, o centauro. Você é parente do Quíron que foi o tutor de Aquiles?

– Não... eu sou, Quíron, o tutor de Aquiles. – Fiquei mais surpresa com aquilo do que com seu corpo de homem-cavalo.

– É... também ficamos surpresos com essa informação. – David e Amber estavam sentados em um sofá atrás de Quíron, fiquei feliz ouvindo sua voz, me senti mais calma e relaxada. – Ele foi quem treinou Aquiles e Jasão, dois dos heróis mais famosos da Mitologia Grega, e também treinou Percy Jackson e Annabeth Chase, dois dos heróis mais famosos dessa geração.

– Percy... e Annabeth? Aqueles dois do sonho de Amber?

– Sim, esses mesmos. – Amber disse, sentada ao lado de David.

Ouvi um rugido semelhante ao de um leão que vinha de cima da lareira... uma cabeça de leopardo que deveria ser empalhada, porém ela estava viva e parecia com fome. David tirou de uma tigela na mesa de centro, uma salsicha e jogou para o "animal".

– Aqui, Seymour. – O bixo mastigou com vontade e engoliu, me perguntei pra onde a salsicha iria já que não tinha um corpo, mas ali nada fazia sentido.

– Seymour?

– Ah, sim. É o animalzinho de estimação do Sr. D – Disse David, como se fosse a coisa mais normal do mundo ter só a cabeça de um leopardo como animal de estimação.

Saio da casa grande e decido ir pro chalé de Hermes, estou lá por enquanto que não sei quem é meu pai/mãe olimpiano.

– Você acha mesmo que a culpa é da Sophia? – Ouço alguém falando meu nome, perto da Casa Grande. Decido chegar mais perto, sorrateiramente, pra ouvir a conversa melhor.

– Tem que ser! – reconheço a voz de Edson – Eu estou naquele orfanato a quase um ano e nunca soube que Sophia era uma semideusa.

Um ano?!? Mas eu cresci junto com Edson, eu tenho certeza. Ele não pode ter entrado no orfanato á apenas um ano... Ele terá que me dar ótimas explicações.

– Talvez seu olfato não seja dos melhores – alguém diz.

– Ei! – diz Edson, parecendo ofendido – Posso não ser tão experiente como
você, mas meu olfato é ótimo!

Reconheço o outro cara como Grover, o melhor amigo daquele tal Percy Jackson. Ellen me falou que ele foi nomeado o novo líder do Concelho de alguma coisa relacionada à sátiros.

– Tenho certeza que não foi meu olfato – continua. – Ela tem algum tipo de
Névoa muito forte, provavelmente aplicada pela própria Hécate, e acho que os Crawford por passarem muito tempo com ela, acabaram ’’pegando’’ – Nesse momento, Edson fez com as mãos o gesto de aspas. – essa Névoa também, só pode ser por isso que eles ainda não foram reconhecidos por seu pai ou mãe Olimpiano.

– Tá... – diz Grover, pensativo – Mas por quê?

– Isso eu não sei, talvez Zeus queria evitar que ela fosse morta por algum monstro enquanto não tinha idade para vir ao acampamento.

– Não... Não. – diz Grover, descartando a possibilidade. – Praticamente todos
os filhos de Zeus foram trazidos assim que nasceram, para evitar a fúria de Hera.

– Talvez ele achasse que o Acampamento não seria seguro pra Sophia... Talvez ele achasse que ela estaria mais feliz ficando, pelo menos, alguns anos sendo apenas uma simples mortal, até que tivesse idade o suficiente para ser encontrado pelo seu satiro.

– Você disse que não conseguia reconhecê-la...

– Isso está tão confuso... – diz Edson.

Ótimo, meus amigos não sabem quem é seu pai/mãe por minha causa. Obrigado, Zeus. Penso. Me afasto da Casa Grande. O que mais falta pro meu dia melhorar?!

Chuto uma pedra que encontro no caminho, parece que estou andando a mais de 10 minutos não faço ideia de onde estou. Parece uma floresta, uma enorme,
mas não tenho muito tempo para explorá-la, estou com muita raiva de seja-lá-quem-for-meu-pai para aproveitar qualquer coisa.

Estou prestes a ir embora quando escuto uma voz, ás minhas costas

– Olá. – diz alguem.

Me viro, mas não vejo ninguém. Talvez só esteja imaginando.

– Olá – a voz repete.

– Olá. – Respondo, nervosa

– Olá – a voz repete.

– Olá – repete

– Olá

– Olá

– Olá

– Olá – Parecem ser mais de quatro vozes, mas são definitivamente iguais.

– Olá

– Olá

– O...

– PAREM! – gritei.

Tudo fica silencioso. Me viro, e dou de cara com... Pavões. Vários pavões, de diferentes cores e tamanhos. Não posso evitar, rio. Eu só estava assustada por entender o que eles falavam.

– Oi. – digo, mais tranquila. Até onde eu sei, pavões são inofensivos, mas eu estou no meio de uma floresta, em um acampamento para filhos de deuses gregos, tudo pode acontecer.

