O barulho da janela quebrando me acordou como um tapa.

Uma dor inundou meu peito assim que abri os olhos, abri minha boca para gritar, mas eu não sentia o ar em meus pulmões, meu nariz doía como se eu tivesse levado um soco, coloquei a mão em cima dele e senti algo molhando-a.

Tirei-a e arregalei os olhos.

Sangue...

Meu sangue...

Respirei o mais fundo que pude, e simplesmente passei a manga do casaco pelo nariz, me levantei, tonto, onde era o norte e onde era o sul? Que lado era a direita? E a esquerda?

Por quê minha cabeça doía como o inferno?

Agarrei o cajado e comecei a andar.

Formas negras dançavam em minha frente, e elas pareciam cavalos...

Pera... cavalos?!

Olhei direito, os pesadelos de Pitch se espalhavam pelo corredor, eles bufavam, seus olhos dourados me olhavam, suas patas poderosas faziam um barulho alto no chão.

Segurei o meu cajado, e deixei o raio de gelo os acertar.

Minha cabeça doeu novamente, apoiei-me no cajado, mas caí de joelhos.

Era impossível...

Eu não conseguia andar, meu peito ardia, sentia o sangue escorrer pelo meu nariz, sombras dançavam em minha frente, eu sentia tontura.

– Jack! - Ouvi alguém gritar.

Alguém...

– Elsa! - Gritei de volta.

Foi como se a dor tivesse sumido do meu caminho, eu voava como uma vespa, o vento zunindo em meus ouvidos.

Eu não sabia como, mas quando a porta explodiu com o gelo, descobri que não a quebrei por acaso.

Pitch estava no parapeito da janela, andando de um lado pro outro como se fosse uma corda bamba, havia areia negra pelo chão, e cacos de vidro por toda parte.

Elsa?

Onde ela estava?

– Cadê ela seu filho de uma...

– Shh... - ele levou um dedo aos lábios. - Vai acordá-la...

Uma corda começou a baixar do lado de fora da janela, uma corda de sombras.

Elsa... estava amarrada àquela corda, havia um corte em sua testa, ela estava desacordada. Minha respiração travou.

Apontei meu cajado pra Pitch.

– Solte-a...

Ele ergueu uma sobrancelha e a corda começou a se desfazer.

– NÃO!

Ele sorriu e a corda se refez. Soltei o ar devagar e baixei o cajado.

– Bom garoto... - ele falou sorrindo e andando no parapeito. - Viu? Até já sabe o esquema! - falou com aquele sorriso maníaco. - Mas dessa vez é bem diferente...

Joguei o cajado no chão, coloquei as mãos em meus bolsos.

– Você sabe que não adianta, certo? - falei.

– Ah não? - Pitch falou.

Sorri e dei de ombros.

– Se ela morre, como fica seu coração congelado? - perguntei sorrindo.

Pitch me olhou confuso, as sobrancelhas juntas, depois começou a rir.

– Ah meu deus Jack... - ele ria. - Não acredito nisso...

Foi minha vez de olhá-lo confuso.

– Um coração congelado Jack... - falou sorrindo. - O dela foi aquecido... - ele ergueu uma das mãos, as sombras fizeram o formato de um coração. - Mas sabe... quando vocês se encontraram... ela... - ele apontou para Elsa, o coração se desfazendo. - Sem querer, acertou o seu coração.

Coloquei a mão no peito.

Pitch juntou as mãos em frente ao corpo.

– Ó o amor... - ele falou olhando para cima. - É um sentimento tão... idiota. - ele sorriu. - Faz você fazer coisas estúpidas! Que idiotice! - ele riu.

Minha respiração começou a falhar.

– Quando eu lhe acertei com a minha sombra... digamos apenas que... eu fiz com que o gelo no seu coração, se transformasse em algo pior. - ele sorriu. - Um meio tão simples de matar um Guardião como você. - ele fez uma arma com os dedos, e apontou pra mim.

Olhei pra Elsa pendurada na janela, depois pro meu cajado, passei a manga do casaco sob o nariz, o casaco azul saiu manchado do sangue.

Eu não sabia quanto tempo tinha.

Mas eu tinha uma escapatória.

– Tão... - ele fingiu que engatilhava a arma. - simples...

No meio tempo dei um pisão no cajado e ele pulou pra minha mão, quando o segurei meus reflexos apitaram e eu pulei pro lado.

Senti a lâmina de uma faca passando de raspão por minhas costelas, na exata direção do meu coração, senti a dor, vi a pessoa de capa e tive um vislumbre da pessoa.

Cabelos? Ruivos...

Voei pra janela, agarrei Elsa e acorda se desfez, fui para longe, Norte ganharia uma explicação depois.

Coloquei uma das mãos no bolso do casaco e tirei um globo de neve.

– Colorado... - falei e atirei o globo no ar.

Ele se quebrou e se abriu.

Olhei pra trás por uma última vez, e passei.