Mamãe e papai mal chegaram e imergiram-se no mundo de processos e documentos. Realmente às vezes eu via o trabalho nem sempre fácil da profissão escolhida por meus pais e me pegava perguntando para mim mesma se ser advogada era a melhor opção para mim. Mas ao mesmo tempo eu via nessa atmosfera algo tão mágico, tão desafiador, intrigante. Era o que realmente queria.

Pensar nisso me fez lembrar Stanford. E Stanford fez-me lembrar de que o tempo não seria meu amigo e mais cedo ou mais tarde eu teria que contar para Rick. Quando ele me perguntou sobre a minha certeza em a gente ficar junto eu não tive nenhuma dúvida. Com Rick eu quero viver o hoje, o agora, porque eu não sei se eu o terei amanhã. Não é como se fosse minha primeira vez, porque nem mesmo é, mas é a primeira vez que sinto tanto amor. Eu o amo tanto que às vezes dói. Seria a primeira vez que tudo isso seria feito na intensidade de dois corações que batem num mesmo compasso como se juntos fossem um só. Mas sabe-se lá o porquê do tempo sempre gostar de me pregar peças. Nós fomos interrompidos. Talvez o destino nem seja tão cruel. Ou apenas seja ele armando formas de me fazer acreditar que nele existe um lado bom.

Precisei sair dos meus devaneios para começar mais um dia de aula. Cada um era a marca do fim. Lanie dessa vez não me esperava na porta. Mas eu já imaginava o motivo. As pazes com o Espo deviam render até a inevitável separação dos dois. Dirigi-me aos armários, meus pensamentos estavam num endereço previsível. – “Onde será que o Rick esta?” – Será que ele tinha se atrasado? Mas faz tempo que ele deixou esse hábito. E se ele ficou chateado pelo que aconteceu, ou melhor, pelo que não aconteceu com a gente? – “Ai Kate! Volte a si antes que o sinal toque!” – Fechei a porta e levei um susto.

– Pensando em mim?

– Rick! Você me assustou! – Minhas mãos estavam sobre meu coração disparado.

– Ai meu amor... Desculpa... Eu não queria te assustar. Só quis te surpreender.

– Não gosto de surpresas!

– Ah é? Poxa, não foi isso que pareceu quando eu “te surpreendi” no sábado. – Ele tinha um olhar vitorioso e daquele jeito malicioso de sempre.

– Rick! – Dei um sorriso e lhe dei uma pequena tapa no ombro. – Você está muito espertinho pro meu gosto. – Sussurrei.

– E você bravinha fica mais linda.

– Rick não me provoca! – Estava me segurando para não rir das piadas que ele fazia.

– Eu... – Ele agora se aproximava me pondo de encontro ao armário. – Te provocando? – Suas mãos estavam no armário me cercando. – Acredite... – Seus olhos azuis intensos me olhando profundamente. Meu coração disparava. –... Quando eu estiver te provocando... – Ele pôs os lábios úmidos próximos a minha orelha e subiu até meu lóbulo bem devagar o mordiscando de leve. Meu corpo arrepiava por inteiro. –... Você vai saber de cara. – Ele ainda me olhou intensamente antes de virar as costas pra mim e sair a caminhar pelo corredor em direção à sala dele.

Eu fiquei estática por alguns minutos. Gente! Quem era esse Rick? O que fizeram com meu namorado? ‘Sexy’. Era a única coisa que vinha em minha mente. ‘Quente’. Céus! Ele ia pagar caro por isso! Ele nem sequer me deu tempo de beijá-lo. Fiquei a mil por horas e ele nem ai. Ai Rick...

As aulas se passaram e na hora do intervalo finalmente encontrei com a Lanie.

– Ei Lanie!

– Kate! – Ela veio ao meu encontro depois de soltar a mão do Espo. Acenei para ele que me acenou de volta.

– E ai? Pelo sorriso estampado as coisas entre vocês estão indo bem.

– Tudo maravilhosamente bem girl! – Ela sorria. – Mas e você e o garoto escritor? Ele ficou com você depois que a gente saiu não foi?

– Sim.

– Ai meu Deus! E como foi? Conta!

– Ah Lanie... Nada demais... Por favor...

– Garota, não tente me enganar ok? Conheço-te há bastante tempo e sei que essa sua cara não é a cara de alguém que teve um final de semana mais ou menos. Portanto pode ir parando de bancar a esperta pra Lanie aqui... – Eu revirei os olhos. Céus! Ela às vezes era pior que a minha mãe!

– Tá! Tá! Ele ficou lá em casa e a gente quase que ia.

– Ah! Sabia!... Mas espere ai! Quase que ia? Como assim ‘quase’?

– Eu e ele fomos interrompidos. – Dei de ombros lamentando.

– O quê?! Seus pais chegaram mais cedo?! MEU DEUS!

– Calma Lanie! Não foi bem assim...

– Ai garota! Eu penso logo no pior. Fala logo então Kate.

– Meu pai ligou dizendo que estava voltando...

– E ai?