Nunca tinha visto um pavão, muito menos vários. Tem no mínimo sete. Eu sempre os admirei tanto. Enquanto todos queriam um cachorro, gato ou tartaruga. Eu queria um pavão. Eles são tão exuberantes e magníficos com aquelas penas, é simplesmente impossível olhá-los e não ficar encantada.

*****

Já está de noite!?! Eu passei a tarde conversando com pavões, tá, isso é no mínimo estranho. Diferente dos filmes de animação. Pavões não são animais frescos e egocêntricos. São tão fofos e carinhosos como qualquer cachorro... Bom, talvez só os do Acampamento sejam assim... Eu tenho que ir, já esta quase na hora do banquete, não quero perder. Me levanto do chão.

Demora um pouco, mas finalmente encontrei o caminho de volta.

– Não sabia que vocês tinham pavões que falam. – disse para Quíron, assim que encontrei o refeitório.

– E não temos. – ele diz, serio.

– Mas... – começo, mas sou interrompida pelo discurso do Sr. D. – Ainda não o tinha visto no acampamento, o deus do vinho, um homem gordo, que segundo Ellen, tinha emagrecido desde... bem... Não sei, ela não quis comentar essa parte.

– Tenham um ótimo jantar. – ele diz com uma cara carrancuda.

Sento na mesa dos filhos de Hermes, segundo Quíron, eu, Amber e David
ficaremos lá até descobrirmos quem são nossos pais.

– Quíron está preocupando por nós ainda não termos sidos reconhecidos por nossos pais. – Amber cochicha pra mim. – Eu ouvi ele conversando com o Sr.D. Desde que o menino, Percy Jackson, fez os deuses prometerem que reconheceriam seus filhos com 13 anos ou quando chegassem no acampamento, nenhum semideus ficou sem saber quem era seu pai ou mãe.

Sinto uma pontada. E se realmente é minha culpa por eles não saberem quem é o seu pai/mãe?!? Me afasto um pouco sem que Amber perceba, não quero ser a causa deles não saberem quem são seus pais. Me sinto tão mal, um pouco de brownis que Sra. Baynes fazia, cairia bem.

Quando olho pro meu prato, lá estão os eles. Dou uma mordidinha, não são tão bons quanto o do orfanato, mas fazem eu me sentir melhor. Os filhos de Hermes não param, jogam comida um no outro, pregam peças das mais bobas as mais perversas, e fazem o maior barulho. Todos parecem se divertir, menos Amber e David. Deve estar passando pelas suas cabeças quem possivelmente seriam seus parentes. Curiosamente, não estou sentindo o mesmo que eles, me sinto calma, acho que é por quê sei que sou filha de Zeus, está meio obvio. Mas por mais que digam, David não acredita que possa ser filho de Apolo.

– É só... Tão absurdo. – pelo que Amber me disse, nos últimos três dias é so o que ele vive dizendo. – nem sei tocar instrumentos direito.

– Você aprendeu a tocar violão em 3 dias – digo sem tirar o olho de meus brownies, não quero ficar vermelha, David mexe com cada parte do meu corpo, isso é terrível.

– Isso é... diferente – ele tenta argumentar.

– Por que? – Amber, pergunta. Ela esta comendo pudim, eu acho.

– P-porque é, Amber. Você é muito nova pra entender disso, volte a comer seu pudim. – diz ele, ficando vermelho.

Amber levanta e vai paro o outro lado da mesa. Depois de algum tempo, parecem que todos estão fartos, a maioria se levanta pra ir embora quando uma... uma harpa, uma linda harpa em dourado vivo, aparece acima da cabeça de Amber e David. Quíron e Sr. D. se levantam.

– Harpa – Diz Quíron, sorrindo. – David e Amber Crawford, filhos de Apolo, deus da música, do Sol e das profecias! – ele diz, e vários semideuses sentados em uma mesa com alguns instrumentos musicais levantam e aplaudem freneticamente.

Parece que há algo em minha cabeça também, pois varias pessoas estão me
olhando e alguma ninfas estão... Confusas, extremamente confusas. Parece... Uma flor de lótus. Mas isso está errado, penso. O símbolo de Zeus é um raio, eu nunca ouvi falar de um deus com o símbolo de uma Flor de Lótus.

– Hera – ouço varias ninfas cochicharem uma para outra, até chegarem em
alguns semideuses, como um enorme telefone sem fio.

De repente todos estão falando ’’Hera’’, todos confusos e perplexos.

– Silêncio! – diz Quiron, mas bastou isso para todos mal se atreverem a respirar. – Flor de Lótus – Quiron continua, mais serio do que quando anunciou os Crawford. – Sophia Forbes, filha de Hera, deusa do casamento e dos atributos femininos.

Vi ele se voltando para o Sr. D. e cochichando algo em seu ouvido, que pelo seu movimento labial, parecia ser "Mas isso é impossível."