Aos cochichos Lanie arrancava de mim todas as informações que eu queria esconder. Nunca pedi tanto para Rick ou Espo nos interromper. Mas eles pareciam entretidos conversando entre si não muito distante. Eu o observava inconscientemente enquanto eu e Lanie conversávamos. Meu olho volta e meia iam a sua caça. Era mais forte do que eu. Volta e meia Rick me olhava como cúmplice. Seus olhos sorriam para mim.

– Kate!

– Oi?

– Você está me ouvindo ou você está olhando para o bonitão ali. – Ela falou arqueando a sobrancelha e apontando o Rick com o queixo.

– Não... Eu estou te ouvindo sim. – Lanie cruzou os braços e sorriu.

– Corre lá pro seu bonitão vai... Eu vou atrás do Javi também. Falta pouco para o fim do intervalo... – Eu me levantei esperando ansiosamente a última palavra dela. – Vai logo Kate!

Sorri largamente para Lanie e ela gargalhou. Rick já estava com olhos fixos em mim. Caminhei até ele. Rick pegou minha mão e sussurrou de leve:

– Vem comigo...

– Para onde a gente vai?

– Para um lugar que você vai gostar de conhecer.

– Rick, mas daqui a pouco o sinal vai tocar...

– Vem! – Ele me puxou.

Subimos tomando cuidado para não ser percebidos por ninguém até o último andar do prédio da escola. Andamos por um corredor quase que esquecido até nos depararmos com uma porta de metal numa parede de tijolos.

– Rick, está trancado com cadeado.

– Nada que eu não resolva.

– O que você vai fazer? – Ele tirou do bolso dois clips.

– Te fazer feliz. – Ele sorriu de forma tão doce, tão sensual e apaixonante. Ele me tinha.

– Rick, se alguém pegar a gente aqui...

– Confia em mim. – Ele falou pegando na minha mão enquanto ajoelhado em frente ao cadeado. – Só vigia o corredor para ver se não vem ninguém.

–Rick! – Ele me olhou com aquele olhar pidonho do qual eu não resistia. – Ok... Mas vai logo com isso...

Ele demorou cerca de 1 minuto.

– Abriu! Vem Kate! – Ele ‘gritava’ em sussurros. O segui. A luz do Sol me cegou por uns instantes.

– Rick. Que lugar é esse? – Eu pude ver algo parecido com a quadra de esportes.

– A partir de agora nosso lugar. – Ele me abraçava por detrás afundando o queixo em meu pescoço.

– Você é louco sabia? – Falei me virando para ele.

– Só se for por você. – Demos o nosso tão esperado beijo. Não diferente dos outros quando a questão era o ar que havia disponível em nossos pulmões. Mas totalmente diferente de qualquer outro beijo nosso que eu já fui capaz de descrever. Cada beijo era único. Novo. Amoroso. Quente.

Separamo-nos em busca de ar. As mãos dele redesenhavam a moldura do meu rosto envolvido pelos raios de Sol. Ele me puxou carinhosamente pela mão me convidando a chegar mais perto da beira do telhado.

– Está vendo aquela árvore ali, depois das arquibancadas? – Ele apontou com a ponta do seu dedo indicador.

– Estou.

– Nos dias que você fazia educação física eu ficava ali, te observando. Mas você nem sonhava em saber disso não é?

– Claro que não! – Era uma surpresa. – E em que tempo você me observava?

– Desde que eu cheguei do Texas. – Ele agora ficava de frente para mim. Eu estava curiosa e assustada ao mesmo tempo. Suas mãos na minha cintura me aproximando dele. – Você estava tão linda naquela festa quando eu cheguei. Puxa vida! Eu não pude acreditar que minha melhor amiga de 13 anos tinha se transformado numa garota tão expressivamente linda. – Os olhos dele brilhavam para mim. Eu estava lutando para não deixar as lágrimas descerem pelo meu rosto. – Você me prendeu ali, naquela poncheira, sorrindo.

– Eu... Eu... Rick, eu não sei o que dizer.

– Não diga nada. Eu só quero deixar claro que o que nós temos para mim é sério, Kate. Eu não digo que te amo à toa, da boca pra fora. Enquanto eu morei no Texas eu nunca te esqueci. Sabe... Ninguém me entendia na hora de jogar nossos videogames favoritos e me vencer sem piedade. – Sorrimos. – Nem para falar sobre os nossos programas de TV mais legais. Ninguém como você. Ninguém que colocasse bilhetes no meu estojo dizendo que gostava de mim. – Gargalhamos. Encaramo-nos e ficamos em silêncio por algum tempo.

– Rick... – Ele pôs um dedo entre meus lábios me silenciando.

– Kate. – As mãos dele puxavam meu rosto para si. – Eu te amo. TE AMO!

– Eu te amo Rick. Para sempre vou amar você.

– Always.

– Always. – Nossos lábios agora formavam um só. Meu gosto se misturava ao sabor dele. Eu agora estava certa. Ele era quem eu esperava. Não há mais o que temer. Isso é amor.